Somente três pessoas tiveram o privilégio de serem treinados pessoalmente por minha mãe, Vânia, a primeira mulher soldado, meu pai Sávio e meu irmão.
Eu sei que não sou tão talentosa quanto o Damon, ele com certeza herdou as habilidades da mamãe. Mesmo assim vou dar o meu melhor.
Mamãe me trouxe para um campo de tiro, observo enquanto ela monta um rifle de longo alcance, o melhor do mercado é claro.
—Vou te treinar para ser uma snipper. — Ela notou minha curiosidade.
— Não sou muito boa atirando.— Digo apenas.
— Não é porque nunca se dedicou.— As palavras dela me atingem como um tapa.— Desculpa princesa, estou meio irritada nos últimos dias.
— Saudades do papai?
O sorriso que mamãe esboça não precisa de palavra alguma. Meus pais são apaixonados, e totalmente opostos. Ele está em missão nos Estados Unidos faz alguns dias e o mau-humor da mamãe só cresce, é sempre assim quando ele passa vários dias fora.
Minha mãe é possessiva ao ponto de o prender à ela, mas o ama tanto para deixar ele trilhar seu caminho. Pode parecer contraditório, é assim que o amor deles funciona. Os dois se escolheram, e pode-se notar que são dependentes um do outro.
— Tenho certeza que você se sairá bem, só falta um pouco de prática. Eu vi você crescer, você meu sangue, sei que tem talento apenas não o descobriu ainda. Confia na sua mãe.
Ela termina de arrumar os alvos e volta para o meu lado.
— Sei que vai se sair bem.— Ela pousa a mão no meu ombro.
Eu sei atirar, como todo Wallerius tive aula de tiros e de luta, só que não sou tão boa assim. Na verdade nunca gostei muito desse lado da minha família, não me sinto uma guerreira igual os outros, tanto que nem a tatuagem de cobra tenho ainda.
Posiciono o rifle no meu ombro.
— Lembre- se do recuo da arma.— Mamãe fala.
Endureço meu corpo. Miro no alvo e atiro.
Não foi muito bom, como já imaginava.
—Prende a respiração.
Fico sem entender.
— Quando estiver mirando prende a respiração e só solta depois disparar.— Explica. — Você perde a mira quando respira.
Volto a me posicionar, e agora sigo os conselhos da mamãe. E dessa vez o disparo é bem melhor.
— Te falei que levava jeito.— Diz com um sorriso de lado.— Agora treina mais, até suas mãos quase caírem.
Esse é o jeitinho da mamãe.
Continuo atirando, até minha mãe se dar por satisfeita. Demorou bastante, quase terminamos com a punição.
Quando estou cansada, minha mãe pega o rifle e dá alguns tiros para demonstrar. Bem melhores que os meus.
— Nem sabia que minha querida mãe atirava tão bem.— Comento.
— Eu era uma das melhores atiradoras.— Senta do meu lado.— Só que nunca ocupei a posição de snipper . Não achava certo o dom ficar de longe enquanto os subordinados estavam arriscando as vidas. Um líder tem que estar na linha de frente para conseguir respeito dos soldados.
— Alguma vez a senhora teve medo? Ou duvidou que ia conseguir?
— Claro que sim, mas não podia demostrar pra ninguém. Eu era apenas uma menina assustada, tive que forjar essa imagem de louca sádica para me manter viva, eles tinham que ter mais medo de mim do que eu tinha deles, eu fingia que nada me abalava...Filha, eu não nasci assim, eu me tornei assim.
— Os Wallerius são forjados a sangue e sofrimento.— Digo.
Tenho que admitir que já senti raiva da minha mãe. Pode parecer ingratidão da minha parte e era. Mas eu olhava pra ela e tinha a certeza que nunca chegaria aos pés dela. Ela era tão perfeita, tão destemida.
Eu sou filha da Ava Wallerius, dom da Máfia Vermelha, a Serpente, Olhos do Demônio, a Demônia Russa, Quebradora de Ossos, Reencarnação de Raspustin, Deusa da Guerra... esses são alguns dos apelidos que minha mãe ganhou ao longo dos anos. Não sabia como estar à altura de alguém tão poderosa. Sou bem o contrário de Damon, ele sempre teve certeza que seria grande igual a mamãe.
Uma coisa que admiro demais no papai é que ele não se ofende de ficar à sombra da mamãe. A máfia é um lugar machista, meu pai é sempre chamado de marido troféu, só que ele não se ofende, nem pouco liga para isso. Tudo isso por ela. Deixou de ser um Salvatore e passou a usar o sobrenome Wallerius.
Eu tenho certeza que o amor existe por causa deles.
Sempre quis tem um amor assim, sabemos que não deu muito certo.
— Quando seu pai chega de viagem?— Tio Vlad me pergunta.
— Acho que amanhã.
— Ninguém aguenta mais o mau humor da tua mãe.— Ele bufa.— Devia ter saído para umas férias igual Serguei e Klaus fizeram.
— A casa anda muito vazia esses dias.
Nossa família era grande, só assim para encher essa casa imensa. Além dos meus pais e meu irmão, moravam na casa meu tio Vlad e tia Layla e meus dois primos Alexei e Apollo, os primos da mamãe Serguei e Klaus que chamávamos de tios também, Serguei se casou com tia Nathalia e tiveram Luke, Klaus se casou com tia Helena e tiveram Roman. Tirando Apollo que é o mais novo, todos temos idade bem próxima, diferença de apenas três anos. Ahhh, e vovô Damon morava com nós também.
A família que era conhecida como os monstros de San Petersburgo, todos se apaixonaram, casaram e são felizes.
Mamãe e Damon entram na sala, os dois estavam resolvendo alguns problemas na cidade.
— Acho que vou dormir.— Tio Vlad diz se levantando.— Estou meio dolorido, idade chegando.— Me lança uma piscadela.
Sobe para o segundo andar.
— Tudo certo na cidade?— Pergunto.
Mamãe se senta numa poltrona e Damon do meu lado.
— Problemas como sempre.— Ela responde.
Ficamos conversando como uma família normal, não uma de mafiosos.
— Cheguei família.—Uma voz invade a sala.
Era nosso pai que chegou de surpresa. Mamãe abre um sorriso que não é visto muito seguido em seu rosto
Papai beija minha testa e bagunça os cabelos de Damon, indo para nossa mãe, onde pousa um beijo demorado em seus lábios. Devo enfatizar que meu pai é louco pela mamãe.
— Vamos subir, cobrinha? A viagem foi longa.— Papai diz.
Mamãe acena que sim, e os dois sobem para o andar de cima.
— Sabemos que pra uma coisa papai ainda tem energia.—Damon solta uma piadinha.
Solto uma gargalhada.
— Nossos tios agradecem papai ter vindo mais cedo.— Comento.
Mamãe acordaria bem calminha.
Ficamos conversando, até que minha atenção se volta para nossa cobra no terrário. Isso mesmo temos uma píton albina em exposição na sala de estar. Os Wallerius tem uma ligação estranha com cobras, por ser o símbolo da nossa família. Quando era mais nova achava que todos eram da sonserina.
— Acho que Éden está com fome. — Damon fala indo pegar sua comida.
Éden era o nome da cobra, batizada por meu irmão. Fazendo uma referência ao jardim do Éden, o paraíso.
Damon volta com alguns ratos, colocando dentro do ambiente de vidro. Voltando a se sentar do meu lado.
Observo os ratos sendo encurralados pela serpente e virando seu jantar.
— As vezes me sinto como esse ratinho.— Resmungo.
— Você é uma serpente.— Damon fala irritado.— Eu te amo mas não aguento mais você se menosprezando.
— Damon, eu...
— Anya, me escuta.— Segura em meus ombros.— O papai abandonou tudo pelo amor que sentia pela mamãe, sua família, seus amigos... tudo por ela. Você merece um amor ... Alguém que te ame mais que tudo e todos...não aceite nada menos que isso.
Damon se levanta e caminha de um lado para outro.
— Sei que você ama o Reinier à muito tempo, mas você é uma Wallerius, não deve diminuir seu valor por homem nenhum. Mesmo sendo um D'Angelo.
— Eu não sou igual à você e a mamãe.
— Você está muito enganada. Nós nascemos juntos, eu te conheço melhor que ninguém. Sei que você é forte, só não se descobriu ainda. Você é uma Wallerius nunca se esqueça disso.
Começo a chorar. Damon me abraça, me consolando como sempre faz.
Nesse momento prometo que não vou mais derramar lágrimas por homem algum.
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Olá meus leitores, obrigado a todos que me acompanharam no ano que passou. Convido a iniciamos uma novo jornada nesse ano novo. Criei um insta @ange.pontes para interagir com vocês.
Feliz Ano Novo!!!