Capítulo 2

2058 Words
Isso é uma calcinha? Uma saia? Saltos? Eu não consigo acreditar no que está acontecendo, não pode ser real! Deve ser coisa do Felipe, ele deve ter trazido alguma garota pra cá. Mas então cadê o Lucas? Risadas, eu estou ouvindo risadas vindas do banheiro. Meu Deus! Meu coração está batendo tão forte que eu m*l consigo ouvir direito, volto para o corredor e me aproximo da porta do banheiro e ouço de novo risadas. É ele, é o Lucas, é a voz dele, a risada dele, tenho certeza! E a outra voz é de mulher! O que ele faz com uma mulher dentro do banheiro? E aquelas roupas no quarto dele? Meu Deus, eu quero vomitar! De repente a porta do banheiro se abre iluminando o corredor escuro e de lá saem os dois abraçados e enrolados na toalha. Eu não sei o que fazer, eu não estava preparada pra isso, alguém está? Assim que ele me vê parada no corredor, o queixo dele cai. Pelo menos ele teve a decência de se envergonhar! - O que você está fazendo aqui? - ele diz assustado pelo flagra. Sério? Essa é a primeira coisa que ele pensou em me dizer? Nenhuma desculpa? E o que eu deveria dizer? Meu coração está batendo tão forte que no meu ouvido só ouço um zumbido alto, acho que minha cabeça vai explodir e a única coisa que eu consigo fazer é correr, correr como uma covarde. Corri do apartamento, desci as escadas, passei pelo portão sem me despedi do porteiro e corri o mais rápido possível de volta pra minha casa. - Por favor, Rebeca esteja em casa, por favor, Rebeca esteja em casa. - repetia isso pra mim mesmo enquanto as lágrimas não autorizadas desciam por todo meu rosto. - Por favor, não entre ninguém nesse elevador, por favor, não entre ninguém nesse elevador. - Continuei com meus mantras ciente do estado deplorável em que eu estava. Finalmente o elevador parou no meu andar, já sai com a chave na mão e me concentrei ao máximo em abrir a porta, era só esse último obstáculo que me separava do meu cantinho onde eu podia de fato desmoronar e não ser vista por ninguém. Fecho a porta e caio no chão incapaz de continuar, é tanta dor! Felizmente a Rebeca aparece no fim do corredor provavelmente assustada com o barulho que eu estava fazendo. - O que aconteceu? - ela me perguntou enquanto corria na minha direção. Que bom que ela está aqui. Eu não conseguia falar, muito menos articular uma frase, só choro e dor. - Lucas... apartamento... outra... banheiro... me traiu... - foi só o que consegui pronunciar e com a última desabei de novo, foi o suficiente pra minha amiga entender e me abraçar. Graças à Deus eu tenho ela, graças à Deus eu não estou sozinha nessa cidade e não estou sozinha pra passar por isso. Ela me ajuda a levantar e a chegar até o meu quarto, quando começo a recuperar a capacidade de falar a campainha toca fazendo meu coração pular de novo, será ele? - Por favor, não abra! - digo pra Rebeca que também se assustou com o barulho. - Não vou abrir. - Amanda, abra a porta! É ele! Ele está aqui! Pelo menos teve a decência de vir atrás de mim, mas não posso vê-lo, não agora. - Vou manda-lo ir embora. - ela diz levantando da cama. - Por favor, por favor. - eu repito em meio às lágrimas. Eu não posso vê-lo, eu não quero vê-lo! - Vai embora, Lucas, ela não quer te ver! - posso ouvi-la gritando com ele. -Abre a porta, Rebeca, eu tenho que falar com a Amanda! - só a voz dele já é capaz de me queimar toda por dentro e embrulhar meu estômago. Eu quero vomitar. Eu vou vomitar. Levanto correndo e vou para o banheiro colocar tudo que tinha comido para fora. Pouco tempo depois Rebeca entra no banheiro segurando meu cabelo enquanto me acabava de vomitar. - Ele já foi. - ela diz com um tom pesaroso. Que ironia, os papéis costumavam ser inverso, eu consolando ela e não o contrário. Faço meu melhor pra conseguir me levantar do chão. Preciso do chuveiro, preciso de outro banho, tirar tudo, apagar tudo, esquecer tudo. A água milagrosa acabou, dessa vez nada foi embora. Nem dor, nem o desespero e nem essa vontade de não existir, de sumir. Deliguei o chuveiro e me enrolei na toalha que ainda estava molhada pelo meu banho pouco tempo antes, parece que foi há uma eternidade atrás. Voltei para o meu quarto e a Rebeca estava lá com um super pote de pipoca e suco de abacaxi com hortelã, meu preferido. - Vamos comer, beber e assistir Breaking Bad. Nada como o drama de um narcotraficante pra esquecermos os nossos próprios dramas. - ela diz se esforçando ao máximo pra me fazer sorrir, mas eu devolvo um sorriso que mais parece uma expressão de dor. Vesti meu pijama e me deitei na cama torcendo pra que Heisenberg fosse mesmo capaz de me fazer esquecer tudo que tinha vivido nessa noite. *** Acordei no sábado antes do sol nascer, mesmo tendo ido dormir super tarde. Só por um instante eu pensei que tudo não passasse de um sonho, mas logo as lembranças vieram como um soco no meu estômago. Me levantei e fui direto para cozinha. Preciso fazer algo pra passar o tempo até a Beca acordar, quando chego na cozinha minha vontade era de voltar pra cama e me afogar de tanto chorar. Você está proibida de chorar por homem! Você aprendeu essa lição há muito tempo atrás, espero que não tenha se esquecido. Meu subconsciente me lembra do dia que aprendi a não confiar nos homens. Me forço a fazer um bolo de cenoura, uma das minhas especialidades na cozinha. Beca acordou quando já estava quase pronto. - Como você está? - Como se tivesse sido atropelada por um trator. - eu digo a verdade. - Você vai ficar bem, você vai ver. - ela diz com confiança, eu me forço acreditar que sim. - É difícil não me sentir uma i****a, sabe? Ou de ficar me perguntando por quanto tempo? Com quantas? - digo com as lágrimas forçando passagem. Beca é a única pessoa com quem tenho coragem de demonstrar meus sentimentos. Me forço o tempo todo a ser forte e não demonstrar minhas fraquezas, porque eu sei que quando abrimos nosso coração damos o poder para que as pessoas pisem nele. - Você não é uma i****a, ele é! E o que vai mudar saber ou não dessas coisas? Há um mundo de gente lá fora e eu prefiro acreditar que um faça tudo valer a pena do que me prender a um que me trata feito merda. Uau, isso sim é uma lição de vida! Ela tem razão, claro que tem. - Obrigada, amiga! Você tem tornado isso menos difícil. - digo pra ela o que é verdade. - Então se prepare porque hoje vamos encher a cara e dançar a noite toda. - ela diz e eu confirmo decidida a seguir em frente. Mais tarde saímos pra almoçar fora e a noite nos arrumamos para a boate. De fato, nunca tinha bebido tanto na minha vida e acordar de ressaca no domingo foi como um refrigério, às vezes tudo o que a gente precisa é uma dor diferente. *** Segunda feira finalmente chegou e me sinto muito melhor, vai ser bom voltar pra minha rotina. Antes de sair peguei meu celular de volta, ele estava com a Beca desde sexta pra eu não ter que lidar com as ligações do Lucas. Pra minha decepção nem havia tantas assim e algumas mensagens pra que ligasse de volta, não sei se ele esteve no meu prédio enquanto eu estava fora, mas eu sinceramente esperava que ele fosse lutar mais. Para de pensar nisso, Amanda! Que ele vá para o inferno com aquela loira. Durante meu almoço eu liguei pra minha mãe, tinha algumas ligações perdidas dela também. - Oi mãe! - Amanda, te liguei um milhão de vezes! - lá vem ela... - Eu tive alguns contratempos, mãe. - não vou falar nada do Lucas com ela, não agora. - Te liguei pra dizer que seu primo está aí. - Que primo? - O Davi. Oh, ar? Cadê meu ar? O que ele está fazendo aqui? - O que ele está fazendo aqui? - repeti a pergunta em voz alta. - Ele está aí a negócios e vem pra cá de carro para o casamento, você podia aproveitar a carona e vir com ele. Carona? Não quero nem ver a cara dele e minha mãe quer que eu pegue uma carona? - Mãe, eu não o vejo há anos! - E o quê que tem? Ele é família, Amanda. Ele disse pra você ligar pra ele. O quê? - Você já falou com ele? - pergunto incrédula do quanto minha mãe acha normal resolver minha vida por mim. - Sim, seu tio Augusto já está aqui e me passou o telefone dele, vou te enviar por mensagem. - Ok. - é só o que consigo dizer a ela antes de desligar. Não acredito que o Davi está aqui. Que eu vou ter que ligar pra ele. E pegar carona! É demais pra mim nesse momento. A última vez que eu o vi foi há anos, naquele maldito dia e depois do que aconteceu eu o evitei ao máximo até que eles finalmente foram embora. Será que ele vai se lembrar? Queria que a minha mãe soubesse o quão constrangedor isso é, mas desde que eu nasci minha mãe controla tudo que eu faço, foram poucas as batalhas que eu ganhei contra ela. Vou para o estágio tentando não pensar muito nisso, mas é difícil. - No mundo da lua? - Daniel me tira dos meus devaneios. Daniel também é estagiário aqui, vamos formar juntos daqui a seis meses, mas somos de faculdades diferentes. Ele tem um dos sorrisos mais bonitos que eu já vi e olhos verdes que combinam com seu cabelo loiro escuro. - Mais ou menos - sorrio de volta. Nesse tempo em que estive aqui ele se tornou um ótimo amigo. - Como foi o final de semana? - Péssimo! - ele não faz ideia! - Sério? Por quê? - Terminei meu namoro. - digo me sentindo melhor do que eu esperava. Parabéns, Amanda! Você não perdeu o jeito! - Nossa, sinto muito. - Obrigada, mas está tudo bem ou vai ficar. - Me diz se você precisar de alguma coisa. - Agora eu só preciso que você me atualize sobre esse último projeto. - digo com um sorriso, aliviada por mudar de assunto. Passamos as próximas horas fazendo relatórios e discutindo sobre o novo projeto da empresa. Às 18 horas chegaram rápido e vou direto pra academia, uma dose de endorfina é tudo que eu preciso. Depois de me trocar no vestiário e colocar minha calça de ginástica e top eu paro em frente ao imenso espelho e não posso evitar me olhar e me perguntar se a garota no banheiro do Lucas é mais bonita do que eu. Eu não sou muito alta, mas até que meus 1,65m são bem distribuídos, eu acho. Minhas curvas vão bem obrigada, apesar de existir mais delas da cintura pra baixo do que da cintura pra cima. Eu gosto do meu corpo e parte disso é mérito da minha mãe que sempre me incentivou a fazer atividades físicas e ter uma alimentação mais saudável. Meu cabelo é longo e escuro e desce formando cachos por todo o seu comprimento. A garota no apartamento do Lucas era loira, mas não me lembro muito do corpo dela. O que será que ela tem de tão melhor a ponto dele me trocar por ela? Cala a boca, Amanda! Ou melhor o pensamento! As próximas uma hora e meia são gastas com exercícios, muitos exercícios que me ajudaram a me sentir melhor. Chego em casa às 20:30, tomo meu banho e visto meu pijama. Quando pego meu celular vejo uma ligação perdida do Lucas. Não tenho estômago para isso ainda. Além da ligação dele tinha a mensagem da minha mãe com o número do celular do Davi, meu estômago deu um nó só de pensar em falar com ele. Levo uns trinta minutos pra me decidir se ligo ou não e depois de elaborar um pequeno discurso eu digito os números do celular dele. Quando começa a chamar eu prendo a respiração sem perceber e a cada "tu tu tu" meu coração acelera ainda mais. A ligação finalmente vai pra caixa postal e eu volto a respirar. Que merda, Amanda, você não é mais uma pré adolescente apaixonada! E nem vergonhosamente obcecada pelo primo mais velho, aja feito uma adulta! Vou ao banheiro molhar meu rosto e me recuperar dessa babaquice infantil quando meu celular toca e aparece o número dele na tela.   Merda, merda, merda!
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