Capítulo 3

2108 Words
Depois de mais um dia exaustivo na faculdade e depois no estágio, Emma havia chegado em casa. Seu pai havia saído para ir ao mercado e ela estava sozinha em casa. Pegou um biscoito da noite anterior e subiu para seu quarto a fim de deixar a bolsa e tomar um banho. Imediatamente se deparou com o calendário. Ele era grande e pesado o suficiente para que precisasse de ambas as mão para segurar, mas não pesado ao ponto de precisar apoiar em alguma superfície.  O calendário era composto por 24 dias, 1 a 24 de dezembro. A madeira era escuro e envernizada, parecia que o pai havia dado mais uma demão de verniz. As portinhas se alternavam entre verde e vermelho e em cima delas os números em dourado. Emma estava tentada a abrir a primeira portinha, já era primeiro de dezembro afinal. Porém primeiro olhou para si mesma, estava fedendo e cansada. Precisava de um banho, talvez jantasse e depois fosse ver o calendário. E foi exatamente isso que a ruiva fez. Foi primeiro para o banheiro e tirou sua roupa deixando no cesto de roupa suja. Depois entrou no chuveiro e ligou a água quente, afinal, duas coisas eram ótimas em dia frio: um banho bem quente e também chocolate quente com marshmallows.  Emma usou seu sabonete favorito, ele tinha cheiro de baunilha. E para o cabelo passou o seu shampoo de sempre, mas o condicionador tinha um cheiro de flores que a agradava. Ficou algum tempo embaixo do chuveiro deixando a água lavar todo o cansaço e o peso do dia de dentro de si. Ao sair, ela se secou e enrolou uma toalha no cabelo. Foi para o quarto e vestiu a calcinha enquanto procurava em qual gaveta tinha colocado o pijama limpo que havia passado no final de semana. Depois de alguns minutos, encontrou e vestiu. Colocou a toalha estendida de volta no banheiro e aproveitou para secar o cabelo. Frio e cabelo molhado não combinavam. Ela inicialmente usou uma escova junto do secador para desembaraçar os fios, quando já estavam soltos, ela usou os dedos mesmo até que o cabelo estivesse totalmente seco.  Ela estava considerando ir ver o calendário, mas seu estômago falou mais alto. Desceu as escadas para o andar debaixo e encontrou o pai com as compras. Emma pegou algumas das sacolas e ajudou a levar para a cozinha. — Já está com fome, meu bem? — o pai perguntou. — Morrendo. — Bem, que tal enquanto eu faço o jantar, você guarda as compras? — ele propôs. — Claro. — ela concordou imediatamente. Ele sugeriu fazer macarrão à bolonhesa, era rápido e ela estava morrendo de fome. Os primeiros eram os de geladeira, manteiga, geléia, queijo, presunto e algumas frutas também como morango e maçã. Então Emma começou a guardar os itens que iam na despensa como farinha, açúcar, lata de ervilha. Pegava alguns itens por vez e os levava até a despensa colocando na ordem que eles haviam estabelecido. Ela passou a guardar os itens de consumo diário que não precisavam de geladeira como cereal, chocolate, granola e alguns outros, dentro dos armários em cima da pia. Ao finalizar com tudo, a comida estava ainda ficando pronta, o molho precisava ferver mais.  — Enquanto você cozinha, eu vou ver meu calendário, você me chama quando tudo estiver pronto? — ela pediu. O pai assentiu e a ruiva não se demorou quase nada para sumir dali escada acima. Ela entrou no quarto e foi direto para o calendário. Abriu o primeiro dia, a portinha era vermelha, e encontrou uma chave e uma fechadura no dia um. Ela pegou a chave em sua mão. Era pequena, provavelmente do tamanho de uma chave de porta.  Parecia uma chave antiga, mas bem conservada. Era dourada e tinha alguns arabescos na ponta ao invés da finalização comum. Percebeu também que havia uma pequena pedra vermelha na ponta da chave que continha os enfeites. Deixou ao seu lado por um momento e foi para a porta dois, pintada de verde. Ela puxou, mas a porta não queria abrir, tentou a três, vermelha. Também não abria. Ela testou cada uma das portinhas, mas nenhuma delas parecia querer abrir. Fechou a um de novo e a puxou, ela abria com facilidade. Emma pensou em perguntar ao pai sobre aquilo, porém o buraco de fechadura chamou sua atenção.  — Provavelmente eu estou para cometer um erro enorme, é aquele momento nos filmes que gritamos para a pessoa: não faça isso, mas ela sempre faz, bem eu vou fazer e se alguém estiver me assistindo, perdão. — ela disse para ninguém além de si mesma. Pegou a chave deixada ao seu lado e enfiou na fechadura girando. Ouviu um clique e tentou abrir as outras portinhas, mas nenhuma delas abria. Emma começou a virar todo o calendário em suas mãos e notou um fecho na lateral do objeto que não estava ali antes. Ela abriu e o calendário se abriu como em um livro. Havia uma história escrita ali, com alguns desenhos e tudo. Contava sobre uma família herdeira de um reino natalino, como havia sido fundado e como passou de geração em geração, até o último rei. Depois da perda de sua rainha, ele nunca mais voltou ao reino e eles precisavam de ajuda. — Esse reino é muito importante para seus habitantes. Eles aguardam a chegada da nova rainha, filha do Rei Rufus. — ela parou por um momento — Esse é o nome do meu pai, estranho. Emma terminou de ler e fechou o calendário. Ela tirou a chave do buraco e guardou no bolso ao fechar a portinha. Deixou o calendário na cama e se virou indo para a porta, iria agradecer ao pai e fazer algumas perguntas. Sem que ela notasse, o calendário se abriu na cama e dentro dele, um portal havia sido aberto e agora a puxava para ele. Com um último grito e sem que ninguém ouvisse. Ela foi levada pela magia. *** A ruiva caiu em um monte de neve e gemeu diante do baque. Levantou-se enquanto olhava ao redor, estava em uma floresta de pinheiros. Aquilo definitivamente não era mais seu quarto. Ao alisar as roupas percebeu que não usava mais seus pijamas e sim uma calça e uma túnica que eram quentes, apesar de serem leves. — Eu dormi? Isso é um sonho? — Rainha Emma, vossa majestade chegou. — disse um jovem rapaz que se aproximava. — Desculpe, você está falando comigo? — ela perguntou. — O calendário disse que você viria! Emma apenas encarava o rapaz extremamente confusa, como assim calendário avisou? Que lugar era aquele? Quem era ele e por que a chamava de rainha? O rapaz parecia plenamente confiante de que a ruiva era sua rainha e estava com a mão estendida para guiá-la. — Perdão, que calendário? — O nosso calendário de advento mágico, é claro! Os grandes olhos verdes da jovem estavam fixos nele, mas tudo o que eles exibiam era confusão. Emma simplesmente não entendia do que ele estava falando. — Rainha Emma, seu pai não explicou nada sobre o nosso reino? — Eu… Meu pai? — Sim, o Rei Rufus foi nosso último reino, mas ele deixou de vir depois que a Rainha Elisa morreu. Ela estreitou os olhos, aqueles eram os nomes de seu pai e sua mãe, mas ela provavelmente estava dormindo e sonhando com aquele reino que leu a respeito no calendário, deveria ser aquilo, de fato, era a melhor explicação. O jovem ainda encarava Emma enquanto ela pensava a respeito de tudo, ele mantinha a mãe estendida se perguntando se havia falado algo errado ou falado muito. Arriscou olhar para o relógio, já estava escurecendo, eles precisavam ir. — Eu preciso que você venha comigo, por favor, eu posso te explicar o que quiser saber no caminho. Desde que seu pai foi embora, nosso reino foi tomado por forças malignas e eles odeiam o Natal. Eles sempre atacam a noite, a lua os deixa mais fortes. Ele pegou a mão da ruiva e puxou para que ela corresse com ele, precisavam chegar rapidamente ao trenó e depois a seguranca do castelo antes que escurecesse. Não podia arriscar que sua Rainha fosse pega. — Qual seu nome? Você já sabe o meu, afinal. Emma analisava o rapaz, alto, esguio, mas ainda assim parecia ser forte, ele tinha cabelos e olhos castanhos, uma barba por fazer indicando que provavelmente já tinha atingido a idade adulta. Ele era agradável de se olhar, mas ela não o classificaria como lindo, talvez bonitinho. — Frederick Maes III, minha rainha. Meu avô foi condecorado como Lorde quando ajudou seu avô com questões do reino e desde então minha família toda se dedica a ajudar a família real e o reino. Ele continuava puxando Emma consigo, podia sentir os olhares dela em suas costas.  Chegaram enfim no trenó puxado por renas. Era um trenó grande e bonito, branco com detalhes em dourado, parecia feito de madeira. Os bancos eram aveludados e tinham cobertores dobrados sobre eles, um cobertor estava aberto e jogado de qualquer jeito no banco, provavelmente aquele que Frederick usava. Ele estendeu a mão para ajudar Emma a subir, ela agradeceu e o fez, em seguida subiu ele mesmo e tomou as rédeas guiando as renas que puxavam o trenó.  — Como eu nunca fiquei sabendo desse lugar? — ela perguntou mais para si mesma. — Eu acho que você se esqueceu, senhorita. Era bem nova quando ainda vinha aqui. E depois que sua mãe adoeceu, vocês passaram a vir cada vez menos até que ela infelizmente faleceu e seu pai desapareceu levando você com ele.  — Mas ele não parece se lembrar daqui e de nada disso, foi ele quem me deu o calendário. — As pessoas, às vezes, querem se esquecer da magia e das coisas boas da vida. Provavelmente depois da morte de sua mãe, ele se agarrou a dor e ao luto e abriu mão de tudo que foi luz na vida dele, deixou a alegria e a magia ir embora. Lembranças de momentos felizes eram dolorosas, então ele preferiu esquecer o lugar que trouxe tanta alegria. Ela assentiu, fazia sentido. Aproveitou o momento de silêncio para observar ao redor. Um manto branco cobria tudo, a neve estava onde quer que olhasse, assim como pinheiros por todos os lados. Ainda estavam na floresta, ela percebeu.  — Onde fica o castelo? — Logo chegaremos nele, é na orla da floresta. — E há uma cidade por aqui? — Sim, seu reino. É próximo ao castelo. Era muita coisa para assimilar. Deveria ser um sonho, tinha que ser, não entendia como aquele lugar podia ser real e ela demorou aquela quantidade enorme de tempo para descobrir, ou de acordo com Frederick, relembrar a existência dele. Aos poucos a paisagem de verde e branco era substituída por uma paisagem colorida. Ainda que os telhados das casas estivessem completamente brancos, as ruas eram decoradas com as mais diversas cores e enfeites natalinos. Luzes piscando, guirlandas em todas as portas com os mais diversos tamanhos e enfeites. Uma enorme árvore de Natal entre o castelo, que agora despontava, e as casas do vilarejo. — Quantos metros tem essa árvore? — 12 metros, rainha.  “Realmente enorme. E linda” pensou Emma. Em sua casa era raro ter uma árvore, às vezes, quando ela conseguia, comprava um vaso com um pinheirinho pequeno para colocar no seu quarto e o enfeitava. Seu pai não gostava de decorações natalinas, tudo de Natal que ela conhecia era por causa de Anaïs.  Frederick observava o olhar maravilhado e surpreso de sua rainha enquanto ela olhava tudo ao redor e percebeu quando esse mesmo olhar se transformou em melancolia. Ele se perguntava se podia fazer algo para ajudar. As renas entraram pelos muros do castelo, muitos cidadãos estavam reunidos dentro desses muros para observar quem era a rainha que chegava para salvá-los. Todos com roupas que esquentavam bem e também com uma caneca de chocolate quente servida por funcionários reais. Emma ouvia os cochichos ao seu redor, esperava que falassem coisas boas ou apenas estivessem surpresos, não queria ser rejeitada por essa terra nova que ela havia descoberto. — Essa é a filha de Rufus e Elisa, Emma Whitlock. — anunciou Frederick. Um pequeno momento de silêncio e então palmas começaram a soar junto de comemorações e assobios. Emma timidamente acenou para os súditos, ela ainda achava bem possível que tudo aquilo fosse apenas um sonho, mas era tão agradável não ser a ratinha tímida com risco de perder o emprego, que ela apenas aproveitava.
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