Às consequências de te amar

Às consequências de te amar

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Blurb

Quem pode dizer que em um século marcado pelo rótulo da superficialidade estariam as famílias livres da hipocrisia social?

Clara Vasconcelos e Beatriz Mendes, são duas jovens herdeiras de uma das maiores empresas do país. Sendo filhas de empresários bem sucedidos, ambas pareciam já estar com seus destinos traçados, ou seja, tornarem-se amanhã a sequência do que seus pais são no presente. No entanto, as coisas nem sempre são como planejado e isso ficará claro para as duas famílias quando Beatriz torna-se uma mulher completamente diferente daquilo que seu pai sempre sonhou.

A relação conturbada entre pai e filha fez com que o coração de Beatriz renegasse o império que Augusto tanto lutou para construir. Por sua vez, Clara dedica cada minuto do seu tempo para orgulhar seu pai, que é melhor amigo e sócio de Augusto, mesmo que isso signifique sacrificar sua própria felicidade, já que essa oculta da família qual o seu verdadeiro sonho profissional.

Em determinado momento as coisas se complicam e as duas famílias se veem diante de um dos seus maiores dilemas já enfrentados. Pela rebeldia de uma podem perder o controle de tudo aquilo que possuem, e somente a responsabilidade da outra parece ser a salvação.

Duas mulheres completamente diferentes se veem de repente cruzando um único caminho, e juntas vão enfrentar o maior desafio das suas vidas no meio de muita mentira, traição, confusões e paixão.

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1 CAPÍTULO
Pov Clara – VOCÊS DECIDIRAM O QUÊ? Eu custava a acreditar naquilo que meus ouvidos tinham escutado meu pai dizer. Olhei para minha mãe e busca de socorro, mas essa parecia tão bestificada quanto eu. Larissa, minha irmã mais nova, estava em choque, enquanto Carlos, meu pai, sustentava meu olhar com seriedade. Contudo, eu sabia que ele encontrava-se atormentado e pronto para fugir a qualquer momento caso eu tivesse um ataque de fúria, após a bela notícia que ele acabará de me dar. – Calma filha, dois anos passam rápido. Tenho certeza que você não irá sentir tanto esse sacrifício. Comecei caminhar de um lado para o outro, ainda sem conseguir acreditar que aquele pesadelo estava realmente acontecendo. O nervosismo tomava conta do meu corpo e eu sentia que estava prestes a perder os sentidos a qualquer momento. – Pelo amor de Deus filha, acalme-se! Desse jeito você vai ter outra crise de ansiedade. As palavras da minha mãe eram ouvidas como se eu estivesse a km de distância de onde ela estava sentada. A única coisa que meus sentidos ouviam repetidas vezes, era a frase do meu pai: "Você vai casar com Beatriz Mendes". Oi? Como assim eu vou casar? A família Mendes e a minha família sempre foram como uma só. Isso se deve ao fato que meu pai e Augusto Mendes, eram melhores amigos desde crianças. Juntos tinham orgulho em dizer que sonharam, lutaram para construíram o império de ambas as famílias: a poderosa M&V Construtora, que atualmente estava expandida com filiais por todas as regiões do país. Meu pai e o tio Augusto (É assim que costumo me referir a ele desde que me entendo por gente), sempre sonharam que eu e Beatriz, a filha mais velha de Augusto, estivéssemos à frente dos negócios da família quando ambos resolvessem se aposentar, mas parece que ao longo do tempo algo deu muito errado naquele plano. Beatriz nunca se importou verdadeiramente com a empresa, além de viver em pé de guerra com o pai, e mesmo que eu desconheça seus motivos para isso, para mim, parecia claro a determinação da mesma em se dedicar para arruinar o nome da sua família. Como ela conseguia isso? Bem, é bem comum todos os dias Beatriz surgir nas mais variadas manchetes de fofoca do país, e obviamente que seu nome sempre aparece de forma negativa nos tabloides, chamando atenção para toda sua extravagancia e rebeldia. Beatriz e eu, somos completamente diferentes. Apesar da união familiar existente, nós nunca sequer tivemos contato que ultrapassasse os encontros necessários para tratarmos de trabalho, que na grande maioria ficava sob minha responsabilidade, é claro. Ela nunca se importou em ser simpática comigo, eu muito menos me interessava em dirigir a palavra a alguém fútil como Beatriz. Tanto eu quanto Beatriz éramos sexualmente assumidas como lésbicas. Quando nos assumimos, nenhuma de nós duas enfrentou problemas com nossas famílias em busca de aceitação, mas o que eu tinha de reservada, Beatriz tinha de escandalosa. A mulher de cabelos curtos repicados a altura do pescoço, que acabava por lhe dar um ar ainda mais rebelde, porém que lhe deixava bonita, admito, não fazia questão de esconder seus muitos romances conquistados durante suas noitadas nas grandes baladas da cidade de São Paulo, e claro que isso sempre lhe rendia matérias tendenciosas as quais apontavam Beatriz como só mais uma riquinha irresponsável prestes a herdar um império empresarial do nosso país. Agora voltando ao meu martírio... Pelo o que pude entender, meu pai e tio Augusto, resolveram a essa altura dos seus 55 anos, acabar com a minha vida. Isso mesmo, eles chegaram à conclusão que seria uma ideia perfeita assinarem um contrato estipulando que eu e Beatriz precisaríamos manter um casamento fake durante dois anos, para só então termos total comando da empresa. Isso porque, ao que parecia, os acionistas não confiavam investir seus milhões e arriscar que Beatriz assumisse a vice presidência da M&V Construtora, já que era por certo o favoritismo para que a presidência ficasse em minha responsabilidade. – Vocês só podem ter ficado loucos! Isso é culpa da idade? – Perguntei para meu pai que me olhou feio. – Me respeita Clara. – Meu pai me repreendeu. – Fique sabendo que eu estou fazendo o que é melhor para você e para nossa família. – Melhor para mim? Por Deus, papai.  – Passei a mão pelo rosto buscando calma no meio daquele desespero que tomava meu coração. – Estamos no século XXI, não na época em que os coronéis arranjavam casamento para as filhas. Eu não posso me casar com quem eu não amo. Aliás, acho que isso não é sinônimo de felicidade para nenhum ser humano. – Ué, eu sempre pensei que você nutria uma paixão encubada pela garota problemática. – Minha irmã falou casualmente como se aquelas palavras não fossem nada demais. – Cala a boca Larissa. Eu não sou apaixonada por ninguém. – Tanta implicância assim sempre vem acompanhada por amor. Nunca ouviu dizer que amor e ódio andam de mãos dadas? Quase matei Larissa apenas com o olhar ao ouvir tamanha barbaridade. Talvez por perceber isso, minha irmã fez sinal de rendição e para minha alegria, se calou.   Voltei minha atenção para o homem visivelmente cansado, que estava sentado a minha frente. – O caso é que eu não vou casar com aquela desmiolada da filha do tio Augusto, mais nem que seja amarrada. – Voltei a afirmar. – Carlos, explica o porquê dessa decisão tão extrema. Minha mãe finalmente se pronunciou, e ordenou parecendo não concordar com aquela ideia estupida. – É o que estou tentando fazer, Marta, mas sua filha não me deixa terminar. – Meu pai passou a mão pelo rosto tentando conter seu estresse. – Tive uma conversa séria com Augusto sobre o futuro da nossa empresa. O fato é que estamos certos que Clara será a nova presidente da empresa, ocupando assim, o lugar de Augusto. No entanto, nossos acionistas acreditam que precisamos preparar as pessoas certas para os cargos da nova diretoria que será nomeada em breve, principalmente a presidência e vice presidência. O problema é que nenhum dos nossos investidores confia em Beatriz para atuar na empresa. Todos a apontam como irresponsável e estão dispostos a lutar contra a nomeação dela, por isso desde já estão nos pressionando a apresentar outro nome, ou eles mesmo farão isso. – Por que será que isso não me surpreendia? Ela de fato era tudo isso e mais um pouco. Pensei comigo mesma. – Profissionalmente falando, Larissa claramente já decidiu não seguir meus passos. Como já sabemos, sua vida é nas passarelas. O Bernardo então... Esse jamais será como o pai. Aquele garoto é levado demais, só pensa em futebol e música. Enfim, Augusto está entrando na política, e como vocês sabem, eu vou auxiliá-lo durante o processo de preparação para campanha. Nós iremos nos ausentar da empresa e para nosso patrimônio não ficar nas mãos dos acionistas, precisamos tê-las juntas nessa jornada. Caso contrário, tememos que nos passem a perna. – E onde entra a decisão desse contrato? Dessa vez não gostei do que vi no olhar da minha mãe. Como pode uma mulher tão imponderada, tornar-se tão maleável com o esposo diante de tal absurdo? – Clara está mais que preparada para assumir seu cargo, mas Beatriz vocês sabem, ela vive aparecendo na mídia como uma das maiores herdeiras do país, porém completamente sem limites, fútil e mimada. Sempre está metida em confusão. Ela não se dedica à empresa e acreditamos que somente a Clara pode fazer sua imagem mudar diante dos acionistas para que finalmente voltem a ter confiança que juntas, nossas famílias são imbatíveis no mundo dos negócios. – E como funcionaria isso? Minha mãe parecia ter ficado interessada no assunto, me deixando completamente chocada. – O contrato estipulado determina que ambas só terão acesso a suas devidas partes na herança depois que demonstrarem estar aptas para isso. A ideia é que elas passem dois anos juntas e mostrem aos acionistas que são tão capazes quanto eu e Augusto. Digamos que isso seja um incentivo para que Beatriz tome jeito e para que Clara seja sua ponte a isso sem que desista durante todo o processo. – Resumindo... Muita loucura em uma única explicação. – Falei exasperada. – Vocês só podem ter ficado loucos. Com base em que, vocês acharam que eu seria a pessoa ideal para isso? Primeiro que a Beatriz é um ser incorrigível. Segundo que ela sequer me olham quanto mais me ouve. E mesmo que ouvisse, por que para ajudá-la precisamos casar? – Bom, se vocês não casarem certamente não vão focar no que importa, ou seja, a fidelidade e companheirismo que devem dedicar uma a outra para fazer isso dar certo. Além disso, precisamos refazer completamente a imagem de Beatriz. Eles precisam confiar no lado dedicado e pacato... – Que ela não tem, diga-se de passagem. – O interrompi. – De fato não tem, mas quem melhor que você ao seu lado para transmitir essa confiança? Alguém da nossa total confiança. Além do mais, não existe nada melhor que um casamento para mostrar o amadurecimento e mudança de comportamento de alguém como Beatriz. Para que isso tudo dê certo, precisamos de alguém de confiança, só assim garantimos que tudo isso fique sob sigilo e não se torne um escândalo na imprensa. A naturalidade com qual meu pai falava sobre o assunto me assustava, e ele sabia disso. Prova disso, foi seu desespero em voltar a usar argumentos para me convencer aceitar tal insanidade. – Pense comigo, Clara, Beatriz mudando e você estando ao seu lado, eles não vão ter argumentos para dizer não a nossa proposta. Vão acatar o novo diretório que eu e Augusto apontarmos. Não vamos ter que avaliar um segundo nome e colocar em risco tudo que conquistamos. Entende? – Com todo respeito, mas para fazer a empresa ser o que é hoje, você e o tio Augusto precisaram casar? Isso é patético! Larissa perguntou o óbvio e pela primeira vez eu precisava concordar com a s*******o da minha irmã. – Muito engraçadinha você pirralha. – Meu pai sempre levava as críticas da minha irmã na esportiva, caso contrário iniciariam uma discussão sem fim. – Ao contrário de sua irmã e Beatriz, eu e Augusto nunca precisamos provar que sabemos conviver bem para transformar nosso sonho em realidade. Se eles não confiarem nelas atuando juntas naquilo que eles investem, vão colocar toda nossa vida de trabalho no lixo. Eu ouvia tudo em silêncio tentando organizar todas aquelas informações na minha cabeça. – Fala sério, vocês pesam que enganam quem? Isso tudo não passa de uma jogada de marketing para tirar os escândalos de Beatriz do caminho do tio Augusto durante essas eleições. Larissa pontuou sem temer ao meu pai, enquanto eu permanecia ouvindo tudo em silêncio. – Não posso negar que isso também faz parte. – Meu pai falou como se fosse à coisa mais simples do mundo. – Mas nossa principal preocupação nesse momento é com a construtora. – Vocês são ridículos com essa imposição estúpida. – Minha irmã falava tudo aquilo que eu pensava, mas não tinha coragem de dizer. Ela virou-se para mim... – Você sabe que não é obrigada aceitar isso, não sabe? – Apenas silenciei! Nunca tive coragem de dizer não ao meu pai. Todas expectativas que ele depositava em mim, era meu limite para me render. – Mas claro que você não vai. – Larissa parecia frustradas. – Bem, já que você não vai ter coragem para negar essa palhaçada, tenta pelo menos pensar no lado positivo, mana. – Olhei para Larissa tentando realmente imaginar que lado positivo que aquela maluca encontrava naquela situação. – Pelo menos ela é gostosa pra c*****o. Ela gargalhou alto buscando descontrair o momento que havia se formado. – HAHAHA... Fica para você então. Óbvio que eu achava aquilo tudo uma loucura e me perguntava como Beatriz iria reagir àquela situação bizarra. Por Beatriz Na casa da família Mendes – BATRIZ! Ouvi o grito do chefão todo poderoso, já imaginando o tédio que sentiria por ouvir mais um dos muitos sermões que meu pai estava acostumado a me dar todos os dias quando retornava da empresa. Eu e meu pai não nos dávamos nada bem desde que comecei a compreender a falta de explicação para suas falhas como pai e marido. Srº. Augusto é o tipo de homem que acha que tudo se resolve com dinheiro e presentes caros, como por exemplo, suas ausências em datas comemorativas. Definitivamente isso me faz sentir enojada. Desci as escadas lentamente após ouvir mais um dos seus gritos histéricos. Eu sempre fui à única nessa família a bater de frente com o todo poderoso, e também, a única capaz de deixá-lo transtornado. Se bem que não era preciso fazer muito esforço para desestabilizá-lo, bastava fazer seu precioso sobrenome surgir em algumas manchetes, principalmente se fosse numa dessas mídias sem escrúpulos que não medem esforços para publicar alguma fofoca da vida alheia. – Desde quando ficou tão escandaloso assim? Você pensa que é só gritar que todos devem cair aos seus pés como se fossem seus serviçais? Pude ver uma veia latejar em seu pescoço, seus olhos transbordavam ódio, e eu apenas me contentei com o efeito alcançado, me jogando no sofá. – Pelo amor de Deus, não é possível que vocês já estejam aos berros. Minha mãe chegou junto com Bernardo, meu irmão mais novo, na sala onde eu e meu pai já duelávamos com o olhar duro e sem qualquer emoção. – Ela não me respeita, Soraya. Sua filha dedica cada minuto dessa maldita vida dela para me destruir. – Sorri com seu exagero. – Olha isso! Ele lançou para minha mãe uma revista que tinha meu rosto estampado na capa. A manchete sensacionalista dizia que: mais uma vez a herdeira de uma das maiores empresas do país havia aprontado. Dessa vez sendo pega pela polícia por estar dirigindo alcoolizada. Bom, mentira não era, mas isso era o tipo de coisa que aprendi com o meu papaizinho querido a resolver com dinheiro. Será que todo brasileiro tem noção de como a corrupção nesse país ocorre das mais variadas maneiras? Às vezes está bem embaixo do nosso nariz e não conseguimos enxergar. Na maioria das vezes a corrupção é até mesmo propagada por aqueles que deveriam nos proteger e representar, e nós assistimos a tudo isso passivamente, como os bons humoristas que somos. – Bea, minha filha, isso é verdade? Minha mãe era a única a quem eu sentia dever tudo na minha vida, afinal, ela sim sempre esteve ao meu lado de verdade. Por isso, aquele seu olhar de tristeza me matava por dentro, mas eu não poderia me mostrar vulnerável diante daquele homem. – Não se preocupe mamãe, eu resolvi tudo. Estou bem, não estou? – Tentei ser sarcástica. – Tudo o que você não é, é bem da cabeça Bea. – Bernardo provocou com divertimento, mas não entrei na sua. – Cala a boca, moleque! – Meu pai o repreendeu. – E você... – Voltou-se para mim. – Está bem, mas poderia não estar. Você não passa de uma mimadinha irresponsável, achando que é a mesma adolescente de antes. – Está reclamando do que, hã? – Em um pulo, me aproximei do meu pai, ficando a centímetros de distância do seu rosto. – Resolvi tudo não resolvi? Você sequer foi chamado, aliás, você deveria se orgulhar, afinal resolvi tudo do jeitinho que você gosta. Aprendi direitinho com meu papai querido. – Olha como você fala comigo, Beatriz. – Eu pude vê-lo falar com os dentes quase rangendo. – Eu não sou esse tipo de homem. – Calma, Augusto. Vamos conversar como pessoas civilizadas. – Minha mãe tentou intervir, mas ele não poderia sair ganhando tão fácil assim. – Não vai me dizer que agora, a essa altura da minha vida, você finalmente vai demonstrar ser um papaizinho preocupado, Srº. Augusto? Me economize! O provoquei sem culpa. Afinal, tudo o que ele nunca foi, era um pai preocupado. – Você se acha esperta não é mesmo? Acha que pode tudo, mas no final você não é nada sem mim, não é nada sem meu dinheiro. – Sua expressão suavizou rapidamente me fazendo sentir um calafrio com o que eu poderia ouvir a partir dali. – Sabe Beatriz, eu estive pensando muito e cheguei a uma conclusão. – Seus olhos eram recheados de deboche e frieza. – Já aguentei demais seus chiliques de garotinha mimada. Hoje você já é uma mulher, e eu decidi que chegou a hora de se comportar como tal. Essa... – Ele apontou para a revista. – Vai ser a última vez que seu nome surgirá em manchetes como essa. A partir de hoje você vai se comportar como uma verdadeira Mendes, vai honrar o nome da nossa família e só surgirá em manchetes que enalteçam seu potencial para os negócios, e como uma mulher bem sucedida. Gargalhei não acreditando nas palavras que estava ouvindo. Ou meu pai estava me testando ou ele estava ficando muito louco. Será que ele não percebia que eu não fazia a mínima questão em aparecer na mídia com o seu precioso sobrenome? Eu nem gostava quando esses urubus sedentos por audiência às custas dos outros me perseguiam, mas eu não podia evitá-los, o peso do sobrenome Mendes me levava sempre às suas lentes, assim como o cheiro de uma carniça atrai urubus. Agora daí a ele imaginar que eu teria potencial para os negócios? Os negócios dele? Loucura pura! – Você só pode estar de brincadeira não é mesmo? – Olhei para ele que mantinha uma expressão assustadoramente calma. – O que está querendo dizer com isso? – Estou dizendo que a partir de amanhã ou você começa a levar o trabalho a sério ou perderá o cargo que tem naquela empresa. – Meu queixo caiu. – Sua administração está péssima e se não fosse pelo esforço da Clara nós já estaríamos na lama. Estava demorando meu pai começar com as comparações entre mim e a filha do seu grande amigo. Seria cômico se ele não estivesse falando tão sério. Tudo bem que eu não suportava aquela empresa, porque tudo o que ali existia, era graças a noites de solidão da minha mãe, minha e de Bernardo. No entanto, era extremamente ofensivo as comparações que sempre me submetiam com a filha do sócio do meu pai. – E por falar nisso, tenho um assunto importante a tratar com você. – Meu pai voltou a assegurar. – Augusto não, agora não é o momento. Minha mãe quase implorou para que ele silenciasse, e isso foi o suficiente para me causar medo do que estava por trás daquela frieza do meu pai. – Por que não é o momento? O que está acontecendo? – Você vai se casar com a Clara. – Ele respondeu categoricamente. – E acho muito bom que a trate bem. A bomba foi jogada em meu colo de uma só vez, com uma naturalidade assustadora e sufocante. Eu tentava processar aquelas palavras sem saber se gargalhava ou se chorava com o ódio que me consumia. Quando eu penso que Augusto Mendes, não pode se superar, ele vem e mostra que jamais devo subestimar sua arrogância, mas dessa vez ele ultrapassava os limites. Aquele senhor só poderia estar fazendo uma pegadinha com a minha cara, não é possível. Como assim ele acha que pode determinar com quem e quando vou casar? Aliás, eu sequer sonho em casar, ele deveria saber disso se não fosse como um desconhecido para mim. Ainda sou jovem demais para me prender a alguém e perder toda minha vida com uma única pessoa. – Você só pode ter enlouquecido. Bebeu ou fumou alguma erva estragada, não sei, mas sei que está louco. – Sorri sem humor. – Beatriz! – Minha mãe me repreendeu. – A senhora sabia dessa barbaridade? A encarei com incredulidade. – Sim! Ela sequer teve coragem de me olhar para responder. O que pela primeira vez me fez sentir decepção em relação a ela, pois a sensação que eu tinha em meu coração, era de ter sido traída pela minha própria mãe. Como assim ela sabia? Ela concordava com aquilo? – Vocês todos me enojam. – Cuspi as palavras vendo os olhos da minha mãe lacrimejarem. – Sabe quando eu vou casar porque o senhor quer? Nunca! – Qual o seu problema, Beatriz? Desde quando você se tornou esse poço de rebeldia sem fim? Essa não foi à educação que eu e sua mãe te demos. – Qual a educação que o Sr. meu deu? – Ri com desdém. – Até onde eu consigo me lembrar você sempre foi um pai ausente. Vivia por essas estradas viajando em busca de poder e dinheiro sem se importar com a mulher e os filhos que deixava em casa sozinhos por vários dias seguidos. Quantas vezes faltou nas festas do dia dos pais? Eu não tinha pai. Você não era presente. – Os olhos escuros do homem a minha frente pela primeira vez demonstraram algo que beirava a remorso. – Quantas noites me deixou aqui sozinha com a mamãe nas magnificas festas de aniversário que me pegavam? Certamente achava que aquilo me bastava. E tudo por que mesmo? Ah é, lembrei... Por essa droga de empresa que você sempre deu prioridade na sua vida. Sempre foi assim! Você nunca fez nada por mim, e agora você quer que eu me sacrifique por ela? Pelo o seu sonho? NUNCA! O homem ouvia tudo que eu falava em silêncio. No passado eu amava o meu pai, sempre o admirei e costumava dizer que ele era meu herói, que eu queria ser igual a ele quando crescesse, mas os anos foram passando, fui amadurecendo e descobrindo em meio a lágrimas derramadas por sua ausência, que o herói era na verdade um bicho papão. Não que ele fosse um pai r**m, ele só era um pai ausente, o que na minha opinião dava no mesmo. – Filha, não seja injusta com seu pai, ele sempre fez o melhor por nossa família. Se ele se ausentava era para nos dar tudo o que temos hoje. Minha mãe sempre tentava argumentar a favor do meu pai em nossas brigas. Ela odiava nos ver brigar e sabia que o motivo era a revolta que eu sentia por sermos para ele menos importante que seus negócios, seu dinheiro... Mas eu não poderia julgá-la, ela sempre o amou verdadeiramente. Como eu sabia disso? Apesar de pessoalmente eu nunca ter conhecido o amor, eu podia ver esse sentimento transbordar nos olhos da minha mãe quando olhava com ternura para o homem com quem era casada. Ao contrário da minha relação com meu pai, nós duas costumávamos ser muito amigas. Era para ela que eu sempre corria quando tinha meus conflitos internos na infância e juventude, mas quando alcancei a fase adulta liguei o botão do f**a-se e não permitia que nada nem ninguém me conhecesse tão bem ou atingisse, ou melhor... Eu não demonstrava isso. – Mamãe, você está se ouvindo? Você acha certo essa loucura de me forçar a casar com alguém que eu não amo? Vi minha mãe tentando encontrar palavras para defender aquela insanidade, mas apenas silenciou. – Eu te dei todas as oportunidades para mudar. Te pedi muitas vezes para se importar mais com a empresa, mas você sempre fez o quê? Afastava-se cada vez mais da nossa família e do nosso patrimônio. São pilhas de matérias que eu coleciono onde você aparece como herdeira de um dos maiores patrimônio desse país, porém como uma patricinha mimada e completamente sem limites. Você parece disposta a arruinar meu nome. Meu pai não fazia questão de esconder como isso o machucava. – Eu estou pouco me lixando para seu precioso sobrenome. Você não pode me obrigar a ser como você, o poderoso Augusto Mendes, que deixou de viver por causa daquela maldita empresa. – Eu não me importo com o que você diz e pensa, ou você casa com a Clara e torna-se uma mulher responsável em um período de dois anos, ou você não terá um centavo do que é meu. Ele gritou e meu ódio só cresceu. Eu sabia dos planos que meu pai tinha para sua vida e dois anos era exatamente o tempo que ele precisava para cair na graça do povo e finalmente alcançar o cargo de governador do Estado. A única coisa que eu não conseguia acreditar é que ele pretendia usar toda a família para chegar onde queria. Eu conhecia Clara desde a infância, afinal, nossos pais não eram apenas sócios, mas também melhores amigos, logo nossas famílias tornaram-se praticamente uma só, mas nunca consegui conviver bem com a mulher que era constantemente uma pedra de comparação em meu caminho. Clara era exatamente tudo aquilo que meu pai sempre sonhou que eu fosse, e esse sempre foi o principal bloqueio para que não existisse comunicação entre nós. Nosso contato era limitado às instalações da M&V Construtora onde mesmo sem gostar eu dava expediente algumas vezes por semana. Cresci vendo meu pai elogiando como a filha do amigo era mais estudiosa, mais educada, e claro, mais dedicada à empresa que ele tanto amava. No entanto eu era o oposto. Claro que durante um tempo cultivei o desejo de vê-lo sentir esse mesmo orgulho de mim, gostaria que ele falasse de mim com o mesmo entusiasmo que ele falava de Clara. Por vezes me senti inútil, nada do que eu fizesse parecia ser bom o bastante para fazer o Srº. Augusto sentir orgulho de mim, e quando percebi que isso destruía meu coração resolvi não cultivar mais. Simplesmente liguei o f**a-se e fui viver. O fato é que por alguma razão Clara me fazia sentir vergonha do que me tornei eu me sentia incomodada com sua presença. Mesmo sem ter noção disso, ela era a única que tinha esse poder sobre mim, e agora como eu poderia conviver tendo-a como esposa? Por que eu faria isso? Eu nunca me imaginei nem ao menos ficando com aquela mulher e a ideia de tê-la como esposa era assustadora. – Bea... – Meu pai falou de forma tão amorosa que quase me assustei. – A hora de você e Clara assumirem o comando da empresa está chegando. Vocês sempre foram preparadas para isso e agora com a minha entrada na política preciso que as duas assumam suas devidas responsabilidades, mas a sua imagem não passa confiança aos acionistas. A cada novo escândalo que você se envolve eles me pressionam a tirá-la da empresa antes que tenhamos perdas por termos o nome da empresa envolvida nas suas histórias de mulher rebelde. Tenho informações que eles pretendem vetar sua nomeação, eles não confiam que você seja capaz de administrar nem mesmo a sua vida quanto mais uma empresa da dimensão da nossa. Para eles você é uma ameaça aos investimentos que eles fazem. – Eles não podem me tirar da empresa. Aquele lugar é tão meu quanto da Clara, e eu não tenho porque ceder às chantagens absurdas desses seus amiguinhos hipócritas.  – Eles podem e eles vão, se você não mudar esse comportamento imediatamente. Meu pai agora falava com uma falsa tranquilidade, mas pela primeira vez em anos ele parecia estar sendo verdadeiro ao conversar comigo. Eu lutava para não deixar lágrimas rolarem em meu rosto demonstrando o quanto me sentia fraca naquele momento. – Filha, você não sabe como é doloroso para mim como pai não ter argumentos para defender minha própria filha diante daqueles leões em pele de cordeiro. Beatriz, eu quero poder lutar por você, quero poder ter argumentos para mostrar o quanto você é capacitada e acredite, eu sei que você é. – Aquelas palavras atingiram meu coração. Quantos anos quis ouvi-las? – Você pode não gostar da ideia, mas você parece comigo, muito mais do que você pode imaginar, e eu nunca vou conseguir me perdoar se não vir você ocupar o lugar que sempre reservei para você. Eu sempre sonhei em ver você se tornar o que eu sou, não falo de sucesso na carreira, mas sim de felicidade, de realizações. Eu quero ver você alcançar o pódio da vida e no que depender de mim eu vou até o fim do mundo para ver isso acontecer, mas eu preciso de você nisso. – Por que casar? – Perguntei ainda na defensiva. – Eu e Carlos chegamos à conclusão que seria uma boa opção para mudar sua imagem. Você se tornaria mais responsável, uma mulher familiar, apareceria menos na mídia e deixaria de frequentar esses lugares estranhos que costuma andar. O casamento não seria real, e com sorte nós conseguiríamos torná-la influente no meio empresarial. – Você consegue se ouvir? – Sorri sem humor. – Isso soa tão patético que não consigo sequer argumentar. – Você não tem escolha, Beatriz. É isso ou perderemos o controle da nossa empresa, porque certamente a diretoria vai surgir com um nome alternativo para ocupar o lugar da vice-presidência. O silencio se formou e meus pais pareciam ansiosos por uma resposta minha. Era possível ouvir o tic-tac do relógio da sala e minha cabeça fervilhava com tantas emoções. Naquele momento eu vi uma oportunidade de pela primeira vez na vida fazer meu pai sentir orgulho de mim. Mas será que ainda era isso que eu queria? – NUNCA! – Respondi com fúria. – Uma semana... Esse é o tempo que te dou para me dar uma resposta mais bem pensada. Saí daquela sala sentindo o estômago revirar e uma raiva incomum surgir em mim. 

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