cap 03 partiu baile

929 Words
Rayssa... Tô eu aqui, bem linda me arrumando pro baile. Um sabadão desses... nada como um bailão, né, gatas? Gosto muito, quê? Trabalho pra c*****o, mereço demais um descanso. E nada como curtir um bailinho aqui na quebrada — adoro! As colegas já tão tudo me acionando no grupo do w******p, doidinhas querendo patrocínio. Acha que sou boba, tadinhas. Aqui é assim: se tu é filha, mulher ou tem qualquer vínculo com algum bandido, as monas já caem em cima no dia do baile pedindo mimos. Amor, se tu não for esperta, as cobrinhas montam em cima de tu rapidinho. Mas aqui não, amor. Em terra de sereia, p*****a não vive. Como eu sempre digo: sou cria de dona Andressa. Aqui não tem otária não, ram... Fica esperta. Respondi só quem eu quis: o viado e minha prima — as únicas que eu faço agrado. O resto, só mando tomar no cu e tá tudo certo. Também não vou pagar de sonsa e dizer que confio, porque eu não confio nem em mim mesma, quem dirá nos outros. Nesse mundo, ninguém é amigo de ninguém. O mesmo que te ajuda de manhã, te apunhala à noite. Confiança? Não tenho, não. Minha única amiga é minha mãe. O resto é, no máximo, colega. Terminei de ajeitar meu cabelo e me olhei no espelho. Meus cachinhos tão tão lindinhos, cara... Coisa mais rica de mamãe! Nem parece que até outro dia eu tava carequinha. Careca mesmo, sem um fio de cabelo na cabeça. Quê? Tu não sabe dessa história? Ram... Fui inventar de ir pra favela inimiga, minha filha. Pra quê? Um erro. Mas nem foi na maldade, sabe? Fui na onda de “amigas”, nem sabia que era área rival. Fui toda me sentindo, primeira vez saindo de casa escondida, pisando numa favela diferente, sem meus pais. Só sei que assim que pisei no baile, os caras descobriram quem eu era e tive que sair no pinote. Também, né? Filha e afilhada de traficante conhecida pra caralho... pisando em área dos inimigos? Tava pedindo, né? Ram... deu merda. Muita merda. Só consegui sair de lá com ajuda de um aliado do meu padrinho. Por sorte não morri, garota. Mas tomei um esculacho bonito quando cheguei. Além da surra, ainda tive que ficar careca no final. Mesmo explicando que não sabia de nada, com bandido não tem essa. Fui pro desenrolo igual qualquer um. Não importava de quem eu era filha. E olha... só não deu mais r**m porque meu padrinho segurou a bronca. Senão, Deus sabe o que podia ter acontecido. Nem meu pai, nem meu padrinho puderam se meter — senão iam acabar pegando leve, e isso não era o certo. E as "amigas"? Foram encontradas mortas num valão aqui atrás do morro no dia seguinte. Mas não foram os daqui não, foram os de lá. Deus me livre se tivessem me pego também. Mas serviu de lição. Depois disso, nunca mais confiei em ninguém. Fui pra frente do espelho e fiz uma maquiagem bem linda, do jeitinho que eu gosto. Tenho que aproveitar, né? Não é todo dia que o Filipe Ret vem aqui. Vai que hoje é minha chance? Já peguei uns MCs que vieram fazer show aqui, mas nenhum que eu gostasse tanto assim. O mais famoso foi o MC Cabelinho. E aí? Que homem gostoso! Fode como ninguém e ainda é um amor. Tenho até foto com ele, só queria um tbt. Pro look, escolhi um short-saia branco e um cropped vermelho que ganhei de presente de uma prima. Nunca tinha usado e hoje resolvi usar. Coloquei meus acessórios, passei meu 212 VIP Rosé e finalizei tudo. Ontem fui no salão fazer a manutenção da fibra e a unha do pé. Restaurei até a dignidade. Calcei meu salto 15 transparente e tirei umas fotinhas no espelho — só pra deixar salvo no telefone e, quem sabe, postar mais tarde. Peguei minha bolsa e coloquei o necessário: dinheiro, cópia da identidade, Trident de melancia e meu celular. Coloquei também o gloss vermelho que eu tava usando. Verifiquei o look mais uma vez no espelho, aproveitei que tava gata e saí do quarto indo pra sala. Meus pais já tavam lá me esperando, depois de gritar horrores e perturbar minha mente. Rayssa: Ih, c*****o, já cheguei! Chatões vocês, hein? Posso nem ter paz pra me arrumar. — Resmunguei saindo de casa e indo pro carro do meu pai. Andressa: Quer paz, vai pro cemitério, amor. — debochou entrando no carro. Eu revirei os olhos e bufei. O erro essa mulher, cara, que raiva! Andressa: Bufa pra mim não, hein? Vou fazer tu engolir teus dentes com um soco só. Ricardo: Ih, começa não, hein, vocês duas. Se continuar, nem saio de casa. Vou trancar vocês duas nessa p***a! — falou já puto, ligando o motor e partindo pro baile. Eu e minha mãe só rimos da cara dele. Coitado, acha que tem moral. Andressa: Se toca, Ricardo. Homem velho desse... toma no cu, rapá. O resto do caminho foi só gastação. Amo demais meus coroas, cara. Não vivo sem. Papo reto. Como hoje é dia de baile, minha irmã fica com a minha avó pra eles curtirem um pouco. Rafaela come o juízo da véia, e ela nunca demora mais de três horas pra ligar pro meu pai pedindo resgate da capetinha — mas pelo menos eles se divertem um pouco. Nem precisava ir de carro, o baile é pertinho. Mas eu sou sedentária, Maria gasolina e tô de salto. Subir morro? Não tô louca.
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