Narrado por Sofia
O dia amanheceu nublado, como se o próprio céu refletisse o peso que carregava no peito. Depois de uma noite m*l dormida, me levantei exausta e com a cabeça cheia de preocupações.
Respirei fundo e olhei para Luiza, que dormia tranquilamente no berço. Minha bebê. Minha razão de viver.
Eu precisava ser forte. Por ela.
Peguei algumas roupas, troquei-me rapidamente e preparei a bolsa de Luiza antes de levá-la para Samara. Eu odiava ter que deixá-la mais uma vez, mas não havia escolha. Eu precisava voltar ao hospital e iniciar meu tratamento.
— Você tem certeza de que não estou atrapalhando, Sam? — perguntei pela milésima vez quando cheguei à casa dela.
— Pelo amor de Deus, Sofia! — ela revirou os olhos e pegou Luiza no colo com um sorriso. — Eu já te disse que pode contar comigo para tudo.
Forçei um sorriso, mas meu peito estava apertado.
— Obrigada. Eu volto assim que puder.
Saí dali com um nó na garganta e segui para o hospital.
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Ao chegar ao hospital, o ambiente branco e frio fez meu estômago revirar. Eu odiava hospitais. O cheiro forte de álcool, o som das máquinas apitando, os olhares cansados das pessoas… Tudo me fazia querer sair correndo dali. Mas eu não podia.
Fui até a recepção e expliquei minha situação. A atendente pediu minha carteirinha do plano de saúde e digitou algumas informações no sistema antes de me entregar uma pasta.
— Você precisa se dirigir à sala 203. O médico especialista vai te atender lá.
Agradeci e segui para o andar indicado. Meus passos eram pesados, como se cada um me levasse para um destino desconhecido e assustador.
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— Então, Sofia, analisamos o seu plano de saúde, e há algumas questões que precisamos discutir. — disse o médico assim que sentei na cadeira à sua frente.
Engoli em seco e assenti.
— Seu plano cobre algumas partes do tratamento, como consultas, exames iniciais e uma parte das sessões de quimioterapia. No entanto, há limitações.
Ele fez uma pausa, como se estivesse escolhendo bem as palavras, e continuou:
— O seu plano não cobre todos os medicamentos necessários, nem procedimentos mais avançados caso seja necessário. Algumas medicações mais modernas e eficientes precisam ser pagas por fora.
Senti um frio percorrer minha espinha.
— E… quanto custaria isso?
Ele respirou fundo antes de responder:
— Depende do tipo e estágio do câncer. Primeiro, vamos fazer mais exames para determinar qual será o tratamento mais adequado. Mas, em média, pode custar milhares de dólares ao longo do tratamento.
Milhares de dólares. Meu coração acelerou.
— Eu… eu não tenho esse dinheiro.
O médico assentiu, como se já estivesse acostumado a ouvir isso de outros pacientes.
— Entendo. Existem algumas alternativas. Você pode tentar se qualificar para programas do governo, que ajudam pacientes de baixa renda a conseguir tratamento gratuito ou com desconto em hospitais públicos. Mas há uma fila de espera, e nem todos os tratamentos estão disponíveis nesses programas.
— E se eu não conseguir entrar nesses programas?
Ele me olhou com seriedade.
— Teríamos que procurar outras formas de financiamento, como ONGs que ajudam pacientes, ou arrecadação de fundos. Muitas pessoas criam campanhas de doação online para ajudar a pagar o tratamento.
Senti um nó se formar na minha garganta. Eu nunca pensei que precisaria depender da generosidade de estranhos para lutar pela minha vida.
O médico notou meu desespero e tentou me tranquilizar.
— Vamos fazer os exames hoje e ver qual será a melhor abordagem para o seu caso. Não se preocupe ainda com o custo. Primeiro, precisamos entender o que estamos enfrentando.
Assenti, mesmo sabendo que o custo já era uma preocupação esmagadora.
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Fiz uma série de exames. Sangue, tomografias, ultrassonografias. Cada máquina que entrava em contato comigo parecia confirmar uma sentença que eu ainda lutava para aceitar: eu estava doente, e minha vida nunca mais seria a mesma.
Passei horas no hospital, sendo levada de um lado para o outro. Minha mente estava um turbilhão de pensamentos. Quando finalmente me liberaram para ir para casa, o cansaço pesava em cada parte do meu corpo.
Peguei um ônibus e desci na esquina da casa de Samara. A cada passo que dava, sentia o desespero crescendo dentro de mim.
Assim que entrei, Samara veio ao meu encontro.
— E aí? Como foi?
Eu joguei minha bolsa no sofá e soltei um suspiro pesado.
— O plano não cobre tudo. Algumas coisas eu vou ter que pagar por fora.
Ela franziu o cenho.
— Mas quanto?
— Não sei ainda. Eles vão analisar os exames e me dizer. Mas pode ser milhares de dólares, Sam. Milhares!
Ela ficou em silêncio por um momento, absorvendo a informação.
— E o sistema público? Você vai tentar?
Assenti.
— Sim, mas tem fila de espera. Não sei quanto tempo pode levar… e eu não posso esperar.
Fiquei em silêncio por um momento, encarando o chão. Então, respirei fundo e soltei a bomba.
— Eu vou precisar arrumar um emprego à noite.
Samara arregalou os olhos.
— O quê? Sofia, você já tem um trabalho o dia inteiro e ainda tem uma bebê para cuidar! Como você vai dar conta de um emprego noturno e do tratamento ao mesmo tempo?
— Eu não tenho escolha, Sam! — minha voz saiu embargada. — Eu não posso simplesmente aceitar que não vou conseguir pagar meu tratamento! Luiza precisa de mim!
Ela mordeu o lábio, claramente preocupada.
— Mas você também precisa cuidar da sua saúde. Se você se sobrecarregar, vai acabar piorando a situação.
Engoli o choro e olhei para ela, sentindo meu peito apertar.
— O que eu posso fazer, então? Ficar sentada esperando a morte chegar?
— Não fala assim… — ela murmurou, com os olhos marejados.
Eu fechei os olhos, respirando fundo.
— Me desculpa. Eu só… eu só não sei o que fazer.
Samara se aproximou e segurou minha mão.
— A gente vai dar um jeito. Eu estou aqui com você. Você não está sozinha nessa.
Mas, naquele momento, eu me sentia completamente sozinha.
Olhei para o berço onde Luiza dormia e senti as lágrimas voltarem a escorrer pelo meu rosto.
Eu não podia falhar. Não podia deixar minha filha desamparada.
E se para isso eu precisasse trabalhar até o limite das minhas forças, então era exatamente o que eu faria.