A dor passou depois de um tempo, mas a preguiça ficou. A cama macia o fazia querer ficar ali, mas a curiosidade o fez abrir os olhos encontrando apenas o tecido branco cinzento da estrutura. Virou a cabeça para ver os lados a procura do jovem que estava ali antes.
Como não viu ninguém se sentou na cama com dificuldade por causa da dor no corpo. Seu rosto ardia e seus olhos embaçaram. Uma leve tontura o acompanhou na primeira tentativa de sair da cama que foi m*l sucedida. Na segunda vez conseguiu com esforço considerável das pernas adormecidas.
De pé e sem equilíbrio Tristan deu um passo para fora da estrutura. A luz do sol o cegou por alguns segundos em agonia. Quando sua visão se acostumou com a claridade conseguiu focalizar no que estava a sua frente. Outras estruturas de tecido estavam espalhadas por ali em filas com separações perfeitas. Um caminho por entre elas foi seguido por ele até parar em um lugar onde não havia nenhuma estrutura. Parecia um círculo de diâmetro longo e vasto o suficiente para correr. Em volta as estruturas que se assemelhavam as cabanas de tecidos estavam silenciosas. Olhou para o chão e percebeu que estava descalço. Onde foram parar aquela sandália estranha que o obrigaram a usar? Sua roupa estava na mesma. Um saiote marrom que ia até o seu joelho por ser grande demais. Uma camisa bege de um tecido diferente, mas de caimento agradável. Ela estava solta em cima do saiote. Aia até o meio da sua coxa.
O sol estava forte o suficiente para que Tristan começasse a suar apenas por estar parado ali. De repente algo puxou para trás e o arrastou por entre as cabanas. Com força tirada da terra Tristan puxou o braço de volta. A pessoa que o agarrara o encarou incrédula.
-Você vai estar encrencado se não voltar – Sussurrou a pessoa se aproximando a medida que Tristan se afastava.
-Quem é você? Onde eu estou? E não me toque – Questionou Tristan para a pessoa que lhe parecia familiar.
-Meu nome é Heleno e você está no acampamento temporário do exército dourado do imperador Mario Augusto – Respondeu Heleno calmamente – e você precisa voltar e ficar lá quando ele voltar senão você vai ser castigado.
-Ele quem? – Perguntou Tristan se sentindo mais confortável com o rapaz de olhos castanhos o mesmo que estava com ele antes.
-Epires, ele é o melhor dentre nós e você é o escravo dele então é melhor vir – Disse Heleno puxando Tristan que empacou no momento que entrou na cabana.
-Escravo dele? O que vocês acham que eu sou? Uma mercadoria? – Questionou Tristan a Heleno que ficou mudo – eu vou embora nem devia estar aqui a princípio.
-Você não pode senão vai ser caçado – Falou Heleno perdendo a calam – e você é minha responsabilidade enquanto ele não chega então se você fugir eu vou ser castigado ou morto então você precisa ficar.
-Desculpa mesmo, mas preciso ir embora – Falou Tristan dando meia volta e não vendo quando Heleno o puxou novamente e passou uma algema em seus pulsos rapidamente.
-Como você fez isso? Incrível para igual a um filme... espera tira isso – exclamou Tristan revoltado.
-Desculpe, mas você vai ficar aqui – Heleno puxou Tristan até uma barra de metal presa ao chão usada para colocar uma panela.
Prendendo o ali Heleno o vê sentado no chão com sua cara de fúria. Heleno senta-se ao lado de Tristan para lhe fazer companhia enquanto Epires não chegava e pelo que sabia demoraria muito para que o dito cujo desse as caras.
-Onde ele foi? -Perguntou Tristan distraindo Heleno para tentar se soltar de alguma maneira e saciar sua curiosidade ao mesmo tempo.
-Para o litoral de Vênus – respondeu Heleno respirando fundo – dizem que lá é lindo e as águas são cristalinas a ponto de se ver o fundo, a areia é branca e quente.
-Uma paria paradisíaca – Concordou Tristan chamando a atenção de Heleno.
-Paradisíaca? – Questionou Heleno confuso.
-Quer dizer que é um paraíso, e pela descrição parece mesmo – Explicou Tristan sorrindo amarelo pela atenção – mas me conte mais sobre ele digo o que devo esperar já vou ser seu...escravo, ele é bravo?
-Epires é sério e um líder então nunca de as costas para ele, nunca fale sem permissão dele, nunca faça nada sem a permissão dele, você não pode sair daqui sem ele, você deve sempre – Diz Heleno enumerando tudo o que Tristan deveria fazer e que ele estava ignorando.
-Tenho que pedir para ele quando for ou quiser algo, que chato em... – Disse Tristan vendo que algema de ferro estava enferrujada e poderia talvez quebrar.
-Epires é o melhor e é digno da capitania, mas ele a recusa por algum motivo – Comentou Heleno ignorando o esforço de Tristan em quebrar aquela algema sem fazer barulho – as algemas não vão quebrar se é o que está tentando fazer.
Tristan parou de tentar e olhou para Heleno que nem se virou para descobrir se o que falara estava certo porque ele sabia da verdade.
-Não pode me julgar por tentar – Falou Tristan olhando para seus pulsos já vermelho.
-Você vai acabar perdendo o braço, a doença da ponte não tem cura – Comentou Heleno olhando para as unhas.
Doença da ponte? Seria o tétano por causa da rigidez muscular generalizada? Se fosse ele estava seguro já que tomará a vacina contra tétano a poucos dias quando estava em casa. Mas não precisava arriscar então nem cogitou continuar a tentar quebrar as algemas.
-Desisto – Disse Tristan para ninguém em especial – por enquanto.
-Não o irrite, ele é o único que vai talvez te salvar se fizer algo errado para qualquer pessoa – Aconselhou Heleno de repente se levantando e alisando o saiote longo igual ao seu.
-Aonde você vai? – Perguntou Tristan.
-Tenho coisas para fazer, você está preso e eu posso me preocupar com outras coisas então até – Respondeu Heleno saindo da cabana e deixando Tristan sozinho.
Sozinho novamente Tristan decidiu esperar quem quer que fosse Epires voltar e convencê-lo a deixá-lo ir embora. Mas o tempo passou e nada. Nenhuma sombra passou por ali.
O tédio veio e com ele o sono. Tristan nem resistiu e dormiu ali mesmo preso barra de metal pelos pulsos sentado no chão arenoso. Dormiu por algum tempo até que um barulho de passos o acordou. Um pouco grogue devido ao sono o fez piscar para saber de quem se tratava.
-Santo tive um sonho tão estranho, sonhei que estava em um mercado de escravos e um cara estranho me comprou e acabei tendo uma reação alérgica a alguma coisa e quase morri – Contou Tristan imaginando se tratar da mãe ou amigo, mas olhou para os pulsos vermelhos e arregalou os olhos – isso não foi um sonho...