A confissão
Lis estava no banho quando Ming entrou, o maxilar travado, músculos tensos, o olhar vidrado, entrou no box do banheiro e puxou a mulher para si, o beijo era possessivo, os toques firmes, não quis ouvir as negativas da mulher, mas quando ela golpeou o seu rosto, despertou do torpor em que estava.
- Não!
Segurou ela pelo pescoço e a ergueu do chão.
- Eu comprei você! Me pertence, posso fazer o que eu quiser, chega desse jogo, Lis! Entendeu? Acaba hoje...
Lis fechou os olhos, não porque se renderia, mas achava que morrer seria um bom destino, lembrou de como chegou aquela casa, do tempo em que foi feliz longe de todo aquele dinheiro, da força que todos achavam que ela tinha...
O ar retornou aos pulmões, abriu os olhos ainda perdida nos próprios pensamentos, nas memórias de um passado que parecia distante demais, quase irreal, lembranças roubadas, nelas tinha conseguido vencer os anos de violência, abusos, dor e estupros, encontrado o amor, descoberto o prazer e flertado com um tipo de felicidade tão completa que a sensação ainda lhe sustentava.
- Desculpa, Lis, perdão.
Ming estava ajoelhado, a água escorria pelos cabelos e trilhavam caminhos pelos músculos do marido. Um homem bonito, forte e capaz de lhe dar o mundo, ainda assim, não conseguia lhe oferecer nada além daquele vazio. Lis deitou a cabeça no braço do homem e chorou.
- Eu não consigo.
Ela podia lhe oferecer sеxο, deixou que ele se satisfizesse muitas vezes, que usufruísse do seu corpo para aliviar a pressão do dia a dia, só não era capaz de se entregar realmente. A única vez em que teve prazer com o marido foi quando pensou em outra pessoa, em um homem que estava distante, casado com outra mulher e vivendo a felicidade de ser pai.
- Não vou desistir de você, mas não a quero mais, isso está me enlouquecendo, Lis.
Ming era o novo líder da Tríade, uma organização criminosa de alcance global, herdou o império do irmão após Wan ser assassinado pelos amigos da atual esposa, poderia ter se vingado, encontrado paz no sangue dos inimigos, optou por se render a um sentimento irracional e impulsivo. Vivia ao lado da esposa o seu pior e mais doloroso fracasso.
- Ming, não por favor, eu vou melhorar.
O medo da garota não era perder o conforto que tinha ao lado do chefe da máfia chinesa, nem temia pela própria vida, estava implorando pela manutenção de um contrato, um acordo que a condenava a ser a fiel esposa invejada de Ming em troca, o homem que amava poderia viver. Não era um acordo r**m, o chinês nunca a violentou, jamais a agrediu, oferecia proteção, presentes, dinheiro e era tentadoramente bonito, ainda assim, apesar da razão gritar que Lis deveria ser grata, tudo o que ouvia era uma voz que a condenava.
“Nunca saiu de lá, sempre vai ser a putα que troca prazer por benefícios.”
- Precisa decidir ser minha esposa, Lis, já esperei demais.
Foi a última vez que tiveram uma conversa difícil, e ela confessou a Ming o que jamais tinha tido coragem de falar a ninguém, nem mesmo a Pablo, o homem que realmente possuía seu coração.
- Estou cansada, eu não aguento mais, Ming. Estou farta de fingir que eu sou forte, que não sinto, que posso suportar qualquer coisa. Ninguém me vê, estou pedindo socorro a tempo demais, mas tudo o que as pessoas falam é que eu consigo, ninguém me ouve gritar, não sou de ferro! Não quero mais cuidar de ninguém, quero que alguém olhe para mim e veja que eu não sou invencível, que também preciso de ajuda.
Estavam sentados em um chão frio enquanto a água escorria pelos corpos como se tentasse lavar todas as feridas que carregavam nas almas.
- Posso?
Ming abraçou a esposa como um amigo, não como o homem que havia comprado seus favores, mas como alguém que a amava apesar de saber que jamais a teria.
- Não precisa ser forte comigo, eu posso cuidar de você, só tem que me deixar segurar a sua mão, Lis.
Ming estava nervoso quando chegou, teve problemas com um fornecedor, precisaria implorar pela ajuda do líder americano e esperava nunca mais precisar voltar ao continente, havia planejado seguir o tratado de paz com Ivan, líder da máfia americana e que residia com a família no Brasil de onde havia tirado a esposa.
Entrou na casa, tirou os sapatos e encontrou o computador da esposa aberto, havia centenas de fotos do ex-noivo, do recém-nascido de Rachel, atual esposa do antigo amor de Lis. A garota era excelente em invadir a rede, conseguiu roubar fotos privadas de um dos melhores hackers do mundo, mas não foi orgulho que sentiu e sim, inveja, ciúme, raiva... desejou ter matado Pablo na noite em que conheceu a esposa e acabou sucumbindo a dor.
- Fui convidado para a posse do Presidente eleito do México. Vai ser importante para mim ter a minha esposa ao meu lado, vem comigo?
Lis concordou, realmente estava decidida a viver aquele casamento, tinha sorte, apesar de tudo. Ming podia ser um monstro fora de casa, não tinha certeza de quem ele era, mas como marido não havia defeitos, Pablo tinha seguido a vida, realizou o sonho de ser pai, estava feliz. Olhar aquelas fotos foi como uma libertação, um tipo de permissão para que ela também se permitisse viver.
- Me faz esquecer, Ming, por favor.
Beijou o marido e dessa vez não pensou em Pablo, manteve os olhos abertos, queria experimentar ser de um outro homem, durante o tempo em que foi só uma prostitutα na Espanha havia aprendido a separar a mente do corpo, conseguia fazer contas, relembrar livros, pensar no fim do mundo, tudo enquanto fingia prazer e permitia que o seu corpo fosse usado, o único homem que realmente a teve, que foi capaz de possuir seu corpo, sua mente, alma e coração havia sido Pablo, mas queria ser de Ming, ser a esposa que ele merecia ter.
Beijou o peito do marido, sentiu falta dos pêlos nos seus lábios. O hacker tinha um caminho perfeito naquela região, os músculos de Ming também eram maiores, o abdômen definido, diferente do ex-noivo.
Tocou a masculinidade rígida do homem com quem dividiu a cama desde que assinou o acordo pela vida de Pablo, era menor, se ajoelhou e abocanhou o mеmbro, conseguia recebê-lo inteiro na boca, sentiu falta da sensação de falta de ar, se engasgar, mas continuou, tocou a coxa do marido e tentou se entregar. Quando ele a levou para a cama e sugou os seus sеios, enquanto enfiava os dedos em seu interior, a mente a levou para um passado em que toques como aqueles a levariam ao êxtase, abriu novamente os olhos e pediu pelo marido.
O recebeu, correspondeu aos seus beijos, permitiu que ele a virasse e a tomasse por trás, ouviu o momento em que Ming se satisfez e fingiu o acompanhar. Respirou aliviada pelo fim, ele era demorado, seria o homem ideal para qualquer mulher, menos para ela.
Partiram para a Cidade do México no mesmo dia, seria uma viagem longa e ela teria que se vestir e se portar como a esposa de um magnata, roupas comportadas, postura servil, pelo menos o sorriso não era uma cultura oriental, porque sem dúvida não teria um para oferecer.
Pelo menos era o que acreditava...