O REI CAPÍTULO 6

4461 Words
Eliza cavalgou por três horas, até esbarrar em uma estrutura que jamais havia visto. Será que era um palácio? Ela olhou em sua volta e só havia deserto em sua frente. Naquele prédio que estava diante dela, havia apenas uma porta. E estava aberta. Ela não viu nenhum criado por ali. Desceu de seu cavalo e se aproximando da porta, percebeu que lá dentro estava muito escuro. Ela entrou assim mesmo. Logo, ao seu lado havia uma tocha e uma espécie de vaso com fogo. Ela pegou a tocha e acendeu no fogo. Clareando o recinto, percebeu que era enorme e haviam várias estatuas de animais por todos os cantos. O lugar estava impecavelmente limpo. Ela começou a andar pelo recinto e encontrou uma escada. Sem pensar duas vezes ela subiu. Já não estava mais no controle de seus atos. Acreditava que estava dormindo e aquilo era um sonho. Ao chegar o topo da escada haviam dois caminhos para ela seguir. Ela resolveu ir primeiro para a direita, se não encontrasse nada, voltaria e passearia pelo lado esquerdo. Ela encontrou uma porta com uma chave vermelha bem grande. Um pouco mais temerosa dessa vez, ela girou a chave e espiou lá dentro. Havia uma mulher, com asas e com o corpo coberto por escamas, sentada em um trono feito de ossos e sorrindo pra ela. _ Se aproxime Elisa. Você é esperada já a muito tempo. A voz dela era como um bálsamo para seus ouvidos. Havia carinho em suas palavras. Elisa se sentiu bem vinda e foi logo entrando e ficando de frente para a mulher que lhe falava. Não deixou de reparar que o cômodo em que se encontrava era mobiliado com muito bom gosto, apesar de ela nunca ter visto nada igual. Havia uma num canto cheio de frutas que ela jamais vira. No restante do ambiente tinha poltronas com cores diferentes das que conhecia. Não havia janela no lugar, mas a claridade que tinha no quarto não vinha de nenhuma fonte que pudesse ver. _ Pode se servir Elisa. – A mulher lhe disse rindo como uma criança, mas dessa vez Elisa sentiu a risada e sua voz dentro de sua mente. Elisa foi até a mesa e pegou uma fruta roxa e imediatamente sentiu o sumo da fruta escorrer pela mão. Com certeza já estava cascada pronta para ser digerida. Passou a mão em seu ventre pensando se não faria algum m*l para seu bebê. Olhou para a mulher e essa lhe lançou um olhar desafiante. Elisa sentiu que ela testava sua fé. Então, levou a fruta a boca e a comeu. Depois da primeira mordida, não conseguiu parar de come-la e mesmo parecendo indelicada, ela pegou outra e a comeu inteira também. O sabor ela nunca vira igual. Não existia fruta no mundo tão saborosa quanto aquela. Depois de comer a segunda, pegou um pano dobrado que havia na mesa e limpou suas mãos. _ Fico feliz que tenha se agradado de nosso alimento. Por favor, experimente quantas quiser. _ Não. Obrigada, eu estou satisfeita. Como é o nome dessa fruta? _ Sinto muito, mas não sei dizer o nome dela em sua língua. _ Posso levar uma semente para o palácio? A mulher a fitou benevolente. _ Não minha querida. Somente quem acha e transpõe a barreira entre os mundos paralelos e chega aqui, pode provar de nossos alimentos. Inclusive, esse que comeu cura qualquer doença que tiver. Sei que saber disso se torna mais tentador para você leva-las, mas talvez um dia você tenha que carrega-la mesmo para curar seu povo. Elisa não estava entendendo nada. _ Qual seu nome? Quem é você? _ Me chamo Calisto. Sou uma deusa. E é por isso que você está aqui não é? Não desejou profundamente ter um deus como aliado? _ Você aceitará ser minha deusa? – Elisa estava encantada. _ Você aceitará pagar o preço? – Ela devolveu-lhe a pergunta. Elisa pensou um pouco. _ Qual seu preço? Joias? Ouro? Prata? Lhe darei tudo que desejar. _ Seu ouro, sua prata e suas pedras preciosas não tem valor algum para mim. Não é isso que quero. Melhore sua oferta. _ Não sei o que dizer, creio que não deseja virgens... A mulher sorriu novamente com a voz infantil ressoando em sua cabeça. _ De certa forma sim. Mas não é pela virgindade dele que me interesso. _ Dele quem? Vou ter que m***r alguém? _ Não. Apenas vai oferece-lo para mim, para que eu possa lhe transferir meus poderes. Elisa começava a entender, mas se fosse o que estava pensando, o preço daquela deusa era alto demais. _ Você quer levar meu filho de mim? – Elisa perguntou com tom de desespero. _ Oh! Não. Eu não sei como criar uma criança. Ele ficará com você, mas com meus poderes. Preciso que cresça saudável e forte. E sabendo como usar seus poderes. Essa será minha tarefa, aliás. Eu lhe ensinarei tudo que precisará saber. Se aceitar, lhe adianto que só você e Théo poderão me ver. Não posso me esconder dele, pois é muito poderoso. Não sei porque ele nunca demonstrou todo seu poder para seu fiel... Mas os meus, o seu filho saberá. _ Mas e por mim? O que fará? Se eu aceitar... _ O que você mais deseja. Lhe darei p******o contra os deuses de Liã. Ela não mais conseguirá fazer magia para frustrar seus planos. Só não posso garantir o sucesso de seus planos. Mas a derrota não mais estará ligada a magia de Liã, pois anularei todo o poder dela diante de ti. _ Foi você quem me escolheu, ou eu de alguma forma lhe desejei? _ Foi meu povo quem a escolheu. Estamos em guerra. E descobrimos que seu filho virá a ser um grande aliado nesse combate. Não posso lhe dar mais detalhes. Você vai aceitar minha p******o? _ Sim. Aceito. – Elisa disse sem pensar muito no assunto. E assim que disse essas palavras a Deusa se levantou, provando para Elisa que era mais alta do que aparentava e tocando em seu ventre, uma forte luz brilhou por alguns minutos. Assim que a mulher se afastou, sua expressão dizia o quanto estava cansada. Ela voltou ao trono e falando com certa urgência lhe disse; Agora beba da agua que esta na mesa e vá. Pois sua família está a sua procura. Logo estarei no palácio contigo. _ Antes preciso saber se o deus de Moisés não nos atrapalhará. _ Não posso te dar garantias de nada, mas conversarei com Théo. Elisa achou que a forma como ela falou fosse muito intima daquele deus. _ Vocês se conhecem? Calisto sorriu. _ Todos os deuses se conhecem, tolinha. _ Mas acho que você e o deus Théo devem ter sido amigos em algum momento, pela forma carinhosa com que pronunciou o nome dele. Ainda sorrindo a deusa a fitou com desdém. _ Muito perspicaz de sua parte. Podemos dizer que eu e Théo tivemos um passado. _ E isso, não vai interferir no nosso presente? Meu e seu? _ Ainda não sei... Se interferir será para seu bem. Eu lhe garanto. Agora como disse é melhor que vá. Não posso arriscar que outros mortais encontre esse lugar. Seu cavalo está descansado e alimentado. Também providenciamos comida para ele. – Ela disse e fechou os olhos, como se fosse dormir. Elisa fez como ela mandou e saiu apressada. Seu cavalo também parecia descansado como ela disse e foram num galope rápido de volta para o palácio. Porém, antes deu uma olhada para trás para vislumbrar o prédio, mas ele havia desaparecido. Elisa respirou fundo e continuou seu galope. Quando estava já a meio caminho do Palácio avistou homens de preto, montados em garanhões e chegando mais perto reconheceu o brasão de Moisés. Ficou aflita. Não pensara em nenhuma desculpa para explicar o motivo de ela ter saído do palácio. d***a! Isso podia lhe causar problemas! Devia pensar em alguma coisa e rápido! Mas assim que a alcançaram, Moisés desceu de seu cavalo e se aproximou dela a puxando para si e a abraçando! Ela ficou chocada com a reação dele. _ Nunca mais faça isso! – Ele disse emocionado. – você tem permissão de sair e ir onde você quiser, não é uma prisioneira minha, mas por favor, avise onde vai estar da próxima vez! Há horas que estamos te procurando. Não fazíamos ideia de onde poderia estar. Se estava machucada... Seu pai até adiou para amanhã sua ida para o seu reino, de tão preocupado que está contigo. Venha! Vamos embora logo. O palácio está a meia hora daqui. – Ele disse ajudando a montar de novo e voltando para seu cavalo. Esperou que ela passasse a sua frente para prosseguir a vigem. Até os guardas pareciam aliviados de encontra-la com vida. Elisa não soube o que estava acontecendo. Ele nunca demonstrou tamanho afeto por ela. Será que era obra da deusa? Quando chegaram ao palácio, seu pai a esperava na sala de estar. Assim que a viu se levantou e aproximando-se dela, a abraçou apertado. _ Onde você estava sua louca? Quer destruir nossos planos? – Ele disse baixinho no ouvido dela, e Moisés entrou na sala e os fitou. _ Elisa, você quer comer alguma coisa? Já bebeu agua? – Ele disse realmente preocupado. _ Não... Eu acho que devo beber agua, mas não quero comer nada... – Ela não podia dizer que estava saciada por causa da fruta que comera naquele lugar. Moisés se retirou, mas foi por pouco tempo. Logo estava de volta com uma jarra de agua e um copo na mão. Serviu o copo e a entregou. _ Creio que deva se sentar. Ficou muitas horas exposta ao sol. – Moisés disse como um cavalheiro. Elisa aceitou o conselho e sentou, sendo seguida por seu pai, que ela via que desejava lhe falar a sós. _ Olha, não quero parecer ingrata, longe de mim, mas... O que aconteceu no tempo que eu estive fora? Parece que até os guardas estavam satisfeitos em me ver bem e com vida... E isso não é nem um pouco normal. Você mesmo Moisés, jamais se preocupou comigo dessa forma... – Ela deu uma breve olhada para o pai e ele a fuzilava com o olhar. Mas ela não se importou. _ Por que acha que não me preocupo com você? Como pode pensar que eu não iria até o fim do mundo para busca-la? Você, como todos aqui faz parte da minha vida. E mais que isso, são minha responsabilidade. E prezo pelo bem estar de todos aqui. – Moisés disse ofendido. Elisa ergueu o copo para ele que ainda segurava a jarra e ele delicadamente o encheu novamente. _ Então acho que todos podem ficar tranquilos. A rainha está viva e goza de boa saúde. – Ela disse brincando. _ Onde você foi? Ou onde pensou que iria? O lado em que te encontramos não existe nada além de deserto por muitos milhares de quilômetros. – Moisés fez a pergunta que ela temia. Mas não parecia curioso de verdade. Estava mais era aliviado. – Da próxima vez que for sair me avise que eu mando guardas te acompanhar. Eles conhecem esse deserto como a palma de suas mãos. Poderá lhe mostrar lugares bonitos. Como um oásis. Creio que você nunca deve ter visto um. Talvez até eu mesmo lhe acompanhe. E você correu perigo. Há muitos bandidos no deserto, contudo, acho que nem eles se aventura para o lado em que você foi. – Ele disse e ficou olhando-a como se esperasse uma resposta. _ Eu... Me deu vontade de sair... E eu não quis ocupar ninguém. Realmente eu me perdi. Não sei o que seria de mim se você não tivesse me encontrado... Moisés a encarou longamente. Depois se virou para ir embora. Mas antes lhe disse; _ Que bom que a encontrei a tempo... – Ele disse e saiu. Mas não sem antes deixar Elisa confusa. Aquele último tom que usara, depois da resposta dela, indicava que ele sabia o que ela fez. Talvez fosse só sua imaginação, mas ele a olhou como se lesse sua mente. Como se soubesse que estava mentindo. Ela virou-se para seu pai. _ O que quer me dizer pai? – Com Moisés ela se preocuparia depois. – Já lhe dei o que precisava para partir. Por que ficou? _ Eu me preocupei com você. Não podia ir embora sem saber seu paradeiro, se estava viva ou estava morta. Não sabe o quanto estou decepcionado com você. Podia ao menos ter me avisado. _ Pai, ouça bem o que vou lhe dizer. E guarde segredo. Eu encontrei uma deusa. – Ela disse triunfante. Seu pai a olhou estupefato. _ Então era isso que esteve fazendo a manhã inteira? Conseguiu um bom trato? Ela vai nos ajudar? _ Sim meu pai. Ela vai anular o poder de Liã para que ela não interfira mais em nossos planos. _ E quanto ao deus de Moisés? _ Ela não pode nada contra ele. Disse que ele é muito poderoso. Mas vai tentar convence-lo de deixar meu caminho livre. _ E o que ela te pediu em troca de seus favores? _ Meu filho. Dom João levantou-se imediatamente. _ Você não pode ter aceitado uma coisa dessas! Não seria capaz! Meu neto? Sério? Você foi capaz de entregar a ela meu neto?! – Ele estava furioso. – Antes tivesse pedido minha vida! _ Acalme-se meu pai. Não é tão r**m assim. _ Como não? Sem meu neto não precisamos dela para nada! Como vamos chantagear Moisés? Com aquele inútil do Matheus? Você está louca minha filha. – Ele disse balançando a cabeça. _ Ela não vai leva-lo. – Elisa conseguiu dizer depois do acesso de fúria do seu pai. _ Então não entendo... O que ela vai fazer com meu neto? – Ele disse sentando de novo já mais calmo. _ Ela vai transferir, ou já transferiu, não sei ao certo, parte do poder dela para meu filho. Ela disse que ele seria um aliado numa batalha que viria. Dom João abaixou a cabeça pensativo. Depois de alguns minutos voltou-se para Sua filha. _ Eu ainda penso que você vai se arrepender desse trato. Não consigo ver com gosto as vantagens que ela te proporcionará. Me parece pouco. Um filho é um bem muito precioso. Mais precioso que todo ouro da terra, e a única coisa que ela te oferece em troca é anular os poderes de Liã? Acho que ela te fez de tola. _ Por acaso você tem uma ideia melhor para destruirmos Moisés? Por que eu não consigo pensar mais em nada. Precisávamos de um deus e agora temos um. Por que não consegue ficar feliz? Uma batalha se vence aos poucos. Eliminando obstáculo por obstáculo. Depois nós pensaremos no que fazer com o trato que fiz, mas no meu ver, não temos nada a temer, pois eu criarei meu filho e terá grandes poderes. Será um deus humano. Não adoecerá. Ela me garantiu isso. E há coisa melhor que ver seu filho sempre saudável? Não precisar se preocupar que outras crianças ou até mesmo uma babá o machuque, pois seus poderes lhe protegerão? Eu só vi vantagens nesse acordo. _ E quando chegar a hora que ela vai querer leva-lo? Talvez você nunca mais voltará a vê-lo. Acha isso uma vantagem? Ela disse quanto tempo você terá com seu filho? Elisa não tinha pensado nisso. Só tinha certeza no seu coração que jamais deixaria que alguém levasse seu filho. Nem mesmo uma deusa. Ela cuidaria disso até lá. Mas não permitiria que seu filho fosse levado para longe dela. _ Cada problema ao seu tempo, pai. Por enquanto temos que colocar nossos planos em andamento. Depois resolveremos o resto. Você percebeu a forma como Moisés me tratou? _ Não fez mais que sua obrigação. Você é a rainha. Ele lhe deve consideração. _ Eu estranhei no principio, mas no fim, percebi que tudo não passava de um teatro para saber onde fui. Acho que de algum modo, ele sabe que me encontrei com uma deusa. _ Pode ser. Mas eu o vi antes de sair a sua procura. Estava realmente desesperado. Lhe procurou por todos os lados. _ Mas talvez sua preocupação já fosse parte de saber de antemão que eu poderia ter encontrado o lar dos deuses. – Ela disse e se levantou. – Se ele souber ou desconfiar de alguma coisa, logo saberemos com certeza, pois é óbvio que ele vai perguntar para seu deus se eu me encontrei com alguém nas dunas. E minha deusa irá me contar. _ Falando em sua deusa, como ela é? _ Oh pai! Ela é linda! Tem grandes asas brancas como nuvens, e sua pele é escamosa, e dava para sentir seu poder reinando em todo recinto. Ela é bela de uma forma diferente. Seu rosto parece uma pintura. Ela tem também um ar de pureza. Ela me permitiu comer de suas frutas e nunca senti sabor igual na minha vida. Uma delicia. E comi duas e me senti saciada. Era uma fruta roxa, e ela me disse que curava qualquer tipo de doença. Dom João ficou a fita-la estupefato e cheio de temor. Quando Elisa percebeu seu silencio o fitou nos olhos, sentindo que havia alguma coisa de errado. _ Pai... Sente-se bem? Quer um copo de agua? Ele voltou a si. _ Minha filha, me diga. Você trouxe uma semente dessa fruta para que a cultivemos? – Ele perguntou, mas não parecia interessado de verdade na resposta. Elisa percebeu que havia alguma coisa errada mesmo. _ Não pai, ela não permitiu. – Ela respondeu e se levantou. – Se não se importa vou tomar um banho agora. Preciso tirar as areias do deserto de meu corpo. _ Vá minha filha. Faz muito bem. – Ele lhe disse sorrindo, mas seu sorriso não chegava aos olhos. – Nos encontraremos na mesa do jantar, eu também vou me banhar e depois descansar um pouco. Elisa lhe deu um beijo na testa e saiu para seu dormitório, louca por um banho e para sair de perto das considerações silenciosas de seu pai, pois a forma que ficou depois que ela lhe descreveu a deusa, a incomodava, e muito. Tinha certeza que ele sabia de alguma coisa e escondia dela. Só não entendia o motivo. Dom João, sentiu necessidade grande e forte de procurar Moisés e contar o que ocorreu com sua filha. Pois sabia pelo conhecimento dos antigos que sua filha não se encontrara com uma deusa, mas com a serva de um deus muito poderoso. Elisa realmente meteu os pés pelas mãos. Não seria com a serva desse deus que ela ia conseguir alguma coisa. De uma coisa tinha certeza, se a serva desse deus estava ali entre eles, é por que o deus dela está interessado nesse mundo. Ele conhecia as histórias de seus ancestrais. E sabia que num mundo paralelo esse deus reinava único. Não podia permitir que ele entrasse nesse mundo. Mas seu neto, infelizmente já estava comprometido. Com certeza seria levado. Talvez até mesmo seria um dos servos desse deus. Contudo, temia que essa serva, lhe fizesse algum m*l, pois sabia que os servos desse deus eram tão poderosos quanto seus deuses. Ele levantou-se e começou a andar de um lado para outro. Não podia falar com Moisés, ou ele poderia até m***r sua filha por ousar entregar seu filho a uma serva desse deus que sabia que Moisés também já ouvira suas histórias. A única coisa a fazer agora, era voltar a sua vida e continuar com seus planos, que de repente não mais pareciam tão interessantes quanto antes. Pois, se esse deus quisesse entrar nesse mundo, haveria uma grande guerra. E ele não tinha forças sozinho. Precisaria de Moisés e de seus aliados junto com ele para derrota-lo. Amanhã, bem cedo partiria para seu reino. Lá, estaria mais a vontade para pensar no que fazer. Ele pensou e subiu para seus aposentos, onde tomou um banho e se trocou. Contudo, sua mente ainda estava pensativa, ele ainda estava com medo. Quando se deitou, ouviu uma batida na porta e imaginando que fosse algum criado, mandou que entrasse. Mas não era um criado, era Moisés. Ele temeu que seu deus já tivesse lhe deixado a par do que sua filha fizera. _ Dom João, sei que ainda teremos alguns momentos juntos antes que parta para seu reino, mas preciso lhe falar sobre algo antes que parta e longe de ouvidos curiosos. Dom João agora tinha certeza que ele sabia. Ficou calado esperando qual atitude Moisés tomaria a seguir. _ Você me confidenciou hoje, sobre o estado de sua esposa. E eu disse que te ajudaria. Pois bem, Conversei com meu médico, Alfredo, e ele aceitou partir amanhã com você para seu reino, para avaliar se há o que fazer pela sua esposa. Contudo, por assuntos pessoais, a ida dele para seu reino deve se dar em segredo. Espero que o acolha em seu palácio como a um parente, pois é assim que ele é tratado aqui. Então? O senhor aceita a ajuda dele? Dom João respirou aliviado. Ele não sabia de nada. Mas acabara de lhe levar outro problema. Ele tinha que pegar Matheus no meio do caminho e sabia que esse médico era muito fiel a ele. Mas talvez não fosse uma coisa de todo má. Se o médico contasse ao rei que seu irmão estava sobre a p******o dele, Moisés ficaria agradecido e ele não precisaria utilizar de outros métodos para que o rei soubesse o paradeiro do irmão. Pensando assim, ele se virou para Moisés. _ Sim. Aceito e fico-lhe muito grato. Sei que seu medico conta sua amizade e fará o que puder pela minha rainha. Não há palavras para lhe dizer o quanto estou agradecido. Moisés sorriu e se retirou. Mas não deixara de notar a palidez de seu sogro, quando o viu entrando no quarto. Ele devia saber onde sua filha esteve, mas não era proibido que cada um servisse ao deus de sua escolha. Havia alguma coisa por trás daquilo tudo. Descobrira que Elisa encontrara um deus a quem servir assim que a viu no deserto, do lado onde ficava o lar dos deuses. Com certeza ela havia encontrado. Estava muito calma pra quem havia se perdido e nem ao menos lhes pediu agua, o que não é comum para quem havia passado a parte da manhã inteira no calor no deserto. Mais tarde procuraria Théo, e pediria que descobrisse se havia mais algum deus habitando aquele palácio. Pois, alguma coisa tem que ser oferecida, e ele temia pela vida de suas concubinas. E assim que pensou nelas, sentiu urgência em vê-las. E tomando o caminho para fora do palácio, foi até o castelo delas. E quando as viu, parecia que alguma coisa o tinha avisado para ir até lá. Afhany e Liã discutiam em alta voz, enquanto Demy e Louise as observava sentadas a um canto, indiferentes. _ O que está acontecendo aqui?! – Moisés chegou com sua voz forte chamou a atenção delas. Liã assim que o viu correu e o abraçou com os olhos cheios de lágrimas, enquanto Afhany apenas cruzou os braços. As outras continuaram indiferentes. _ Afhany, meu senhor! Ela se recusa a permitir que nossos filhos se unam como casal... – Liã acusou chorosa. _ Mas por que ela deveria aceitar uma abominação dessas? Meus filhos não se casaram entre si. Há homens e mulheres suficientes para eles no mundo. _ Você não pode ficar do lado dela! – Liã disse alterando a voz enquanto se afastava dele. – Essas crianças tem o destino de se unirem. Precisaremos da criança que vai ser gerada por eles. Será nosso maior aliado. Será que não vê que tudo que quero é salvar nosso mundo? _ Salvar de quê? Sou muito bem capaz de proteger minhas mulheres e meus filhos! E exijo que parem essa discussão tola. Afinal as crianças ainda nem nasceram! O destino delas será escolhido por elas mesmo e não por vocês! Eu mesmo me encarregarei que façam bons casamentos. _ A minha filha vai se casar com quem ela quiser! Ela não será vendida a rei nenhum! Será livre e se casará por amor quando chegar a hora. Moisés a fitou e viu em seu olhar o brilho desafiante. _ Tudo bem Afhany, não me envolverei nas escolhas dela. Mas não sairá pelo mundo afora como uma libertina que faz o que quer. Será educada do meu jeito. E quando viajar pelo mundo, será sobre escolta. E disso não abro mão. Afhany apenas o fitou e foi se sentar do lado de Demy e Louise. Liã começou a chorar e Moisés não quis consola-la. Antes tinha paz quando chegava ali, e hoje só estava tendo aborrecimentos. _ Se continuarem a se desentender dessa forma pararei de vir aqui. Já tenho problemas demais para me preocupar em separar vocês de brigas sem fundamento. _ Como foi lá com sua rainha? A encontrou muito longe? – Afhany perguntou do sofá e Demy e Louise começaram a rir. Moisés se sentiu ofendido. _ A rainha se encontra muito bem de saúde. – Ele respondeu seco. – Por que estão rindo? – Ele não aguentou a curiosidade apesar de ofendido. _ Meu senhor... Antes era Afhany que aprontava dessas, agora sua rainha está indo pelo mesmo caminho. Que destino o seu... – Demy disse e todas começaram a rir, até mesmo Liã. Moisés as fitou a todas. _ Isso que aconteceu hoje, é muito mais grave que qualquer uma de vocês possa entender. Ela não fugiu para ir embora. Ela foi a procura de um deus. E acho que ela achou. Isso pode nos trazer grandes problemas futuros ou até mesmo imediatos. Não brinquem com isso. Ela pode ter voltado mais letal que qualquer arma ou veneno que já conheceram. As concubinas pararam de rir imediatamente. _ Meu senhor... – Isso não é possível. – Disse Liã serena. _ Por que? Foi no deserto do lugar que ela veio que eu e antes de mim meu pai, encontramos o deus Théo. Eles mantem um lugar, como um lar temporário para eles junto as dunas do deserto. _ Não Moisés! Eu lhe digo que não é possível, por que realmente não é. Eu convivi com todos eles, e sei que todos recusaram a fidelidade de dom João. Sou da mesma terra que eles. E sei com toda certeza, que deus algum, faria acordo com Elisa. A família dela sempre fora rejeitada pelos deuses. Eles não me trairiam assim. – Disse Liã com a voz confiante.
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