_ O que faz acordado tão cedo, meu amigo? Algum problema lhe tirou o sono? – Ele disse, reparando nas olheiras do amigo.
_ Moisés... Não há outro jeito de lhe dizer isso... Então vou direto ao assunto. Estou com medo que a rainha esteja desconfiada que eu não seja você. – Ele disse desolado. –É provável que ela mande me decapitar se ter certeza de que esta sendo enganada.
_ O que te faz pensar que ela desconfia? Ela disse alguma coisa?
_ Não. Só disse que me ama e que não saberia mais viver sem mim. Ela disse isso pensativa. Como se algo passasse pela sua cabeça. O pior de tudo, devo lhe confessar, eu também a amo. E esses momentos que passo com ela, são os mais preciosos do meu dia.
Moisés se levantou e o médico o acompanhou. Moisés colocou a mão em seu ombro.
_ Amigo, um dia ela vai descobrir sim. Mas espero que este dia esteja longe ainda. E não se preocupe por agora. Primeiro que eu jamais permitiria que o decapitassem e segundo que se ela ao menos sonhar que a estamos enganando, ela coloca esse palácio abaixo. Ela é voluntariosa. Jamais aceitaria tal afronta calada.
Alfredo meneou a cabeça. Sentiu-se mais confiante. E tinha que deixar Moisés avisado da segunda novidade. Não tinha como escapar disso.
_ Já estou mais tranquilo sobre esse assunto.
_ Esse assunto? Há algo mais que eu deva saber?
_ Ela marcou uma consulta comigo agora cedo.
_ Não vejo m*l nenhum nisso. Talvez esteja com enxaqueca ou dificuldade para dormir...
_ Não é nada disso. Ela deseja saber se... Está gravida.
Moisés levou a mão a cabeça. Não tinha palavras para definir o que sentia.
_ Eu... Sinto muito. – Disse o médico indo até um móvel que ficava do lado da cama de Moisés procurar algo para ele tomar com agua. Ele não imaginava que o rei ficaria em estado de choque. Ele desistiu assim que ouviu a risada do rei. Voltou correndo até onde ele estava. E ficou o fitando. Agora estava histérico. Ele ficou tentado, mas achava que o rei não veria com bons olhos se levasse uma bofetada. – O que é engraçado nessa situação? – Ele perguntou quando já estava ficando nervoso com a atitude do rei. Aquilo não era uma brincadeira. Era um assunto sério.
Moisés parou de rir com algum esforço e fitando o amigo ainda com lágrimas nos olhos, lhe disse:
_ Parabéns. Se ela estiver grávida vou ter que lhe revelar a verdade. Não posso tirar o trono do meu sangue por mais que você seja meu amigo.
Alfred o fitou com ira nos olhos.
_ Eu pensei em dar um remédio para que essa gravidez não prosseguisse. E jamais permitiria que um filho meu, chamasse outro homem, mesmo ele sendo um rei, de pai. Vossa Majestade me ofende com tal comentário. Pensei que conversaríamos como dois adultos. – Ele disse e já ia saindo quando ouviu algo realmente inesperado, que jamais pensou que ouviria em toda sua vida.
_ Me desculpe. Eu lamento muito. Não vá.
Alfredo voltou-se para ele com o coração já mais calmo, sem a raiva que sentira a pouco. Moisés tinha esse efeito sobre ele.
_ Não dê nada a ela para m***r a criança. Com o tempo pensaremos em alguma coisa. Te garanto que não permitirei que essa criança seja menosprezada. Se Elisa não o aceitar com o tempo, mandarei ela para o castelo de seu pai, e você ficara com a guarda da criança. Mas talvez, isso tudo tenha um final feliz, e ela te aceite como marido.
_ Está bem. Afinal, ainda nem sabemos se ela está mesmo grávida. Pode ser só uma suspeita.
_ Sim. Você tem razão.
Alfred se despediu e saiu e deixou Moisés contemplativo. Se ela pediu a presença do médico, com certeza ela já estava gravida. Mas esse seria um problema para depois. Agora precisava encontrar Otavio.
Ele saiu do quarto e mandou que seus vassalos e seus guardas procurassem por Otavio. E quem o achasse devia traze-lo imediatamente a sua presença. Contudo, naquele dia, Otavio não foi encontrado.
Assim que Moisés deu as ordens desceu para o desjejum, Não podia se esquecer de seu sogro. E ele já estava lá o esperando com um sorriso satisfeito.
_ Vejo que não esperou nem a mim e nem a sua filha para o desjejum. – Moisés disse sentando.
_ Mas é claro que estou esperando meus anfitriões. Estou apenas feliz que você tenha tanta sorte. Como aquele copo escapuliu de sua mão daquela forma? Foi como se alguém o empurrasse...
_ Não acho que devemos falar desse assunto no desjejum. Não quero perder a fome, ou sua filha pode achar que estou desfazendo dela ao não comer fazendo-lhe companhia.
Dom João sorriu.
_ É claro. Como queira. Vamos conversar de negócios do seu reino então. – Ele disse colocando as mãos sobre a mesa. – Diga-me, que fim teve suas concubinas após o casamento com minha filha?
_ Elas estão alojadas em um dos castelos que rodeiam o palácio. Por mim estariam aqui dentro, como sempre, mas sua filha estava muito indignada com a presença delas.
_ O que esta me dizendo? Você não se livrou delas? Acho que minha filha merecia mais consideração, pois ela é sua rainha! – O tom de dom João era de desgosto.
_ Sua filha tem toda consideração que merece. E é muito bem tratada aqui. Como uma rainha. Mas o homem da casa continua sendo eu. E sou eu quem decide as coisas por aqui. No seu reino você faça do seu jeito, mas aqui, por favor, peço que não dê palpites que possa indispor sua filha contra mim.
Dom João se calou. Queria apenas tirar Moisés do sério. Mas não conseguira. Ele estava estranhamente calmo demais para alguém que sofreu um atentado contra a vida poucas horas antes. Mas ele seria mais esperto que Matheus. Moisés não lhe escaparia.
Após alguns minutos, Elisa desceu. Estava radiante. Moisés imaginou que ela chegaria dando a noticia, mas sentou-se e se manteve calada. Apenas respondendo ao pai enquanto fazia sua refeição. Até Moisés que não a suportava, achou que ela estava mais bonita que de costume. Tinha um brilho especial em seu olhar e seu semblante estava irradiando felicidade. Moisés apenas perguntou-lhe se estava tudo bem, com que ela respondeu afirmativa, mas com um ar de mistério. Moisés então se levantou e deixou os dois a sós para que pudessem conversar de seus assuntos.
Assim que saiu Elisa voltou-se para o pai.
_ Já tenho algumas joias que posso lhe dar para comprar um exercito e treinar os homens que já tem. Espero que seja suficiente.
_ Claro minha filha. Quando eu estiver partindo para o meu lar, você me passa elas.
_ E tem mais. Estou grávida.
Dom João sorriu feliz.
_ Isso é perfeito. Está saindo tudo como planejado. Logo será o fim de Moisés. E seremos a família real mais poderosa de todos os reinos.
_ Tem mais uma coisa. Preciso que receba Matheus em seu castelo. Está morando num barraco e isso não é bom para nós. Ele é nosso aliado, e só sentirá gratidão se o ajudarmos.
_ Ele é um fracassado minha filha. Devíamos deixa-lo de lado. Não vejo nenhuma situação em que ele poderá nos ser útil. – Dom João disse com desgosto.
_ Deve fazer o que digo. Matheus é irmão do rei. E Moisés sente profundo afeto por ele. Talvez ele nos será como refém, melhor que meu filho. E além do mais, Podemos entregar a cabeça de Matheus se assim for necessário para obrigar Moisés a se render. Não desfaça ainda daquilo que poderá ser usado mais pra frente. Temos que pensar em todas as possibilidades. E ainda, Moisés ficaria grato se abrigarmos seu irmão. Não pensará em nós como inimigos. E isso seria estar um passo a frente dele. Temos que pedir ao seu deus que convença o deus de Moisés a não se envolver nesse caso, ou nada do que fizermos surtirá efeito. A fera protege ele.
_ Isso seria muito difícil minha filha. O meu deus me abandonou a uma década. Ele se cansou deste mundo. Todos estão desistindo e indo embora. São poucos os que ainda insistem em ficar e eles já tem seus fiéis. E ainda sim, não sou mais jovem. O que teria para oferecer que interessasse a um deus?
_ Você teria meu filho. Pode nomeá-lo como seu sucessor ao trono. E ele seria capaz de dar ao deus que aceita-lo, todas as virgens, e tudo mais que ele quisesse.
_ Mas seu filho já herdeiro de Moisés que é o reino mais poderoso dos reinos. Porque ofereceríamos um reino falido como o meu? Se temos esse aqui?
_ Há coisas que não deve saber agora. Ainda não é hora. – Ela disse pensativa por alguns segundos e então se virou para seu pai, ocorreu-lhe uma ideia. – E se, convencermos o deus de Moisés a ficar do nosso lado?
_ Não. Seria muito arriscado. A fera pode contar a Moisés sobre nossos planos. Não podemos contar com a ajuda de Théo.
_ Tem razão... – Ponderou Eliza, se lembrando que a fera sabe que o filho que carrega não pertence o rei. Esse deus não teria motivação alguma para ajuda-los. – Então, por enquanto, você deve ir procurando o exército e treinando os homens do reino. Como já disse, deve ir buscar Matheus para que habite contigo.
_ Eu nem sei onde encontrar esse moço. Ouvi os guardas perguntando por ai onde estava Otavio. Com certeza Moisés descobriu que foi ele quem colocou o veneno. Matheus deve estar escondido junto com ele.
_ Sim. Farei um mapa para que encontre a barraca onde se esconde Matheus. Mas não se atreva a levar Otavio junto com vocês. Pois é certo que a ele sim, Moisés vê como inimigo, e não aprovaria nossa acolhida a ele.
_ Assim será feito minha princesa. – Dom João disse e se retirou pensando em como sua filha se tornara ardilosa.
Moisés, mais tarde voltou ao concubinato e reuniu suas mulheres, contando-lhes o que lhe dissera a fera e o que deviam fazer. Liã e Afhany se entreolharam e se deram as mãos, aceitando assim seus destinos. Afhany ainda tinha grandes duvidas sobre isso, mas não quis se pronunciar para não magoar Liã, afinal, era coisa de seu povo essa ligação entre deus e homem. Então não saberia dizer o que o futuro os aguardava. Demy e Louise se sentiram agradecidas por terem sido lembradas, mesmo com temor por não saber o que aconteceria de verdade. Saíram no meio da madrugada e em alguns minutos, chegaram a mata do Redô, como lhe prometera a fera.
Liã os guiaram até o castelo onde vivera sua infância, e lá estavam seu pai, os conselheiros e a fera. Junto com Moisés e as outras mulheres fizera reverência a seu pai. As outras concubinas ficaram maravilhadas com om lugar. Era um clareira, mas inexplicavelmente linda.
_Levantem-se. Não é preciso reverenciar-me. - A voz do pai de Liã se fez ouvir e então eles se ergueram. - Estou orgulhoso de ti Liã, minha bela filha. Cumpriu com maestria seu dever. Antes que comecemos o ritual, para que o filho do homem se torne um deus, preciso dizer a ti Moisés algo que com certeza não lhe agradará...Terá que escolher entre as duas mulheres que ama. Pois só uma reinará contigo do teu lado como deusa.
Moisés o fitou e disse determinado.
_Não disporei de nenhuma. Amo-as igualmente.
O pai de Liã sorriu-lhe.
_Sabia que diria algo assim. Aviso-o que sendo assim o destino decidirá por ti. De momento, precisará ao menos dispor de sua rainha.
_Como poderia fazer isso?
_Tu jamais a amaste e essa não lhe gerou filhos, tem o direito de devolve-la, segundo suas próprias leis.
_Apesar de não ama-la, não posso bani-la. Tenho-lhe piedade. Afinal o único motivo pelo qual ela jamais me gerara um herdeiro é que não voltei a me deitar com ela após o ritual.
_Darás aquela mulher para que ela possa viver em companhia do pai e do amante, a quem já aprendera a amar, e lhe gerará herdeiros.
_Mas... Ela desconhece que tem um amante.
_Não. Ela sabe. E lhe odeia por engana-la e planeja tua morte para que o homem que se deita com ela suba ao trono.
_Mas com minha morte quem subiria ao trono seria Matheus, meu irmão.
_Sim. Mas ela planeja mata-lo também.
_Confesso que já não sei mais o que pensar... Como Elisa seria capaz disso? Era difícil acreditar. Contudo, não lhe dissera que estava grávida, então podia mesmo estar armando alguma coisa contra ele.
_Fique com Liã. Faça as pazes com seu irmão, enviando-lhe Afhany. Ele a aceitará com tua filha, pois é certo que a ama.
_Fazer isso seria como arrancar-me uma parte.
_Os filhos que Liã e Afhany esperam, não devem ser criados separados, mas devem acreditar que não são irmãos. O futuro que nos vem pela frente é sombrio e assustador. E através dessas crianças, uma nova geração de guerreiros poderosos nasceram para serem capazes de lutar contra esse m*l. Infelizmente sacrifícios são necessários para que o futuro seja salvo. Terá que abrir mão de algo.
Moisés abaixou a cabeça e logo a ergueu, pois uma mão tocou seu ombro suavemente e ele a fitou. Era Afhany.
_Me mande para Matheus. É o melhor a fazer. E se banir Eliza, saberá que sua inimiga está longe, o que será melhor para nossos filhos, pela segurança deles. E quanto a Matheus, é melhor tê-lo ao seu lado como aliado, pois isso o tornará mais forte. - Afhany disse com voz embargada e os olhos rasos d´agua e Moisés a abraçou forte. Era difícil para ambos.
_Sábias palavras, minha bela, mas como viverei sem ti?
_Viveremos todos juntos no palácio e... - Ela passou a mão no ventre - Estamos ligados para sempre, aconteça o que acontecer.
_ Você é minha vida Afhany. Não posso fazer isso. Entrega-la seria como arrancar meu coração. E ainda tenho compromisso comeu amigo Alfred. Não posso falhar com minha palavra ou que tipo de homem serei? Não. Isso esta fora de questão. Não ficarei sem nenhuma de vocês. - Moisés disse e se voltou para a fera. – Abra o portal para que possamos voltar. Não haverá nenhuma união hoje e talvez nunca se vocês não arrumarem um jeito de não me impor condição alguma.
Liã e seu pai se fitaram. Sabiam que aquilo não era bom. Liã chamou seu pai para um canto para conversarem a sós.
_ Pai! Como pôde fazer tantas exigências a Moisés? Era certo que ele não aceitaria, pois está irremediavelmente apaixonado por Afhany. Vá lá e diga a ele que mudou de opinião. Que fará como ele quiser. Ou então todos nós viraremos **!
_ Entendo minha filha que você não compreenda agora o que esta acontecendo, é maior do que nós. Ele negou uma vida de privilégios por causa do amor de uma mulher. E cabe a nós aceitarmos. Por ora. Essa foi apenas a primeira das nossas tentativas. Haverá outras. Não se preocupe, pois sabemos o que estamos fazendo. Ele vai aceitar nossas condições quando chegar a hora. Fique tranquila. – Ele disse e dando um beijo na testa da filha foi ao encontro de Moisés.
_ Liã tem alguma coisa com essa negociação? Foi ideia dela? – Moisés perguntou a fera assim que a viu se afastar com o pai. Ela podia estar enciumada pois tinha para si que com
certeza ele amava só a ela.
A fera o fitou longamente antes de responder.
_ Você já esta delirando. O que ela ganharia com isso? Os únicos que estão perdendo alguma coisa aqui somos nós dois. Você porque teria definitivamente o poder para ler todas as mentes e se livrar de seus inimigos. Teria o poder de olhar para seus filhos bebês e saber como seriam na sua vida de adultos. E eu perdi meu descanso. Pois uniria meu poder a sua humanidade e ficaria livre para ir viver junto dos outros deuses. Mas empenhei minha palavra a seu pai que jamais abandonaria você sem recursos para se proteger. E agora estou muito decepcionado contigo. Você não faz ideia do que está abrindo mão. – A fera disse e voltou seu olhar para Liã e seu pai que já estavam voltando. Assim que chegaram até eles, o deus Théo abriu o portal com um grunhido que mais parecia uma canção e sem olhar para trás, passou por ele. Moisés pegou na mão de Afhany e passou com ela pelo portal, seguido de suas outras três concubinas.
Ao chegar em seu reino, Moisés não viu a fera, mas podia sentir sua presença invisível. Acompanhou as suas concubinas até o castelo em que habitavam, deu um beijo na testa de cada uma e depois entrou em seu palácio. Já estava tudo escuro e ele foi direto para seu dormitório. Não desejava ver nem mesmo Alfredo e muito menos Elisa. Não poderia dizer o que sentia para ninguém, mas depois da sua recusa esta noite, um vazio tomou conta de todo seu ser, como se faltasse algo para preenche-lo. Ele sabia que se dissesse isso para suas concubinas, elas logo ligariam o seu vazio a sua renuncia de se tornar um deus humano. Pois ele mesmo acreditava nisso. Mas era uma escolha muito complicada. Não podia ficar sem Afhany, pois outro vazio tomaria seu corpo. Precisava conversar com a fera para que retirasse essa condição. Afinal, ela não era empecilho nenhum. E a fera também amava ela. Com a unificação dos dois esse amor ficaria mais intenso. Eles tem que entender isso. Porque será que desejavam afastar Afhany dele? Será que tinham... Mas é claro! Eles querem afastar Afhany, para Liã ter o caminho livre para subir ao trono como rainha! Como não havia percebido antes? Eles fizeram todo aquele teatro para manipula-lo! Falaria com a fera no dia seguinte. Deveriam rever esse acordo. Ainda poderia convencer a fera. Afinal, sempre foram amigos. Assim que pensou nisso, seu coração se acalmou e ele acabou adormecendo.
No palácio o sumiço repentino do rei com suas concubinas não passara despercebido por Eliza e seu pai. Enquanto jantavam Eliza se dirigiu ao pai.
_Aquele Otávio é mesmo um incompetente! Como fora deixar o vinho com o veneno derramar ao chão? – Disse ela descontrolada, esquecida da conversa que tiveram mais cedo. Agora Moisés desconfia de mim, e se tornará mais cauteloso. Mandarei reclamações a Matheus.
O velho pai de Eliza a fitou.
_Não sei... Mas houve algo de estranho ali. Não reparou como o copo caiu da mão dele? Foi como se tivesse sido empurrado por uma força invisível. – Ele disse para ver se ela se lembrava que já haviam conversado sobre isso e temendo que ela pudesse ter o mesmo fim da mãe.
Liza pensou um pouco. O que fez o coração de dom João ter esperanças que ela se lembraria de todos os planos que fizeram.
_Tem razão. Só pode ter sido obra daquela maldita Liã. Temos que acabar com ela.
_Impossível. Seus poderes a protegem. – Dom João disse desanimado e triste. A filha podia estar tendo apenas um ataque porque Moisés saiu com as concubinas, ou poderia ser a mesma loucura que levou a mãe dela a vegetar numa cama.
Liza ficou mais uma vez pensativa.
_Tem razão. Mas deve ter um ponto fraco. E lhe asseguro que descobrirei.
_Se foi mesmo ela, quer dizer que ela sabe de alguma coisa e pode entregar-lhe.
_O que torna mais um motivo para livrar-me dela.
_Filha, não acha estranho que seu marido tenha partido com todas as suas concubinas? – Ele disse para tentar tirar-lhe o foco de sua ira.
_Já pensei nisso, mas não se preocupe. Ganhei a confiança de uma delas em segredo. Quando voltarem, saberei de tudo.
O pai de Eliza sorriu.
_Puxou a mim, minha filha, e me orgulho muito disso. Irei embora ao amanhecer, mas quero que me mantenha informado.
_Claro. - Eliza assentiu e assim que terminaram o tardio jantar, ela lhe entregou as joias e o mapa e foram se deitar.
Dom João ficou com as joias na mão pensativo. Alguma parte de sua filha ainda estava sã. Pois ela lembrou-se de lhe entregar as joias e o mapa como haviam combinado. Talvez fora apenas o estresse de estar grávida que causou-lhe uma momentânea loucura. E pensando assim, ele foi para seu aposento mais tranquilo.
Eliza foi acordada pelo som de passos leves e suaves que se aproximavam lentamente. Abriu os olhos assustada, mas sorriu tranquila quando descobriu de quem se tratava.
_E então? O que houve para saírem de madrugada?
A mulher encapuzada foi convidada a se sentar, e contou todos os detalhes da viagem daquela noite. Eliza acompanhava-a cada vez mais interessada. E no final do relato, ficou preocupada. Assim que a mulher saiu ela se deitou, mas seus pensamentos não a permitiam dormir. Liã desejava o trono. E contra ela, ela não podia fazer quase nada por ela ter a magia com ela. Amanhã mesmo iria fazer pacto com algum deus. Precisava de p******o e de um aliado poderoso. Enquanto não conseguia fazer o pacto com algum deus, faria da vida dela um inferno. Não permitiria que ela tivesse paz.
No dia seguinte, Elisa acordou cedo e depois que se trocou, desceu para o desjejum. Resolveu que não esperaria seu pai. Assim que terminou, foi até o jardim do palácio. Lá estavam as três concubinas eternizadas em suas estatuas. A que vira que ainda não estava terminada quando chegara ao palácio, era a mais bela de todas e estava completamente terminada. Ela queria que tivesse uma sua também, falaria com Moisés sobre isso. Quando andou mais um pouco, viu outra estatua sendo erguida. Não tinha qualquer duvida que não se tratava dela. Essa devia ser de Liã. Ela sentiu muita raiva. Elas chegaram juntas. Seria tão menosprezada assim, que não merecia uma estatua sua também? Saindo do jardim, Elisa foi até o estabulo dos cavalos. Suspirou aliviada quando viu que já havia criados por ali. Pediu que lhe selassem um cavalo e ficou esperando impaciente. Começou a se preocupar com seu bebê. Será que fazer uma cavalgada prejudicaria seu filho? Não! Não ia se deter agora por nada. Iria até ao fim com seus planos. O cavalo ficou pronto e ela montou sem dizer nada e saiu cavalgando para fora dos limites do palácio.
Moisés e dom João estavam a mesa a mais de meia hora esperando por Elisa para tomarem o desjejum juntos. Eles apenas se fitavam sem trocar palavras. Não aguentando mais o silencio, dom João perguntou:
_ Você não foi vê-la antes de descer para o desjejum?
_ Não. Já é costume nosso nos encontramos aqui. – Hoje ela está mesmo atrasada, a maioria das vezes é ela quem me espera.
Dom João viu uma criada passando com umas toalhas na mão e a chamou. Ela, que nunca havia sido notada no palácio, se aproximou devagar e com medo.
_ Vá até o quarto de minha filha, e veja porque esta demorando para descer. Diga a ela que o pai e seu marido já a esperam impacientes. Diga para se apressar. Pois logo partirei e desejo despedir-me dela.
A criada, mais aliviada, fez uma reverencia e sem dizer nada partiu para o quarto de Elisa, porém esse se encontrava vazio. Ela voltou e deu-lhes a noticia e se retirou rapidamente.
_ O que será que minha filha esta fazendo? – Dom João disse preocupado por causa da loucura que se abateu sobre ela na noite anterior.
_ Não sei. Não posso entender qual motivo ela teria para sair do palácio... – Disse Moisés tranquilo. Para ele, ela devia estar andando por ai e logo apareceria. Ia começar seu desjejum, quando dom João o interrompeu.
_ Isso não é bom Moisés. Seria melhor que saíssemos para procura-la e colocar todos os guardas para fazer o mesmo.
_ Porque diz isso? Ela deve estar apenas perambulando por ai. Não ha caso de alarde. – Moisés disse abandonando o pão que pegara na cesta ao ver o ar de preocupação no rosto do seu sogro.
_ Você nunca perguntou sobre a mãe dela e eu achei que fosse melhor que não soubesse mesmo. Mas agora tenho que lhe dizer a verdade. A mãe de Elisa ainda vive, mas esta em estado vegetativo. Não sai da cama e precisa de ajuda para tudo. Nem comer ela come sozinha. E tudo aconteceu quando ela começou a sumir e aparecer do nada. Ela não se lembrava das coisas e fazia coisas estranhas, como conversar com ela mesma diante de um espelho. Então chamei um dos melhores médicos do reino para examina-la e ela começou a tomar seus medicamentos, no principio parecia que a medicação estava surtindo efeito, mas no passar dos dias, ela começou a não querer mais se levantar até chegar ao ponto de não pronunciar mais nenhuma palavra. Minhas criadas cuidam dela, o médico não sabe explicar o que aconteceu com ela e continua a tratando todos os dias. Com a esperança que ela retorne a ser a pessoa que já foi um dia. Eu até encontrei uma jovem para se casar comigo, e quem sabe me gerar um herdeiro, mas não soube como falar para Elisa. Não sei como ela reagiria.
_ Acho que posso te ajudar com sua esposa, mas o que isso tem a ver com Elisa?
_ Ontem, enquanto jantávamos, ela começou a repetir um assunto que já havíamos conversado antes. Era como se ela não lembrasse de nada que havíamos falado, e seu comportamento era meio agressivo, temo que ela tenha a mesma doença da mãe. Pois a mãe dela também saia e não dizia nada a ninguém, chegando a ficar horas fora.
Moisés se levantou.
_ Colocarei os guardas a sua procura imediatamente. E os criados podem procurar aqui no palácio mesmo, pois é tão grande que nem mesmo eu conheço todos os cômodos. – Moisés disse e saiu para dar ordens aos guardas.
Dom João se admirou da presteza com que seu genro agiu. Como se verdadeiramente se preocupasse com sua filha. Isso o agradou, mas por outro lado, ficava mais difícil ter coragem de se desfazer dele. Pensando nisso, dom João saiu para dar ordens aos criados para que procurassem sua filha dentro do palácio.
Moisés procurou por toda parte fora do palácio indo de prédio em prédio junto com Leal, mas não conseguia encontra-la. O único lugar que ainda não tinha a procurado era no castelo das concubinas. Duvidava que ela iria para lá, mas teria que ir até lá para procura-la. Assim que chegou, elas estavam juntas jazendo o desjejum e levantaram-se assim que ele chegou.
_ Que bom vê-lo logo cedo majestade... – Demy disse se aproximando e dando-lhe um beijo que ele correspondeu segurando-a pela cintura. Assim que se afastaram, ele disse a todas:
- A rainha sumiu. Não a encontramos em lugar nenhum do palácio.
_ E isso é r**m por que... – Disse Afhany indiferente.
Moisés a fitou irritado.
_ Ela esta sobre minha p******o! Não posso deixar que nada de m*l aconteça com ela e nem com ninguém sobre meu teto! Como você pode ser tão insensível Afhany? – Ele disse com dureza.
_ Então não precisa se preocupar mais, pois ela não está sobre seu teto.
_ Se sabe de alguma coisa deve me dizer agora!
Afhany o fitou longamente e depois deu um largo suspiro.
_ Ela saiu cavalgando para fora dos domínios do palácio hoje bem cedo. Fiquei imaginando por que não pensei nisso antes?
Moisés sentiu vontade de dar-lhe umas palmadas.
_ Eu devo ir. Tenho que separar alguns guardas para procura-la no deserto. – Mas ele fitou Afhany e ao vê-la tão indiferente resolveu irrita-la um pouco. – Você deveria ser a primeira a se preocupar Afhany, pois sabe bem como é estar perdida no deserto. Não foi lá que te encontrei tentando escapar?
Ela o fitou furiosa, e ele saiu com um sorriso nos lábios.
Moisés voltou ao palácio para dom João que sairia a procura de sua filha junto com alguns guardas. Seu sogro era só preocupação, e agora estava com medo que sua filha tenha sido tola de sair sem levar agua naquele deserto. Ele ia se oferecer para ir junto, mas viu Moisés mobilizando a todos paralisado de terror. Não conseguia nem se expressar. Viu-os saindo e foi tomar um copo de agua para se acalmar. Ele iria viajar aquela manhã, mas não podia ir sem ter noticias de sua filha.