MELANIE BELFORD NARRANDO
Quando eu ia saindo da cafeteria, vi um aparelho de celular no chão e o peguei. Era o celular do CEO bonitão. Bom, se ele procurar, estará seguro comigo.
Quando estava saindo da cafeteria com uma caixa de papelão com minhas coisas nas mãos, trombei com alguém e derrubei tudo no chão. Aquilo me fez choramingar e ainda tropeçar em meus próprios pés, o que me causou uma dor aguda no tornozelo.
— Mas que merda de dia! — Gritei.
— Ei, calma! Desculpa! — Brian estava ali, parado, e se abaixou para me ajudar com as coisas. — Foi m*l. Estou desesperado, perdi meu celular. Você viu um celular por aí, Mel? Digamos que eu tenho coisas comprometedoras nele e...
— Ah, eu achei. — Comentei, enquanto recolhia as coisas do chão. Ele se abaixou e começou a me ajudar. — Já te entrego. — Terminei de recolher minhas coisas com ajuda dele, e depois entreguei o celular. — Pronto.
— Espera, por que você está saindo da cafeteria com todas essas coisas? Você foi demitida? Por Deus, eu só tomo café nessa cafeteria pra olhar pra você. — Dei risada ao ouvir o comentário.
— Olha, só você pra me fazer rir hoje. Eu fui demitida sim, e tá tudo uma grande merda!
— Dia difícil? — Concordei.
— Muito. Eu tô ferrada. — Suspirei. — Não sei como vou pagar as milhares de contas que tenho pra pagar, eu nem sequer tenho um emprego agora!
— Posso falar com o dono se quiser. — Neguei com a cabeça.
— Cara, nem se Jesus falar com ele, ele me contrata de volta. Procura “atendente da Krill’s coffee surrando loirinha” que você vai descobrir o motivo da minha demissão. — Ele arregalou os olhos.
— É o vídeo viral do dia! — Concordei com a cabeça. — Eu sabia que conhecia aquele traseiro. Recebi no notebook da empresa, achei demais, ia compartilhar com uns amigos e foi aí que eu percebi que meu celular tinha sumido...
— Pois é. É o meu traseiro.
— Você deu uma surra naquela garota. Pra quem queria ser invisível, você fez um péssimo trabalho. — Ele riu e eu apenas bufei, começando a caminhar. — Por que aconteceu isso? — Ele disse, enquanto caminhava ao meu lado, carregando minha caixa educadamente.
Eu tirei o celular dele do meu bolso e entreguei para ele. Ele respirou fundo e abraçou o celular por alguns instantes, antes de voltar a me acompanhar lado a lado na calçada.
— Porque ela veio me provocar. Olha, não quero ficar conversando no meio da rua sobre isso, me desculpa. Você definitivamente não quer acabar mais ainda com sua reputação andando com a atendente do Krill’s.
— Deixa eu te dar uma carona, em agradecimento pelo celular e... Bom, eu até te pago uma bebida. Não estou tendo um dia bom também. Se meu celular caísse em mãos erradas, eu estava ferrado. Tem foto minha bêbado de biquíni nesse celular.
Bebida de graça? Tá, pode ser uma boa ideia.
— Você quer beber essa hora da manhã? Não me parece uma boa ideia, sabe. — Falei, rindo. — Mas... Tudo bem. É um dia atípico e eu estou de saco cheio de tudo, sinceramente.
Eu o segui até um carro lindo, preto, conversível, e eu nem faço ideia de que carro é, só sei que parece caro. Ele colocou a caixa no banco de trás e abriu a porta pra mim.
Quando entramos, ele fechou o carro inteiro. Agora, ele não era mais conversível.
— Fica à vontade. — Ele falou, assim que entramos.
— Obrigada. — Respondi. — Só não tenta me comer, tá? Eu tive um dia péssimo, mas isso não significa que eu queira acabar na cama com você. — Afirmei.
Eu só espero que a minha fragilidade do dia não me faça me entregar para o segundo homem na vida. Não é isso que eu quero, não é isso que eu programei para mim.
— Eu jamais faria isso. — Disse, em um tom brincalhão, mas com um sorriso safado nos lábios. — Ah, qual é, Melanie! Eu não vou fazer isso com você. Você é legal, eu tenho um senso moral também, tá? — Ergui as sobrancelhas.
— Você só come garotas que não são legais? — Eu dei risada ao falar e ele riu comigo.
— Não, eu só vou pra cama com garotas que gostam de ir pra cama com canalhas. Você não parece ser esse tipo. Se fosse, já teria caído no meu papo faz um bom tempo... Mas você tá sempre me evitando, como se eu não fosse um ricaço gostoso dando em cima de você, sabe?
— Talvez seja a sua prepotência. Já tive um “Brian Collins” na minha vida, e não quero outro.
— Ah, você já teve seu primeiro babaca? Eu sinto muito que não tenha sido eu. Eu aviso todas que eu sou um babaca, então, ninguém se machuca. — Ele deu os ombros e eu apenas bufei.
— Tá, tudo bem, eu não quero falar do meu ex-noivo problemático que acabou de me fazer ser demitida. — Ele ergueu as sobrancelhas, meio que curioso, mas com medo de perguntar o que quer que fosse. — Por que seu dia foi r**m? Você ainda não me disse. — Ele bufou.
— Acredita que as mulheres que se inscreveram naquele programa são... Chatas? Eu vi os vídeos de inscrição. Tem muita mulher bonita, mas a maioria é muito fútil e sem graça. Como eu vou passar tempo dentro de uma casa com mulheres como aquelas? Tipo, seria incrível passar um tempo com cada uma delas na cama, mas conversar... Ah, eu vou conversar sobre o que? Uma delas disse que a missão da vida dela é ter todas as bolsas da Prada. Que tipo de pessoa é essa? Como eu vou manter uma conversa normal com ela? Não dá... São garotas pra uma noite. Eu não gostei de nenhuma, sinceramente. E isso está me deixando muito chateado.
— Ah, eu não faço ideia de como você vai lidar com isso. Tudo que posso dizer é... Boa sorte. — Falei. Ele suspirou.
— Eu tô ferrado, Melanie. Vou virar chacota em rede nacional e me casar com alguma desmiolada que só sabe falar de coisas de marca, festas e bebida.
— Como se você não fosse assim também. — Brinquei.
— Não! Eu não sou assim! Eu pareço assim? — Ele questionou, com os olhos arregalados.
— Bom... Eu não sei. É o que dá pra entender, se conhecermos você apenas pelos jornais ou notícias. Você é um cara escandaloso... Talvez por isso mulheres um pouco mais inteligentes não quiseram se inscrever. — Falei, dando os ombros.
— Eu pareço ser um babaca? — Questionou.
— Você mesmo diz que é um babaca, Brian. Fica difícil discordar de você! — Ele abaixou a cabeça e suspirou.
— Eu tô muito ferrado... — Resmungou.
— Por que diz isso? — Ele negava com a cabeça.
— Eu não sei conhecer uma mulher e levar as coisas a diante, acho que no final das contas, sou um babaca mesmo. Não dá, não tá em mim, fazer algo assim. Eu nunca tive um relacionamento sério por isso. Vou pra cama com uma garota, e se por acaso repito isso e sinto que está ficando sério, eu fujo. Esse sou eu. — Confessou.
Aquele carro estava me trazendo informações que nunca pensei. Brian Collins, bonito, rico e... Inseguro consigo mesmo?
— E agora você vai ter que enfrentar isso em rede nacional. — Eu afirmei e ele concordou. — Tem pessoas que são obrigadas a superar seus medos dessa forma... Na frente do mundo todo. — Dei os ombros. — Você vai se dar bem, não se preocupe. Tenho certeza disso.
Eu não tinha certeza de nada. Só queria demonstrar um pouco de empatia e simpatia comum para uma garçonete.
— É. Nós dois estamos ferrados. — Ele disse, suspirando. — Estou pensando seriamente em ser deserdado e não participar desse programa, porque... Sério! Como eu vou fazer isso? Não dá. — Ele passou a mão no cabelo preto, de forma charmosa, enquanto olhava pela janela. — Mas me fala, qual foi o motivo de você expor esse lindo traseiro enquanto agredia aquela loira magricela? Pode me contar?
Eu não queria conversar sobre esse assunto, mas como ele se abriu comigo e estava me dando uma carona, achei que talvez fosse seguro contar.
— Ela estava com meu ex... E começou a me provocar. Você acha que não sabe continuar relacionamentos e que isso é um problema, não é? Eu tive dois relacionamentos e os dois acabaram com meu coração. Eu acho que depois desse, inclusive, eu nunca mais vou querer ver homem na minha frente. Vou virar freira. Eu desisto. — Ele deu risada.
— O que ele fez de tão grave? Quer me contar? — Questionou.
— Além de colocar uns vinte chifres em mim e me trocar pela pessoa que dizia ser minha melhor amiga? Ah, ele me pediu em casamento em uma semana e terminou comigo na outra. Acho que isso é motivo suficiente, não é? — Ele ficou um pouco mais sério. — Só que não é nem metade do que ele fez. Ele foi meu primeiro homem e eu me arrependo amargamente disso.
— Nossa, isso é bem chato... — Ele disse, olhando rapidamente para baixo.
— Completamente. — Bufei.
Brian estacionou o carro em frente a um bar. Eu o olhei.
— Vem, você está precisando beber. E eu também, como eu disse. — Neguei com a cabeça.
— Não, eu não vou descer. Eu já viralizei na internet hoje, já pensou se amanhã eu apareço estampada com você no jornal? Me recuso a descer, Brian. Não quero mais problemas pra mim. — Ele girou os olhos.
— Quer beber na minha casa, então? — Neguei com a cabeça.
— Só... Me deixa em casa. Melhor não aparecer com você em lugar nenhum, Brian. Minha vida já está uma bagunça... — Passei as duas mãos em meu próprio rosto. — Eu não quero piorar tudo ainda mais. Me desculpa, e obrigada pela conversa e pela carona. Acho que o melhor agora é eu ficar quietinha, no meu apartamento, até esse vídeo sumir da internet.
— Eu sinto muito por você. — Ele afirmou. — Onde você mora?
— Na trinta e cinco. — Ele concordou e começou a dirigir novamente.
Chegamos em minha casa, enquanto trocávamos algumas palavras. Brian é bem divertido, foi bom passar um tempo ao lado dele, e sinceramente, ele não parece ser só mais um ricaço sem conteúdo. Conversamos sobre outras coisas, o que foi bem legal... Acabei me distraindo um pouco de tudo que aconteceu e isso me deixou mais tranquila.
Logo chegamos no meu apartamento. Eu moro em um prédio simples com escadas, e moro no terceiro andar.
— Quer ajuda pra levar a caixa lá pra cima? — Questionou. Eu dei os ombros, meio que não me importando.
— Seria bom.
Subimos para meu apartamento. Ele entrou e começou a observar tudo ao redor dele, enquanto colocava a caixa na mesa pra mim.
— Muito pobre pra você? — Ri ao falar. — Olha, hoje você pode falar para os seus amigos que esteve no habitat natural de um pobre, sabe?
— Você é boba. — Ele ria. — Seu apartamento é muito organizado e aconchegante. Habitat de pobre... — Ele riu mais uma vez. — Maluca. Tá, aonde você tem bebidas? — Questionou.
Será que ele acha que vai me embebedar e me levar pra cama?