Capítulo 5

857 Words
Elisa passou a madrugada inteira em claro. Sentada na ponta da cama, com o olhar perdido na parede do quarto, ela revivia cada palavra que Dominic dissera. O modo como ele a olhava, como parecia conhecer partes dela que ela nunca revelara a ninguém. Era assustador… e ao mesmo tempo inquietante. Mas acima de tudo, era perigoso. Quando ouviu a porta se abrir na sala, soube que Júlia havia voltado da boate. Elisa se levantou devagar e foi até a cozinha. Júlia, ainda tirando os sapatos, olhou para a amiga e notou imediatamente o cansaço no rosto dela. — Você não dormiu? — Não consegui — respondeu Elisa, sentando-se à mesa. — Júlia… o Dominic veio aqui ontem. Os olhos de Júlia se arregalaram. — O quê? Ele apareceu aqui? Por quê? — Porque eu não fui trabalhar. Porque… ele disse que precisava me ver. Que precisava me contar a verdade. Júlia se sentou em frente a ela, atenta. — E o que ele disse? Elisa respirou fundo, tentando reunir coragem para repetir as palavras que ainda pareciam surreais. — Disse que me observava desde antes de eu começar na boate. Que me viu uma vez no shopping com o Gael. E que, quando descobriu onde eu trabalhava, comprou a boate só pra ficar perto de mim. Júlia ficou boquiaberta por alguns segundos. — Isso é muito doido… Ele disse isso com todas as letras? — Disse. Que eu mexo com ele de um jeito que ele não sabe explicar. Que precisa estar perto de mim. — E você? O que você respondeu? — Que precisava pensar. Que tenho um filho. Que não posso simplesmente acreditar em alguém que apareceu do nada e diz esse tipo de coisa. Júlia apoiou os cotovelos na mesa e segurou o rosto com as mãos, tentando processar. — Eli, isso pode ser perigoso. Ele pode estar dizendo a verdade... ou não. Mas o que importa é: o que você quer fazer agora? Elisa olhou para o corredor onde Gael dormia, depois de volta para a amiga. — Ir embora. Júlia franziu o cenho. — Como assim? — Largar tudo. A boate. Essa cidade. Começar de novo em algum lugar longe daqui. Tenho dinheiro guardado. Não muito, mas o suficiente pra recomeçar com o Gael. — Eli... — Eu não quero esperar o próximo movimento do Dominic. Ou do Jonas. Eles são dois homens com poder, com intenções que eu não consigo entender. E eu só quero proteger meu filho. Júlia ficou em silêncio por um instante e então assentiu. — Se você acha que é o melhor... então vamos. Eu vou com vocês. Sempre estive com você, lembra? Elisa sorriu, sentindo uma ponta de alívio no meio do caos. — Amanhã de manhã a gente sai cedo, antes que alguém perceba. — Certo. Eu ajudo a preparar tudo — disse Júlia, firme. — Vai dar certo. Mas o destino parecia ter outros planos. Na manhã seguinte, quando Elisa terminou de colocar algumas roupas em malas discretas, ouviu batidas fortes na porta. Gael ainda dormia. Júlia veio da cozinha, assustada com o barulho. — Quem será? Elisa abriu a porta devagar… e congelou. Do outro lado, um homem de terno, com uma expressão séria, segurava uma pasta. — Elisa Matos? — Sim… sou eu. — Oficial de Justiça. Estou aqui para entregar esta intimação. É sobre o processo de guarda do menor Gael Matos. O pai, Jonas Farias, entrou com um pedido formal. A senhora está convocada a comparecer ao juizado. E, a partir de agora, está proibida de deixar a cidade até que o caso seja resolvido. Elisa sentiu o mundo desmoronar aos seus pés. — O quê...? Ele quer tirar meu filho? — Os detalhes estão no documento. Recomendo que leia com atenção. E procure um advogado. Ele entregou a pasta e se retirou, deixando um rastro de angústia no ar. Elisa fechou a porta devagar e caiu de joelhos. Júlia correu até ela, pegando a intimação das mãos trêmulas da amiga. — Não… isso não pode estar acontecendo… — Ele quer me destruir — sussurrou Elisa. — Ele quer me tirar o Gael. E agora não posso nem sair daqui… Júlia sentou-se ao lado dela, segurando sua mão. — Nós vamos lutar por ele. Você é a mãe, Elisa. Você cuida dele, ama ele. Isso vai pesar na justiça. Só precisamos de um bom advogado. E... manter a calma. Elisa assentiu com os olhos cheios de lágrimas. Mas por dentro, o desespero crescia como uma onda gigante prestes a engolir tudo. Naquela mesma noite, o celular dela vibrou com uma mensagem. Dominic: “Você está bem?” Elisa olhou para a tela, o coração apertado. Apagou a mensagem antes mesmo de responder. Nos dias que se seguiram, ela evitou qualquer contato com ele. Ignorava suas mensagens, não ia trabalhar, não atendia ligações. Era como se Dominic fosse mais uma ameaça — alguém que ela não podia mais deixar se aproximar. Mas o nome dele ainda ecoava em sua mente. E por mais que tentasse fugir… algo dentro dela dizia que a história entre os dois estava longe de acabar.
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