As emoções de uma conferência internacional

1616 Words
O casamento de Lis com Ming não tinha nada de tradicional ou convencional, ao menos não para a cultura ocidental de onde a garota vinha, foi uma decisão, um acordo, algo que deveria ser simples e fácil, mas que a cada dia parecia mais impossível de se manter. A frase mais clichê se aplicava perfeitamente ao casamento dos dois, o problema não estava em Ming e sim na esposa. Lis era uma mulher forte, forjada pela dor, esculpida em um tempo de lágrimas, violência, humilhações... Mas acima de tudo era uma mulher apaixonada. Uma das mentiras mais perversas da humanidade é a de que o tempo cura tudo, se fosse verdade Lis deveria estar mais do que curada, não era a primeira vez que se via completamente sozinha com a sua dor e por mais tempo do que era capaz de contar. No passado, chegou a acreditar que Pablo havia morrido em missão, no campo, gostava de fingir que era uma morte digna como a de um soldado, mas no fundo nunca acreditou na máfia como tábua de salvação, era amiga daquelas pessoas, aliada de tantas outras e mulher de um dos hackers mais famosos entre todas as organizações criminosas do mundo. Pablo já havia feito coisas que a maioria julgava impossível, mas foi em uma armadilha bobα, defendendo um homem que Lis acreditava não merecer que ele foi ferido e perdeu parte do braço esquerdo. Lembrou do que ouviu do namorado quando o reencontrou depois de muitas e muitas noites achando que tinha o perdido para sempre. “Você se afastava de mim a cada dia, boxeadora. Cansei de ouvir que não tinha tempo e que nasceu para ser livre, quis te deixar viver. Pensei que ainda gostasse do subchefe e depois do que aconteceu eu não quis voltar, te cobrariam para ficar comigo, mesmo que não me quisesse, se decidisse partir, se apaixonar, viver, seria julgada. E não vou te obrigar a ficar com um aleijado”. Falou sozinha enquanto se arrumava para o evento em que acompanharia o marido. - Agora sou eu que estou morta, meu amor. Estava casada com Ming há quase um ano e o chinês estava planejando uma festa, queria apresentá-la aos aliados, se sentia seguro de que Ivan honraria o acordo. O capô era respeitado inclusive por ele e a ideia de uma guerra não agradava ninguém, podiam perder muito mais do que conquistar e aquela rivalidade era algo que Ming queria deixar no passado, pretendia inclusive entregar Joseph a máfia americana como prova de amizade. Talvez fosse uma forma de conquistar mais espaço no coração da esposa. Enquanto isso, o hacker repassava as fotos que tinha do tal atentado. - É você boxeadora, só pode ser você. Ainda não tinha certeza, mas achava impossível que existisse alguém tão parecido com a ex-noiva no mundo. Além disso, tudo batia, a última localização que tinha da garota era em uma província chinesa e a mulher que foi atacada no México era a esposa de um diplomata chinês. Descobriu sobre o evento, invadiu os sistemas de proteção, colocou a própria foto e inseriu seus dados como convidado. Reprogramou as câmeras e se arrumou, aceitaria que ela tivesse o deixado, mas queria ouvir isso dela, olhando em seus olhos e não por telefone, ou mensagens de texto. Ming e a esposa foram escoltados até o palco, o chinês discursou sobre o apoio ao novo governo do México e a importância de terem como vice-presidente uma mulher que representasse a nova era. Lis acabou achando engraçado, o homem que falava sobre os direitos das mulheres havia comprado a esposa. O coquetel foi movimentado e Lis conversou com algumas senhoras, odiou a superficialidade da maioria delas, mas gostou de conhecer Consuelo, a jovem era uma advogada visionária e que sonhava com a liberdade política e social das mulheres, ficaram amigas. - Vou ao banheiro, me acompanha? - Não, vou roubar mais uma dose de gin para a gente e te espero aqui. Assim que Lis fez menção de sair do salão principal foi parada por um segurança. - Não tem autorização para sair desacompanhada, senhora. - Sério que vai me fazer quebrar a sua cara na frente desse monte de gente? Sai da minha frente, imbеcil! Empurrou o segurança e continuou o seu caminho, Ming a viu sair e sorriu apesar de ter sido ele a dar a ordem. Gostava da ideia de ter uma mulher forte ao seu lado e não uma daquelas garotas de porcelana. Acenou para que o segurança deixasse a esposa seguir o seu caminho, tinha revisado a segurança do lugar pessoalmente e achava ser impossível que algo acontecesse. Lis estava usando um salto altíssimo e descalçou assim que saiu das vistas dos convidados. - Sapatos idiotαs, quem inventa uma merdα dessa? Foi puxada para dentro de uma sala, abaixou o corpo e virou o agressor para o chão, estava pronta para lhe dar um soco quando a mão parou no ar e o coração errou algumas batidas antes de retomar o compasso batendo acelerado em seu peito. - Ainda é a minha boxeadora. Pablo nunca apanhou tão satisfeito na vida, mas assim que ela se afastou a seguiu. - Vem cá, quero falar com você, Lis. - Não pode ficar aqui, vão te matar, eu quase fiz isso seu... Pablo a puxou pela cintura e a beijou, foi para ela como se o mundo parasse e só existissem os dois naquela sala. O frio na barriga se converteu em desejo e Lis abriu o paletó que o hacker usava procurando pelo contato com o corpo do homem que amava. As bocas não se deixaram, mas o vestido de Lis foi erguido, enquanto a boca de Pablo marcava o pescoço da garota. Ele a empurrou até uma das paredes, deslizou a mão pelas curvas que conhecia como se fossem um roteiro perfeito para o melhor filme do mundo. Lis passou uma das pernas em volta da cintura masculina e Pablo só teve tempo de colocar a calcinha da garota de lado antes de se afundar no corpo da mulher. - Que saudade de você, boxeadora. Estavam presos um ao outro enquanto ela recebia o prazer de pertencer ao homem que amava, os gemidos de Lis podiam ser ouvidos do corredor, mas o universo tinha se apagado completamente da mente da garota, tudo o que importava era aquele momento, a respiração ofegante do hacker, os corpos que se reconheciam como se nunca tivessem ficado distantes e o prazer que sentia. Gritou quando o ápice a fez perder o equilíbrio, mas Pablo abafou os ruídos com um beijo, a seguiu se desmanchando no interior feminino e a manteve presa a ele. Foi só quando os corpos estavam satisfeitos que a razão se apresentou. A garota tentou arrumar a roupa, o cabelo, estava tudo deliciosamente arruinado. - O que você veio fazer aqui? Está louco? - Vim te buscar, boxeadora, você é minha. - Não, eu não sou de ninguém! E estou casada, assim como você! Me esquece, Pablo. Ele a puxou novamente para junto do seu corpo e beijou a boca de Lis a fazendo se perder outra vez. Só a soltou quando ela já estava relaxada em seus braços e entregue outra vez. - Está me dizendo uma coisa e seu corpo outra boxeadora, confessa que quer ficar de quatro para mim, que também está louca de saudade da gente. Eu te amo, Lis, volta para mim, menina. Foram interrompidos pela voz de Ming que ditava ordens para que o lugar fosse revistado. Lis nunca chegou ao banheiro e quando ele foi procurar pela esposa não encontrou nada, nem mesmo a segurança sabia dizer como as imagens do corredor não mostravam ninguém. Pablo garantiu que as cenas rodassem em looping, nada foi gravado realmente aquela noite, nada além das digitais do hacker que ficaram na pele de Lis. - Pelo amor de Deus, Pablo, vai embora, ele vai te matar. Falou o mais baixo que conseguiu, mas o medo a fez soluçar. - Eu não vou a lugar nenhum sem você, Lis. Disse que me ama e era tudo o que eu precisava ouvir. - Não disse! Ela podia não se recordar, mas disse várias vezes que o amava enquanto faziam amor de um jeito desesperado e cheio de saudade. - Disse e eu também te amo, porque fugiu de mim, Lis? - Não sei se percebeu, mas não é o melhor momento para bater papo, nerd. Vai acabar se matando e deixando o seu filho órfão! Pablo sorriu encarando a ex-noiva. - Eu sabia que tinha sido você. O hacker havia ensinado um código de injeção SQL para Lis quando ainda estavam no condomínio da máfia americana no Brasil. - Use para login e senha o mesmo código ' or '1'='1, isso fará o banco de dados retornar todos os usuários existentes no sistema. Como o software entende que apenas um usuário está se logando, ele vai de dar o primeiro resultado que obviamente é o usuário administrativo, assim terá acesso a tudo, basta instalar um software espião e poderá ter tudo o que quiser, inclusive acesso a câmera. Teria me achado assim. Foi o que ela fez para invadir a máquina de Pablo, mas não teria conseguido se ele realmente quisesse impedir, ele não quis, queria que Lis entrasse em contato, que o procurasse, jamais deixaria as fotos ne Noah e Rachel em um computador de trabalho, mas queria provocar a ex-noiva, queria acreditar que ela sentiria ciúmes, assim como sentiu dos casos que teve quando estavam separados. - Ok, fui eu e a sua família é linda! Agora me deixa em paz ou eu vou gritar!
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