prefácio.
Prefácio
Escrever é, antes de tudo, um ato de coragem. É se despir diante do papel e permitir que as palavras deem forma a mundos que, muitas vezes, vivem apenas em nossa imaginação ou em recantos silenciosos da alma. Para mim, Dan Souza, essa coragem tem se dividido entre muitos papéis: sou mãe, esposa, trabalhadora fora de casa e, mesmo assim, encontro na escrita um abrigo. Talvez um refúgio. Talvez um espaço onde posso ser múltipla, onde posso extravasar sentimentos, medos, sonhos e realidades que ultrapassam a rotina. É entre as madrugadas silenciosas e os intervalos roubados ao tempo que meus personagens ganham vida, e foi assim que esta história nasceu.
A trama que você, leitor ou leitora, tem agora em mãos é fictícia, mas foi construída com muito cuidado, dedicação e pesquisa. O livro que se abre diante de você não é apenas sobre violência, amor e escolhas difíceis. É também sobre humanidade, sobre os laços que se formam onde menos esperamos, sobre a possibilidade de ternura florescer até mesmo em territórios dominados pela brutalidade.
O protagonista, que vocês vão conhecer como Tenebroso, é um homem forjado nas sombras do tráfico, marcado por dores que não escolheu, mas que precisou suportar. Como chefe da comunidade, ele se tornou símbolo de medo e respeito. Mas, por trás dessa máscara dura, existe um pai. Essa dualidade entre o homem que lidera com punho firme e o pai que protege com carinho , é o fio condutor de uma história que se desdobra em múltiplas camadas. O centro de seu mundo não é o poder, mas Caio, seu filho.
Caio é um menino autista de nível 2. Sua pureza e inocência resistem em meio a um ambiente hostil, trazendo à narrativa um contraste tocante: a violência do morro e a delicadeza de uma criança que enxerga o mundo de maneira única. Importante ressaltar: não sou especialista em autismo. O que descrevo aqui é resultado de pesquisas realizadas na internet, leituras de relatos de famílias e estudos de acesso público. A intenção não é ensinar ou diagnosticar, mas dar visibilidade, ainda que de forma singela e respeitosa, às particularidades e à beleza que existem dentro do espectro. O autismo de Caio é parte de quem ele é, mas não o define por completo. Ele é, antes de tudo, uma criança cheia de luz, curiosidade e afeto.
É nessa convivência que surge com Lara, uma jovem com uma história marcada por rejeição, abandono e feridas emocionais profundas. Ela chega ao morro em busca de um recomeço e, inesperadamente, encontra em Caio um ponto de conexão. O vínculo entre os dois se desenvolve de forma natural, como se as almas se reconhecessem. Através dele, Lara passa a ocupar um espaço cada vez mais importante na vida de Tenebroso, não apenas como apoio para Caio, mas como alguém capaz de tocar sentimentos adormecidos no coração de um homem acostumado a sufocar sua própria vulnerabilidade.
Essa relação de Lara com Caio e, posteriormente, com Tenebroso , não nasce de um romance instantâneo, mas de pequenas entregas diárias, de momentos sutis que se transformam em algo maior. Entre desenhos, silêncios e confidências, Lara traz leveza a uma casa sufocada pela tensão. É nesse processo que Tenebroso descobre que ainda é possível sentir: ternura, desejo, esperança. E talvez, quem sabe, sonhar com uma vida diferente.
Mas é preciso ter clareza: este não é um conto de fadas. O cenário da história é um morro onde a violência dita as regras, e onde o futuro raramente permite planejamentos longos. Amar, nesse contexto, é um risco. A felicidade parece uma ousadia perigosa, e qualquer gesto de fragilidade pode se tornar uma ameaça. Quando o passado de Lara se mistura com o presente de Tenebroso , os dois são colocados diante de escolhas que testam limites: até onde ir pelo que construíram? O que estão dispostos a sacrificar?
Este livro é destinado a maiores de 18 anos, não apenas pelo teor de algumas cenas, mas pela intensidade emocional e pelo ambiente em que a trama se desenrola. Aqui, a realidade não é suavizada: há dor, violência, sensualidade e dilemas éticos. É uma narrativa que toca em pontos sensíveis e, ao mesmo tempo, abre espaço para reflexões sobre paternidade, amor, resiliência e sobre como, mesmo nas circunstâncias mais improváveis, a vida pode nos surpreender com gestos de afeto.
Escrever sobre Tenebroso, Caio e Lara foi, para mim, uma experiência transformadora. Encontrei neles mais do que personagens; encontrei símbolos de luta, esperança e reconstrução. Encontrei também uma forma de mostrar que ninguém é inteiramente luz ou inteiramente sombra. Somos feitos de nuances, de escolhas, de acasos que moldam quem somos.
Para você, que abre estas páginas, meu convite é simples: permita-se sentir. Permita-se olhar para além da superfície dos personagens. Veja em Tenebroso não apenas o traficante temido, mas o pai que luta pelo bem - estar do filho. Veja em Caio não apenas o menino autista, mas a criança cheia de amor que ensina sobre empatia sem precisar de palavras. Veja em Lara não apenas a jovem marcada pelo abandono, mas a mulher que, mesmo ferida, ainda é capaz de amar e transformar.
Que esta leitura seja, ao mesmo tempo, um mergulho em um universo ficcional e uma oportunidade de refletir sobre a complexidade da vida real. Porque, por mais que esta seja uma obra inventada, ela se ancora em sentimentos que todos conhecemos: medo, dor, coragem, desejo, esperança e amor. Desejo que cada página desperte em você não apenas curiosidade, mas também emoção. Que ao final , reste a compreensão de que, às vezes, a paz pode nascer justamente nos lugares mais improváveis. E que o amor , ele sempre é capaz de desafiar até os cenários mais hostis .
Este é o meu prefácio. Esta é a porta de entrada para a jornada de Tenebroso, Caio e Lara. Espero que você aceite atravessá-la comigo, com o coração aberto, disposto a sentir e a refletir.
Boa leitura e beijos no coração .
Dan Souza