Não dura

2064 Words
Ele merecia o troféu i****a do ano. Porque d***o confiara uma responsabilidade enorme a sua mãe? Deveria ter pensado um milhão de vezes antes de abrir a boca e pedir a ajuda dela. Não, deveria ter pensado um trilhão de vezes ou mais. Se soubesse quem seria a contratada teria ficado com uma das ninfomaníacas que entrevistara. — Mãe, diz que estou enganado. — Sobre o que, querido? — quis saber Mirela segurando a vontade de rir da expressão do filho. — O que acha? Com o olhar enviesado para a jovem de cabeça baixa no centro da sala, se condenou por deixar Mirela contratar quem quisesse sem ver antes de quem se tratava. — Deveria ter incluído que devia ser uma pessoa menos... Paulina — queixou-se como se a jovem fosse um padrão a ser evitado. — Mas qual é o problema? Ela atende todas as suas requisições — retrucou Mirela, recordando em seguida tudo o que o filho pedira. — Discreta, organizada, confiável e garanto que não tentará te seduzir. Mais fácil o contrário... — insinuou, causando um forte rubor na face da Perez e um olhar enviesado do filho. Simon concordava em parte com Mirela. A Perez tinha todas as qualidades que pontuara e certamente não tentaria seduzi-lo — tampouco ele a assediaria. Mas, levando em conta sua vida desregrada, não pôde deixar de anunciar o inevitável: — Não dura uma semana. — Querido, acredite, ela vai durar. — Mirela envolveu os ombros da Perez com um braço. — Paulina é tudo o que você precisa. — No momento preciso de um whisky bem forte — resmungou fitando a criatura corada que encarava tudo menos ele. — Tem um escondido com você, Perez? — Nã-não... — ela respondeu olhando para o chão. — Imaginei — declarou fitando as mãos pequenas e brancas, cujas dobras dos dedos se encontravam vermelhas, com certeza estava nervosa e apertava a alça com força demais. Sorriu de lado disposto a colocar mais tensão na jovem. — Moças como ela não bebem, não fodem e não fazem nada do que considero normal. — Simon Salvatore! Tenha modos — repreendeu Mirela sentindo o leve tremor da Perez. Sabia que o filho tentava assustar Paulina, queria que a jovem desistisse, mas não permitiria isso. Paulina desejava sair correndo. Era evidente que em nenhum momento Simon a aceitara como governanta. Não sabia por que, mas Mirela mentira para convencê-la. O que de m*l fizera à matriarca Salvatore para merecer tamanho castigo? — Se ela vai morar aqui é melhor se acostumar com os meus modos. Não sou como o palerma do Muller, cheio de floreios. — Dona Mirela, é melhor rasgar o contrato. — praticamente implorou a morena, os olhos marejados pelo esforço em conter a vontade de estapear o Salvatore. — É evidente que o senhor Simon prefere outra pessoa. — Demorou a notar — Simon retrucou. — De preferência alguém que, pelo menos, olhe na minha cara quando estiver na minha presença — disse ultrajado. — De todas as empregadas da mansão, tinha que ter escolhido justo ela? — Sabe muito bem que Paulina nunca foi empregada da mansão. É como se fosse uma filha — declarou Mirela olhando para Paulina com um sorriso antes de se voltar para o filho com a expressão fechada. — Qual o seu problema, Simon? Por que trata tão m*l a Lina? Quando eram crianças... — Não importa o que aconteceu ou deixou de acontecer na minha infância no que se refere à Perez. Eu não quero dividir o teto com ela — comunicou categórico. — Durante um ano assim será. Está tudo assinado e registrado, e caso quebre o contrato terá que pagar uma multa de quinhentos mil à Paulina. Aconselho que a respeite. — O quê? — perguntaram ao mesmo tempo Simon e Paulina, encarando surpresos a Salvatore que sorria satisfeita. — Dona Mirela... Você disse que se eu desistisse não haveria multa... — Oh, querida, a multa não se aplica a você — interrompeu Mirela com um sorriso propositalmente doce. — A multa é uma garantia de que Simon não fará nada para que se demita durante esse ano. É lógico que se você se demitir é culpa dele, então Simon terá de pagar. — Isso é sério? — Simon encarou Paulina com um olhar glacial, embora a Perez continuasse com os olhos fixos em Mirela. — Caso se demita, pago pelo luxo de me ver livre da santa sem altar? — Exato — respondeu Mirela ainda sorrindo. — Isso é loucura. — Encare da forma que preferir filho. — Com ar displicente olhou o relógio. — Está tarde, vou embora e deixarei vocês mais à vontade. Sem esperar uma nova onda de reclamações do filho, Mirela saiu praticamente correndo do apartamento, deixando Paulina e Simon sozinhos, um clima tenso e silencioso no ar. — Satisfeita, Perez? — E-eu... Eu não imaginava... — começou Paulina olhando para as próprias mãos. — O que você não imaginava? — Simon se aproximou dela, que deu alguns passos para trás até sentir a parede às suas costas. — Que eu nunca escolheria você como minha governanta ou que receberá muito dinheiro em questão de dias? — Segurou o queixo da Perez e o ergueu, obrigando-a a olhá-lo de frente. — Se acha que mudarei meu modo de ser só porque você e minha mãe armaram pra cima de mim está completamente enganada. — Mirela também me enganou — defendeu-se desejando que Simon largasse seu rosto, mas sem coragem de pedir ou se afastar. Aquela aproximação lhe dava certo medo, Simon era pelo menos vinte centímetro maior, mais forte e parecia muito zangado. Simon riu. Imaginava que isso ocorrera. Só não conseguia compreender porque Mirela escolhera a Perez. Havia algo oculto nos planos de sua mãe e não conseguia adivinhar o que era. Fixou os olhos negros nos âmbar da Perez, que imediatamente desviaram para outra direção. Normalmente as mulheres o encaravam com desejo, luxúria, curiosidade, mas Paulina sempre evitava olhá-lo e ele odiava quando fazia isso. — Por quê? — murmurou deslizando a mão do queixo para a nuca da Perez. — Eu não sei — Paulina respondeu levantando o olhar para encará-lo e demonstrar que era sincera em suas palavras. Porém, incomodada com a forma que era observada, desviou o olhar, vacilando ao declarar. — Ju-juro que nã-não sabia da multa... só queria um tra-trabalho... Por que ele continuava tão próximo, minando qualquer pensamento coerente que pudesse ter? Perguntava-se Paulina sentindo a respiração de Simon se misturar com a sua. A mão pousada em sua nuca fazia um arrepio esquisito subir por sua espinha. E o cheiro agradável que se desprendia dele a envolvia de uma forma inconveniente, despertando aquele desejo insano de inspirar fundo. Arregalou os olhos quando ele se inclinou em sua direção, os lábios se aproximando dos seus, faltava pouco para se tocarem quando Simon moveu o rosto para o lado e disse em seu ouvido. — Já que teremos de conviver, devo avisá-la que sigo certas regras em relação às mulheres que entram nesse apartamento. — Re-regras? — Paulina sentiu-se extremamente nervosa. — Regra número um: O que acontece aqui morre aqui. — O lábio inferior de Simon tocou de leve a pele da orelha de Paulina. O toque acidental a fez tremer, o que justificou ser uma reação de repúdio. — Dois: Seus problemas não me interessam. — Simon levantou o rosto, os olhos negros luzindo e um sorriso torto nos lábios ao dizer. — Três: Diferente do Muller, empregadas não ocupam a minha cama. Embora duvide que ele tenha te tocado de forma mais íntima. Se a intenção era constrangê-la, já conseguira, então não havia necessidade de continuar com uma mão tocando-a e muito menos ficar tão próximo, o corpo praticamente empresando o seu contra a parede e a respiração com cheiro de café aquecendo sua face. Paulina desejava gritar para Simon deixá-la em paz, no entanto as palavras pareciam estar presas em sua garganta, uma moleza dominava seu corpo e aos poucos, sem que percebesse, começou a fechar os olhos. Sentiu o nariz de Simon tocar o seu... O som de seu celular ecoou, tirando-a do estupor, deu um pequeno pulo de susto e retirou apressada o aparelho do bolso. Pelo visor percebeu que se tratava de Nathaniel. Olhou para Simon que a encarava intensamente, levando rubor a sua face. — É o Nathaniel... Será que... — Se pretende que eu saia para que fale com seu namoradinho i****a, a resposta é não. Se não fosse por seu pai, que provavelmente não ficaria do seu lado, Paulina pediria demissão naquele exato momento, mas se limitou a atender a ligação. — Boa noite, Nath! — cumprimentou sorrindo de leve. Seu namorado sempre tivera um efeito calmante sobre ela. — Conseguiu o emprego, anjo? — Er... Consegui, mas não aquele que te disse — sua voz saiu mais baixa que o normal, muito embora soubesse que Simon podia ouvi-la com clareza à distância que se encontrava. — Sou governanta do senhor Simon agora. — Verdade? Falei com Simon hoje e ele não me disse nada. — É que fui contratada quase há pouco. — Olhou de esguelha para Simon e notou que ele prestava atenção em tudo o que dizia. — Que bom! — felicitou o namorado e Paulina se segurou para não dizer que já queria se demitir. — Anjinho, liguei pra lembrá-la do nosso encontro no Rainbow. Tenho algo muito importante para te dizer. — É que comecei hoje e... Bem, tenho de perguntar ao senhor Simon... — Olhou para Simon que continuava no mesmo lugar, não movera um centímetro sequer e a encarava com hostilidades. — Ah, o Simon vai deixar. Passa o celular pra ele. — Nath... — Confie em mim, anjo. — Nathaniel quer falar com você — informou estendendo o celular para o Salvatore. Se Simon estranhou o pedido, não demonstrou, simplesmente pegou o celular, questionando visivelmente irritado. — O que quer, Muller? — Lembra-se da nossa conversa mais cedo? — Nathaniel não esperou a resposta e continuou animado. — Preparei tudo pra hoje à noite e preciso que deixe a Lina me encontrar. Mas não diga nada, quero fazer uma surpresa para a minha anjinho. Simon fitou Paulina intensamente, a expressão tão azeda que a morena temeu que o namorado tivesse ofendido o Salvatore. — Aposto que a “anjinho” vai adorar — disse com um tom desdenhoso que passou despercebido ao Muller, porém não para Paulina que apertava a mão extremamente tensa. — É o que espero. Ah, e ainda espero que seja meu padrinho. — Não acho que ela goste dessa ideia. “Gostar do quê?”, perguntava-se Paulina cada vez mais preocupada. — Lógico que a Lina gostará, ela sabe que te considero um irmão. — Posso considerar a ideia se ela aceitar. “Que ideia?”, perguntava-se Paulina tentando disfarçar que toda a sua atenção se fixava no que o Salvatore dizia. — Então, permite que me encontre? — Lógico. Vou devolver o celular para ela agora. — Obrigado, amigo! Simon não disse mais nada, entregou o aparelho para a Perez, que trocou mais algumas palavras com o namorado antes de encerrar a ligação. — Venha! — ele ordenou lhe dando as costas e seguindo em direção a um corredor. Surpresa, Paulina se limitou a segui-lo. Passaram por duas portas, viraram à esquerda, mais três portas, Simon continuou até o fim do corredor, que terminava em duas portas. Abriu a da direita dando passagem para Paulina. — Esse é o seu quarto. Paulina admirou o cômodo, pouca coisa maior que o que ocupava na mansão Salvatore, mobiliado com um guarda-roupa embutido na cama de solteiro, uma poltrona e uma estante com uma televisão. Andou até a cama e pousou a maleta sobre ela. Com o corpo todo tenso, respirou fundo, juntou coragem e se virou para Simon com um sorriso trêmulo. — Pode me mostrar o restante do apartamento? — No momento em que os lábios do Salvatore se inclinaram em um sorriso de lado, Paulina previu a resposta. — Tenho uma festa para ir e não posso perder tempo com besteiras, então, quando voltar do seu encontro pode se situar sozinha. — Depois de dizer isso, Simon rumou para o próprio quarto. Precisava sair e beber algo, de preferência alcóolico.
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