Capítulo 35: Revelações Incontidas

1217 Words
Alessandro Volkov O relógio marcava pouco depois das oito quando percebi Olivia discretamente deslizar pela porta principal da empresa. Meus olhos estreitaram-se imediatamente, o instinto predatório disparando em meu peito. A rapidez com que ela se afastou, evitando contato visual com qualquer pessoa, me alertou que algo não estava certo. A sombra da dúvida sussurrou em meu ouvido, relembrando-me dos recentes encontros entre ela e Arthur. A fúria silenciosa borbulhava, fervendo sob a superfície aparentemente calma do meu autocontrole. Levantei-me num impulso, abotoando o paletó com firmeza. Não precisava confirmar meus piores temores para saber que Olivia estava escapando de mim. Segui-a discretamente pelas ruas escuras, as luzes dos postes iluminando meu caminho enquanto meu coração batia forte em ritmo de antecipação e desconfiança. Meu celular vibrava em minha mão—chamadas corporativas ignoradas, irrelevantes diante da urgência de descobrir onde ela estava indo. Acompanhando-a à distância segura, percebi que Olivia parou diante de um restaurante pequeno, escondido entre prédios históricos e antigos postes ornamentais. Uma fachada modesta, iluminada por luzes douradas e convidativas, era exatamente o tipo de local íntimo e privado que eu detestava: romântico, acolhedor demais. Minha mandíbula se apertou involuntariamente. Parei em frente a uma vitrine lateral, observando-a discretamente através das janelas enevoadas. O coração apertou-se dolorosamente ao vê-la sentada numa mesa de canto, acompanhada por ninguém menos que Arthur, o sorriso dele irritantemente acolhedor. Meu sangue ferveu instantaneamente, as mãos cerrando-se em punhos enquanto observava-os conversar em tom baixo e amigável. O ciúme—esse velho amigo perverso—rasgou minha serenidade em pedaços. Respirei fundo, tentando manter algum resquício de controle. A ironia c***l da situação não me escapava: eu, Alessandro Volkov, CEO implacável, mestre em controlar variáveis e prever movimentos, estava ali, na rua escura, espionando minha própria mulher como um amante traído. — Patético — murmurei para mim mesmo, uma risada amarga escapando por meus lábios. Olivia ergueu o rosto naquele momento, como se pudesse sentir meu olhar predatório perfurando a distância. Por um instante, nossos olhos se encontraram através do vidro, e percebi seu choque imediato ao me reconhecer. Seu sorriso desapareceu, os olhos arregalados em um misto de culpa e medo. Vi sua mão tremer levemente, os lábios se abrindo num suspiro silencioso. Sem pensar, entrei abruptamente no restaurante, a campainha soando alto o suficiente para interromper várias conversas paralelas. Caminhei diretamente até a mesa, cada passo firme e calculado, a tensão crescente espalhando-se pelo ambiente. Arthur percebeu-me primeiro. Seu rosto empalideceu, o sorriso amigável derretendo-se em preocupação imediata. Ele levantou-se rapidamente, tentando conter a situação antes que eu chegasse. — Alessandro — começou ele, a voz controlada, porém visivelmente nervosa. — Não é o que você está pensando. Sorri friamente, a ironia escorrendo em cada palavra. — Curioso, Arthur. Você sempre presume saber o que estou pensando. Olivia ergueu-se em seguida, encarando-me com desafio e angústia. — Alessandro, por favor... — sua voz tremia, uma súplica quase inaudível. Virei-me para ela, o olhar frio e possessivo, cada palavra carregada de fúria contida. — Comigo. Agora. Sem esperar resposta, segurei seu braço suavemente, mas com firmeza suficiente para demonstrar controle, guiando-a para fora do restaurante. Arthur apenas observava impotente, suas mãos tremendo ao retornar ao assento vazio. Na rua escura e vazia, o silêncio entre nós explodiu em tensão. Olivia se soltou bruscamente de meu aperto, virando-se para me enfrentar. Seus olhos brilhavam sob a luz pálida da rua, refletindo o tumulto de emoções em seu interior. — Por que você não me deixa respirar? — questionou ela, a voz tremendo com revolta. — Por que precisa estar sempre no controle absoluto? Minha garganta apertou-se com a dor profunda causada por suas palavras. — Porque preciso protegê-la, Olivia! — exclamei, o tom áspero. — E porque você é minha! Ela deu um passo para trás, uma expressão cansada de mágoa e raiva estampada no rosto. — Você não me protege, Alessandro. Você me prende. Você me força a fugir! Suas palavras atingiram-me como um golpe físico. Respirei fundo, tentando controlar o instinto de dominá-la ali mesmo, naquela rua deserta, e fazer com que ela entendesse, à força se necessário, que eu apenas tentava mantê-la em segurança. — Você não percebe? — prossegui, suavizando a voz com esforço. — Tudo o que faço é por você. Ela riu, amarga e incrédula. — Por mim ou por você mesmo, Alessandro? Pelo seu ego, pelo seu medo de me perder, pela sua obsessão em controlar tudo à sua volta? — Sim! — rebati, minha voz ecoando pelas ruas vazias. — Tudo isso, Olivia! Ego, medo, obsessão. Chame do que quiser. Mas não admitirei que você me humilhe com ele. Ela aproximou-se lentamente, o rosto agora próximo ao meu, o brilho nos olhos mais suave, mas ainda firme. — Você me empurra para longe. Quanto mais me aperta, mais preciso fugir. É isso que você quer? Meu peito doeu violentamente, tomado por um conflito interno insuportável. Não era aquilo que eu desejava. A ideia de perdê-la era insuportável. — Não — admiti finalmente, o tom mais baixo, vulnerável pela primeira vez. — Não quero que você se vá. A rua permanecia silenciosa, a bruma fria envolvendo nossos corpos tensos. Olivia fechou os olhos por um instante, respirando fundo antes de voltar a me encarar. — Então me deixe escolher estar aqui. Não porque você exige, mas porque eu quero. Balancei a cabeça lentamente, absorvendo suas palavras. Meu controle estava em xeque, minhas estratégias desmoronavam diante de sua sinceridade crua. — Eu não sei como fazer isso — confessei em voz baixa, o orgulho ferido. — Não aprendi a perder o controle, Olivia. Ela tocou suavemente meu rosto, num gesto tão gentil que quase fez meu coração parar. — Talvez seja hora de aprender, Alessandro. O silêncio entre nós durou vários segundos, interrompido apenas pela passagem ocasional de carros ao longe. Puxei-a então para mim num abraço brusco, possessivo e desesperado, sentindo seu corpo contra o meu, a respiração dela acelerada pela emoção. — Não me faça passar por isso novamente — murmurei em seu ouvido, a voz carregada de ameaça e vulnerabilidade entrelaçadas. — Não tolerarei dividi-la. Ela suspirou contra meu peito, a resistência cedendo lentamente à minha presença. — Então não me force a precisar fugir de você. Olhei para o céu escuro acima, a ironia amarga voltando a surgir em minha mente. — Você realmente sabe como destruir um homem, Olivia — murmurei com humor sombrio. — Um homem tão forte e tão fraco ao mesmo tempo. Ela ergueu o rosto, um sorriso triste brotando em seus lábios. — E você sabe como me fazer amá-lo e odiá-lo ao mesmo tempo. Soltei uma risada baixa, rouca. — É justo, então. Em silêncio, caminhamos de volta ao carro que aguardava, a tensão entre nós ainda palpável, mas transformada em algo mais profundo, mais complexo. Naquele momento, percebi que, embora fosse o senhor incontestável do meu mundo, Olivia possuía o poder absoluto sobre mim. Enquanto dirigíamos para casa, percebi que, se quisesse mantê-la, teria que encontrar uma maneira de deixar escapar, aos poucos, o controle rígido que tanto me definia. Mas será que eu conseguiria? Uma parte c***l de mim, no escuro da minha consciência, respondeu com ironia sombria: A única coisa que você não controla, Alessandro, é o coração dela.
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