No dia seguinte fui atrás de um advogado,muito conhecido por algumas pessoas da cidade.
As paredes do pequeno escritório cheiravam a madeira velha e papel. Havia pastas empilhadas nos cantos, uma máquina de café que parecia nunca ter sido usada e uma recepcionista que m*l levantava os olhos do celular. Elisa estava sentada diante de uma mesa pesada, encarando o advogado que escolhera às pressas no desespero de manter seu filho com ela.
— Esse tipo de processo pode ser demorado, Elisa — dizia o homem de terno claro, ajeitando os óculos no rosto. — E caro. Você precisa estar preparada para isso.
— Eu faço o que for preciso. Pago o que tiver que pagar — respondeu com firmeza. — Não vou deixar o Jonas levar meu filho.
O advogado assentiu, sem parecer particularmente tocado pela emoção dela.
— Ótimo. Vamos começar com um adiantamento. Dez mil reais para iniciarmos os trâmites e petições iniciais. Depois vamos reavaliando os custos conforme o processo anda.
Era quase tudo o que Elisa tinha conseguido juntar em anos. Mas ela assinou o cheque sem pensar duas vezes. Por Gael, ela faria qualquer coisa.
As semanas seguintes foram um inferno silencioso. O advogado não dava retorno, as mensagens demoravam dias para serem respondidas e, quando ela ligava, a secretária sempre dizia que ele estava "em reunião".
A cada encontro que conseguia marcar, o discurso era o mesmo:
— Estamos preparando a melhor estratégia. Preciso que você confie em mim.
Mas, por dentro, Elisa sentia que algo estava errado. Até que, numa noite em que Júlia havia saído para trabalhar e Gael dormia em seu quarto, Elisa resolveu mexer em alguns papéis do processo. Procurou referências, nomes, qualquer coisa.
E encontrou.
O nome do advogado dela aparecia como contato frequente em documentos ligados a empresas do Jonas. Ligações antigas, mas suspeitas. Ela já ouvira falar de advogados que jogavam dos dois lados… mas se recusava a acreditar que o dela fosse um deles. Até agora.
No dia seguinte, resolveu fazer um teste. Ligou para o escritório e pediu uma reunião urgente. Recebeu um horário no fim do dia.
— Estou preocupada — disse, assim que entrou na sala. — Sinto que o processo não está andando. Preciso de garantias de que você está mesmo do meu lado.
O advogado sorriu, condescendente.
— Elisa, esses processos são lentos. É assim mesmo. Não se preocupe, estamos cuidando de tudo.
— Você não está me entendendo. Eu quero ver o andamento. As petições. Quero provas de que algo está sendo feito.
Ele se incomodou. Mexeu no colarinho. E pela primeira vez, a máscara escorregou.
— Se você não confia no meu trabalho, talvez deva procurar outro profissional.
— Talvez eu devesse — retrucou, se levantando. — Mas primeiro vou confirmar com outros advogados se realmente nada pode ser feito com mais agilidade.
O olhar dele endureceu por um segundo.
— Isso pode ser prejudicial para o seu caso, Elisa. Não recomendo esse tipo de instabilidade em um processo de guarda.
Ela saiu do escritório sentindo o estômago revirar. Estava sendo enganada. O advogado estava do lado de Jonas, e ela havia entregue todo o seu dinheiro nas mãos dele.
Quando voltou para casa naquela noite, desabou nos braços de Júlia.
— Eu perdi tudo. Todo o dinheiro que guardei. Ele me enganou, Júlia. Trabalha com o Jonas, tenho certeza disso.
— Esse desgraçado — Júlia apertou a mão dela. — A gente vai achar outro. Vamos fazer vaquinha, pedir ajuda…
— Não tem mais tempo. Jonas está cercando tudo. Eu tô sozinha nessa. Completamente sozinha.
Júlia ficou em silêncio. Até que, hesitante, disse:
— Você... já pensou em pedir ajuda pro Dominic?
Elisa ficou rígida.
— Não.
— Mas, Eli, ele tem poder. Dinheiro. Ele já mostrou que quer te proteger…
— E é exatamente isso que me assusta. — Elisa se levantou, andando de um lado para o outro. — Eu não posso depender de um homem que me observa em segredo, que compra uma boate só pra ficar perto de mim. Eu não sei quem ele é de verdade.
— Mas talvez agora você precise dele.
Elisa parou, o coração pesado.
Ela pensou em tudo que Dominic já fizera. Em como apareceu do nada no momento exato, em como parecia saber tudo sobre ela e Gael. Era assustador, sim. Mas… e se fosse a única chance de manter o filho com ela?
Naquela noite, Elisa demorou horas para tomar coragem. Quando finalmente pegou o celular, as mãos tremiam. Abriu a conversa com Dominic. A última mensagem era dele: “Você está bem?”
Ela não havia respondido.
Agora, digitou devagar:
Elisa: “Podemos conversar?”
A resposta veio quase instantaneamente.
Dominic: “Quando e onde você quiser.”
Ela engoliu o orgulho e digitou:
Elisa: “Preciso da sua ajuda.”
O encontro foi marcado no mesmo café onde ela havia ido algumas vezes com Júlia. Um lugar discreto. Público. Seguro.
Quando Dominic chegou, estava com a expressão mais suave do que ela esperava. Mas os olhos ainda carregavam aquele mesmo peso — um misto de controle e algo indefinível.
— Obrigado por vir — ela disse, baixando os olhos.
— Eu viria sempre que você pedisse — ele respondeu.
Elisa respirou fundo. Não podia perder tempo com rodeios.
— O Jonas entrou com o pedido de guarda. Eu contratei um advogado, paguei quase tudo o que tinha, mas descobri que ele está sendo comprado por Jonas. Não tenho mais dinheiro. Não tenho mais como lutar sozinha.
Dominic observou ela falar sem interromper. Quando ela terminou, ele apoiou as mãos na mesa.
— Por que não veio antes?
— Porque eu não sei o que você quer de mim. Porque tudo em você me assusta, Dominic. Você me protege, mas me vigia. Me ajuda, mas me esconde. Eu não sei quem você é, e mesmo assim... estou aqui.
Ele a encarou por alguns segundos, depois falou com uma calma cortante:
— Eu não quero nada em troca. Só quero que você e seu filho fiquem bem. Eu posso conseguir um advogado de verdade. Alguém de confiança. Alguém que Jonas não pode comprar. Mas se eu fizer isso, Elisa, preciso que você confie em mim... de verdade.
Ela hesitou. Aquilo era o mesmo que vender sua alma ao desconhecido. Mas quando pensou em Gael, no sorriso dele, na fragilidade de seus bracinhos dormindo ao seu lado todas as noites, soube que não tinha escolha.
— Eu confio — ela sussurrou.
Dominic assentiu, sério.
— Então deixe isso comigo.