Sete Primaveras

1119 Words
O salão de festa estava decorado com balões cor-de-rosa e lilás. Um painel com o nome "Maria" em letras douradas brilhava sob o sol da tarde que refletia pelas janelas, cercado por flores e doces coloridos. Era um dia leve, um raro dia de paz. Amigos da escola, colegas de trabalho, familiares e vizinhos circulavam pelos espaços com sorrisos largos, enquanto a pequena aniversariante corria de um lado para o outro, vestida como uma princesa. Bruno observava Maria com um sorriso orgulhoso nos lábios. Sete anos. Sete anos de lutas, medos, perdas… e, ainda assim, ela estava ali — sorrindo, crescendo, vivendo. Ao seu lado, Camila, de vestido claro e cabelos presos num coque elegante, segurava duas taças de refrigerante. — “Ela está linda, Bruno. Você fez um ótimo trabalho ”— disse Camila, entregando-lhe uma das taças. — “Ela é incrível. Mas não fui só eu. Maria tem muito da mãe…” — respondeu ele, com um tom mais contido. Camila apertou os lábios, tentando manter o sorriso. Desde que Milena havia reaparecido, ela sentia algo diferente em Bruno. Algo que ainda não conseguia nomear, Camila conheceu Brunos anos atras,atravez de um estagio que fez na fundação que Alessandra administrava,tempo depois ela se mudou para curitiba a passou a trabalhar mais proxima de Bruno,e assim acabou conhecendo melhor sobre a relação dele com a filha,e sobre Milena. Do outro lado do quintal, Milena obsrvava discretamente, encostada em uma das árvores. Estava linda, como sempre, de jeans e blusa branca, cabelos soltos,hoje ja um pouco longos, olhos atentos. Ela não queria chamar atenção, queria apenas estar presente por Maria. —“ Quer um pouco de vinho?” — perguntou Rodrigo, se aproximando com duas latas de cerveja Milena aceitou. Já haviam trocado olhares cúmplices durante toda a tarde, e embora tentassem disfarçar, havia uma tensão pairando entre eles. Uma tensão prestes a romper. Enquanto isso, Thiago ria ao lado de uma jovem de olhos puxados e sorriso tímido. Akemi, filha de um diplomata japonês no Brasil, conhecera Thiago em uma palestra sobre reconstrução civil pós-conflito. Os dois se entenderam quase de imediato, e desde então, cultivavam algo silencioso, mas cheio de promessas. — “Você dança, Akemi? ”— perguntou Thiago, estendendo a mão,ela apenas assentiu com um leve sorriso. Thiago não se lembrava da última vez que sentira paz ao olhar nos olhos de alguém. A noite caiu devagar, e com ela vieram as luzes decorativas. O bolo foi cortado, os parabéns cantados com entusiasmo, e Maria estava exausta de tanta alegria. — “Papai, posso dormir na casa da mamãe hoje? ”— perguntou a menina, de olhos brilhando. Bruno hesitou. Olhou para Milena, depois para Camila, que já estava ao seu lado. — “Claro, princesa. Mas me liga se precisar de qualquer coisa, tá? ” Ela correu para abraçar a mãe,Camila assistia tudo com um sorriso educado, mas seu olhar era gélido. — “Você não acha que é cedo demais pra ela ficar tanto tempo com… ela? ” — “Milena é a mãe da Maria, Camila. Ela tem direito. E Maria está feliz.” Camila mordeu o lábio inferior e desviou o olhar. Mas algo dentro dela queimava. Horas depois e o silêncio da madrugada envolvia a sala da casas de Milena,Rodrigo estava lá. Não havia ido embora após levalas para casa de Milena — “Você sempre foi bom com palavras, Rodrigo” — disse Milena, sentada no balcão do pequeno bar no canto da sala,com os pés descalços balançando no ar. — “E você… sempre soube onde me atingir” — respondeu ele, sorrindo com um copo de vinho na mão. Os dois riram. Havia algo leve entre eles. Algo que só o álcool, a nostalgia e a ausência de barreiras podiam justificar. — “Sabe… por muito tempo eu te procurei ”—confessou ele, aproximando-se, Milena desviou o olhar, mas não se afastou. Ele continuou: — “Eu só queria saber se você estava viva. Se você… era feliz.” Ela virou o rosto para encará-lo. A dor nos olhos de Rodrigo era real. — “Eu sobrevivi, Rodrigo. Não sei se fui feliz… mas sobrevivi.” Ele encostou os lábios nos dela sem pedir permissão. E ela… não resistiu. Talvez fosse o vinho, talvez fosse o buraco de emoções não resolvidas que ela carregava. Talvez fosse apenas carência. Mas naquela noite, Milena deixou-se envolver por ele. E, pela primeira vez em muito tempo, não sentiu culpa. Apenas calor, desejo… e uma trégua,no dia seguinte, o sol batia forte quando Bruno passou para buscar Maria. Milena abriu o portão, e logo a menina correu para o pai. — “Dormi super bem! A mamãe me contou uma história debaixo das cobertas!” Bruno sorriu, mas logo notou algo diferente no ar. O cheiro de vinho, um perfume masculino no ar…ele estreitou os olhos. Mas não disse nada. Apenas observou Milena com atenção. Ela parecia leve, mas havia um brilho diferente nos olhos,dias depois, Camila apareceu no trabalho de Bruno com uma marmita caseira. — “Fiz sua comida preferida. Sei que você vive esquecendo de almoçar ”— disse ela, com um sorriso largo. — “Camila, não precisava. Mas… obrigado.” — “Faço questão. E estava pensando… talvez eu possa buscar a Maria na escola, um dia desses. Eu gosto de passar tempo com ela. A gente se dá bem, né?” Bruno ficou em silêncio por um segundo. Aquela súbita disponibilidade parecia… demais. — “Eu te agradeço, mas por enquanto prefiro manter a rotina dela como está.” Camila assentiu, mas seu sorriso não se desfez. Por dentro, no entanto, algo nela rangia. Camila começava a sentir que Milena não era a única ameaça no caminho de seu relacionamento com Bruno. A menina também era. Maria era o elo que mantinha Bruno ligado ao passado. E, se ela quisesse Bruno, teria que ocupar cada espaço. Na mesma noite, Milena ajudava Maria a lavar o cabelo no tanque do quintal. — “Mamãe… por que você e o papai não dormem juntos?” Milena riu, surpresa. — “Porque... às vezes, adultos que se amam, ainda assim não conseguem ficar juntos, minha flor.” — “Mas eu gosto de dormir nas duas casas. Na casa do papai eu vejo filmes. Aqui, a gente conta histórias e come pipoca com leite condensado!” Milena a beijou no topo da cabeça. — “E onde você se sente mais feliz?” Maria sorriu. — “Onde eu estou com você.” Milena fechou os olhos. Aquele amor puro era tudo que precisava para seguir. Mesmo que seu coração estivesse, mais uma vez, em guerra.
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