Quando Aurora entrou em casa de Clara, tudo lhe parecia igual, à exceção de uma ou outra decoração.
_ Anda! - Clara pega na mão de Aurora e arrasta-a pelas escadas acima até ao seu quarto.
Aurora ficou abismada. Já há muito tempo que não sabia o que era um quarto. Passou praticamente toda a sua infância em quartos partilhados por, no mínimo, mais 3 raparigas. Quartos simples e sem cores que serviam para o essencial: estudar, vestir e dormir. O quarto de Clara, uma suíte, era diferente e, por momentos, lembrou-se do seu quarto na casa dos pais. O quarto da Clara tinha as paredes pintadas de amarelo-claro, a mobília era toda branca e o chão imitava madeira, bege clara. A cama era de casal, com duas mesinhas de cabeceira simples, uma de cada lado. Por cima da cabeceira da cama havia uma tela enorme, com uma fotografia de rosto da Clara, na qual ela estava com um sorriso radiante. As cortinas eram brancas e iam até ao chão. Possuía uma secretária, um closet e 2 puf brancos lindos que transmitiam ainda mais conforto ao quarto. Era a cara da Clara.
_ Clara, mudaste o teu quarto inteirinho! - Disse Aurora com os olhos arregalados.
_ Sim. A minha mãe queria mudar alguma coisa na casa e, à exceção da cozinha que restaurou e modernizou, o meu quarto era o único cómodo que já não se adequava ao dono. Fiz uma forcinha e ela mandou decorá-lo, seguindo os meus gostos. Ficou lindo, não foi? - Clara mostrava-se orgulhosa.
_ Ficou o máximo!
_ Muito obrigada! Muito obrigada! - Agradeceu, enquanto fazia várias vénias, como se estivesse a agradecer ao seu público por algum prémio que tinha acabado de receber.
Ambas riram-se.
_ Embora esteja a adorar a bajulação da minha fã número um... - Pisca o olho a Aurora. - Eu vou descer para começar a preparar o nosso jantar. Podes tomar um banho e eu já te venho dar uma muda de roupa para vestires.
Aurora bateu continência a Clara, o que fez com ambas rissem novamente.
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AURORA
Retirei a minha bolsa com os produtos de banho da minha mala e entrei na casa de banho de Clara. Após todo o tempo que passei em viagem, estava mesmo a precisar de um duche. Lavo os meus longos cabelos. Uso um pouco da máscara de cabelo da Clara e, enquanto ela atua, deixo que a água quente bata no meu corpo e leve com ela todo o gel de banho. Retiro a máscara do cabelo e seco-me, ainda dentro da cabine de duche. Saio da casa de banho com a toalha em volta do meu corpo. Já a Clara se tinha vestido e acabava a maquilhagem.
_ Mas tu não tinhas dito que ias fazer o jantar? - Como ela tinha conseguido fazer tanta coisa em tão pouco tempo? - Eu demorei assim tanto no banho?
_ Não. Tu foste demasiado rápida. Como é que consegues?
_ Hábito. - Respondi rapidamente, ainda me questionando se ela tinha mesmo feito tudo.
A campainha toca.
_ Oh! Chegou o jantar. - Informa Clara a rir-se e sai disparada.
Visto um fio dental preto e um sutiã a condizer.
Quando Clara entra com a piza que tinha encomendado, quase a deixa cair ao olhar para mim.
_ Caramba Aurora, o teu corpo!
_ O que tem? - Olho para mim mesma assustada.
_ Nada de errado! Tu és cá uma brasa, amiga. - Clara assobia.
Pego na toalha molhada e mando-a na sua direção. Em cheio na cara.
_ Eu tenho um vestido perfeito para ti. Vai-te ficar a matar.
_ Clara! - Chamo-a. - Vestido, não!
_ Por quê? - Ela parece confusa.
_ Não estou habituada a usar vestidos. - Digo com um tom de voz mais baixo.
Clara fica em silêncio por uns segundos, mas depressa se anima novamente.
_ Não faz m*l. Tenho a solução para ti! E também te vai ficar a matar. - Solta uns risinhos igual a uma criança quando sabe que vai receber, no Natal, a prenda que pediu.
_ Algo simples, por favor. Não gosto de brilhos. - Peço.
_ Está bem. Está bem. Confia em mim.
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CLARA
Volto do closet da minha mãe com umas leggins pretas de cabedal, uma blusa transparente sem estampado nenhum, e uns sapatos de salto alto simples, também pretos. Fazem parte do conjunto de roupas que a minha mãe comprou, quando teve uma crise de meia-idade. Pensava que o meu pai tinha outra porque ele chegava sempre tarde a casa. O que o meu pai tinha era uma fase de muito trabalho, que durou apenas dois meses. Mas a minha mãe consegue ser intensa em tudo. Agora estavam ali, no armário dela, esquecidas. Pena não serem o meu estilo ou o meu tamanho, senão já não estariam ali, há muito.
Entreguei tudo à Aurora. Ela ficou a olhar para as roupas e não se mexeu. Lembrei-me da caixa que tinha debaixo da cama guardada para ela.
_ Isto é o meu presente de boas-vindas para ti. - Entreguei-lhe a caixa.
_ Não é preciso. - Disse-me timidamente.
_ Olha que é. Abre e veste-te, temos de ir.
Comi duas fatias de piza e fui acabar de maquilhar-me, pois não queria que nos atrasássemos.
Pelo canto do olho vi a Aurora a começar a vestir-se, enquanto comia. Tenho a certeza que ela vai ficar ótima. Concentrei-me na minha maquilhagem.
_ Pronto. Acabei. - Virei-me para ver se ela já estava vestida e caiu-me o queixo. Aurora estava uma gata. - Uau!
_ Clara, desculpa-me, mas os sapatos são demais para mim. - Dirigiu-se para a sua mala e retirou umas botas pretas, estilo militar. Calçou-as.
_ Diz-me que essas não são da tropa.
_ Não, claro que não. Pretendo dançar, não ficar com os meus pés cheios de bolhas.
_ Ótimo! - Até que não lhe ficavam nada m*l. Assentavam bem com o conjunto. - Gostaste da minha prenda? Eu cá acho que acertei em cheio. - Olhei para o top preto em renda que lhe tinha oferecido e que se via através da transparência da blusa.
_ Gostei muito. Obrigado. Ajudas-me com o colar?
_ Claro. - Apertei-lhe o colar que também lhe tinha oferecido com o top. Era um colar de fio duplo em ouro. O fio mais junto ao pescoço era composto por um conjunto de corações juntos, e o mais longo tinha uma grande pedra de zircônia azul cúbica.
_ É muito lindo, Clara! Muito Obrigada.
_ De nada, amiga. - Abracei-a. - Agora, vamos a uma maquilhagem e saímos. E antes que digas alguma coisa, vou fazê-la simples. Uma base, um delineado simples de gato, rímel, um batom nude mate e prontinho.
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AURORA
Mal a Clara acabou, fui-me ver ao espelho e não podia acreditar no que via. Não me reconheci. Estava linda! Eu nunca tive problemas com a minha imagem. Sentia-me bem comigo mesmo e isso sempre me bastou. Quando era nova e batia em quem gozava comigo e chamava-me "maria-rapaz", não era pelo que me chamavam ou porque me faziam sentir m*l. Nunca me importei com isso. Não me incomodava de todo. O que sempre me incomodou era o simples ato de humilhação. Isso eu não podia permitir que ninguém o fizesse. Mas ali, em frente àquele espelho, eu realmente percebi que ao cuidar mais de mim, sentia-me mais poderosa. E gostei de sentir isso.
_ Clara, amanhã preciso que me acompanhes às compras. Tenho que comprar roupa e maquilhagem e tu, minha querida amiga, vais-me aconselhar. - Disse-o decidida.
Clara pulou de alegria. Desta vez foi ela quem bateu continência. - Sim, senhora! - Concordou.
Rimos e fomos para o carro. Estávamos prontas para arrasar. Eu sentia-me poderosa e Clara estava radiante. Usava uma saia dourada brilhante acima do joelho, um coppred preto com mangas, uns sapatos de salto alto pretos e uns brincos que eram grandes sóis dourados. A sua maquilhagem era muito mais elaborada do que a minha, em tons de dourado. Estávamos as duas lindas. Cada uma com o seu estilo.