Capítulo 12: Fantasmas do Passado

1121 Words
Alessandro Volkov O bilhete ainda ardia entre meus dedos, a caligrafia firme de Sergei destilando veneno em cada palavra. O nome de Liandra parecia latejar, pulsando como uma ferida aberta em minha memória — antiga, mas nunca cicatrizada. Senti Olivia me observando, olhos atentos, como se pudesse enxergar através da máscara de controle que me esforcei tanto para manter. Eu quis esconder o impacto, quis ser frio, implacável, como sempre fui. Mas minha mão tremia. O eco de Liandra em meu peito me roubava o ar. O passado retornava, c***l, e se misturava ao presente de forma sufocante. — Alessandro… — a voz de Olivia quebrou o silêncio, suave, mas cheia de receio. — Quem era Liandra, de verdade? Soltei um riso curto, sem humor, forçando um sorriso que não alcançou meus olhos. Cruzei os braços, afastando-me da janela do quarto. O sol tentava entrar pelas cortinas, mas a sombra era mais forte ali dentro. — Liandra foi… tudo e nada ao mesmo tempo, — confessei, a voz rouca. — Ela foi minha perdição. Minha fraqueza. E, talvez, a única mulher que realmente me desafiou. Senti Olivia se aproximando, a hesitação nas passadas. Ela tocou minha mão, e aquele gesto simples foi como um soco de realidade. — E eu? — ela perguntou, quase num sussurro. — Também sou sua fraqueza? Havia sinceridade na pergunta, mas também medo. Medo de ser descartada, de ser só mais um nome no rastro dos meus erros. Fiquei em silêncio por longos segundos. Quis mentir, dizer que não, que ela não tinha poder algum sobre mim. Mas o gosto amargo da verdade me queimou a língua. — Você é muito mais do que isso, Olivia. É minha necessidade. É o que me mantém acordado à noite, o que me obriga a perder o controle. A confissão pairou entre nós, densa e eletrizante. Ela ergueu o queixo, os olhos brilhando de desejo e de dúvida. A proximidade entre nossos corpos era perigosa, quase intolerável. — Então me mostre, — ela provocou, voz baixa e carregada de desejo. — Me mostre que ainda está vivo. Que o passado não é tudo o que restou em você. Não precisei de mais incentivo. Puxei-a para mim com força, os dedos cravando sua cintura, exigindo sua entrega. Nossos lábios se encontraram em um beijo selvagem, urgente, carregado de necessidade — não só de prazer, mas de provar que eu não era feito só de cicatrizes. Ela respondeu com a mesma intensidade, os dedos puxando meu cabelo, as unhas marcando minha nuca. — Você quer ser minha, Olivia? — murmurei entre beijos, a voz rouca de comando. — Mesmo sabendo do que sou feito? Ela gemeu, os olhos fechados, os lábios roçando meu queixo. — Quero… Só quero você agora. Não o passado. Só o homem que está aqui. — Então se entregue, — ordenei, pegando-a nos braços e levando-a até a cama, a urgência nos movendo juntos. Deitei-a entre os lençóis e desfiz cada peça de roupa como quem reclama propriedade, arrancando suspiros, arrastando minhas mãos com intensidade pela pele quente. Ela me olhou, vulnerável e desafiadora ao mesmo tempo, e foi essa mistura que me enlouqueceu. Prendi seus pulsos acima da cabeça, segurando firme. Os olhos dela se arregalaram, mas havia desejo, não medo. Meu corpo se encaixou ao dela, sentindo cada curva, cada tremor de expectativa. — Diga que você é minha, — exigi, mordendo o lóbulo de sua orelha, a voz áspera de desejo. — Sou sua, Alessandro — ela gemeu, sem hesitar. — Só sua. Aquela submissão voluntária acendeu algo ainda mais sombrio em mim. Passei os dentes por seu pescoço, marcando, saboreando o poder e a entrega, mas sentindo, ao mesmo tempo, a fragilidade de ambos. Ela se arqueou sob meu corpo, pedindo mais, e eu atendi, movendo-me dentro dela com intensidade, devorando cada gemido, cada súplica, cada palavra dita no escuro. — Assim, Olivia… — rosnei, os quadris acelerando, a pegada firme nos pulsos. — Quero você sentindo cada parte de mim. Quero que lembre que é minha, mesmo quando fechar os olhos. Não há passado que apague o que você é para mim agora. Ela se soltou em meus braços, a respiração entrecortada, os músculos tremendo, e eu me permiti seguir junto, despencando no abismo que era ter alguém para chamar de meu. Ficamos juntos ali, os corpos entrelaçados, o suor colando nossa pele, e, por um breve momento, tudo parecia em paz. Mas a paz era um luxo que eu não podia me permitir. Me levantei da cama e caminhei até a janela, nu, a cabeça fervilhando de lembranças. O cheiro de Olivia, o gosto de sua pele, a doçura de sua entrega — tudo isso se misturava à dor que Liandra ainda causava. Eu era um homem dividido, forjado pela culpa e pelo desejo de proteção. Por que Sergei insistia em me lembrar daquela tragédia? Por que precisava ferir Olivia para me atingir? Enquanto me perdia nesses pensamentos, ouvi o som discreto do meu celular vibrando. Peguei o aparelho, já com o estômago apertado de mau pressentimento. Uma mensagem anônima. Sem texto. Apenas um anexo. Abri. Meu sangue gelou. Na tela, a foto de Liandra, aquela mesma expressão de desafio e vulnerabilidade, mas atrás dela um endereço — um letreiro antigo de hotel barato no centro, um lugar que eu conhecia bem. Era ali que tudo havia começado anos atrás. Era ali que Sergei me forçara a fazer escolhas impossíveis. Senti o peso da ameaça clara, o passado escorrendo por entre os dedos, pronto para se tornar presente mais uma vez. Minha mente disparou em alerta, calculando cada possibilidade, cada armadilha que Sergei poderia estar montando. — O que foi? — Olivia perguntou atrás de mim, ainda ofegante, a voz hesitante, mas preocupada. Virei-me para ela, tentando conter o pânico, tentando vestir a máscara de aço. — Recebi uma mensagem… É sobre Liandra, de novo. Sergei quer me levar para onde tudo começou. Ela veio até mim, envolveu minha cintura com os braços, e encostou a cabeça em meu peito. — Você não está sozinho — murmurou, como se pudesse curar séculos de solidão com uma frase. Abracei-a com força, sentindo uma dor antiga, uma necessidade feroz de protegê-la de tudo e de todos — inclusive de mim mesmo. Mas dentro de mim, uma certeza crescia como uma doença: Sergei não tinha terminado. Não enquanto existisse uma ponta de fraqueza para explorar. Não enquanto o passado continuasse vivo nos meus olhos — e agora, nos olhos de Olivia também. Eu precisava decidir se enfrentaria esse fantasma, ou se, mais uma vez, alguém inocente pagaria o preço pelo meu desejo de dominação. E, pela primeira vez, temi não estar pronto para escolher.
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