Capítulo 31: Estratégias de Contenção

1060 Words
Alessandro Volkov Há um momento, após a tempestade de revelações e traições, em que o silêncio se torna ainda mais aterrador do que os gritos. Depois de flagrar Olivia saindo para encontrar Arthur na cafeteria privativa, vi o vírus do ciúme envenenar minha razão. O que antes fora proteção passou a parecer marcação de território; cada gesto de carinho disfarçava um comando velado; cada recado, um lembrete do meu poder. Para salvá-la de si mesma — e afastar as investidas de Arthur — eu precisava declarar: “Ela é minha”. Envio de e-mail Às oito e quinze da manhã, enviei a toda a equipe um comunicado oficial, lacônico e impositivo: “Assunto: Procedimentos de interação entre equipes Prezados, a partir de hoje, toda comunicação entre membros de diferentes diretorias deverá passar por autorização prévia da secretaria executiva. Objetivo: otimizar o fluxo de informações e evitar ruídos operacionais. Solicita-se estrita observância e colaboração. Atenciosamente, Alessandro Volkov CEO” O texto soava frio, corporativo, mas eu circulava o rascunho mentalmente, sentindo o humor n***o de quem fechava o cerco: era a minha aliança contra Arthur. Ao clicar em “Enviar”, imaginei os olhares apreensivos de todos, inclusive o de Olivia, que recebeu a notificação enquanto digitava relatórios. Acredito piamente que a disciplina fortalece a proteção — mas confesso que, no fundo, rasgava meu coração percebê-la contrita. Bilhete Confidencial Mais tarde, sem cerimônia, deslizei um cartão impresso à mão na bolsa de Olivia, enquanto ela revisava os índices de performance no open space. Ela não viu o papel cair; apenas eu soprei: “Encontro extraordinário: 12h30, sala de reuniões 5. Pauta: estratégia de proteção. Assuma presença imprescindível.” O cartão apareceria como urgência profissional — mas, para mim, era um pretexto para mantê-la perto, longe de Arthur. Observei o leve tremor em suas mãos quando encontrou o bilhete, os olhos mergulhando num misto de apreensão e curiosidade. Uma faísca sombria me disse que havia mexido em sua rotina mental — e meu leve sorriso malicioso selou minha satisfação. Reunião de Última Hora Assim que o relógio bateu 12h20, convidei os outros diretores para uma discussão improvisada. Enfiei um tablet na mão de Olivia: — Por favor, apresente seus pontos aqui. A sala de reuniões 5, de paredes cinza e mesa de concreto, se encheu de olhares curiosos. Arthur entrou pouco depois, curioso, e encontrou Olivia no centro das atenções. — O que houve? — perguntou, estendendo-se para lhe tocar o braço. Sorriindo de gentileza, ela apenas inclinou o corpo em demonstração de foco. Eu a via em ângulo privilegiado, sentado na cabeceira, braços cruzados, o terno alinhado sem uma ruga. — Estamos revisando as diretrizes de segurança — sentei-me à cabeceira. — Em virtude do recente incidente de invasão digital, agravado por nossa vulnerabilidade durante o acesso a arquivos confidenciais, julguei necessário esse alinhamento. Arthur arqueou as sobrancelhas, notando que era designado… — Com licença — sussurrou-me, voz baixa —, a pauta era outra? Sorri sem abalar a compostura. — Sempre evoluímos as normas — destaquei, em tom formal. — Olivia, prossiga. Ela recitou números, gráficos e propostas com desenvoltura, mas seus olhos me procuravam a cada frase, procurando abrigo sob minha proteção. Arthur tentou intervir, mas interrompi suavemente: — Aguardaremos seu parecer final, Arthur. — Fixei-o com um olhar que não admitia objeções. O rosto de Arthur transformou-se num sorriso contido de quem se sente excluído. Eu sabia que minhas estratégias funcionavam como muralhas erguidas entre Olivia e ele. Proteção Pessoal Na saída, escolhi não liberá-la para sozinha. Convoquei nosso chefe de segurança, um ex-militar chamado Pavel, e pedi que acompanhasse Olivia até o estacionamento. Ao vê-la entrar no carro blindado, senti um misto de orgulho possessivo e alívio. Era uma pequena vitória no meu jogo de poder. Jantar Particular À noite, convidei Olivia para um jantar particular em minha cobertura. Quando ela chegou, vi nos olhos dela o cansaço de tentar agradar dois senhores. Dirigi-me a ela com um copo de vinho tinto: — Precisamos conversar. Olhos castanhos fixaram-se nos meus. — Sobre hoje — disse ela —, senti que perdi autonomia. O humor n***o me escapou: — Autonomia? — repeti, sorrindo com impertinência —, entregue ao cuidado de seu CEO, não há autonomia, mas salvaguarda. Os lábios dela se entreabaram, raiva contida e frustração naquele olhar. Agarrei suavemente seu rosto: — É apenas minha maneira de proteger quem amo. Mas quisera dizer: para dominar. A possessividade latejava em minhas veias, misturada à necessidade de tê-la exclusivamente aos meus pés. Reflexão Sombria Depois do jantar, a conduzi à sala de estar, com poltronas de couro e luz tênue. Apontei para o aparelho onde monitorávamos câmeras de segurança: — Veja, o prédio está vigiado em tempo real. Qualquer movimentação suspeita é sinalizada. Ela observou os monitores, visivelmente aliviada. — Obrigada — murmurou. — Mas parece… demais. Sorri, num tom quase satisfatório: — Às vezes, o exagero salva vidas. Ela assentiu, recolhendo o casaco. Meu ciúme se misturou à culpa, mas eu sabia que seria compensado pela ternura de seu abraço quando me dirigi ao quarto. Humor n***o Enquanto a via de costas, ajeitando o vestido, sorri para mim: “Proteção ou prisão?” “Bem, prisioneiro feliz.” E no tom formal de um ditador gentil, desejei: “Durma bem, minha prisioneira favorita.” Confronto Interno No leito, a luz da lua ecoava pelo vidro. Eu a puxei para perto: — Prometo que nunca vou te sufocar — sussurrei —, mas não descansarei enquanto você não estiver a salvo. Ela apoiou a cabeça no meu peito e fechou os olhos, mas eu percebia a insegurança nos lábios comprimidos. — Eu confio em você — disse ela, voz trêmula. O amor controlado latejava como pólvora, e eu soube: minhas estratégias de contenção eram uma espada de dois gumes. Salvavam-na de ameaças reais, mas também podiam ferir sua liberdade. Reflexão Final Deitei-me pensando nos sussurros de Sergei: “Você é meu mestre e meu escravo num só corpo.” Eu ri, mas o riso soou seco: — Que jogo perverso, meu caro. Mas não será você a ditar as regras. Entre sobressaltos de ciúme e flashes de ternura, acabei adormecendo com um último pensamento: manter Olivia a salvo custe o que custar — mesmo que, para isso, precisasse cercá-la com correntes invisíveis de meu próprio amor.
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