_ Gostaria de ter essa mesma certeza que você Liã. Mas pelo que tudo indica ela estava com algum deus sim. E pode até ser que não fizeram acordo com ela, mas a trataram muito bem, pois não teve fome e nem sede no deserto. E está diferente. Tem um ar de perigo em seus olhos. Uma coisa que não sei como explicar...
Afhany se levantou e Demy e Louise também, chegaram perto de Moisés.
_ Não seria o caso de nos mandar para algum lugar secreto? Estamos correndo perigo se ela fez acordo com um deus. Ela nos odeia, seremos as primeiras a ser atingidas. – Afhany perguntou com a mão sobre o ventre. Era óbvio que se preocupava-se com seu bebê.
_ Mas não podemos deixar Moisés aqui sozinho com ela! – Demy logo foi contra. – Você pode ir, mas eu me recuso a fugir como uma covarde e deixar meus senhor a mercê dela.
_ Concordo com Demy. – Disse Louise. – Não podemos abandonar Moisés aqui com ela. Seria mais fácil para ela derrubar as defesas dele, se ele se sentisse sozinho.
_ Liã, seu pai me receberia em seu reino? – Afhany perguntou a beira das lágrimas.
Liã se aproximou e a abraçou.
_ É claro que sim, minha irmã. Mas não será preciso. Temos o deus Théo que nos protegeria, caso ela tivesse feito um acordo com um deus. Não chegará a nós perigo algum porque ele é o mais poderoso dos deuses. E ainda, não acredito que ela tenha conseguido um deus como aliado.
Moisés a tudo escutou calado. Não sabia o que dizer. Por um lado concordava com Afhany, que em outro lugar elas estariam mais protegidas, contudo tinha que apoiar o que disse Louise. Ele ficaria mais fraco sem a presença delas. Mesmo que sem saber, a vida delas lhe trazia poderes de superar até mesmo a morte, Elas precisavam ficar.
_ Quero que todas se acalmem e permaneçam unidas. Não permitirei que m*l algum chegue até vocês. Conversarei com Théo e ele saberá me orientar sobre o que fazer para manter a todos em segurança. Eu prometo Afhany, que por mais me doa ver qualquer uma de vocês partindo, se for para protege-las, eu farei sem titubear.
Afhany meneou a cabeça, mas em seu coração não estava consolada. Temia pela vida de seu bebê. E sabia que assim que a rainha percebesse que ela estava grávida, atacaria a ela primeiro, antes mesmo de Liã.
Moisés passou a tarde com elas, contando de várias aventuras que vivera, e de sua ligação com Demy. Todas ficaram surpresas, até mesmo Demy, ao saber que quando Moisés a observava as escondidas na infância, acreditava que ela era uma deusa. Achava-a a mais atraente de todas as mulheres em sua adolescência, e sonhava que um dia se casaria com ela. Até completar seus dezoito anos e seu pai lhe explicar sobre o ritual e como agradar ao deus deles. Mandou-o para o deserto, onde Théo o esperava no lar deles. Lá ficou sabendo de todos seus compromissos com a fera e jurou servi-lo. Assim que ele voltou do deserto, decidiu que não se desfaria de Demy após o ritual, porém sabendo que não poderia se casar com ela, ofereceu-lhe que fosse sua concubina. Contou-lhes também, que fizera esse mesmo ritual em várias partes do mundo, com outras virgens. Elas não foram suas únicas mulheres. Demy sempre fora sua amiga, companheira e confidente e por isso Moisés se revoltava com seu pai por não deixar torna-la rainha. Mas seu pai, cansado e muito velho, resolveu que devia morrer. E nomeando Moisés para seu sucessor, ele morreu em poucos dias. Moisés acreditava, que a partir daquele momento, não devia decepcionar seu pai e faria tudo como ele planejara. Suas concubinas ficaram admiradas, porque era a primeira vez que ele se abria assim com elas, exceto Demy, que tinha sua idade e sabia de muitas, das aventuras que ele contara ali, apesar de algumas, como o amor que ele nutria por ela, ela desconhecia.
A noite chegou e Moisés se despediu de todas e foi para o palácio, mesmo querendo ficar, pois todas pediram que ele lhes fizesse companhia no jantar e contasse mais sobre suas aventuras. Só o deixaram partir quando prometeu que aquele dia se repetiria em breve. Ele obrigou-se a entrar no palácio e foi direto para seus aposentos tomar banho e se trocar para jantar mais uma vez com seu sogro. Enquanto se trocava, a fera surgiu do seu lado. Ele sem tirar os olhos do espelho, perguntou:
_ Por onde andou? Você me fez pensar que havia me abandonado.
A fera se sentou e de repente sua forma mudou. Moisés viu diante de si, um ser que assim como ele parecia um humano. Ele tinha longos cabelos dourados e olhos da cor vermelha. E era mais alto que Moisés. Contudo as roupas que usava eram como as que ele próprio usava nos rituais. Contudo, era a primeira vez que ele se mostrava em sua forma para Moisés, o que fez que ele ficasse preocupado com seus motivos.
_ Eu fui visitar velhos amigos. – O deus disse num tom de voz parecido com o de Moisés.
_ E estavam todos lá? Não sentiu falta de nenhum dos seus amigos?
_ Não. Estavam todos lá. Pelo menos todos que ainda não foram para o lar dos deuses em um mundo paralelo a esse e a outros mundos. Se homem pudesse pisar lá, jamais sairia para esse mundo, nós, deuses restantes ainda ficamos nos perguntando o que causou nossa vontade de vir para cá? E agora estamos presos aos humanos que fizeram pacto conosco.
_ Porque está se apresentando para mim nessa forma? Algum motivo especial?
_ Achei que você devia ver como sou, para não temer a nossa unificação. Creio que você deve ter acreditado que um tigre seria uma de suas formas, mas esse tigre é apenas um disfarce. Antigamente os homens adoraram a uma estátua de tigre. Eu fiquei desejando aquela adoração para mim, e tomei a forma do tigre, para falar com eles e eles me aceitassem. Era mais fácil para eles acreditarem em uma fera falante que era um deus, do que acreditar em um deus de forma semelhante as dos humanos. Agora quero me libertar o mais rápido possível.
_ Não foi isso que me fez recusar a unificação.
_ Eu sei. E conversando com outros deuses, resolvi aceitar que fique com Afhany. Isso era mais uma exigência do pai de Liã que desejava a ver rainha, do que minha vontade.
_ Desconfiei disso.
Eles ficaram calados por alguns minutos, até que Moisés se virou totalmente para ele, pois antes o estava observando com o r**o do olho. E sem pensar muito bem se queria mesmo saber a resposta, ele perguntou para o deus;
_ Você tem o poder de ver outros como você? Mesmo que eles tentassem passar despercebidos?
_ Claro. Minha visão não é limitada como a sua. Todos os deuses podem se ver. Independente da vontade deles. Não podemos nos esconder uns dos outros.
_ Então por favor, seja sincero comigo, em nome da amizade e do acordo que nos une desde o ventre de minha mãe; há um outro deus nesse palácio?
O deus o fitou com um sorriso nos lábios.
_ Mas é claro que não. Nenhum outro deus se atreveria a entrar em meus domínios sem minha autorização. O que te fez pensar isso?
Moisés contou para ele tudo que se passara com Elisa e até mesmo as falas de Liã. E suas desconfianças.
O deus pensou um pouco antes de responder.
_ Liã tem razão. Nenhum deus quer aliança com a família de Elisa. Contudo, pelo que me contou, posso imaginar o que tenha acontecido.
_ Diga-me então!
_ Elisa deve ter conhecido outra criatura e essa criatura pode ter mentido para ela se dizendo um deus. Existem várias criaturas que vocês não conhecem vagando por ai, no entanto, elas não tem o costume de interagir com os humanos, nem tão pouco fazer pactos com eles. Mas essa sua história me deixou intrigado. Vou ficar atento e não sairei do palácio enquanto não descobrir o que está acontecendo.
_ E se por acaso, alguma dessas criaturas tiverem feito um pacto com Elisa? Isso poderia me prejudicar de alguma forma? Poderia me fazer m*l?
_ Não. Eles são tão poderosos como um deus, mas não podem intervir na vida dos humanos. Por mais que algum deles tenha quebrado a regra, não tem o poder de intervir de forma negativa na vida das pessoas. E existem outras criaturas que espreitam e podem fazer o m*l, contudo elas não tem liberdade para andarem por ai. Seria muito difícil Elisa encontrar uma dessas. E além do mais você disse que ela estava saciada e sem sede, as criaturas negativas não saciam a fome e a sede de ninguém. Quanto a sua integridade e a das pessoas que você ama, pode ficar tranquilo, não correm perigo. – O deus disse e voltou a se transformar na fera. – Agora você deve ir jantar. Sua família o espera. Eu ficarei por perto e apenas você poderá me ver. – Ele disse e sumiu no ar.
Moisés desceu e foi jantar com seu sogro. Parecia que o sono não restaurou suas energias, pois continuava pálido, por outro lado, Elisa se mostrava tranquila e de bem com a vida. Ele se sentou e todos começaram a se servir. Fora um jantar em silencio, porém a fera estava ali presente e olhava para Moisés como se quisesse dizer alguma coisa. Depois de algum tempo, a fera entrou em sua mente.
_ A criatura está aqui. Mas não posso expulsa-la. Como desconfiei não se trata de um deus, é uma serva de um deus de outro mundo, e se ela está aqui, é porque esse deus voltou seu olhar para os humanos daqui, e também para nós deuses.
_ E o que devemos fazer?
_ Nada. Apenas esperar. Eu vou tentar tirar alguma coisa dela. Talvez ela nos conte suas orientações. – A fera disse e sumiu de suas vistas.
_ Então Calisto... Sabe que está invadindo meu espaço não? – Ele apareceu como homem para ela.
Ela o molhou e sumiu das vistas de Elisa para que ela não percebesse que ela estava conversando com alguém.
_ Oras... Pensei que você teria sempre espaço para uma amiga. Você quer que eu me retire?
_ Seria capaz? Creio que mudou de lado, ou não estaria aqui.
_ Não. Foi ele quem me enviou.
_ Eu temia essa resposta.
_ Oras, não se preocupe. Nada de mau vai acontecer com você ou com essas pessoas.
_ Assim espero. Prometemos a muitos milênios atrás que um, não invadiria o espaço do outro. Esse é nosso espaço. Todo esse mundo pertence a nós.
_ Oras, mas pelo que entendi, vocês estão voltando um por um para seu lugar de origem. Porque então se importar com nossa presença aqui?
_ Nossa? Então quer dizer que você não está sozinha. Vocês estão quebrando nosso pacto. Isso pode gerar uma guerra. Sabe bem disso.
_ Não é nosso desejo começar uma guerra. Apenas preciso de alguns humanos desses que você tem. Os outros podem ficar para os deuses daqui. Vocês não vão sentir falta de quatro ou cinco pessoas, vão?
_ Mesmo que fosse apenas uma, é nossa. Não vou permitir que leve ninguém
Calisto o abraçou e o beijou, no que foi prontamente correspondida.
_ Senti falta disso. – Ela disse se afastando dele. – Se você quiser pode voltar para nosso lar...
_ Não. Não quero. Quero apenas que nosso pai não se envolva com o mundo que ele mesmo criou para nós, que desejamos apenas cuidar da nossa parte e jamais nos envolvemos ou entramos no mundo de vocês. Não permitirei isso.
_ Bom, creio que sou obrigada a não interferir em seu mundo. Mas posso tentar fazer com que mude de ideia. Isso não é proibido. Poderia ao menos permitir que eu fique, e eu lhe prometo que não verá nenhum outro dos meus por aqui.
_ Porque não é sincera e me conte o que está acontecendo?
Ela abaixou a cabeça.
_ Não posso... Não é para seus ouvidos, mas posso lhe garantir que o motivo é muito forte.
_ Permitirei que fique se prometer que não vai interferir na vida e nas ações das pessoas aqui, e também que não procurará mais ninguém.
_ Você sabe que minha presença aqui anula os poderes de Liã por onde eu estiver, certo?
_ Sei disso, mas ela nem vai perceber. Já faz muito tempo que ela não usa seus poderes. Ela diz que é ela, mas quem faz as coisas acontecerem é Afhany. Portanto não me importo com isso.
_ Então temos um acordo? – Ela perguntou sorrindo.
_ Depois que me disser que nosso pai não está interessado nesse mundo, teremos um acordo.
_ Ele se interessa por todos os mundos e acompanha tudo que acontece em todos. Você sabe como ele é. Porém, ele não acredita que será necessária uma intervenção aqui, por ora.
_ Ainda não entendi o que você quer de Elisa...
_ Isso é um segredo. Que acho inútil lhe revelar já que não quer que eu interaja com mais ninguém.
_ Sim. Faça isso e não teremos que acabar em guerra. Eu já perdi demais para nosso pai. Não posso permitir que ele me tire mais nada. Afinal todos nós cumprimos o desejo dele e ficamos longe de seu mundo.
_ Não vou discordar de você! Essa sua teimosia me afetou também...
_ Então temos um acordo. – Ele disse, se virando para sair dali, pois não desejava ir mais fundo naquele assunto. Porém, ela o chamou de volta.
_ Você não tem curiosidade sobre o que aconteceu com nosso filho?
Théo se virou e a fitou nos olhos, estava muito irado com a ousadia dela.
_ Conte. Eu sei que esse é seu maior desejo. Ele ficou do lado de quem?
_ Infelizmente, ficou do lado de nosso irmão. Há séculos que eu não o vejo, mas ainda tenho a esperança de que ele mude ideia e volte para perto de mim.
_ Pois para mim pouco importa. Acho até que está mais protegido com nosso irmão. – Ele disse e desapareceu.
Calisto, ficou ali pensativa. Não seria fácil fazer o que tinha que fazer, com Théo andando por ali. Ela não podia contar-lhe a verdade, pois sabia que ele começaria mesmo uma guerra. E se isso acontecesse, seria inútil, o que ela estava fazendo ali. Precisava que ele fosse para o lar dos deuses. Como faria para que isso acontecesse, ainda não sabia, pois ele pareceu muito apegado aquele mundo. Ou estava escondendo algo de muito importante. Ela continuaria fingindo não se envolver nas ações das pessoas ali. Por enquanto.
Moisés não mais estranhava o silencio de Elisa. Agora tinha certeza que ela tinha feito um acordo com uma deusa. Esperava que a fera voltasse e lhe contasse o que estava acontecendo com ele ainda ali, no jantar. Ia desmascara-la e mandar que fosse com seu pai no dia seguinte. Não desejava mais ela ali. Mas, sem a fera para lhe dizer se realmente alguém corria perigo, ele não faria nada. Por mais que sentisse repulsa por ela, ainda tinha que protege-la. Seus pensamentos foram interrompidos pela voz dela.
_ Acho que já é chegada a hora de meu marido me agradar um pouco. – Ela disse sorrindo para ele.
_ Porque deveria? Você merecia um castigo por ter saído do palácio sem falar com ninguém e ainda quer agrados? – Ele disse irritado.
_ Sua concubina já fez coisas piores e você já a agradou mais que a mim, que sou a rainha e mereço ser tratada como tal. Até quando elas terão mais que eu? Até quando vai me humilhar dessa forma?
_ O que você quer que eu faça? Acaso lhe falta alguma coisa? Eu não lhe neguei nada até hoje além do que já tinha te explicado antes de consumarmos nosso casamento. E você aceitou.
_ Sim, mas eu quero agora uma coisa que elas tem e eu não.
_ E o que seria? – Moisés a fitou curioso.
_ Quero uma estátua minha no jardim. E a minha tem que ser no centro e mais bonita que as delas. Quero que seja maior e que tenha uma coroa na cabeça.
Moisés sorriu do ciúme t**o dela.
_ Percebo que já tem todos detalhes de como vai querer sua estátua na mente. Devia você mesmo faze-la.
_ Não fale assim comigo. Não é nada demais para você fazer o que peço.
_ Está bem. Terá sua estatua. – Disse ele dando de ombros.
_ Tem mais uma coisa que eu acho que seja direito meu que você me atenda.
_ Diga.
_ Quero que passe a dormir nos meus aposentos todas as noites.
Moisés largou o talher na mesa e a fitou indignado com o que ela acabou de pedir-lhe em tom de exigência.
_ Você está louca! Eu já deixei minhas concubinas tempo demais sem meu contato físico! A partir dessa noite Eu passarei a noite cada dia com uma. Como minhas mulheres são cinco, passarei uma noite com cada e descansarei dois dias nos meus aposentos. Não entendo porque me pediu isso, sabendo que tenho faltado com minhas concubinas por sua causa.
_ Então me dê os dois dias que tirará de folga. Pode muito bem dormir comigo nesses dias.
_ Não! Não insista mais nisso.
Elisa o fitou aborrecida. Porque foi lhe pedir aquilo? Pelo menos ele estava dormindo todas as noites no palácio, mesmo que sendo para engana-la. E ela sabia que ele estava se deitando com suas concubinas. Só não se deitava com ela própria. Ela desejava que ele a tratasse sempre como a tratou mais cedo... Ou como Alfred a tratava. Aliás... Ele sumiu. Ela não o viu mais depois que a examinou e constatou que ela estava grávida. Mas podia ficar tranquila pois sabia que ele voltaria para seus braços. Devia apenas estar meditando por que afinal, ele seria pai...
Quando terminaram de jantar se despediram polidamente e cada um foi para seu aposento com seus pensamentos.
Dom João, ainda estava com medo dessa deusa de sua filha. Iria se consultar com o pai de Liã para saber se algum deus daquele lugar tomara aquela forma para fazer um acordo com Elisa.
Elisa sentia-se muito bem e revigorada. Não desejava dormir, mais não queria que seu pai se atrasasse mais em sua visita. Tinha que levantar cedo para despedir-se dele. Para o sono chegar, tomou o liquido de uma garrafa que Alfred lhe deixara para as noites de insônia.
Moisés foi para seus aposentos, mas sua vontade era de ir para o castelo das concubinas, mas encontrava-se exausto e corria o risco de adormecer nos braços de uma delas. Sendo assim, deitou-se e logo adormeceu. Nem lembrou-se mais da fera.
No outro dia bem cedo, Dom João após se despedir de Moisés e Elisa, foi embora em sua caravana. Alfred estava escondido em uma das charretes da caravana de dom João. Moisés fez menção de ir para o castelo das concubinas, mas Elisa o segurou dizendo que precisava conversar urgente com ele. Ele aceitou porque imaginava que as concubinas estariam dormindo ainda, então a acompanhou até a sala de estar de volta ao palácio. Lá chegando se jogou em uma das poltronas e fitou Elisa esperando que ela lhe falasse. Ela não demorou a tira-lo de sua curiosidade.
_ Reparei outro dia, grande movimento de caravanas chegando com alimentos. – Ela disse e sentou-se fitando-o.
Ele a fitou de volta sem entender o que ela queria na verdade.
_ E... – Ele disse para encoraja-la a continuar.
_ E se nós cultivássemos nosso próprio alimento? Não sabemos o dia de amanhã. De repente pode acontecer alguma coisa que impeça que as caravanas chegue até aqui e nós morreríamos de fome.
_ Você está agindo de forma muito estranha ultimamente. Por que está preocupada com o nosso alimento? Nossa despensa está tão cheia que poderia alimentar o reino inteiro com as guloseimas que estão guardadas. E as caravanas não vem de tão longe. São do meu povo, moram ai por perto. Eles não vão parar de trazer nosso alimento, pois precisam do dinheiro que recebem por eles.
_ Mas, eles tem que ir longe para nos trazer verduras e frutas. Se passarmos a cultiva-las aqui teríamos verduras e frutas mais frescas. E podemos criar animais também. Ovelhas, porcos, vacas, e termos tudo do que precisamos aqui. Nem compensa para esses pobres coitados que vem trazer a comida irem tão longe para comprar e depois revende-las para você.
Moisés começou a rir.
_ Não sei o que deu em você... Está falando sério?
_ Claro! Não ria de mim.
_ Elisa, você já deu uma olhada no ambiente em que vivemos? É só deserto por todos os lados. Meu palácio é grande? Sim! Mas é só isso que ele é. Deixei o oásis para meu povo morar, para poderem tirar seu sustento de algum lugar. E tem dado muito certo até agora em séculos.
_ Eu darei um jeito se me permitir. Temos uma enorme masmorra que não é usada para nada. Ela é quase do tamanho de seu palácio todo. Podemos dividir uma parte para cultivo e outra parte para os animais.
_ E como exatamente pretende que o sol bata nesses cultivos?
_ Faremos grandes janelas de vidro. O sol entrara por elas e fará seu trabalho com nossos cultivos.
_ Bem... Se isso é tão importante para você, eu não me oporei. Faça como quiser. – Ele disse e saiu da sala de estar a passos largos. Resolveu que devia ir pescar. Iria no reino vizinho. Ficaria uns dias fora. Mas antes tinha que se despedir de suas concubinas e mandar que fizessem uma estatua como a rainha desejava. Talvez ele não teria saído tão tranquilo se tivesse visto a figura oponente no mesmo cômodo que ele a sorrir quando aceitou o pedido de Elisa. E assim que ele saiu elas se colocaram a conversar.
_ Me sai bem, não? – Disse Elisa orgulhosa de si mesma.
_ Com certeza. Você fez um excelente trabalho.
_ Mas para quê você quer que se façam cultivos aqui? Eu mesma me achei uma louca pedindo isso para Moisés...
_ No futuro você irá entender e me agradecer por isso. Agora precisamos contratar as pessoas que trarão terra para cá. E logo depois providenciar as vidraças.
_ Não sei por onde começar. Acho que é uma tarefa árdua demais para mim. Muito trabalhosa.
_ Não. Você só dará as ordens que eu mesma vou ditando para você. Vai ver que é mais fácil do que pensa.
Elisa suspirou com saudade do tempo que podia só ler, amar Alfred e tramar contra o rei e suas concubinas. Era tão mais fácil. Tão mais prático...
Moisés depois de quatro horas cavalgando junto com alguns de seus guardas achou um grande lago onde poderiam pescar. Ficaram horas ali conversando e rindo junto com os guardas sobre até ele mesmo. Ali naquele lago, permaneceu por 3 dias antes de retornar para casa.
_ Olhem só! Estão fazendo a outra estátua no centro do jardim. – Disse Afhany espionando por uma fresta da janela de seus aposentos. As outras, que tinham dormido todas ali e faziam o desjejum ali mesmo, largaram o que estavam comendo e foram ver.
_ Essa de quem será? – Perguntou Demy.
_ Oras! Mas nem terminaram a minha ainda! – Se queixou Liã.
_ Será que Moisés vai trazer mais alguém para cá? Não duvido pois ele ultimamente não anda satisfeito conosco. – Louise considerou.
Afhany se virou para ela com um sorriso travesso no rosto.
_ Tá brincando? O homem mais parece um cavalo inteiro, nunca se sacia... Nos procura quase todos os dias, as vezes até durante a tarde, e você ainda acha que não está satisfeito conosco? – Todas começaram a rir, até mesmo Louise, que achava que a presença dele já havia sido mais constante. Mas talvez seja só uma impressão dela, afinal de contas, até poucos meses atrás, ela só dividia a atenção dele com Demy. E ainda tinha uma coisa que insistia em dizer ao seu coração, que ela era a que ele menos amava. Ela tentava não demonstrar, mas sabia que um dia teria que perguntar isso a ele.
_ Oras meninas! É obvio de quem vai ser essa estatua... – Afhany disse voltando seu olhar para fora.
_ Porque é obvio? Liã perguntou curiosa.
_ Vejam vocês mesmas. – Afhany disse saindo da janela e indo até seu armário pegou uma roupa para se trocar.
As outras correram para ver. E ficaram decepcionadas quando viram a rainha dando ordens sobre a estatua. Todas sairam da janela.
_ Será que finalmente ela conseguiu seduzir Moisés? – Louise perguntou curiosa.
_ Não acho... Ela deve ter ficado enciumada porque só não tinha uma estatua dela e pediu a Moisés, e como ele sente muita culpa por não conseguir se deitar com ela, permitiu que se fizesse uma que representasse ela também. – Liã disse convicta.
_ Se ela pudesse mudar nossas posições, colocaria cada estatua ajoelhada diante da que representará a dela. – Disse Afhany acabando de se vestir. Mas sentiu um aperto no peito e a necessidade de voltar a olhar para fora a dominou. Foi até a janela e ficou observando atentamente a rainha. E quando se voltou para as ouras estava pálida e elas logo correram para segura-la, com medo que desmaiasse.
_ Você quer tomar uma agua? O que podemos fazer para que volte a ficar bem? Por que está assim? É a gravidez? – Foram tantas perguntas vindo de tantas vozes que deixou Afhany tonta. De repente ela levantou a mão e elas se afastaram. Ela se levantou e as fitou séria.
_ Moisés tinha razão. Ela conseguiu um aliado. Todas nós estamos em perigo. Ela esta falando sozinha. Se ela não esta conversando com seu deus, ela esta louca. Gostaria de acreditar na segunda hipótese mas estaria mentindo para mim mesma.
Liã voltou a janela e verificou que Afhany tinha razão. No entanto, outra coisa passou a incomoda-la mais do que saber que havia outro deus entre eles. Afhany! Como ela sabia? O que a fez perceber que algo naquele cenário não estava certo se todas olharam e não viram nada? Como ela conseguiu fazer contato com a mente de Moisés na noite em que tentaram envenena-lo? E mais difícil ainda... Como ela lançou fora o copo da mão dele, apenas olhando para ele. Liã lembrava-se bem. Ela não movera um musculo para fazer essas coisas... Qual seria a verdadeira origem de Afhany? Ela mesma era uma fada e não tinha tais poderes... Seus poderes não eram grandes ali. Conseguira falar com Afhany apenas algumas vezes por telepatia, e depois nunca mais. Precisava descobrir de onde vinha Afhany. Ela já não acreditava mais em suas próprias previsões pois para ela nenhum deus faria pacto com Elisa e pelo jeito estava enganada. Era uma outra coisa que tentaria descobrir. Quem era esse deus traidor?