Alessandro Volkov
Rumores vindos dos tentáculos de Sergei sussurravam no ar: haveria um novo movimento, uma nova investida contra Olivia e, por extensão, contra mim. Aquilo era inaceitável. Em minha cobertura de vidro, revisei os registros de chamadas dos últimos dias — cada toque em seu celular, cada mensagem enviada e recebida, tudo mapeado para detectar padrões. Quando notei um número desconhecido que surgira exatamente às 2h17 da madrugada, desencadeei o protocolo de rastreio imediato: identificação do proprietário, localização da torre de celular, até o trajeto do veículo que o titular conduzia. Ninguém se aproximaria de Olivia sem que eu soubesse.
Na manhã seguinte, despedi-me de meus executivos com um aceno cortês:
— Transferi a conta de celular da senhora Hayes para um plano corporativo, com monitoramento. Qualquer chamada suspeita será encaminhada a mim.
Os olhos deles se arregalaram. Eu percebi, por trás dos sorrisos de obediência, a tensão de quem sabia que eu não brincava. Ciúme? Talvez. Mas, em minha mente, aquilo era “proteção”.
À tarde, organizei uma patrulha discreta no condomínio de Olivia. Autorizei dois seguranças particulares a circularem em viaturas uniformizadas, inspecionando toda entrada de visitantes. Entreguei ao síndico um lote de crachás novos, pessoais e sem possibilidade de cópia.
— Quem chegar sem crachá — determinei — será imediatamente escoltado para dentro do carro e questionado.
Quando Olivia recebeu o informativo via e-mail corporativo, notei nos olhos dela o brilho de gratidão misturado à apreensão. Uma parte minha sorriu por tê-la protegido; outra se contorceu ao notar sua insegurança.
O boato seguinte chegou pela assistente dela: “S. Volkov, o CEO, estaria oferecendo à senhora Hayes um fim de semana num local isolado para ‘recarregar as energias’”. Convidei-a para minha casa de campo, longe das luzes da cidade e dos “hasteios” de Sergei.
— Quero que descanse — disse em meu tom mais suave, ao buscá-la no heliponto corporativo. — Sem redes, sem chaves de acesso, apenas nós.
Ela hesitou, recordando meus protocolos de horários marcados, mas assentiu. O helicóptero rasgou o crepúsculo, e eu senti o prazer obscuro de controlar não só seu destino, mas cada batida de seu coração.
Ao pousar, conduzimo-nos ao chalé de madeira encravado entre pinheiros. A brisa pungente exalava pinho e solidão — o esconderijo perfeito.
— Livre de tudo — prometi, segurando sua mala de couro. — Ninguém nos acha aqui.
Olhos castanhos brilharam num misto de esperança e receio.
A lareira crepitava no centro da sala principal. Puxei-a para perto e abri o botão do seu casaco de pelúcia. O toque dos meus dedos na pele macia do pescoço fez seus joelhos tremerem.
— Obrigada por… me proteger — ela sussurrou, a voz trêmula.
Coloquei as mãos em sua cintura e a ergui contra mim, deslizando a blusa e a calcinha num movimento só. Senti o corpo dela se acomodar ao meu, o calor urgente pulsando em cada centímetro. Deitei-a sobre um tapete felpudo, arrastando os lençóis de seda até a lareira crepitar contra a madeira.
Sem hesitar, mergulhei a língua entre seus lábios, dominador e faminto. Desci pelos sulcos de seu pescoço, marcando cada batida de veia. Ela gemeu e arqueou o corpo, como se buscasse minha entrada. Desamarrei seus pulsos acima da cabeça, prendendo-a no couro do edredom.
Entrei nela com força, cada investida rubricando a promessa de frenesi e controle. O som de nosso sexo explodia na solidão do chalé: pele contra pele, gemidos contracenando com o crepitar da lareira. Ela se prendia a mim — não havia alívio, apenas a urgência de pertencer.
— Alessandro… — ela gemia, voz embargada.
— Diga que me precisa — rosnei, a voz áspera de desejo.
— Preciso… de você — ela sussurrou, corpo trêmulo.
O orgasmo veio brutal, nossos corpos se uniram numa explosão de luxúria e cumplicidade. Eu a segurei, ofegante, o suor unindo-nos num véu de sombra e calor.
No silêncio que se seguiu, ela deitou a cabeça em meu peito, e senti nas mãos o tremor que nascera da minha possessão. Observá-la segura não me satisfazia totalmente: a cada ato de proteção, meu ciúme crescia, reforçando a necessidade de controlar cada respiração dela.
— Eu te pergunto — falei, encarando o fogo e o corpo dela —, isso faz você se sentir livre?
Seus dedos enrugavam o tecido do meu paletó.
— Não sei mais — confessou, voz embargada. — Você me protege… mas também me prende.
A agonia do dilema afundou minhas costas na madeira do chão. Eu, que me orgulhava de sempre garantir sua segurança, percebia que meu veneno era duplo: mantê-la viva e sufocá-la de uma só vez.
— Eu… só quero você segura — tentei, num sussurro.
— E se isso me afastar de você? — ela perguntou, olhos úmidos.
A fogueira era nossa única testemunha. Vi minha sombra dançar na parede, largo e castigado. Acertei o tom grave:
— Então enfrentaremos isso juntos. — A promessa saía firme, mas carregada de manipulação. — Eu aprenderei a… soltar o controle.
Ela sorriu, exausta mas apreensiva.
— Espero que sim — murmurou. E encostou a testa na minha.
No silêncio do chalé, sob o crepitar da lenha, percebi que, para protegê-la, teria que aprender a conviver com meu próprio ciúme — domá-lo, ao contrário de sufocá-la. Porque, se não o fizesse, mesmo em um paraíso isolado, as correntes invisíveis do meu amor a manteriam prisioneira.