Rafaela 01
Olho para as pessoas indo e vindo com as suas malas com pressa pelo aeroporto para conter as lágrimas que insistem em cair.
- Tem certeza querida que não quer ir embora com a gente? Dona Fátima me tira dos meus devaneios, olho para ela e sorrio.
- Tenho, mesmo que não seja perto de onde eu morava com a minha mãe e o meu padrasto eu prefiro não arriscar. Digo e ela assente passando a mão com todo o carinho do mundo em meu rosto.
- Só toma cuidado minha filha e não se esqueça que sempre terá a gente não importa o que. Eu assinto e ela me abraça.
- Passageiros do voo 717 com destino a São Paulo última chama, se dirijam ao portão 7 de embarque. A voz nos autos falantes do aeroporto avisa e então dona Fátima me abraça mais forte.
- Eu sei que tenho vocês, são os pais que eu nunca tive os verdadeiros que Deus colocou na minha vida. Digo enquanto ela beija o meu rosto. - Agora vai, já foi feita a última chamada do seu voo. Ela assente, olho para seu Pedro o homem que foi o pai que eu precisei que me apoiou na hora mais difícil da minha vida que fez de tudo por mim e ele me puxa para um abraço.
- Se cuida minha filha e cuida da minha netinha, não hesite em me ligar.
- Eu não vou. Ele beija a minha filha que está em seu colo dês da hora que chegamos aqui e a coloca no chão. - Obedece a sua mamãe meu bem, vovô e vovó vêm para o seu aniversário.
- Sim vovô! Manu fala e então dona Fátima a abraça e beija, ela aperta a minha mão e vai com o marido rumo ao portão de embarque fico ali parada os olhando até que eles entram, dona Fátima nos olha da porta e nos dá tchau, eu aceno de volta e seco as minhas lágrimas e então pego na mão da Manu que segura firmemente em minha saia e vou em direção a saída.
Dona Fátima e seu Pedro são os pais que eu nunca tive, meu pai biológico faleceu quando eu era uma menina com apenas sete anos de idade e não muito tempo depois minha mãe se casou com o melhor amigo dele Jorge.
Jorge é delegado da policia civil, mas ao invés de proteção tudo o que ele me proporcionou foi dor, logo quando ele se casou com a minha mãe nos mudamos para uma casa muito boa e bonita em um condomínio fechado não que a casa que a gente morava com o meu pai fosse r**m, mas a que Jorge nos levou era melhor em tudo uma casa de auto padrão com empregada e tudo mais.
Ele era na dele falava o necessário comigo não me maltratava mas proporcionava do bom e do melhor para a gente, minha mãe amava a nova vida dela com casa de luxo carro de luxo empregada e tudo mais lembro que ela passava seus dias entre a piscina, shopping, academia e spa cuidando de sua beleza para o seu ótimo marido e eu tudo o que tinha que fazer era estudar, até aí tudo bem.
Quando fiz dez anos comecei a notar pequenas diferenças no meu padrasto que já não falava só o necessário comigo ele se aproximou mais, sentava quando me via na sala de TV e puxava assunto começou a se interessar pela a minha vida nada de mais já que ele cuidava de mim como um pai a anos então segui normalmente.
Mas tudo mudou quando completei doze anos, Jorge me tirou da van escolar e fazia questão de me levar e me buscar ele mesmo para escola minha mãe poderia fazer isso já que ela não fazia nada, mas ele não deixava e ela não discutia as atitudes dele comigo começou a mudar mais e mais como uma mão no joelho aqui, uma apertada na coxa ali, mas tudo sem intenção ou malícia era o que ele dizia.
Aos poucos ele foi me isolando sutilmente, ele começou a espantar meus amigos meninos com a desculpa de ciúmes de pai, ele dizia. - Eu a amo como minha filha querida eu a criei e não foi para ser passa tempo na mão de vagabundinho que só tem uma coisa em mente. A minha mãe achava isso lindo, falava que eu deveria ser grata por Jorge cuidar tão bem da gente que eu deveria chamá-lo de pai.
Só que ele não parou somente nos meninos, quando eu não tinha mais amigo ele começou a implicar com as minhas amigas falava que elas queriam me levar para o mau caminho que não passavam de projetos de p**a e que ele jamais me deixaria ser igual a elas que eu não iria estragar a minha vida.
Comecei a notar que alguém entrava em meu quarto enquanto eu tomava banho me sentia espionada então tranquei a porta do quarto e Jorge? Ele tomou a chave do meu quarto com a desculpa que eu estava me trancando para ficar no telefone com garotos, como se ele não pudesse escutar todas as ligações do telefone do meu quarto que tinha linha direta com o dele.
Daí pra frente a minha vida virou um inferno e a única amizade que meu padrasto não conseguiu minar foi a que eu tinha com Lucas filho da dona Fátima e seu Pedro, Lucas queria enfrentar Jorge mas eu pedia que não fizesse isso que era melhor ele achar que eu não tinha amigos porque era capaz dele até me tirar da escola só para me isolar de vez, eu sabia que ele era capaz.
O meu pior pesadelo se concretizou quando eu tinha quinze anos minha mãe saiu cedo aquela manhã porque ela tinha uma consulta no dentista e eu não teria aula aquele dia então Jorge poderia dormir até um pouco mais tarde já que não iria me levar a escola, acordei com ele apertando o meu seio me assustei e ele me mostrou a sua arma e dali para frente meu inferno virou realidade.
Jorge me estuprou e quando terminou se levantou como se nada tivesse acontecido beijou a minha testa e disse até mais tarde, corri para o banheiro e tomei o banho mais quente e demorado da minha vida sai do chuveiro com a pele machucada de tanto que esfreguei e quando a minha mãe chegou corri para contar o que tinha acontecido.
Minha mãe me bateu, disse que eu mentia que Jorge jamais faria isso e que se ele fez foi porque eu me ofereci que eu o tentei tanto até que ele cedeu ela me disse que via os meus olhares para o marido dela, que eu estava querendo acabar com a única coisa boa que ela tinha.
Ela subiu as escadas rumo aos quartos me deixando ali destruída, não pensei muito só abri a bolsa dela e peguei todo o dinheiro que tinha em sua carteira, sai pela porta da cozinha que ainda tinha a louça do dia anterior na pia então vi que Jorge tinha tudo planejado nem mesmo a empregada tinha ido trabalhar naquele dia.
Passei pela portaria do condomínio a pé mesmo com medo de ser barrada, mas, não fui segui até o ponto de ônibus e fui rumo à casa do único amigo que me tinha sobrado e quando cheguei ao portão da casa do Lucas fui acolhida por aquelas pessoas da forma que a minha mãe deveria ter me acolhido.
O sobrinho do seu Pedro era estagiário de um promotor que sabia muito bem quem era o meu padrasto porque a esposa dele era policial federal e vinha investigando a máfia na policia a qual o meu padrasto pertencia, eles me disseram o que eu já sabia que se eu fosse à polícia denunciar o Jorge nada aconteceria porque nessa máfia tinha juízes, delegados e promotores que eles iriam me desacreditar ainda mais que a minha mãe não me apoiava que a minha melhor opção era sumir.
E foi assim que eu me tornei a Rafaela, meu nome verdadeiro é Maria Clara Bezerra com a ajuda do sobrinho do seu Pedro e os amigos dele me tornei Rafaela Oliveira filha do seu Pedro e da dona Fátima, a empresa que seu Pedro trabalhava estava montando uma filial no Rio e ele pediu transferência a policial que me ajudou falou para o chefe dele que eu era uma testemunha em proteção que eles precisavam ajudar a polícia.
Foi assim que eu entrei na documentação da empresa como filha e dependente do seu Pedro e em menos de um mês estávamos de mudança para o Rio, mas, nada é tão fácil assim comecei a passar m*l e quando dona Fátima me levou ao médico eu estava grávida, explicamos para a ginecologista que eu fui estuprada e ela me disse que eu poderia abortar e me deu uns dias para pensar.
Decidi que aquela criança não tinha culpa do que me tinha acontecido e nem do monstro que era seu pai então escolhi seguir com a gestação e deixar o bebê para a adoção, mas quando a Manu nasceu um amor tão grande me invadiu que eu não tive coragem de deixá-la e mais uma vez dona Fátima e o seu Pedro me apoiaram.
Quando a Manu fez quatro meses arrumei um emprego em um call center onde estou até hoje, terminei o ensino médio e agora tento uma bolsa integral em alguma faculdade, Lucas infelizmente faleceu em um acidente de carro a seis meses atrás e os pais dele não aguentaram o baque e decidiram voltar para São Paulo, pediram que eu fosse junto com a Manu mas eu não posso arriscar a encontrar com o meu padrasto em uma esquina qualquer, no trânsito ou em um metrô da vida me sinto mais segura aqui.
Preciso arrumar uma casa com um aluguel que eu possa pagar com o meu salário de operadora de telemarketing e eu sei que no asfalto como dizem por aqui é que eu não vou encontrar, preciso ir até os morros e pelo que algumas meninas no meu trabalho fala sei que o Morro da Maré é o menos perigoso para mim, elas comentam que lá não é permitido estupro e que roubem os moradores.
Uma semana depois me vejo dentro de um ônibus indo rumo ao morro da Maré ver se tem uma casa pequena que eu possa alugar para morar com a minha filha, a viagem dura uns trinta minutos desço do ônibus e ando por mais uns cinco minutos até o pé do morro olho para aqueles meninos desnutridos na barreira com armas maiores que eles e respiro fundo e vou até eles.
- Boa tarde! Digo e eles não respondem só me olham. - Eu gostaria de saber se aqui tem casa para alugar, sabem me dizer com quem eu falo? Pergunto para os garotos que olham para trás e um rapaz todo tatuado vem para frente da barreira e quando eu digo todo tatuado é todo mesmo, até o pescoço ele está sem camisa com uma arma enorme nas costas e é bem mais velho que os guris da barreira não têm o cabelo pintado de loiro e não é desnutrido pelo contrário se olhar bem ele é até bonito.
- O que a madame quer? Ele pergunta então eu repito.
- Eu quero saber se aqui tem alguma casa disponível para alugar. Ele assente.
- Aguenta aí! É tudo o que ele diz então ele pega um rádio que está na cintura. - Aí chefia, tem uma mina aqui na barreira procurando casa para alugar.
- Trás ela aqui! A resposta é curta e grossa.
- Já é! O cara responde e então me olha.
-Vem comigo! É tudo o que ele fala e vai subindo o morro, eu corro atrás deleque anda rápido e eu me mato para acompanhar que subida dos infernos o cara entra em uma viela e outra e eu sei que se ele me lagar aqui o caminho de volta eu não vou encontrar, ele para em frente uma casa e me espera estou quase colocando meus pulmões pela boca, respiro pesadamente juro que eu beberia dois litros de água fácil nesse momento o desgraçado ri de mim junto com os pirralhos magricelas que estão na frente da casa e então ele entra.
Passamos por um corredor onde tem várias portas ele bate na última porta e espera a autorização para entrar.
- Tá aí chefe! Ele fala me colocando a sua frente me fazendo entrar na sala.
- Espera lá fora. O cara loiro que está atrás da mesa fala, ele está de cabeça baixa olhando e anotando algo em um caderno o cara que me trouxe só sai e fecha a porta eu engulo em seco e oro a Deus para que ele me proteja.
- Então você quer uma casa para alugar? O cara atrás da mesa fala levantando o olhar para mim e p**a que me pariu ele é tudo menos o que eu esperava, o cara é lindo loiro de olhos verdes como mar e uma barba estilo lenhador que faz qualquer mulher fraquejar, tem um braço todo tatuado até onde o limite da manga da camisa me permite ver e ele é forte, enorme de grande com toda certeza ele malha e muito.
- Sim, uma casa pequena de preferência de dois cômodos. Respondo e ele só me encara parece que está me despindo com o olhar me mexo incomodada de um pé para o outro, ele se levanta e dar a volta na mesa se sentando na ponta dela de frente para mim.
- Vai morar tu e mais quem?
- Eu e minha filha! Minha voz quase não sai, a presença forte desse homem me intimida a forma que ele me olha me intimida ele não faz cerimônia enquanto me olha de cima a baixo.
- Marido, namorado?
- Só eu e a minha filha. Repito e ele coça a barba.
- Você tem quantos anos?
- Dezenove. Digo desconfortável com tanta pergunta ele nota, mas não se importa pega o rádio encima da mesa e olha bem nos meus olhos. - Menor cola aqui. E o mesmo cara que me trouxe aparece na porta.
- Leva ela para ver a casa da rua seis e depois trás de volta.
- Já é chefia! Menor fala e sai.
- E o valor do aluguel? Pergunto por que não adianta nada eu olhar a casa e não ter dinheiro para pagar.
- Vai lá ver se o bagulho é do jeito que você quer e depois a gente fala de preço. Ele fala sério e eu prefiro não discutir só me viro e sigo Menor que está na porta me esperando.
Ele desce um pouco o morro entra e sai de vielas novamente e vejo que esse lugar é um labirinto Menor para no final de uma rua na frente de uma casa toda azulejada com uma pequena varanda, o portão vai até encima e por cima da meia parede da varandinha fechado a entrada da casa e a deixando bem segura o que eu já gostei.
Entramos e vejo que a lavanderia é no final da varandinha de entrada tem o tanque e o espaço para a máquina de lavar, o primeiro cômodo da casa é uma sala pequena e do lado esquerdo uma cozinha minúscula que m*l vai caber as minhas coisas, mas está bom.
Voltando para a sala tem um corredor que leva para o banheiro que também é pequeno e para o quarto que tem um bom tamanho, eu gostei muito da casa ela é toda na cerâmica e sei que arrumada fica aconchegante agora basta saber o valor do aluguel.
Saímos da casa e eu não aguento a curiosidade para saber quem é o loiro bonitão eu tenho que perguntar.
- Ei? Chamo o tal Menor que anda rápido na minha frente me levando de volta para a casa onde o loiro fica ele para e me olha esperando. - Aquele homem, o seu chefe é o dono dessa casa? Pergunto e ele ri.
- Ele é o dono de tudo isso aqui! Menor fala abrindo os braços e eu fico parada olhando para ele sem entender. - Ele é o dono da p***a toda, o dono do morro! Eu arregalo os meus olhos e o cara ri negando com a cabeça e volta a andar, eu já imaginava que o loiro era um traficante, mas, não o dono do morro só de pensar nas histórias que eu ouvi referente ao dono da Maré.
Resolvo ficar na minha e não perguntar mais nada, chegamos na casa que eu deduzo ser a boca e sou levada de volta para a sala do loiro bonitão que sei agora ser o dono disso aqui.
- Gostou da casa? Ele pergunta se levantando e voltando a sentar na ponta da mesa de frente para mim.
- Sim, só preciso que me diga o quanto o senhor vai me cobrar de aluguel. Já vou direto ao ponto porque quero sair daqui o mais rápido que eu puder, não quero ficar no mesmo lugar que esse homem mais que o necessário.
- Fica de boa princesa e pode me chamar de NC. Ele responde com um sorriso safado de lado para mim que é de molhar qualquer calcinha, mas quando me lembro que ele mata sem nem piscar e o tanto de coisa que ele já fez a beleza dele não me afeta, ele pode ser lindo mais por tudo o que já escutei falar dele o cara é o d***o em pessoa.
Ele me fala o valor do aluguel que é bem abaixo do que eu esperava o que é muito bom para mim graças a Deus, me diz todas as regras do morro e acertamos o dia do vencimento do meu aluguel eu pago o depósito e mais dois meses adiantado.
- Vai se mudar quando? Ele pergunta assim que vou saindo da sala.
- No sábado a tarde! Respondo e ele assente. - Sabe me dizer se tem alguém aqui que faz mudança? Pergunto por que ninguém que mora fora dos morros quer entrar neles.
- Fala para o Menor te levar no Antônio do carreto e depois te levar de volta para a barreira. Ele fala voltando para a sua cadeira atrás da mesa e eu assinto.
- Obrigada! Ele só balança a cabeça e eu saio e dou o recado para o Menor que me leva no cara do carreto, acerto tudo e volto com o Menor para a barreira e de lá vou sozinha para o ponto de ônibus tenho que pegar a minha pestinha na creche.