Canalhices e Risadas

1110 Words
O sol ainda não tinha dado o ar da graça quando meu celular começou a vibrar insistentemente na mesa de cabeceira. Eu estava estirado, tentando puxar mais cinco minutos de sono, quando vi que a tela piscava com o nome dela: Juliana. Suspirei, meio sonolento, mas um sorriso inevitável se abriu no meu rosto. — Então você acordou cedo pra me procurar… — murmurei pra mim mesmo, levantando o celular e atendendo. — Beto! — a voz dela veio animada, quase exagerada. — Que isso, me ignora agora? Não me diga que o conquistador da noite passada já sumiu no mundo! — Calma aí, Juliana… — disse, bocejando e passando a mão pelo cabelo bagunçado. — Eu não desapareci, só estou mantendo a minha rotina de homem ocupado. Sabe como é… vendendo carros, sendo o galã local… coisas de gente importante. — Ah, claro, galã local! — Ela riu, provocativa. — E eu achando que você não era mais um desses caras canalhas que aparecem, fazem festa, e depois somem. — Canalha? — repeti, fingindo indignação. — Canalha é quem mente, engana ou promete mundos e fundos. Eu não prometi nada, Juliana. Eu apenas… cumpri meu papel de homem divertido por uma noite. Ela deu aquela risada debochada que me fazia rir junto, mesmo do outro lado da linha. — Ah, Beto… você é igual a todos os outros. Diz que não promete nada, mas no fundo é só mais um que se diverte e depois some. — Tá, confesso — disse, com aquele ar de quem admite, mas sem se abalar. — Eu sou meio canalha mesmo. Mas veja bem, Juliana… se você quiser se divertir de vez em quando, me chamar pra umas risadas, umas noites legais… eu topo. Mas nada de amor, nada de dramas ou expectativas. — Hahaha! — Ela gargalhou, e eu podia imaginar perfeitamente o sorriso largo no rosto dela. — Você é impossível! — E depois: — Mas… você é um canalha charmoso, eu dou esse crédito. — Obrigado — respondi. — Aceite o prêmio, porque eu não dou medalha pra qualquer uma, você foi premiada mesmo. — Ah, Beto… você vai me matar de rir e de raiva ao mesmo tempo. — Ela continuava rindo, mas dava pra perceber o deboche por trás das palavras. — Você é tipo… o estereótipo completo: engraçado, charmoso, sabe tudo de conquistar, mas não leva nada a sério. — Bingo — falei, abrindo um sorriso largo. — Mas pelo menos não finjo ser algo que não sou. Honestidade é meu segundo nome… depois de Humberto, claro. Ela fez uma pausa e, pelo tom da voz, percebi que ela estava pensando naquilo, avaliando até onde podia levar a conversa. — Você sempre é assim com todas as mulheres? — perguntou, ainda rindo. — Com todas? — repeti, arqueando a sobrancelha. — Juliana, algumas são especiais. Outras são só diversão. E, sinceramente, não é porque uma noite foi intensa que eu preciso transformar tudo em novela dramática. — Ah, tá vendo? — Ela bufou, rindo de novo, meio irritada, mas no bom sentido. — É exatamente por isso que você é canalha! — E depois, em tom mais baixo, brincou: — Mas eu até gosto. Sorri, imaginando a cena dela mexendo no cabelo, mordendo o lábio, tentando me provocar. — Então tá combinado. — Dei uma risadinha. — Nós nos vemos quando der vontade. Sem dramas. Sem cobranças. Só diversão. — Você é tão previsível quanto imprevisível — disse, ainda rindo. — Mas sabe o que é pior? Eu acho que vou acabar me acostumando. — Então já sabe o que fazer — respondi, me recostando na cabeceira da cama que ainda nem tinha arrumado. — Me ligar quando sentir vontade, me evitar quando achar melhor… e rir muito quando estivermos juntos. Ela suspirou, e eu senti que tinha acertado em cheio. Juliana era daquelas que gostavam de ter controle, mas também adoravam quando alguém conseguia conduzir a situação sem se perder. Eu estava certo de que, por enquanto, eu era esse alguém. — Tá, canalha… — disse, finalmente, depois de alguns segundos de silêncio — você me deixou sem palavras. Mas olha, não se empolgue demais. — Não se preocupe — falei, me levantando e começando a me espreguiçar. — Eu sei meu lugar nesse jogo. Mas confesso: gosto de deixar as mulheres sem palavras. É quase um hobby. Ela riu novamente, e eu desliguei o telefone. Encostei a cabeça na parede, observando o teto, e não pude deixar de sorrir sozinho. A vida era divertida quando você sabia brincar com ela — e, claro, com quem quisesse. Depois de me aprontar, tomar um banho rápido e vestir a roupa do dia — camisa social ajustada, calça escura e sapatos limpos — peguei meu carro. A sensação de ser desejado, de ter deixado alguém com aquela mistura de deboche, risadas e curiosidade, ainda me acompanhava. Era viciante. No caminho para a loja, passei por ruas que conhecia de cor, mas dessa vez tudo parecia mais leve. Cada semáforo era uma pausa pra pensar no que tinha acontecido, cada carro que passava um lembrete da noite divertida, cada sorriso que cruzava comigo um pequeno troféu de conquista. Chegando na loja, respirei fundo, ajeitando a postura. O Djalma me olhou de longe e já sorriu, percebendo a aura diferente que eu carregava. — Bom dia, Beto! — chamou ele, piscando. — Parece que alguém teve mais uma noite… interessante. — Interessante é pouco — respondi, cruzando os braços e deixando um sorriso de canto de boca se abrir. — Digamos que o café da manhã de hoje foi um prelúdio. — Ah, claro… — ele riu, balançando a cabeça. — Então vamos ver se esse seu bom humor vai render vendas também. — Vai render — falei, piscando. — Mas hoje o destaque sou eu mesmo. O resto é detalhe. Passei o dia todo assim, com o ar de “conquistador saciado”, brincando com clientes, arrancando risadas de todo mundo, e aproveitando aquele jogo de olhares com algumas mulheres que entravam na loja. Não era só charme gratuito: era a certeza de que podia manter meu controle sobre qualquer situação. E Juliana? Bem, ela estava ali na minha mente, uma lembrança deliciosa que me fazia sorrir sozinho, brincar com as palavras e com os gestos, e sentir que, mesmo sem apego, ainda havia diversão de sobra na vida. O dia terminou com a mesma sensação de poder que eu sempre buscava: conquistar sem se prender, rir sem medo, viver sem amarras. Eu era o Beto, e ninguém poderia me mudar — pelo menos não por enquanto.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD