Capítulo 4

1780 Words
  Acordo com uma luz incomoda em meus olhos, tento me levantar, mas não consigo e é inevitável não pensar naquela teoria em que antes de morrer tudo o que consegue ver é a maldita luz. Evito pensar no assunto e tento abrir os olhos sem perceber que já estão abertos. Lá fora alguém grita meu nome, o celular está tocando e algo está repousado em minha barriga, algo macio e com um cheiro doce. Sei que é um pouco dramático acordar já pensando na morte, mas a verdade é que não é fácil ter que se preocupar sempre se seu coração está batendo ou não, não é fácil acordar sozinho todas as manhãs e não saber quando será seu último dia de vida. Algo se mexe ao meu lado e viro o rosto para tentar desvendar o que é. A luz aos poucos some e a imagem fica nítida. Catherine adormece ao meu lado, seu braço recai sobre mim e seu cabelo cobre parte do seu rosto. Apresso-me a atender o celular a fim de não acorda-la. – Henkel. – Atendo sussurrando. – Abre a d***a da porta Esdras. – Giovane grita do outro lado da linha e desliga na minha cara. – Oook. – Estendo uma letra ironicamente. Dou uma última olhada em Cat, que continua adormecida com os cabelos nos olhos e o corpo todo torto, não é para menos já que quando chegamos ela estava tão bêbada que desmaiou. Mais uma vez o celular dela toca e ouço a canção da Miley Cyrus. No visor mostra 'pai', a foto é de um senhor de cabelos brancos vestido de jaleco. Atento sem pensar muito, pois imagino o quanto ele está preocupado por a filha ainda adolescente ter posado fora de casa, além do mais eu não sabia o que ela havia dito sobre onde estaria. – Filha onde você está? – Ele fala com dificuldade. 24 – Senhor me desculpe... – Quem é você? – Esdras Henkel. – Respondo enquanto abro a porta para Giovane e peço com um gesto que ele fique quieto. – Henkel? Por que está com o celular da minha filha? – A gente jantou ontem à noite, ela bebeu mais do que devia e adormeceu, eu não sabia para onde leva-la. – Mas ela só tem dezessete anos... – indignado ele fala com alguém ao seu lado antes de falar comigo. – Ela não deveria beber. – Eu disse isso a ela. – Senhor Fernandes suspira e fica em silêncio me encorajando a continuar. – Senhor Fernandes eu gostaria de falar com o senhor, dar explicações. – Ok. Venha a minha clínica, a Catherine sabe o endereço. – Sim senhor. – Esdras se você tocou nela... – Não se preocupe. – Interrompo-o. – Eu não me atreveria a isso. Giovane me encara com uma expressão de sarcasmo e sei que é por causa do que eu disse na noite anterior. Afirmei que não precisava de ninguém e que não iria dormir com ninguém. m*l sabia ele que eu não havia dormido com Cat, não do jeito que ele imaginava. – Eu posso explicar. – Digo sorrindo ao perceber que o celular na minha mão é rosa. – Com certeza. – Giovane se joga no sofá e deita-se colocando as mãos nos olhos. – Mas depois, agora vou dormir. 25 Em menos de dois minutos ele está dormindo, pelas roupas que veste, sei que não dormiu na noite passada. Deve ter passado o tempo todo na casa da Natasha ou em uma balada qualquer. Vou até a cozinha e bebo todos meus remédios com um suco nutritivo e natural de laranja, como uma torrada, preparo um sanduiche de queijo e alface para Catherine, pego alguns comprimidos de aspirina e um copo de suco por que sei que ela estará morrendo de dor de cabeça. Volto para o quarto e me deparo com ela ainda adormecida. O relógio marca onze horas da manhã de uma terça feira de fevereiro. Deito-me ao seu lado e sinto a fragrância dos seus cabelos e a essência da sua pele, a vontade de toca-la era quase incontrolável. Ela abre os olhos lentamente e me encara com uma careta, provavelmente pelo sol que ilumina seu rosto que, apesar de incomoda-la, a deixa ainda mais linda. Mas logo percebo que não é só o sol que a incomoda: – Henkel o que a gente fez? – Cat se senta na cama e puxa o edredom na tentativa de esconder o corpo e se afastar de mim. Noto uma lagrima escorrendo pelo seu rosto, mas ela recua assim que tento toca-la. Permaneço em silencio apenas observando-a. Vejo quando ela começa a ficar vermelha e quando não consegue conter as lagrimas e as fungadas. Ela chora amargamente e tudo o que consigo fazer é observar. Não por que não quero ajuda-la, mas por que sei que não posso. Vejo-a lutar para segurar o edredom e conter as lagrimas ao mesmo tempo e não posso deixar de achar graça naquilo já que há poucos minutos ela estava dormindo nos meus braços, mas acho que é justamente por isso que ela me atrai tanto, a pureza, a timidez e principalmente pelo caráter inocente. – Do que você está rindo? – Ela limpa o nariz com o dorso do pulso e faz um bico, sei que não é intencional, mas ela fica ainda mais linda. Solto uma gargalhada intensa e ela atira um travesseiro em mim. – Para de rir de mim. Que d***a! – Hei. – Aproximo-me dela, estamos apenas trinta centímetros de distância. – Fica calma. Está tudo bem. A gente não fez nada. – O quê? – Ela olha para o corpo e pela primeira vez nota que está vestida. 26 Cat olha diretamente em meus olhos fecha as mãos e começa a distribuir socos em meu peito é algo que não me machuca, não por fora, mas sinto meu coração se partindo por saber que ela está com raiva de mim. Deixo-a me bater, não movo sequer um músculo, ela começa a perder as forças e chorar ainda mais até que finalmente respira fundo e deixa a cabeça repousar no meu peito. De uma forma perfeita nossos corpos se encaixam e parecemos um só. – Então por que eu não me lembro de nada? – O que deu em você? – Pergunto afastando-a o suficiente para olhar em seus olhos. – Eu não me lembro de nada. – Ela sorri timidamente e esconde o rosto. – Você bebeu um pouco no jantar. - Digo. – Ah d***a. – Ela murmura analisando as roupas que veste. – Meus pais devem estar loucos me procurando. – Estão, mas eu atendi seu telefone e falei com seu pai. – Não!? - Não sei ao certo se ela está afirmando ou perguntando. – Sim, eu irei na clinica do seu pai hoje, explicar o que aconteceu. – E o que aconteceu? – Você começou a cantar Miley Cyrus e ai desmaiou. Não tinha como eu te levar para sua casa. – Tinha que ser a Miley. Catherine olha para a bandeja que está ao seu lado, seus olhos chegam a brilhar e então me lembro que nenhum de nós comemos na noite anterior. Estávamos ocupados demais brigando. – Coma. – Murmuro e ela agradece com um aceno. 27 Ela morde os sanduiche duas vezes e dá uma pausa para tomar os remédios com o suco, morde o sanduiche mais uma vez, está faminta: – Henkel você disse que tinha um motivo para morrer, qual é? – Na verdade eu não tenho um motivo para morrer, mas também não tenho um para viver. – E sua família? – Sei que eles ficaram bem sem mim. Eles m*l sabem o que significa amor. – E você sabe? – Seu rosto ganha um tom rosado, mais uma vez. – Já amou alguém? – Não. Nunca amei ninguém e acho que é um pouco tarde para isso. – Sei. – Ela bebe um gole de suco e analisa as unhas sem saber o que fazer. – Você acredita em amor à primeira vista? A pergunta me pega totalmente desprevenido. Eu acreditava e, sobretudo, achava que estava passando por isso, mas como entender algo que nunca sentiu? Como saber se é amor. Cat tira a bandeja e coloca- a no criado mudo ao seu lado então o espaço que existe entre nós se torna bem menor. Ela passa a mão no meu peito e sobe até onde meu queixo encontra o pescoço me causando um terno arrepio. Nossas bocas se aproximam lentamente e mesmo sem se tocar já sinto meus lábios formigando como se uma corrente elétrica passasse por nós. – Henkel eu não quero que você morra. – Seu tom é tristonho. – Não quero que saia da minha vida. – Eu não vou sair, mesmo que você me expulse. – Mas... 28 – Shiu. – Coloco o dedo em seus lábios impedindo-a de falar. – Não pense nisso, agora eu estou vivo e quero te beijar. – Então beija. – Ela pede. Seguro o rosto dela com delicadeza sorrio enquanto nossos lábios se aproximam e raspam um no outro, mas antes de nos beijarmos alguém interrompe abrindo a porta. A presença ali é dura e o clima fica pesado. – Esdras o que você está fazendo? – Meu pai pergunta olhando Cat de cima a baixo. - Essa garota... – Ele balança a cabeça tentando afastar algum pensamento. – Ai meu Deus! – Cat exclama enquanto se levanta e corre para o banheiro. – Pai o que você faz aqui? Por que acha que tem o direito de entrar assim na minha casa? – Eu estou te ligando há horas. Cheguei aqui e a casa estava aberta, fiquei preocupado. – Eu estou bem, como pode ver. – Bem? Aquela garota é só uma criança! O que você ia fazer? – Era só um beijo. – Só um beijo? Isso é loucura! Você só faz coisas idiotas, por que sempre tem que me decepcionar? Quer ser preso por estuprar uma menor? – Eu não iria... Pai ela é só uma amiga, ok? Para com esse drama todo, eu estou morrendo, nada mais me importa. – Deveria se importar. Deveria se importar com os sentimentos daquela criança. – Ele aponta para o banheiro e eu sei que tem toda razão. Cat e eu não podemos ficar juntos, mas eu cumpriria a minha promessa e permaneceria em sua vida, como amigo, mesmo que isso significasse perder a última chance de amar. 29 Capí tulo 5 Meu pai não tinha nada que invadir meu quarto e me dizer todas aquelas coisas, mas eu  
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