Com a escolta de Frederick, a jovem passava de súdito em súdito conversando e apertando a mão. Apesar de alguns parecerem desconfiados, no geral, todos estavam felizes porque o reino tinha uma nova Rainha e continuava com a linhagem real. A jovem, por fim, entrou no castelo.
Parecia algo tirado de um livro de contos de fadas. Era enorme, mas parecia aconchegante. Frederick contou que desde o primeiro rei, os serventes e sua família eram convidados a morar no castelo. O lugar era enorme e tinha mais que quartos o suficiente para receber a todos eles e ainda assim sobrar espaço.
Decorações de Natal adornavam cada canto daquele enorme lar, ela só conseguia imaginar que Anaïs iria surtar ao ver aquele lugar coberto de neve e natal.
— Frederick, eu consigo trazer outras pessoas comigo para cá? — ela perguntou curiosa.
— Bem, eu acho que é possível que se a pessoa segurar o calendário junto com você enquanto você abre, o portal provavelmente trará você e quem quer que esteja em sua companhia. — ele refletiu — Mas Rainha Emma, se me permite dar um conselho, cuidado em quem você confia e em quem você traz, muitos não querem seu bem ou do reino e tentarão te enganar para destruir o que esse lugar representa.
Ela assentiu, fazia sentido, mas sua Anaïs não era assim, ela era como uma irmã e extremamente apaixonada por Natal, iria simplesmente surtar feliz com a existência daquele reino.
— Nativitas Domini Encantata — ela leu — O que significa?
— Reino Encantado do Natal, é esse lugar. — ele explicou.
Frederick apresentou a cada um dos funcionários, os principais comerciantes, a geografia daquele reino. No final do dia a cabeça de Emma parecia que iria explodir. Ela deu graças a Deus que já era hora do jantar, nada melhor que uma boa comida para a fazer mais feliz naquele momento.
— Majestade? — ela ouviu alguém chamar.
Continuou o que estava fazendo até que alguém tocou em seu ombro.
— Majestade.
— Oh, perdão, eu não pretendia ignorar, só ainda não me acostumei com ser chamada de Majestade ou Rainha. — ela explicou com sinceridade.
James, o mordomo, deu uma pequena risada e assentiu em compreensão. Ele era um homem próximo dos quarenta anos e pela história contada por Frederick, ele já servia o lugar quando seu pai se tornou Rei.
— Tudo bem, Majestade. — ele assegurou — Eu gostaria de avisar que você tem um convidado para o jantar, o nome dele é Dante Fallace, diz ser artesão no vilarejo vizinho e que ouviu sobre a chegada da Rainha, queria dar um presente para você.
Emma estava cansada de conhecer mais pessoas naquele momento, só queria jantar com os funcionários, suas famílias e Frederick, que ela já considerava um bom amigo. Mesmo assim ela pediu que James liberasse o convidado, era o dever de uma rainha receber seus súditos, ainda mais um que provavelmente não teria onde dormir naquela noite.
— Minha Rainha, se me permite, eu acho que você deveria tomar um banho e colocar outra roupa para jantar. Conheça seu convidado depois que descansar um pouco.
Essa era Dorothea, a governanta, ela havia cuidado de seu pai desde que ele havia nascido. Ela já tinha uma idade avançada, mas fazia questão de continuar cuidando de tudo no lugar. Emma gostava da senhora.
— Bem, se você acha aconselhável, eu ouvirei a voz da experiência. — ela respondeu carinhosamente.
— Você definitivamente puxou sua mãe, seu pai era terrível em ouvir as pessoas e ainda mais com modos. Ele saia por aí em suas aventuras e queria se sentar a mesa todo sujo e suado, péssimos modos. Sua mãe era adorável, sempre me permitia paparicá-la e era muito bem educada. Ela nasceu em nosso reino, mas deixou tudo por seu pai e foi com ele para o reino mortal.
— A falta de magia a matou? — perguntou Emma assustada.
— Não, infelizmente sua mãe tinha problemas na imunidade e a cada vez que ficava doente, tinha dificuldades para se recuperar. Uma hora ela simplesmente não conseguiu se recuperar independente da magia e da medicina. Os bruxos que hoje tentam dominar nosso reino, quiseram curá-la, mas o preço era alto demais.
— Qual era?
— Você.
Ela arquejou surpresa e a senhora assentiu. Pegou o braço de Emma e entrelaçou ao seu guiando a jovem para o elevador que o pai dela havia instalado naquele lugar para os funcionários mais velhos e para poupar a esposa.
— Eles a queriam para torná-la uma bruxa má como eles.
— Mas qual o objetivo deles?
— Destruir esse lugar e tudo o que ele representa.
Tinha ouvido aquilo antes vindo de Frederick, mas ela não compreendia exatamente o que aquilo significava.
— O que ele representa? — ela perguntou.
— Paz, amor, alegria, esperança, bondade. Apesar dos defeitos de cada súdito e governante, todos sempre procuram ser a melhor versão que podem e sempre querem que esse lugar represente tudo de bom uns para os outros.
Emma assentiu enquanto refletia a respeito daquilo, ela também queria dar seu melhor para fazer aquele lugar ser bom para ela e os outros.
***
Dorothea tinha razão, Emma percebeu, bem ela tinha razão sobre muitas coisas, mas ela falava especificamente sobre o fato de ela realmente descansar ao tomar um bom banho de banheira.
Aos poucos, a jovem aprendia o nome de todos. Diana era a jovem que havia secado seu cabelo e feito alguns cachos para dar vida aos seu cabelo ruivo. Rebecca era quem havia ajudado Emma a se vestir. Agora ela usava um vestido verde escuro de mangas longas, ele tinha um forramento fino de lã. Haviam explicado que por mais que o castelo fosse aquecido, era bom andar com alguma coisa para aquecer durante os invernos que eram rigorosos.
Nos pés usava botas forradas de lã, elas não tinham salto, o que Emma não gostou tanto pelo fato de não ser muito alta, então o salto ajudava nessa questão de altura.
Ela desceu as escadas aproveitando para observar os quadros e fotografias. Sorriu ao reconhecer uma foto sua com seus pais, queria que o pai pudesse voltar a sorrir daquela forma de novo. A saudades apertou seu peito e ela beijou a ponta dos dedos e colocou sobre o rosto da mãe.
Respirou fundo antes de continuar a descida, notou que no final da escada estavam Frederick e também alguém que ela não conhecia. Ele era alto, a roupa não mostrava muito sobre sua constituição física, mas ela percebeu que ele tinha ombros largos e se portava com confiança. Seu cabelo era preto e seus olhos de um azul pálido, eles refletiam inteligência e um pouco de malícia. Esse sim, ela descreveria como lindo.
Manteve sua expressão neutra mesmo ao chegar diante do jovem. Estendeu a mão para Frederick, ele era seu conselheiro e era ele quem a guiaria para a sala de jantar. Abriu um sorriso gentil, ainda que distante, quando ambos os jovens fizeram uma reverência e ela retribuiu.
— Majestade, esse é nosso convidado para a noite, Dante Fallace.
— Senhor Fallace…
— Por favor, me chame de Dante. — ele interrompeu.
— Senhor Fallace, — ela insistiu — disseram que você é um artesão, trabalha com que tipo de material?
— Eu sou muito bom com argila, majestade.
— Você trouxe alguma obra sua para exibir?
— Eu tenho algumas sim, minha rainha.
— Bem, então que tal nos mostrar algumas de suas peças?
— Seria uma honra.
Ela assentiu e pediu que James acompanhasse o convidado para a sala de jantar, ela e Frederick já iriam.
— Eu não confio nele, Emma. Há algo sobre ele, eu não sei o que é, mas não me parece confiável.
— Ele não me parece de todo r**m, embora eu ache que pode ser um jovem artista querendo cair nas graças da rainha e então usar isso para chegar em outros vilarejos do reino.
— Bem, podemos dar uma chance a ele, mas pedirei que todos do castelo, funcionários e famílias fiquem de olho.
— É uma excelente ideia. Vamos jantar? Estou faminta.
Ele assentiu e a guiou para a enorme sala de jantar. Ela observou que ainda havia funcionários de pé e alguns dos membros das famílias também.
— Fred, como posso fazer todos se sentarem, a mesa não é suficiente… — ela sussurrou.
— Você tem magia em seu sangue, é algo que precisa treinar, mas talvez consiga ampliar a mesa para que caiba todos.
— Como eu faço isso?
— Feche os olhos, imagine a mesa que temos atualmente. Agora pense nela com o dobro do tamanho e o dobro de cadeiras.
Emma fechou os olhos e imaginou a mesa se alongando até atingir o dobro do tamanho, também imaginou mais dois pés no meio para ajudar a sustentar, então em sua imaginação foi colocando as cadeiras a mais para que todos sentassem. Ouviu um arquejo de surpresa e abriu os olhos percebendo que havia dado certo.
Quem estava no salão se sentou à enorme mesa e os funcionários da cozinha se apressaram em trazer mais pratos, talheres, copos e também o resto do jantar que antes não cabia na mesa. Emma pediu que todos se sentassem juntos para comer, depois poderiam retornar às funções e ela ajudaria caso fosse necessário.
— O que você quer comer, majestade? — perguntou Frederick.
— Oh, tudo parece tão bom. Acho que quero da carne assada com molho, purê de batatas, salada e bem, tem escondidinho de carne seca e eu adoro…
Frederick riu e pediu para que servissem um pouquinho de tudo para Emma experimentar de todos os pratos. Ao ser devolvido, ele colocou na frente da ruiva.
— Geralmente temos alguém que experimenta tudo para ver se não está envenenado, dessa vez, eu provei. Às vezes você também consegue testar com magia, mas nem sempre ela é confiável, a magia pode ser enganada, então use com sabedoria. — ele explicou pacientemente.
— Eu achava que a magia nunca traia o usuário. — comentou Dante.
— Bem, magia é uma forma de manipulação do que já existe, mesmo que se crie algo novo, geralmente é a partir de algo que já existe. E para toda ação, existe uma reação de mesma força e oposta. Então para toda magia, há algo que pode anulá-la. Seja uma magia boa ou r**m.
— Acho que faz sentido. — ele respondeu pensativo.
Frederick encarou Dante por um momento e o jovem voltou os olhos para o prato de comida. Emma achava que Fred não deveria ser tão duro com o artesão, mas era melhor ficar distante até saber a real índole de Dante.
— Amanhã vamos começar os preparativos para a festa de Natal do reino, majestade. — anunciou Frederick.
— Que maravilha! Eu adoro o Natal! — ela estava sinceramente muito animada, era sua época favorita do ano.
O jantar continuou com tranquilidade, por toda a mesa a conversa fluía e algumas vezes Dante se arriscava a comentar algumas coisas, ele estava deslocado, mas Emma entendia esse sentimento, ela se sentia dessa forma em muitos lugares no mundo real.
A sobremesa foi servida e eram tantas variedades que Emma repetiu ao menos cinco vezes, ainda que Dorothea a aconselhasse não comer tanto. A ruiva deixou sua gula falar mais alto e ao terminar sentia a barriga doer.
— Alguém me ajude a levar essa garota teimosa para a cama? Vou pedir à cozinheira que prepare uma mistura de chá que vai ajudá-la a melhorar.
Frederick e Dante imediatamente se voluntariaram para o trabalho.
— Não preciso de ajuda, eu posso carregá-la até o quarto dela. — Frederick disse ao dispensar Dante.
— Eu também posso carregá-la. E também posso ajudar garantindo que você não precise parar para ficar abrindo portas e tudo. — Dante replicou.
— Eu não estou inválida, apenas com bastante dor no estômago. — Emma declarou e logo em seguida se dobrou de dor.
— Nota mental, nunca mais deixar uma mesa com tantas sobremesas perto da rainha, ela não tem auto controle. — ralhou Frederick.
Emma como a adulta e rainha que era mostrou a língua para o lorde. Ele imediatamente riu e auxiliou a ruiva a entrar no elevador. Sem carregá-la já que ela não queria isso.
Não demorou muito para que Emma estivesse nos aposentos destinados a ela no castelo já coberta e com a xícara de chá na mão. Dessa vez ela obedecia Dorothea e bebia em pequenos goles e cada gole ajudava a dor diminuir. Quando terminou estava apenas levemente enjoada.
— Deite e descanse, menina, amanhã será um novo dia cheio de aventuras. — Dorothea expulsou os rapazes para que ajudasse Emma a se trocar e a embalou nas cobertas.
***
Emma abriu os olhos, mas ao olhar ao redor estava de volta ao mundo real ainda segurando o calendário. Seu estômago não parecia mais roncar de fome, ainda que estivesse levemente enjoado. Aquilo a fez perguntar se o que viveu era real, como poderia saber?
Ela deixou o objeto de madeira com cuidado em cima da cama e desceu para a cozinha, o pai ainda estava preparando as coisas, o cheiro estava ótimo, ainda que naquele momento ela não sentisse v*****e de comer, talvez mais tarde quando estivesse pronto ela comesse um pouquinho.
— Oi Ems, já cansou de ver o calendário? Faz apenas cinco minutos desde que subiu.
— Ah, ele é lindo, eu adorei, vim aqui agradecer. Obrigado.
— De nada, filha.
Ela sorriu para o pai, mas sua mente trabalhava naquela sentenca, cinco minutos? Mas tinha ficado dentro do calendário por horas. Ou simplesmente teve uma alucinação intensa a respeito de tudo?