Demy olhou diretamente para Louise após a saída de Afhany. Os homens foram fazer outras coisas e as deixaram a sós. Matheus levou Briam.
_ Vocês duas magoaram Afhany, de uma forma vergonhosa. – Cleuza disse as surpreendendo pela forma dura como dissera aquelas palavras.
_ Foi sem querer... Quando vi, já estava com Samuel nos braços... – Demy disse envergonhada de sua atitude. Pois sabia que Afhany jamais excluiria o filho delas. E mesmo sendo rainha e tendo poder sobre elas, deixou que suas crianças fossem criadas como iguais e sem distinção e ainda os faz acreditar que são todos irmãos. E ainda amava eles como se fosse mãe deles também. E elas retribuíram com o medo.
_ Quando vi o que fiz, só pude pensar que se ela estivesse em nosso lugar, nos apoiaria e diria que iriamos lutar juntas para que nossos filhos escolhessem o lado do bem. Pobre Maureen, nem ele mesmo sabe o que vai ser e mesmo assim deseja nos proteger dele mesmo. Ele jamais faria m*l a ninguém aqui. Ele ama essa família.
_ Então agora devem dar um tempo para ela, pois vi nos olhos dela a dor profunda que vocês causaram quando temeram o filho dela. Deixem-na sozinha por enquanto. Vamos ficar aqui, até as babás chegarem para levar as crianças.
Demy e Louise resolveram que era melhor acatar a ideia de Cleuza. E ficaram ali, brincando com as crianças.
Tomás chegou ao palácio de seu avô, sufocado pela lembrança de Mary. Se lhe fosse possível, gostaria de não ver ninguém. Subiria para seu aposento ali no palácio de seu avô e ficaria lá o dia inteiro. Mas seu pai tinha planos e ele devia ajuda-lo. Já sabia que magia usar para fazer a agua ficar sagrada. Só precisava de um ingrediente que não havia no palácio de seu pai. E ficou parado pensando em como conseguiria. Seu avô não estava na sala do trono, mas duvidava que estivesse dormindo. Então foi até a sala de refeições e teve a visão de sua mãe de uma forma diferente. Ela não parecia a mesma. Era sua mãe, mas ao mesmo tempo não era. Estava toda de vermelho e ele nunca viu ela usar aquela cor. E não pareciam com roupas que ela estava acostumada a usar. Sempre via ela de vestido e agora usava calça. Sentiu que algo estava errado. Só desviou o olhar de sua mãe, quando sentiu seu corpo apertado pelos braços de seu avô lhe dando as boas vindas. Então ele correspondeu o abraço e assim que se separaram viu que seu avô estava nos últimos dias, apesar de não parecer. Ele não tinha noção de como sabia daquilo. Mas assim como Maureen, ele apenas sabia. Isso veio junto com a magia que seu avô passou para ele, junto com toda sabedoria dele.
_ Venha, filho! Eu e sua mãe estamos preparando uma grande festa para comemorar seu aniversário...
_ Vô, Acho difícil termos uma grande festa, já que não podemos convidar ninguém... – Tomás sorriu e deixou ser levado pelo seu avô e aceitou sentar-se a mesa com eles. Sua mãe apenas lhe retribuía o olhar surpreso, porém ela tinha um sorriso nos lábios pintados de vermelho como sua roupa.
_ Oras! Seu pai pode trazer sua família e chamaremos os guardas e alguns criados para a festa também. Não pode passar em branco. Essa é uma ocasião muito especial. Não é mesmo Liã?
_ Claro que não. Coisas importantes podem acontecer nesses grandes eventos... Você já deve estar preparado para escolher sua noiva, acredito. – Ela disse tranquila o fitando enquanto bebia seu café.
Tomás abaixou a cabeça, e a certeza que lhe brotou em seu peito, era tão forte, tão óbvia, que ele quase gritou na mesa.
_ Ele não precisa procurar uma esposa ainda. Ele é muito jovem... Não será essa a intenção da celebração de seu aniversário... Afinal de contas, não teremos filhas de reis por aqui, além das irmãs dele.
_ Prefiro que não faça nada vovô. Talvez um bolo na parte da manhã. Porém não posso trazer minha família aqui, pois para eles essa mulher ai sentada está morta.
O avô olhou para Liã assustado.
_ Pensei que você tivesse esclarecido isso há muitos anos atrás...
_ Eu esclareci, meu pai. Mas somente para Moisés. Se ele resolveu guardar segredo disso, não é minha culpa... – Ela disse com olhar inocente.
O avô de Tomás se voltou para ele novamente.
_ Então, talvez esteja na hora de saberem que sua mãe continua viva...
_ Não acho uma boa ideia. Não nesse momento. Estamos enfrentando alguns... Problemas na família... – Ele disse encarando sua mãe que também o encarava. Tomás sabia que ela viu em sua reação que ele descobrira seu segredo. Agora não a queria de volta perto de seus irmãos e de toda sua família, sabendo no que se transformou.
_ Vovô... Pode nos deixar a sós um momento, por favor?
_ Claro. Vou para a sala do trono. Te espero lá meu filho. – Ele disse tocando o ombro de seu neto. Assim que ele se retirou, Liã abandonou a caneca em cima da mesa e fitou seu filho sem sombra de sentimentos que não fosse ternura.
_ Você está tão lindo. Tem alguma coisa em você que não consigo captar... Como você foi herdar tantas características de seu pai... Nem parece mais um filho dele, e sim um irmão um pouco mais jovem.
_ Você também parece mais uma irmã minha do que minha mãe. – Ele disse entrando no jogo dela, porém não conseguia fingir ternura por ela. – Você já pensou que Briam está crescendo e a qualquer momento ele pode querer conhecê-la?
_ Não! – Ela disse se recostando no encosto da cadeira. – Ele nem sabe que sou mãe dele... Não sabe que estou viva e acredita cegamente que Louise é mãe dele... Ele é um mortal! Melhor deixar que continue assim, ignorando minha existência.
_ Nunca pensei que um dia voltaria a concordar em algo com você.
_ Você devia me tratar melhor! Sou sua mãe. Lhe dei todo amor que tinha...
_ Não duvido disso. Mas todo amor que tinha era tão pouco que não restou mais nada ai dentro. Você é uma criatura oca. Não será mais bem vinda aqui, quando eu assumir o trono.
_ Vai me expulsar do meu lar? E para onde poderia ir para me abrigar? Sabe que ninguém sobrevive lá fora com esse ar nocivo...
_ Sim. Eu sei disso tudo. Deixarei que viva nas masmorras, onde foram construídos quartos para o povo de nosso reino junto as estufas. Você ficará bem. Só não permitirei que entre mais nesse palácio... E você está sendo muito pessimista. Tenho motivos para crer que em breve estaremos livres desse ar nocivo...
_ Não é pessimismo meu querido filho. É realismo. Você foi muito mimado por seu pai e pelos outros membros daquela família. Estragaram você. Olhe da janela e verá que além de nossa redoma, o ar cinza não vem mais de cima, mas brota do solo. Quase não se dá para ver mais nada...
_ O que você quer, mãe?
_ Quero que volte para seu verdadeiro lar, que é aqui. Quero que volte para mim. E em troca lhe prometo que farei de ti o rei mais poderoso que esse mundo já viu. Conquistarei para você todos os reinos e eles dobrarão os joelhos toda vez que ouvirem seu nome. Sua família também não será poupada. Você se casará com alguém tão poderoso quanto você está agora e juntos poderão conquistar outros mundos. – Ela falou tão eloquente que assustou Tomás. Sua mãe estava afundada demais nas trevas e ele não conseguiria traze-la de volta. Ela estava perdida para sempre. Tomás se levantou.
_ Depois conversaremos sobre isso... – Ele disse delicadamente para que ela não desconfiasse que ele sabia demais sobre ela. – Agora devo me despedir de meu avô. Meu pai está me esperando...
_ Vá. Seu retorno será triunfal! – Ela disse com um sorriso feliz nos lábios.
Tomás fora até seu avô que estava sentado ao trono e ficou o fitando por alguns minutos enquanto ele não percebia sua presença e seus olhos se encheram de lágrimas. Tinha muito pouco tempo com seu avô. A partir daquele dia, viria todos os dias visitá-lo. Queria aproveitar sua presença ainda nesse mundo o quanto fosse possível. Ficaria com ele até o fim. Estava até pensando em passar seus últimos dias ali ao lado dele, mas depois de ver sua mãe... Não suportaria a presença dela e ele ainda não tinha autoridade para expulsá-la dali. Viu quando seu avô finalmente percebeu sua presença e se aproximou.
_ Vô... Preciso de um favor seu... Mas não pode contar para mamãe, será um segredo nosso sim? – Tomás disse aos sussurros.
_ Claro, meu neto. Como quiser. – Ele também respondeu aos sussurros.
_ Onde você guarda a pomada que um ser prateado lhe presenteou há muitos anos atrás e disse que um dia seu neto viria buscar? Você se lembra?
_ Como sabe disso? Isso faz parte de uma profecia muito antiga... Você sabe o que contém nessa pomada?
_ Não vovô, me diga! – Tomás disse ao ver que ele se distraiu de sua primeira pergunta, pois não sabia como lhe diria que sabia porque ele tinha conhecimento e lembranças de seu avô porque ele mesmo as passara para ele.
_ Ela é feita com a essência do primeiro espírito que foi para o mundo deus Faliel. Esse espírito lhe revelou grandes coisas, inclusive que você iria me pedir ela. Quem me entregou foi o próprio Faliel... Existem muitos tesouros nesse palácio desses que você procura.
_ E como é Faliel?
_ Oh! Brilha demais. Não é possível vê-lo.
_ E onde está a pomada, está guardada no meu aposento, debaixo de um falso piso. Só você pode encontrá-la. Se ela estiver destinada a você é claro.
Tomás beijou a mão de seu avô e correu para o aposento dele. Olhou por todo chão e não via nenhuma a******a onde pudesse estar guardada a pomada. Cansado e frustrado ele sentou-se na cama e ficou a pensar. Uma ideia veio a sua mente. Não sabia se iria dar certo, mas ele tinha que tentar. Levantou-se e abriu os braços e fechou os olhos e chamou por toda energia que guardava dentro de si. Sentiu o calor amistoso que subia do chão e então ele abriu os olhos. E lá, em um canto da parede oposta onde estava a cama, do lado da mesa de alimentos, ele viu uma pequena luz. Ele apagou seu poder para não chamar a atenção de sua mãe e foi até o local do brilho. Havia apenas o chão. Não era um falso chão como dissera seu avô. Talvez ele tivesse que abrir um buraco naquele lugar. Foi então que passou a mão sobre a superfície onde havia o brilho e sua mão atravessou o chão e ele trouxe de volta em sua mão, a pomada, que na verdade era um frasco com algo verde brilhante como os olhos de Maureen e a guardou no bolso e correu de volta para a sala do trono. Sua mãe estava lá e o fitou desconfiada.
_ Você sentiu essa presença Tomás?
_ Não sei do que está falando... – Tomás a fitou curioso.
_ Uma grande quantidade de energia foi liberada dentro desse palácio! Não é possível que você, com todo poder que tem não tenha sentido. – Liã fitou seu filho com muita desconfiança. Agora tinha certeza que ele não viera apenas com a finalidade de visitar seu avô. Alguma coisa importante estava levando ele a esconder coisas dela. E ela não estava gostando. Precisava que ele confiasse nela novamente e ficasse do seu lado. Pois, por mais que ele não acreditasse, ela o amava. E não desejava ter que ferir ele também.
_ Não senti nada de anormal. – Tomás tentou se desvencilhar das desconfianças de sua mãe. – Afinal vovô sempre é visitado por criaturas de energias diferentes. Não sei porque está tão alarmada.
_ Ninguém pode entrar nesse palácio, além de você. Papai selou com magia esse lugar para evitar visitas nesse período de guerra.
_ Já não tenho tanta certeza que a magia que vovô usou nos protegeu realmente de todo perigo existente lá fora. Você tem ficado somente nesse palácio mamãe? – Tomás perguntou sagaz.
Liã o fitou com olhos brilhantes de ira.
_ Onde mais eu poderia ir? Não tenho punhal para viajar de um lugar para o outro. Voc~e sabe bem disso.
_ Um punhal não faria diferença para você. Imortais não tem poder para viajar entre mundos. Teria que ter mais poder né mamãe? Teria que ser um deus.
Liã o fitou curiosa. Será que deixara transparecer alguma coisa? Porque ele lhe falava como se ela houvesse se tornado uma deusa?
_ É. Tem esse detalhe também.
_ Só fico me perguntando, onde conseguiu esses trajes? Nunca vi desse tecido em nosso mundo. Alguém lhe trouxe de presente de um outro mundo?
_ Tomás... – Liã ficou vermelha. Como era estúpida! Seu filho era observador demais. – Eu... já tinha esse traje antes de ser morta por Demy... Eu só trouxe para cá... Comprei em uma das viagens que Moisés nos levou...
_ Mamãe, pare de mentir. Como você entraria no reino de papai para pegar roupas? Se esquece que fui eu que a trouxe para cá? E me lembro muito bem que você não tinha aqui nesse palácio roupas comparadas a essas. – Tomás estava gostando de colocá-la contra a parede, mas uma intuição dizia para que ele deixasse o assunto de lado para não atingir seu avô. Porque ela não pensaria duas vezes, antes de mirar sua fúria nele. Tomás olhou para seu avô que assistia a toda a conversa com olhar compenetrado. Ele também sabia do segredo de sua filha! Tomás teve certeza.
_ Bem... Vou confessar então, eu sou uma jovem imortal. Conheci um deus, e ele me levou a outro mundo, onde comprei várias roupas, essas aqui entre elas. Você não quer que sua mãe fique solteira para sempre não é mesmo?
Tomás entendeu até o que ela não disse. Ela arrumou um jeito de visitar os mundos, atrás de Mary. Deve ter ouvido que ela havia sido despachada para outro mundo para sua p******o, enquanto ela escutava das sombras. Só não sabia a fonte de todo seu poder. Ela devia estar aliada com algum ceifeiro ou Sentinela. Era muito bela e pode ter facilmente seduzido algum deles para que lhe desse poder de deusa. No entanto, eram poucos os que conheciam e sabiam usar a magia de transferência... E onde ela teria conhecido alguém assim? Seu avô pode ter feito essa transferência enquanto ainda estava forte o bastante, mas ele achava pouco provável. De qualquer forma, enquanto não soubesse quem era o aliado dela, tomaria todos os cuidados e fingiria acreditar nela, para que uma hora ela se entregasse.
_ Claro que não mamãe. Você merece mesmo ser feliz e seguir sua vida assim como meu pai fez.
Liã se aproximou e o abraçou. Depois se separou e deixou um beijo em seu rosto.
_ Fico feliz que você aceite tão bem. É muito importante para mim sua aprovação. – Ela disse sincera.
_ E quando vou conhecer seu namorado?
_ Em breve... Ainda estamos nos conhecendo, se eu achar que ele é o homem certo, trarei ele para apresentar para você e papai...
_ Então, pode ter sido a energia dele que você sentiu agora a pouco, não?
Liã ficou desconcertada com a pergunta do filho, mas era natural que ele chegasse a conclusão que ele deveria estar entrando ali, já que ela não podia sair... E deu um suspiro aliviada ao perceber enfim que ele não estava desconfiado dela.
_ Sim! Você tem toda razão. Pode ter sido a energia dele. Mas deve ter sentido sua presença e ido embora, pois eu o avisei que ainda não era hora de termos um relacionamento mais sério e que só o apresentaria a minha família depois que todos estivessem de acordo com esse romance.
Assim que ela estava dizendo essas palavras o portal se abriu e Tomás soube que seu tempo ali havia acabado.
_ Acho que vovô não vai se opor também. – Tomás disse indo até o avô, sentado no trono e depositado um beijo em seu rosto. – Até mais vovô. Voltarei para lhe ver todos esses dias daqui para frente. – Tomás viu seu avô sorrir feliz e piscar o olho para ele. Então desceu os degraus que levava ao trono e virou-se para sua mãe. – Não demore muito para ser feliz. – Ele disse e entrou no portal.
Assim que chegou do outro lado, seu pai o aguardava.
_ Então Tomás? Conseguiu tudo que precisava?
_ Consegui até mais que do que precisava. Você tem um tempo agora?
_ Bom, tenho que ir buscar Eliza ainda para fazer a refeição da tarde conosco, mas se for importante, acho que pode esperar uma hora...
_ É muito importante.
_ Então vamos conversar.
_ Gostaria que você se sentasse no trono para que ficássemos distante da porta e longe de ouvidos curiosos.
_ Como quiser. – Moisés disse estranhando o pedido de seu filho. Ele foi até o trono e sentou-se. Tomás o acompanhou e o fitou longamente.
_ Nós viajamos para todos os reinos para transformar os reis em deuses, para que os sentinelas fossem hibernar como os ceifeiros. Lembra-se disso?
_ Sim, só deixamos de fora o pai de Eliza por motivos óbvios... Ele não tem caráter para ser um deus. Se transformaria em um monstro com um poder desses nas mãos.
_ Você acha que algum desses reis pode ter se corrompido? Se virado para o lado das trevas?
_ Não. Eles são do bem. Reinam com amor a seus súditos. Eles não fariam nada para colocar seus povos em perigo.
_ Sim. Também penso assim. Os sentinelas também estão selados em seu lar, assim como os ceifeiros?
_ Sim. Eles não podem sair de seu lar. Apenas quando Klainer libertá-los do selo. E... Não há noticias de que eles tenham despertado de seu sono. Onde você quer chegar meu filho?
_ Pai, sei que vai te parecer impossível, mas Liã é a nossa inimiga das trevas.