Capítulo 02 - As surpresas começam

1579 Words
O sentimento de nostalgia em estar de volta ao lar fazia bem à Mirana. O chalé era confortável, tinha companhias agradáveis e vários amigos que podia chamar de família. Mas por que aquele sentimento de que algo r**m estava por vir a consumia? Revirava-se na cama sem conseguir dormir, era frustrante. Sentou na cama com cuidado para não acordar os irmãos do chalé 5, os filhos de Ares geralmente não eram conhecidos por bom temperamento. Com os pés para fora da cama, sempre em silêncio, a loira aproximou-se da janela para verificar se tudo estava tranquilo.  As harpias do acampamento vigiavam quaisquer movimento fora do toque de recolher e se alguma a encontrasse fora do chalé certamente estaria encrecada. Respirou fundo e ao sair, olhou ao redor. Nenhuma harpia à espreita, felizmente. Avançou pelos chalés sem um destino definido, apenas dando passos rápidos e cuidadosos, sempre em alerta. Sua adaga estava presa à cintura por precaução embora não tivesse a intenção de machucar ninguém.  Mirana era filha de Ares e era esperado que fosse corajosa e altruísta como seus irmãos.  Mas infelizmente ela não se sentia assim. Ares era o deus da guerra, batalhar era seu foco e a crueldade era seu sobrenome. Não se sentia confortável com aquelas palavras, com toda a pressão, com os treinamentos e batalhas...As vezes, embora fosse bobo pensar assim, se sentia como se não estivesse no lugar certo. Só parou de andar quando já estava na praia, observando o mar. Isso a fazia lembrar dos filhos de Poseidon. Ah, Percy Jackson...o mais poderoso de todos, salvara o mundo tantas vezes...mas queria ser como ele? Se inspirava nele? Talvez apenas por sua coragem  O mar estava calmo mas não ousaria entrar e voltar ao chalé com as roupas e o cabelo encharcados, não teria desculpa convincente o suficiente para esconder de seus irmãos que havia saído e violado o toque de recolher. — O que faz aqui? - uma voz sem localização a assombrou. Fora pega — devia estar no chalé, mocinha, já passou da hora do toque de recolher — uma risada ecoou perto de seu ouvido, mas não sabia de onde vinha. Seu primeiro instinto foi agarrar o cabo da adaga com força, se preparando para saca-la a qualquer momento mas era difícil identificar quem era sua companhia. — Quem é você?! Onde está?! - olhou para os lados freneticamente, a risada fria novamente ecoando. — Isso não tem graça! - exclamou já irritada. Uma figura então tremeluziu e ganhou a forma de uma garota. Alta, cabelos castanhos escorrendo pelos ombros, olhos escuros penetrantes e um sorriso doce facilmente enganador.  — Quem é você? – perguntou com a voz trêmula. A desconhecida levantou a mão, sinal de rendição.  — Relaxa, não tenho intenção de te machucar ou dedura-la para as harpias - garantiu, esboçando mais simpatia nos lábios — Sou Serena Lightwoody, filha de Atena - apresentou-se. Mirana levantou a sobrancelha, duvidosa. — Conheço todos os filhos de Atena mas nunca vi você pelo acampamento até agora - deu um passo se aproximando da garota para analisá-la melhor. Serena tinha um rosto delicado, com traços incomuns. Tinha uma cicatriz no canto esquerdo do nariz e uma pintinha embaixo do olho.  A jovem permaneceu plena mesmo com a desconfiança. Parecia acostumada a ser posta à prova, por isso deu de ombros, indiferente. — Deve ser porque eu uso um boné mágico capaz de me deixar invisível – atentou-se, o que fez a loira baixar os olhos para o boné azul dos Yankees na mão direita da outra. — E sempre viola o toque de recolher com essa vantagem? - rebateu, encarando melhor aquele rosto diferente. Serena sorriu de lado, irônica. — Você também está violando o toque de recolher. — Não consegui dormir - explicou Mirana. Foi a vez da Lightwoody arquear a sobrancelha, duvidosa. — É por isso que também estou aqui - disse enquanto caminhava até o mar. Mirana apenas observou enquanto Serena tirava seus sapatos para entrar na água. A cada minuto que passava aquela garota parecia mais intrigante para si. — Não paro de ouvir uma voz me chamar desde cedo - a morena explicava enquanto seus pés tocavam a água fria — vinha desta direção então suponho que seja o mar. — Mas você é filha de Atena, como pode ser chamada pelo mar? - na cabeça de Mirana aquilo não fazia sentido. Mas Serena já havia mergulhado, incapaz de lhe responder. — Garota?! - exclamou, pouco ligando para o risco de ser ouvida por alguém.  Se aproximou mais, tentando ver a jovem e esperando que ela aparecesse na superfície.  Passou-se dois minutos e nada de Serena aparecer, já estava dando meia volta para desistir e voltar ao chalé. Quando de repente sentiu uma mão agarrar seu pé e puxa-la para o mar. Gritou, mas logo foi consumida pela escuridão. /// Estava em um ambiente escuro, abafado e denso. Ao abrir os olhos pôde visualizar as paredes rochosas em volta. Parecia uma caverna, mas onde seria? Tentou andar mas suas pernas não saiam do lugar. Então olhou para baixo. Estava flutuando?? Aquilo era o fundo do mar?? Sim, era. E estava respirando debaixo d'agua. Mas como era possível? Onde estava? E onde a garota, Serena, estava? Queria falar mas sua boca não se mexia, nem seus braços. Como sairia daquele lugar?? Um barulho estrondoso ressonou, fazendo todo o lugar vibrar. Mirana seguia tentando se mexer, mas era impossível. — Oh grandiosa mestre! - uma voz jovem surgiu, mas não fazia idéia de qm fosse. Parecia-lhe familiar, mas não tinha certeza — o próximo passo do grande plano de sua ascensão está a caminho. Logo, todo o mundo se curvará ao seu poder! - exclamou com orgulho. Embora a pouca luz dificultasse sua visão, Mirana pôde ver uma figura encapuzada ajoelhada sobre um buraco n***o fora da caverna. O buraco parecia fundo mas não podia se mexer a ponto de se aproximar para confirmar. Uma risada maligna vindo do buraco lhe arrepiou até o último fio de cabelo.  — Maravilha! Em breve, todos conhecerão a verdadeira maldade! Pois eu sou a Primeira, a mais velha de todos os seres poderosos e celestiais existentes! - a voz trovejou, furiosa. A figura encapuzada nem mesmo reagiu embora todo o lugar treme se a cada vez que o buraco n***o falava. — Encontre o que preciso, criança, e reinará o mundo ao lado! Encontre o ingrediente secreto! - exclamou novamente, fazendo as paredes da caverna/prisão de Mirana desabar. Tudo ficou escuro novamente. ///  — Mirana, acorde! - Luana gritou, sacudindo a irmã para acordá-la. Quando a loira abriu os olhos, avistou todos os seus irmãos ao redor de sua cama a observando com olhares de desconfiança e impaciência. Já estava na hora do café da manhã e estavam atrasados. Mirana havia dormido demais. — O que?...Por que todos estão me olhando?... - sentou-se enquanto sua mente voltava ao corpo depois daquele pesadelo. — Você dormiu tanto que parecia ter entrado em coma, estamos atrasados para o café de tanto espera-la! - uma de suas companheiras de chalé, Bailey, exclamou impaciente.  Lua a olhou com repreensão, a expressão dura fez com que a baixinha se encolhesse. — O que a Bailey quis dizer é que estávamos preocupados - interviu, encarando a gêmea — Você dormiu demais e ficava sussurrando coisas estranhas. Mirana franziu o cenho. — Como assim coisas estranhas?  Outro de seus irmãos, Josh, pigarreou para chamar atenção. — Você chamava por uma tal de Serena - respondeu. Mirana ficou ainda mais confusa. — A questão é que não conhecemos nenhuma Serena aqui no Acampamento ou no nosso cotidiano - Luana interviu novamente para poupar a irmã de se explicar e atrasa-los ainda mais. Não queriam levar bronca — Deve ter sido só um sonho, melhor nos apressarmos antes que alguma harpia coma um de nós por perder o café da manhã. Ninguém questionou. Luana era a conselheira chefe, deviam obediência a ela, até mesmo sua irmã. Seguiram para o refeitório ignorando os olhares questionadores de outros semideuses. Mas por sorte, ou azar, o atraso do chalé de Ares passou despercebido pela maioria devido a uma movimentação estranha.  Uma multidão de semideuses estava envolta de algo, amontoados em círculo. No centro estava Quiron, um satiro e uma pessoa caída. As gêmeas correram assustadas e curiosas para perto da multidão, assim como todos seus colegas de chalé. — O que aconteceu? - Mirana perguntou para o primeiro semideus que as avistou ali, um moreno alto e forte, provavelmente do chalé de Hefesto. — O satiro Lester resgatou mais uma, foram atacados por lestrigoes - o garoto informou, dando espaço para que as garotas tivessem uma visão mais detalhada do que acontecia no círculo. Quiron examinava a garota de cabelos castanhos longos junto a dois semideuses do chalé de Apolo. O satiro mencionado estava ao seu lado, com um corte na testa que não parecia incomoda-lo, observando fixamente a jovem que protegera. — Que lugar é esse?! - a jovem pareceu despertar de um transe, olhando em volta — que pessoas são essas?! Mirana congelou como se uma sensação familiar a atingisse. Aquela voz, aquela garota.... — Acalme-se minha jovem, este é o Acampamento Meio-Sangue, você está segura aqui - Quiron tentou tranquiliza-la — qual o seu nome? A jovem demorou alguns segundos para respirar fundo e responder. Quiron e o satiro a ajudaram a se levantar. — Meu nome é Serena. Serena Lightwoody.
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