Lis e o marido ficaram hospedados na casa de um casal, o homem era parte da Tríade, organização chefiada por Ming.
Arturo estava como chefe da Suprema Corte do México e foi ele quem convidou o líder chines para o evento em seu país.
- Entrem, por favor, o meu senhor os espera na antessala.
A mulher vestida com extrema elegância se referia ao marido como se fosse uma serva e isso incomodou Lis assim que chegaram, manteve a neutralidade e acompanhou o marido, tinha seus próprios problemas e, também não se achava mais do que uma mercadoria nas mãos de Ming.
Ficou surpresa quando o chinês a manteve ao seu lado durante a reunião, as vezes beijava a sua mão, serviu o chá e a manteve a parte de todos os detalhes da conversa.
- O que acha do planejamento para a noite de posse, Lis.
- A segurança é frágil, o protocolo constrangedor e as atitudes misóginas.
Ming encarou a esposa com orgulho e acabou sorrindo, mas o encantamento foi interrompido pela replica do anfitrião.
- Quem essa mulher pensa que é para falar entre homens?
O chinês beijou novamente a mão da esposa e olhou para o aliado com uma expressão tão fria que o fez tremer.
- Ela é a minha esposa, sua chefe e quem vai decidir se você vive ou morre. Mais alguma pergunta antes de se ajoelhar e pedir perdão?
Arturo se colocou de joelhos na frente de Ming e foi empurrado com o pé para longe.
- Para mim não seu néscio, ofendeu a minha mulher e é a ela que vai implorar pela sua vidinha inútil.
Lis se levantou assim que Arturo engatinhou em sua direção.
- Eu vou para o quarto.
Deixou os homens sozinhos, mas ouviu a confusão assim que fechou a porta, pensou que os homens teriam que disfarçar algumas marcas antes da cerimônia de posse, mas se surpreendeu quando Ming entrou no quarto ostentando a mesma calma de sempre e nenhum machucado, nem sequer nos punhos.
Gostou de ser protegida, foi uma sensação diferente, e gostou ainda mais pelo fato de que Ming apesar da cultura em que nasceu a ouvia e valorizava as suas opiniões.
- Obrigada pela forma como me tratou lá embaixo.
- Não fiz nada além da minha obrigação, é minha mulher e vai ser respeitada como tal, ainda que não queira me dar o seu coração.
Dividiram o banho e a cama, fizeram amor e aquela noite ela não precisou fingir, nem pensar em Pablo para se entregar ao prazer. O marido também notou a diferença e achou que tinha avançado mais alguns passos em direção ao que queria, mas assim que ela dormiu, chamou pelo hacker durante o sono.
A noite estava quente na Cidade do México e Ming passou o restante da noite fumando na varanda do quarto. Repensou suas escolhas, talvez nunca fosse capaz de competir com o tal hacker enquanto Lis o achasse perfeito, quem sabe se ela pudesse ver além da paixão que a cegava.
“Quem é você?”
Contratou os melhores dos melhores, fez algumas ligações e cobrou vários favores, queria saber tudo a respeito do rival. Não estava disposto a perder, nem na guerra, nem no amor.
Na manhã seguinte, Lis acordou radiante, alheia ao que havia incomodado o marido, mas feliz com a noite que dividiu ao seu lado. Fez questão de se arrumar e usar um vestido que Ming lhe disse que gostava, desceu para o café da manhã e descobriu que Arturo teve uma noite difícil, estava com um dos olhos completamente inchado e roxo, a boca cortada, assim como caminhava com dificuldade, mas fez uma reverência quando a viu nas escadas.
- Minha senhora!
Lis terminou de descer sem responder ao anfitrião, notou o sorriso no rosto de Norma, a esposa de Arturo e se dirigiu a ela.
- Bom dia, Norma, sabe onde está meu marido?
Foi até o lugar indicado e encontrou Ming com diversos papéis, incluindo uma certidão de nascimento em padrão americano. Pegou o papel e questionou.
- Quem é Sebastian?
O chinês percebeu que Lis sabia tão pouco do homem que dizia amar, quanto ele, aproveitou para falar a verdade.
- Alguém que eu quero morto.
A garota sorriu e beijou os lábios do marido.
- Neste caso, tenho pena dele. Quer que eu pegue algo para você? Ou podia me levar para conhecer o lugar, o que acha?
O chinês se levantou e fez um gesto para o segurança, em pouco tempo tudo estava pronto para que saíssem.
Pela primeira vez, a garota pode conhecer um país sem nenhuma missão, ou problema, eram só um casal tirando fotos e fez algumas selfies como se fossem namorados, trocaram beijos em praça pública, andaram de mãos dadas e tudo estava perfeito até entrarem em uma joalheria.
- Pretende me dar um presente?
- Sim, mas hoje eu vou escolher.
Comprou um par de alianças e ele colocou na mão esquerda de Lis, ela tentou esconder o incomodo, mas quando ele criticou o anel que ela tinha na outra mão, não conseguiu mais disfarçar o que sentia.
- Agora jogue essa porcaria no lixo, não combina com você.
Tentou tirar o anel da mão da esposa, mas ela puxou o braço com força.
- O que foi, Lis?
Ela tirou a aliança que tinha acabado de ganhar, colocou sobre o balcão da joalheria e saiu, estava com falta de ar, vontade de gritar, correu, mas foi segurada por um segurança do marido, o socou com toda a força que tinha e o derrubou com um chute no rosto, pegou a arma do homem e quando a confusão se formou em torno dela, com a gritaria dos turistas e moradores, despertou.
O chinês se aproximou com passos calmos.
- Atire, Lis, pode atirar em quem quiser e ninguém vai te tocar. É esse o tipo de poder que tem ao meu lado.
Ela entregou a pistola ao segurança e o ajudou a se levantar, mas Ming atirou na cabeça do homem logo depois de sentenciar.
- Ninguém toca na minha mulher.
Foram escoltados para o carro e voltaram para casa como se nada tivesse acontecido e um homem não tivesse sido baleado em frente ao Palácio de Belas Artes. O mundo noticiou um atentado contra o representante chinês e sua nobre esposa, nem uma palavra verdadeira, e por fim, receberam presentes, mensagens de incentivo e novos apoiadores vindos de todos os lugares do globo.
Lis manteve a única coisa que tinha de Pablo, um anel de noivado que escolheram juntos depois de uma noite amor, lembrou daquele dia e sorriu em meio as lágrimas. Havia ganhado alguns anéis de noivado, todos de uma vez, o hacker havia comprado todos durante os anos em que estiveram juntos, mas nunca os entregou, não até aquela tarde, no último dia do ano.
- Você merece uma surra, Pablo!
- Isso foi um não?
- Foi um SIM seu... Aí como me odeio por ser tão apaixonada por um cara lerdo como você.
Pablo a abraçou por trás, falou em seu ouvido enviando ondas de desejo como uma ordem para o corpo todo.
- Não me acha lerdo quando está de quatro para mim boxeadora.
Passaram a virada do ano em uma praia paradisíaca e fizeram amor tantas vezes e de tantos jeitos que Lis ainda conseguia sentir as sensações ao fechar os olhos. Compraram aquele anel em uma loja pequena na cidade do Rio de Janeiro e apesar de não custar nem um décimo do que a aliança que Ming lhe deu, era a coisa mais valiosa que tinha.
Beijou o anel e falou várias vezes baixinho como se o hacker pudesse ouvir.
- Eu te amo, eu te amo...
Enquanto isso a notícia do atentado contra a esposa do diplomata chinês na Cidade do México aparecia na tela do computador do hacker.