Capítulo 4

1073 Words
Os dias seguintes passaram lentamente para Elisa. O inchaço no rosto já começava a ceder, mas a dor interna parecia se intensificar a cada hora. Ela não voltou à boate. Não conseguia. O simples pensamento de pisar naquele lugar fazia seu estômago revirar. O medo de que Jonas aparecesse de novo, de que algo pior acontecesse, a paralisava. Mesmo com Júlia insistindo que Dominic tinha resolvido a situação, Elisa ainda se sentia vulnerável. Frágil. Exposta. Durante aqueles dias, ela passou o tempo inteiro em casa com Gael. Inventava histórias engraçadas para explicar por que ainda estava com o rosto machucado. Dizia que estava curtindo "mini-férias", e ele acreditava com aquele coração puro que só uma criança poderia ter. Júlia, compreensiva como sempre, assumiu o trabalho na boate sozinha e ajudava com tudo que podia. Mas o que Elisa não esperava era que Dominic notasse sua ausência. E muito menos que fosse procurá-la. Era uma noite fria. Gael já estava dormindo, enroscado nas cobertas com seu ursinho favorito. Júlia tinha saído para o trabalho há cerca de uma hora. Elisa estava no sofá, enrolada numa manta, com uma xícara de chá nas mãos, tentando distrair-se com qualquer coisa na TV. Foi então que a campainha tocou. Seu corpo inteiro congelou. Ela levantou devagar, o coração acelerando no peito. Olhou pelo olho mágico e, por um instante, achou que estivesse vendo uma sombra. Mas não era uma ilusão. Era ele. Dominic. De terno escuro, como sempre. Imóvel, como uma estátua, mas com os olhos vivos — atentos à porta, à espera dela. Elisa hesitou. Pensou em não abrir. Mas algo dentro dela a impeliu a girar a maçaneta. — Dominic? — sua voz saiu baixa, surpresa e nervosa. — O que você está fazendo aqui? — Posso entrar? A pergunta veio sem rodeios. Simples. Direta. Ela engoliu em seco. Olhou para o corredor, como se esperasse encontrar uma resposta no silêncio da casa. Estava sozinha. Gael dormia. Júlia trabalhava. E Dominic... estava ali. Diante dela. — Eu não sei se é uma boa ideia... — Só quero conversar — disse ele, com uma calma que soava quase perigosa. Ela hesitou mais um instante, mas deu um passo para o lado, permitindo sua entrada. Dominic passou por ela com a mesma presença silenciosa e dominante que sempre carregava. Parou na sala, observando o ambiente como se já o conhecesse. Sentou-se na ponta do sofá, as mãos entrelaçadas, olhando para ela. Elisa fechou a porta e permaneceu de pé, como se sentar perto dele fosse cruzar uma linha da qual não poderia voltar. — Você está bem? — ele perguntou, a voz grave ecoando de forma suave. — Estou me recuperando — respondeu, desconfiada. — Mas ainda não consegui voltar a trabalhar. — Eu percebi — ele disse. — Por isso estou aqui. Elisa cruzou os braços, tentando manter o controle da situação. — Você veio até a minha casa porque eu não apareci para trabalhar? — Não exatamente. — Dominic a olhou com mais intensidade. — Eu vim porque precisava te ver. Saber como você estava. E... porque tem coisas que você precisa saber. Ela franziu a testa, confusa. — Que tipo de coisas? Ele fez uma pausa longa, como se estivesse escolhendo cada palavra com cuidado. — Eu te conheci muito antes de você entrar naquela boate, Elisa. Ela o encarou, surpresa. — Como assim? — Eu te vi uma vez, no shopping. Você estava com o Gael. Passou por mim como se eu fosse invisível... mas eu não consegui tirar você da cabeça desde então. Havia algo em você... uma força, uma tristeza, algo que me puxou. Eu não sei explicar. Elisa deu um passo para trás, instintivamente. Seu coração batia com força. — Você... me observou? — Sim — ele respondeu sem hesitar. — E quando descobri que começou a trabalhar naquela boate... eu comprei o lugar. Ela arregalou os olhos, o choque estampado no rosto. — Você o quê? — Comprei a boate — repetiu, firme. — Para estar perto de você. Para te proteger... mesmo que você não soubesse disso. Elisa ficou sem ar por um instante. Aquilo era demais. Intenso. Assustador. — Isso é loucura — sussurrou. — Você não pode... fazer isso. Você não pode simplesmente comprar um lugar por causa de uma mulher. — Eu sei que parece errado — Dominic disse, se levantando. — E talvez seja. Mas foi o que fiz. Porque você mexe comigo de um jeito que ninguém mais mexeu. Eu não sou bom com palavras, Elisa. Eu sou um homem que age. E todas as minhas ações desde aquele dia foram por sua causa. Ela sentiu a garganta seca. Tudo aquilo era demais. Ele era intenso, perigoso, controlador... e, ainda assim, havia algo naquela sinceridade fria que a desarmava. — Dominic... eu não sei o que pensar. Você diz essas coisas, mas... eu m*l te conheço. Você m*l fala comigo, e agora me aparece na minha casa dizendo que fez tudo isso por mim? — Eu sei — ele disse, mais calmo. — Não estou pedindo nada agora. Só queria que soubesse a verdade. Não podia mais ficar à margem... esperando que você percebesse. Ela desviou o olhar, sentindo as palavras pesarem. — Eu preciso pensar. Eu tenho um filho. Uma vida complicada. E você... você é um homem perigoso, Dominic. Eu não sei se posso confiar em você. Dominic se aproximou um pouco, mas manteve distância suficiente para respeitar seu espaço. — Eu nunca faria m*l a você. Nem a ele. — Mas você já está dentro da minha vida. E eu nem sei quem você é de verdade. Ele assentiu, devagar. — Então eu vou embora. Te dei o que precisava saber. Agora... você decide o que fazer com isso. Ela o acompanhou até a porta, ainda em silêncio. Quando ele passou por ela, parou por um instante. — Ele é um bom garoto — disse Dominic, suavemente. — O Gael. Você fez um ótimo trabalho com ele. Elisa engoliu o nó na garganta. — Obrigada... — Boa noite, Elisa. E então ele se foi. Desapareceu na escuridão da noite, tão silencioso quanto havia chegado. Elisa fechou a porta e encostou a testa na madeira fria. As palavras dele ecoavam dentro de sua mente como um turbilhão. Tudo havia mudado. E agora, mais do que nunca, ela precisava decidir que tipo de vida queria levar... e se Dominic faria parte dela.
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