Emma tentou investigar a respeito do calendário durante o jantar com o pai, mas ele realmente não parecia se lembrar de nada. Quando ela perguntou de quem ele ganhou o calendário, o pai respondeu que deveria ter sido do pai dele e ao ser perguntado sobre se conheceu a mãe dela por meio do calendário ele respondeu que não, haviam se conhecido na faculdade.
Depois ela foi perguntada por ele o porquê de tantas perguntas sobre o calendário, a jovem respondeu que era pura curiosidade. Como ele não se lembrava de nada, ela não sabia o que poderia causar no pai caso contasse sobre a magia.
Então ela foi dormir e durante o café da manhã resolveu que iria pedir ajuda de Anaïs para desbravar o mundo mágico. Emma pegou suas coisas e se despediu do pai prometendo que traria a amiga para jantar.
O caminho para a faculdade geralmente demorava meia hora e parecia passar voando, pois Emma lia durante o caminho, naquele dia porém, ainda demorava a mesma quantidade de tempo, mas para a jovem parecia durar ainda mais, o dobro, talvez o triplo do tempo. Isso tudo era efeito de sua ansiedade que ela tentava controlar.
Não conseguia se concentrar o suficiente para ler, fazia um tempinho que havia desistido, depois de reler a mesma página cinco vezes. Mexia no celular rolando o feed do i********:, ainda que não prestasse muita atenção, mas dava alguma coisa para ela fazer. Sua mente se movia de pensamento em pensamento, tão rápido que era possível que se alguém lesse sua mente ficaria zonzo com a velocidade da mudança de foco.
Quando finalmente as portas do vagão se abriram na estação que ela iria descer, a ruiva tentou com afinco não sair correndo e sim andar um passo de cada vez o mais rápido que podia sem passar por cima de ninguém. Ainda era mais lento do que ela queria, mas precisava se controlar.
Ela passou das catracas e subiu as escadas da estação, dez minutos de caminhada depois, estava dentro do campus. Agora seriam mais dez minutos até o prédio e a sala de aula onde Anaïs já estava aguardando, como conferiu mais uma vez na mensagem.
— Um passo de cada vez, Em, um passo de cada vez. — ela dizia para si mesma em um sussurro.
A estudante seguia seu próprio conselho, andava por entre os prédios de tijolos e as placas indicando direções, mas m*l percebia nada ao seu redor, caminha em frente para o prédio que queria. Ela estava no ápice de sua ansiedade quando finalmente chegou na sala de aula e sentou-se ao lado da melhor amiga.
— Ei Em. — cumprimentou Anaïs.
— Ana, se eu te contar algo, você tem que me prometer que não vai rir da minha cara ou me internar em um hospício. — afirmou Emma.
Anaïs franziu o cenho ao observar a amiga e ergueu uma sobrancelha tentando averiguar se era uma piada ou se a amiga falava sério.
— Provavelmente vou me arrepender disso, mas eu prometo. — ela disse finalmente.
E então com a voz baixa para que somente a amiga ouvisse, Emma contou tudo. Falou sobre o calendário de madeira e as portinhas que não abriam, falou da chave mágica do primeiro dia, narrou a história escrita dentro do calendário e como um portal se abriu sugando ela.
— Eu caí de b***a na neve, mas, pelo menos, eu estava com uma roupa quente naquele outro reino. — ela confidenciou.
Anaïs sufocou uma risada ao ouvir essa parte em específico e deixou que a ruiva continuasse. Ela falou de Frederick, que a resgatou e sobre a família dele ser fiel à coroa dos Whitlock. O que falaram sobre os bruxos que dominavam o reino e queriam derrubar a luz do lugar. Contou sobre o artesão, Dante, que havia surgido para vê-la e sobre a magia que Emma possuía naquela outra terra.
— E então depois de comer demais, eu dormi. Quando abri os olhos, estava de volta no meu quarto exatamente no mesmo momento em que parti.
Ela podia ver que Anaïs ainda processava toda a história narrada e que a amiga parecia confusa com tudo aquilo, Emma não a culparia se achasse que ficou louca.
— Desculpe a pergunta, mas por que você está me contando tudo isso?
— Porque eu quero que você venha comigo, você vai adorar aquele lugar e se você estiver comigo, vou conseguir saber se foi tudo um sonho ou se o reino existe mesmo.
— Acho que faz sentido. — ela conjecturou e depois acenou — Tudo bem, eu topo. Vou avisar meus pais que vou jantar na sua casa hoje.
***
Emma foi de carona com Anaïs para o estágio, naquele dia a morena entrava um pouco mais tarde. Logo na entrada Emma reparou que Adryan estava chegando e aproveitando que Tristan estava do seu lado ela sussurrou:
— Só segue minha onda, por favor.
— Pode deixar. — ele respondeu em um sussurro.
— Sim, eu adoraria sua ajuda para revisar meu artigo, Tristan. E eu adorei sua crítica sobre Corte de Chamas Prateadas, é um livro de uma autora popular, então deve atrair mais leitores para nossa revista.
— Sim, foi por isso que pensei nesse livro para essa edição online. E sobre revisar, podemos fazer isso tomando um café depois do expediente, o que acha?
— Nem pensar, hoje eu vou jantar na casa dela, faça isso outro dia. — se intrometeu Anaïs que esperava o elevador.
Ao perceber que Adryan se aproximava, Tristan colocou Emma contra a parede e apoiou o braço na parede ao lado da cabeça dela, aproximou o próprio rosto do dela enquanto dizia:
— Então amanhã você me deve um almoço e um café, sem desculpas.
Emma engoliu em seco e ao virar o rosto percebeu que Adryan os encarava, sua expressão era de raiva, dirigida a Tristan e seus punhos estavam fechados. O elevador abriu e Anaïs entrou com Adryan. Assim que a porta se fechou, Emma empurrou com gentileza o peito de Tristan para que ele se afastasse.
— Obrigado pela ajuda. — ela agradeceu enquanto pressionava o botão do elevador.
— Eu falei sério sobre o almoço e o café. — ele avisou e então sugeriu: — E poderíamos fazer isso algumas vezes.
— Por que?
— Eu detesto ele, então estaria irritando o Adryan e usar você para irritar ele é legal. — ele respondeu simplesmente.
— Uau, obrigado. — o sarcasmo dominava sua voz.
— Dois pássaros com uma cajadada, Emma. Eu irrito ele e você consegue afastar o cachorrinho sem precisar dizer não aos convites dele. Pense nisso.
— Eu vou pensar.
O elevador chegou e as portas se abriram, ambos entraram e Tristan apertou o décimo segundo andar. Emma cruzou os braços encostada na parede do elevador, tamborilava os dedos no braço enquanto pensava no assunto.
— Teríamos que estabelecer algumas regras e isso não quer que eu esteja aceitando, só estou considerando a possibilidade.
— Tudo bem, ruivinha. Diga os seus desejos.
— Você vai ajudar na festa de Natal e sem tentar sabotar nada.
— Nem pensar. — ele retrucou — Estou na lista pelo pagamento, mas não vou ajudar.
— Anaïs faz os relatórios e eu ajudo, se você não ajudar, não vai receber.
— Tá, próximo item.
— Eu realmente quero sua ajuda com meus textos, os leitores adoram suas matérias e resenhas, sei que começou aqui antes que eu e tem mais experiência, por isso, eu iria apreciar a ajuda.
— Eu imaginei, o que mais?
— Não se envolver de verdade, nem eu e nem você, eu não tenho tempo e energia para me envolver com alguém, há coisas demais na minha vida no momento. Isso tudo é para manter Adryan distante, e, no seu caso, irritá-lo.
— Por mim tudo bem. Mais alguma exigência?
— Não.
— Certo. Caso isso vá acontecer, temos que determinar alguns detalhes, mas podem ser pensados se você concordar.
Ela assentiu e olhou para o visor, décimo primeiro andar, desencostou da parede para se encaminhar à porta.
— Mais uma coisa, Em.
A ruiva virou o rosto para ele e notou que de repente ele estava bem mais perto que antes. A mão segurou e ergueu o queixo de Emma, ele se inclinou para frente e a beijou. Não com exigência ou paixão, era uma amostra do que Tristan poderia fazer e oferecer.
A porta do elevador se abriu e Tristan soltou Emma vagarosamente enquanto abria um sorriso divertido.
— Um pequeno lembrete para você considerar a proposta com carinho. — ele piscou para a ruiva antes de sair do elevador.
Emma ficou atônita enquanto observava Tristan caminhar por entre as mesas, o que tinha acabado de acontecer? Sentia sua face quente e seus pensamentos confusos, mesmo assim deu um passo adiante para fora do elevador, depois outro e outro até chegar em sua mesa.
— Em?
Era a voz de Anaïs, ela piscou algumas vezes e se virou para a amiga.
— Oi.
— Você está com uma cara estranha. — ela apontou.
— Eu me sinto estranha, confusa, melhor dizendo, talvez surpresa junto. — ela confessou.
— Tristan fez alguma coisa?
Anaïs imediatamente esticou as costas e fechou as mãos em punhos, bateria em Tristan para defender sua melhor amiga, se fosse necessário.
— Ele me beijou? — ela soou confusa.
— Você está perguntando para mim? — questionou Anaïs.
— É que foi tudo tão rápido…
— Em, você não está dizendo nada com nada, volta do início e explica.
— Certo. — ela afirmou balancando a cabeca e abaixou a voz para que só Ana a escutasse — Eu pedi que Tristan seguisse a minha onda da conversa para afastar Adryan. Na conversa eu pedi que ele me ajudasse com o texto e foi quando você avisou que hoje tínhamos compromisso.
— E ainda está de pé, né?
— Sim. — ela confirmou — E aí vocês saíram e eu agradeci, ele disse que realmente queria um café comigo e um almoço para me ajudar. E quando perguntei o motivo, ele disse que era para irritar Adryan.
— Ouch, mas justo.
— Eu disse isso. Ele sugeriu de sairmos algumas vezes, eu disse que iria pensar e coloquei algumas condições.
— Como?
— Ajudar na festa de Natal, de verdade. Pedi para me ajudar com meus textos. E mais importante: nenhum dos dois pode se envolver de verdade.
— E então ele te beijou? — perguntou Anaïs querendo chegar ao ponto importante.
— Ele concordou com meus pedidos, disse que se fossemos fazer, deveríamos concordar com algumas regras. E então ele falou que daria um lembrete para pensar na ideia com carinho. Foi aí que ele me beijou.
— E como você se sentiu?
— Confusa, atônita… Quer dizer, eu não estava esperando por aquilo definitivamente.
— Mas você gostou do beijo ou de ser beijada?
— Foi um bom beijo, eu só prefiro estar de acordo com o beijo antes de ele acontecer. E prefiro quando eu tenho sentimentos amorosos por quem vai me beijar.
— Sempre romântica.
— Sempre.
— De qualquer forma, se não for levar adiante sair várias vezes com ele, deveria ir ao menos na primeira para que ele possa te ajudar com seu texto, experiência e troca de conhecimento sempre é bom. — aconselhou Anaïs.
— Isso eu pretendo fazer.
***
Emma foi com a amiga para sua casa, elas ajudaram o Sr. Whitlock a preparar o jantar e conversavam sobre tudo, especificamente sobre o calendário. Não sobre sua magia, ou o reino escondido sob perigo, mas tentavam descobrir se ele lembrava de algo, como ganhou, quando guardou, qualquer fragmento para ser altamente analisado por elas.
— Então papai, você disse que conheceu a mamãe na faculdade e ganhou o calendário do seu pai, mas quando você o guardou? Na foto que você me mandou ele parecia estar bem empoeirado.
Ele parou um momento realmente considerando a questão, fazia tanto tempo e as memórias pareciam se confundir em sua mente, como algo borrado e incerto. Uma vaga lembrança da morte de Josephine, sua esposa, e então o calendário guardado e o corte nas comemorações de Natal.
— Eu acho que foi depois que sua mãe morreu, eu fiquei tão triste que guardei o calendário e naquele ano só tivemos Natal porque a família de Ana insistiu muito que deveríamos ir à ceia deles.
— Sempre achei esses calendários de advento mágicos. — comentou Anaïs querendo parecer despretensiosa.
— Acho que muitos acreditam na magia do Natal, mas para mim, minha magia é ter minha filha.