Entre Mentiras e Desejos

1553 Words
Analu Eu tava tentando seguir minha vida como se nada tivesse mudado. Como se o Cayo não tivesse bagunçado tudo com aqueles beijos, aqueles toques, aquele jeito dele de me olhar como se pudesse ver a Analu que eu escondo de todo mundo. Mas quem eu tava enganando? Cada vez que eu fechava os olhos, era ele que eu via. A cicatriz na sobrancelha, o sorriso torto, a voz rouca me chamando de "princesa". Meu mundo perfeito — com lençóis de linho italiano, jantares beneficentes e o Humberto com suas camisas polo — parecia mais vazio do que nunca. Eu queria ele. O Cayo. E isso me aterrorizava. Na quarta-feira, enquanto eu tomava café da manhã na mesa de mármore da nossa casa, meu celular vibrou. Meu coração deu um pulo antes mesmo de eu ver o nome na tela. Era ele. A mensagem que eu tava esperando, mas que, ao mesmo tempo, me dava um frio na barriga. 📲 Cayo: E aí, princesa, gosta de rock? Esse fim de semana vai ter um show em um barzinho de uma banda local que eu tô curtindo e gostaria de ter sua companhia. Li a mensagem umas dez vezes, sentindo o calor subir pelo rosto. Ele queria me ver. De novo. Num show de rock, num mundo que não era o meu. Minha mãe tava do outro lado da mesa, falando sobre um evento de caridade que ela queria que eu fosse no sábado. Meu pai, como sempre, tava absorto no jornal, murmurando algo sobre negócios. Eu sabia que, se dissesse que queria ir a um barzinho com um cara como o Cayo, eles teriam um treco. Então, menti. — Mãe, no sábado as meninas combinaram de ir a um evento cultural no centro — falei, mantendo a voz leve, como se fosse a coisa mais natural do mundo. — Uma exposição, sabe? Acho que vai ser legal. Ela ergueu uma sobrancelha, mas sorriu, satisfeita. — Que bom, Analu. É importante se envolver com cultura. Mas nada de sair da linha, hein? E leva o Silvio pra te buscar. — Claro, mãe — respondi, com um sorriso que escondia o nervosismo. Eu tava mentindo pros meus pais. Pela primeira vez na vida, tava inventando uma história pra escapar do controle deles. E tudo por ele. Por um cara que eu m*l conhecia, mas que me fazia sentir coisas que eu nunca senti antes. O sábado chegou rápido, e eu passei o dia inteiro nervosa. Escolhi a roupa com cuidado, querendo parecer descolada, mas sem perder o meu toque. Uma saia curta rosa, um cropped branco que deixava um pedaço da barriga à mostra, uma bota preta até o joelho e, como um capricho, um lenço no pescoço com estampa de caveiras rosas. Me olhei no espelho, e por um segundo, me senti ridícula. Será que tava tentando demais? Será que ele ia rir de mim? Mas já era tarde pra mudar de ideia. Dispensei o Silvio, dizendo que a Mari ia me buscar, e peguei um Uber até o barzinho no centro onde o show ia rolar. Era um lugar meio escondido, com uma placa neon piscando na entrada e um cheiro de cerveja e cigarro no ar. A galera do lado de fora já era totalmente diferente do meu mundo: camisetas pretas, jaquetas de couro, tatuagens, piercings. Eu me senti como um peixe fora d’água, com meu look rosa-chic brilhando no meio de tanto preto. E então, eu vi ele. Cayo. Encostado na parede, fumando um cigarro, com a mesma camiseta preta surrada, jeans rasgado e a jaqueta de couro que parecia parte dele. Ele me viu e deu aquele sorriso torto, jogando o cigarro no chão e vindo na minha direção. Os olhos castanhos brilharam, e ele riu, olhando meu look de cima a baixo. — Caraca, princesa, tu tá parecendo uma Barbie roqueira! — disse, com a voz cheia de provocação. — Esse lenço de caveirinhas cor-de-rosa? Sério? Eu cruzei os braços, tentando não corar. — E daí? Tô estilosa. Não é porque vou num show de rock que vou me vestir igual a vocês. Ele riu mais alto, se aproximando, e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, me agarrou pela cintura, puxando meu corpo contra o dele. O toque dele queimou na minha pele, como se cada pedaço de mim estivesse acordando. Ele me beijou, com força, com desejo, os lábios quentes e urgentes contra os meus. O gosto de cigarro e cerveja misturado com algo que era só ele me fez esquecer o mundo. Minhas mãos subiram pros ombros dele, sentindo a firmeza sob a jaqueta. O beijo era bruto, intenso, como se ele quisesse me consumir ali mesmo, na porta do bar. Quando se afastou, eu tava ofegante, o coração disparado, e ele sorriu, os olhos brilhando com algo que era meio t***o, meio admiração. — Tô começando a achar que tu combina com qualquer lugar, Analu — ele disse, a voz rouca, ainda segurando minha cintura. — Vamos entrar? Eu assenti, sem confiar na minha voz. Ele segurou minha mão, os dedos entrelaçados com os meus, e me levou pra dentro do bar. O lugar tava lotado, com a galera gritando, o som da guitarra ecoando pelas paredes, e luzes vermelhas e azuis piscando no palco. A banda ainda não tinha começado, mas a energia era elétrica. Todo mundo ali parecia tão... vivo. Tão diferente das festas chiques que eu frequentava, com conversas ensaiadas e sorrisos falsos. Aqui, as pessoas riam alto, se empurravam, cantavam junto com as músicas que tocavam no som ambiente. E eu? Eu me sentia viva. Como nunca. Cayo me puxou pra perto do palco, o corpo dele colado no meu, me protegendo da multidão. Ele era alto, forte, e o calor dele parecia queimar através da minha roupa. Cada toque — a mão na minha cintura, o ombro roçando no meu — era como uma faísca. Eu olhava pra ele e via desejo puro nos olhos dele, mas também algo mais. Admiração. Como se ele gostasse de me ver ali, fora do meu mundo, tentando me encaixar no dele. — Tô surpreso que tu curte rock — ele disse, gritando pra eu ouvir por cima do barulho. — Achei que tu era mais do tipo sertanejo chique ou pop de balada. Eu ri, dando um tapa de leve no braço dele. — Engraçadinho. Eu gosto de rock, sim. E essa banda parece boa. — Parece? — Ele ergueu uma sobrancelha, se inclinando mais perto, o rosto a centímetros do meu. — Tu vai ver, princesa. Eles são f**a. E tu tá aqui comigo, então já tá valendo. A banda subiu ao palco, e o lugar explodiu. Guitarras gritando, bateria pesada, o vocalista berrando letras sobre liberdade e raiva. Eu me peguei pulando, gritando junto, o corpo se movendo com a música. Cayo tava do meu lado, cantando as letras com uma energia que me contagiava. Ele me puxava pela cintura de vez em quando, me girando, rindo quando eu quase tropeçava na bota. E cada toque dele — a mão na minha cintura, os dedos roçando minha nuca, o peito dele contra minhas costas — era como fogo na minha pele. Eu nunca me senti tão viva, tão fora de controle, tão... eu. Mas ao mesmo tempo, o medo batia. Olhava ao redor, pras roupas escuras, pras tatuagens, pros olhares curiosos que a galera jogava pro meu look rosa. Eu não pertencia ali. Ou pertencia? O Cayo me fazia questionar tudo. Ele era tão diferente, tão errado, tão proibido. Mas o jeito que ele me olhava, com aquele misto de desejo e admiração, me fazia querer jogar tudo pro alto. Esquecer minha mãe, meu pai, o Humberto, a vida perfeita que eles queriam pra mim. Quando a banda tocou uma música mais lenta, ele me puxou pra perto de novo, as mãos firmes na minha cintura, o rosto tão próximo que eu sentia a respiração dele. — Tô te ganhando, princesa — ele sussurrou, antes de me beijar de novo. Um beijo lento, profundo, que fez o mundo desaparecer. Minha pele queimava onde ele tocava, e meu coração parecia querer pular do peito. Eu tava dividida. Metade de mim queria correr, voltar pro meu mundo seguro. A outra metade queria se entregar, deixar ele me levar pra onde quisesse. Quando o show acabou, saímos do bar, o ar fresco da noite batendo no rosto. Ele me puxou pra um canto, me encostando contra a parede, e me olhou nos olhos. — Vem comigo, Analu. Vamos dar uma volta. Eu quis dizer sim. Quis tanto. Mas o medo venceu. — Não, Cayo. Eu... eu preciso ir. Meus pais vão surtar se eu não voltar. Ele assentiu, sem forçar, mas o olhar dele dizia que ele sabia que eu tava fugindo. — Beleza, princesa. Mas a gente se vê de novo. Prometo. Eu sorri, apesar do nó no estômago, e voltei pra casa no Uber, com o corpo ainda quente dos toques dele, o coração dividido entre medo e paixão. Deitei na cama, e ele tava lá, na minha cabeça. O Cayo. O motoqueiro que me fazia sentir viva, mas que era proibido demais. E eu não sabia se era o perigo que me atraía ou se, no fundo, eu tava me apaixonando.
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