05: Recomeços e Dúvidas

1040 Words
ISABELLA .... O táxi parou em frente à casa de Carla, mas minha cabeça ainda girava com tudo o que acontecera naquela noite. Eu estava exausta, tanto física quanto emocionalmente. Não sabia como ia encarar tudo depois, mas, por agora, só queria um pouco de conforto, alguém em quem confiar. Quando toquei a campainha, Carla abriu a porta rapidamente. Porém, ao olhar para dentro, parei por um segundo, constrangida. Ela estava dando um beijo de despedida no namorado, um momento íntimo que eu não esperava presenciar. Fiquei parada por alguns segundos, tentando processar a cena, até que Carla notou minha presença e se afastou do namorado, sorrindo de forma compreensiva. — Isabella, oi... entra — disse ela, meio sem jeito, antes de se virar para o namorado e lhe dar um rápido beijo no rosto. — Eu te ligo, tá? Ele saiu rapidamente, e Carla me convidou para entrar. Senti-me envergonhada por interromper aquele momento e logo pedi desculpas. — Desculpa, Carla... Eu não sabia que você estava com ele. Não queria interromper, me perdoa. Ela deu de ombros, soltando uma risada leve e balançando a cabeça. — Não se preocupe, amiga. Está tudo bem. Ele já estava tempo demais aqui, se deixar, se infiltra. Ela me puxou para dentro e fechou a porta atrás de nós. Nos sentamos no sofá da sala, e eu ainda estava um pouco desconfortável, tentando organizar meus pensamentos. Mas, ao mesmo tempo, precisava desabafar. Carla me olhou com expectativa, e eu comecei a contar tudo, desde o momento em que Renato não me atendeu até a cena dos ovos. — Eu não aguentei mais, Carla. Eu... eu joguei ovos no carro dele, e quando ele apareceu, ainda tentou me convencer de que não tinha nada com a Débora... E ele tentou me seguir depois! Ela não conseguiu segurar a risada e, por um momento, até eu comecei a rir junto. A tensão da noite foi quebrada por sua risada, e por um instante me senti mais leve. — Amiga... desculpa, mas isso foi tão... tão engraçado! — Carla disse, ainda rindo. Eu a encarei séria por um momento, mas logo não consegui segurar e ri junto. — Para, Carla! Você está me fazendo sentir pior! — falei, tentando conter a risada. — Eu sei, amiga, mas foi hilário... Você precisa de um pouco de leveza depois de tudo isso. Após a risada se dissipar, o peso da situação voltou, e eu me vi mais uma vez sendo arrastada para a realidade. Sabia que estava em apuros. O que fiz poderia me custar muito mais do que estava disposta a pagar. — Vou perder minha carreira, Carla... Ser babá nunca foi valorizado, mas eu amava o que fazia... — suspirei, sentindo uma pontada de desespero. Ela me olhou com um sorriso suave e balançou a cabeça. — Você está exagerando, amiga. Vai dar tudo certo. Você vai encontrar outro trabalho logo, e muito melhor. Não é o fim do mundo, e essa história vai passar. Respirei fundo, tentando acreditar nas palavras dela, mas a incerteza ainda pairava sobre mim. Como as coisas mudaram tão rápido? Tudo o que eu queria era seguir em frente e viver minha vida, mas Renato, Débora e toda essa mentira tornavam isso quase impossível. — Eu sei, mas... — murmurei, mais para mim mesma do que para Carla. Ela colocou a mão em meu ombro, me confortando. — Vai dar tudo certo, Bella. Eu estou aqui, e você não está sozinha. De alguma forma, as palavras dela acalmaram o turbilhão dentro de mim. Eu ainda não sabia o que viria pela frente, mas, pelo menos, tinha Carla ao meu lado. Sabia que não estava completamente sozinha. Os dias continuaram a passar, e, a cada um deles, a dúvida só aumentava. Eu não queria dar ao Renato uma chance, mas, por mais que tentasse ignorá-lo, ele não me deixava escolha. Suas mensagens, ligações e, pior de tudo, suas aparições na porta do meu apartamento. Ele estava lá quase todos os dias, suplicante, pedindo desculpas e tentando se justificar. Eu negava sua entrada e dizia repetidamente que não queria mais nada, que estava cansada. Mas, por algum motivo, as palavras de Débora me atormentavam. Ela estava lá, tão confiante, me olhando com desprezo. Meu coração vacilava. Será que eu estava errada? Será que Renato não era tão culpado assim? Será que o julguei precipitadamente? A dúvida me corroía. Eu pensava nele mais do que gostaria de admitir. Mas então, num instante de clareza, algo dentro de mim se rebelou. Não, eu não poderia cair nessa armadilha. Não importa o que Débora tivesse dito ou feito. Renato não me tratava como eu merecia. Ele estava me iludindo. Mais do que isso, ele havia me machucado de uma forma que eu não deveria ter permitido. Eu merecia mais. Alguém que me respeitasse, me valorizasse. E ele não era essa pessoa. Não depois de tudo que aconteceu. Não depois de me fazer duvidar de mim mesma. Renato não era quem eu imaginava. E, mais importante, ele não era o homem que eu precisava na minha vida. Eu estava cansada de ser manipulada por suas mentiras, de ser apenas uma peça em seu jogo. Essa dúvida era apenas minha mente me protegendo. No fundo, eu sabia: eu merecia mais. E ele nunca seria essa pessoa. Nunca foi. --- CARLA Eu estava sentada na recepção do escritório, esperando minha vez de falar com o chefe, quando ouvi a secretária conversando com uma das assistentes. Seu tom era urgente, mas havia um toque de alívio em sua voz. — Hoje, finalmente, vamos ter uma babá. Ela vem para uma entrevista. Não aguento mais essas crianças aqui no balcão, é insuportável. Essas palavras imediatamente chamaram minha atenção. Uma babá? Pensei em Isabella. Ela estava sem trabalho e sem direção. Talvez essa fosse a oportunidade que precisava para recomeçar. Sem hesitar, peguei o celular e disquei seu número. A cada segundo de espera, o nervosismo crescia. Quando atendeu, sua voz soou cansada, como sempre ultimamente. — Oi, Carla... — respondeu, sonolenta. — Isabella! — falei rápido, sem rodeios. — Surgiu uma oportunidade. Você tem que vir agora! Estão procurando uma babá, e eu sei que você vai se sair bem!
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