UMA GRANDE PERDA

1086 Words
O meu pai e o seu amigo estavam sentados e conversando com Eduardo. E o mais incrível ainda era que eles sorriam como se nunca tivesse acontecido nada. - Prontinho. Viram como se resolve tudo com uma boa conversa? — Disse o amigo de papai, sorrindo. — Vocês quiserem namorar, podem, mas com respeito. — Papai já foi avisando. A alegria deve ter vindo bem estampada no meu rosto, com toda a certeza. Já fiquei totalmente esperançosa. Mesmo que Eduardo não quisesse nada além de amizade, ainda assim eu estava mais tranquila por tudo ter se resolvido da melhor forma possível. Após conversarmos algumas amenidades, todos fomos para casa. Durante a semana escrevi mais algumas cartas para Eduardo. Era mês de dezembro e os preparativos para o natal já se iniciavam. Na sexta-feira a tarde, como eu sempre fazia, ia à casa do meu avô ouvir músicas com ele e copiar algumas letras de música. Desde então eu aproveitava em sempre envia trechos de algumas, nas cartas para Eduardo. O meu avô gostava de me ver copiando letras de músicas enquanto elas iam passando no aparelho de DVD do carro do meu avô. Ele estacionava o carro com a porta aberta na frente da casa dele, no sítio, e ligava o som para ouvirmos e eu ia copiando as letras das músicas conforme eu ia ouvindo e quando chegava em casa eu passava a limpo. O meu avô costumava dizer que eu tinha habilidade para jornalismo devido a minha facilidade em tomar nota com tanta agilidade. No sábado fomos ao culto como de costume e Eduardo apareceu por lá sentando-se connosco, ao meu lado. Eu sentia-me muito feliz por esse gesto dele e eu percebia que ele ainda tinha receio do meu pai. Para falar a verdade, eu também tinha. Eu sentia como se borboletas voassem dentro do meu estômago. Após o término do culto, nos despedimos e fomos para casa. Na sexta-feira, após chegar da escola re almoçar, fui ajudar a minha mãe a decorar a casa para o natal. Eu estava pintando um anjo na parede da fachada da casa e ia pinta-lo com a tinta azul que o meu avô deu-me para fazer o desenho do anjo. O anjo estava quase pronto. Eu já estava contornando ele com pisca-pisca quando der repente eu irmão chegou de moto, pálido, gaguejando. Dava para ver o coração dele batendo acelerado. — Vovô faleceu agora! Encontraram ele caído na estrada do sítio dele. — Disse o meu irmão em pânico. Eu não sabia o que fazer. Fiquei completamente sem ação, tentando assimilar aquela informação. Na minha cabeça isso só podia ser alguma informação errada, pois, eu havia estado com o meu avô na parte da manhã quando eu fui pegar a tinta com ele. E aos poucos, a ficha caiu e realmente era verdade. Vovô havia realmente falecido. — E como vamos contar para papai? — Perguntei a minha mãe preocupada. — Meu Deus! — Respondeu a minha mãe preocupada com o meu pai. Ele estava no serviço e tínhamos medo de como papai iria reagir ao receber a triste noticio do falecimento do pai dele. Então, mamãe teve a ideia de ligar e pedir ao amigo de papai para ir à empresa onde papai trabalhava e dar a noticia a ele. Após a notícia papai ficou muito triste entrando em prantos. Tivemos que dar calmante a ele quando chegou em casa. O amigo dele não havia deixado ele vir dirigindo sozinho e o acompanhou até a nossa casa. Já estávamos no velório quando o meu irmão mais novo veio até mim e disse que Eduardo havia telefonado e dito que tentaria vir ao velório. Apesar da dor imensa que eu estava sentindo, seria ótimo ter o Eduardo ao meu lado nesse momento. Passamos a noite em claro no velório do meu avô, dando c0nsolo e sendo consolados. Eu ainda estava muito preocupada com o meu pai. Tivemos que dar mais um calmante para ele. Por volta de 11 horas saiu o cortejo do velório do meu avô, direto para o cemitério. Quando já havia acontecido o sepultamento do meu avô e estávamos nos despedindo dos familiares, Eduardo veio até mim. — Me desculpe por não ter comparecido ontem. Sinto muito por sua perda. — Disse Eduardo se compadecendo da minha dor. — Obrigada. — Respondi entre lágrimas. Então nos despedimos apenas entre olhares e foi para casa com os meus pais. Papai precisava do nosso amor e atenção naquele momento. Já em casa, foi muito difícil pegarmos no sono. Todos nós passamos a noite praticamente em claro. A semana passou e aos poucos estávamos nos acostumando com a dor e a saudade. Já estávamos no período de férias escolares e então papai chegou em casa a a noite um pouco mais cedo para conversar com mamãe. — Estive pensando em irmos morar no sítio, na casa aonde papai morava. Então a minha mãe vem morar aqui em nossa casa, pois, para ela seria melhor sendo que lá no sítio ela está se sentindo muito sozinha. O que você acha? — Disse papai. — Acho que realmente seria o melhor para ela. E, além disso, eu gostaria muito de morar no sítio. - respondeu mamãe. Então, os detalhes da mudança foram acertados e numa semana já estávamos de mudança. Papai se encontrava preocupado com mina avó e eu, realmente, estaria me sentindo mais protegida, pois, assim eu não estaria exposta aos assédios. Morar longe de tudo aquilo que eu vivia seria algo maravilhoso. É aí que percebo que o ditado popular "há males que vem para o bem" se fazendo presente na minha vida. Assim que a minha avó foi morar na nossa antiga casa, eu passei a dormir 3 (três) vezes por semana na casa dela. Aos fins de semana ela dormia na casa de um dos filhos, para que ela não se sentisse tão sozinha. Nas noites que eu dormia na casa dela, sempre inventava algo para poder animá-la. Faziamos suspiros, bolo, dançávamos, cantavamos... Toda a noite eu trazia algo novo para a vida dela no intuito de fazê-la esquecer um pouco a dor que todos estávamos sentindo pela perda. Como eu sofria quando eu a via sentadinha no seu sofá da sala olhando as fotos de família e chorando ao olhar as fotos de vovô. Enquanto isso estava sendo bem mais fácil para mim, estar morando no sitio que era de meu avô. Eu me sentia liberta da prisão emocional em que eu vivia.
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