A Cobrança de Sangue

1200 Words
O carro de Lorenzo cortava a estrada estreita, iluminada apenas pelos faróis. Amira permanecia imóvel no banco de trás, o olhar perdido, tentando compreender a realidade que a engolia. Cada curva fazia o estômago dela se revirar. Cada sombra na estrada parecia esconder perigo. Lorenzo, à frente, não dizia uma palavra. O silêncio dele era mais ameaçador do que qualquer grito. Dante Russo dirigia o segundo carro, observando a garota pelo retrovisor com cautela. A tensão era palpável. Amira finalmente quebrou o silêncio. — Por que… por que está fazendo isso comigo? — Sua voz tremia, misturando medo e raiva. Lorenzo desviou os olhos da estrada apenas por um instante, encarando-a pelo espelho retrovisor. — Porque seu pai me deve. — Ele respondeu de forma seca, sem emoção. — Você é a moeda de troca. — Isso é… é c***l! — Amira tentou recuar, mas o cinto de segurança a mantinha presa. — Sou só uma garota! Não tenho nada a ver com isso! — Uma garota pode ser útil. E você será, — respondeu ele, deixando escapar um sorriso que não chegou aos olhos. — Além disso… sempre há prazer em ensinar alguns limites. Amira engoliu em seco. Ela já tinha ouvido histórias de Lorenzo. Homens que sumiam, mulheres que desapareciam, vidas destruídas. Cada palavra de advertência agora se materializava diante dela. Eles chegaram a um prédio antigo, nos limites da cidade, aparentemente abandonado. Um depósito de tijolos expostos, portas de ferro, janelas protegidas com grades. Lorenzo desceu do carro primeiro. Seus passos eram firmes, decididos, e Amira percebeu que qualquer resistência era inútil. Dante abriu a porta do banco de trás e ajudou Amira a sair. Ela tentou se debater, mas um toque de Lorenzo no ombro a imobilizou como se fosse feita de gelo. — Vamos. — Sua voz era um comando. — Sem gritos. Sem movimentos bruscos. Ela tentou olhar para os lados, procurando alguma forma de fuga, mas não havia nenhuma. O depósito se abria à frente como um castelo sombrio. Ao entrar, o cheiro de óleo e metal velho tomou conta do ar. Lorenzo a guiou até uma sala central, iluminada apenas por uma lâmpada pendurada, que balançava levemente, projetando sombras inquietantes nas paredes. — Sente-se — ordenou, apontando para uma cadeira simples no centro da sala. Amira se recusou, mantendo-se firme. — Eu não vou me sentar! — disse, firme. — Eu não sou um… um objeto! Ele se aproximou dela lentamente. Cada passo dele parecia ecoar como uma sentença. — Um objeto? — repetiu Lorenzo, com a voz baixa e cortante. — Talvez não. Mas alguém que precisa aprender a obedecer às regras de quem manda neste mundo… sim, você vai sentar. Amira respirou fundo, sentindo o medo e a adrenalina se misturarem. Tentou pensar em um plano, em uma maneira de escapar, mas a força dele era esmagadora. Ela percebeu que cada movimento poderia ser usado contra ela. — Eu não… — começou, mas ele interrompeu com um gesto frio da mão. — Shh… — disse Lorenzo, aproximando-se ainda mais. — Não tente me enganar. Eu não brinco. Não com dívidas, não com ameaças e, principalmente, não com quem me pertence agora. Ele a fez sentar à força, e Amira sentiu a cadeira fria sob o corpo. O olhar de Lorenzo nunca a deixou, penetrando como se estivesse tentando ler cada pensamento, cada medo, cada fraqueza. Dante fechou a porta atrás deles, e o eco do trancar de ferro fez o coração de Amira disparar. Ela estava sozinha com Lorenzo, em um lugar desconhecido, e sentia que qualquer movimento poderia ser fatal. — Você tem algum plano, garota? — Ele perguntou, um leve sorriso curvando os lábios. — Alguma ideia de como escapar? — Eu… eu vou fugir! — disse ela, tentando parecer confiante, mas a voz tremia. — Eu espero que sim — murmurou ele, quase divertido. — Mas saiba que todos os planos que vi até hoje terminam do mesmo jeito: você em minha mão. Amira percebeu a realidade brutal: não havia fuga. Cada história que ouvira sobre Lorenzo agora se confirmava. Ele não era apenas um homem frio; era a personificação do medo. A noite avançava, e o silêncio dentro do depósito só era quebrado pelo zumbido da lâmpada. Amira se sentou, tentando controlar a respiração, enquanto Lorenzo permanecia em pé à sua frente, cruzando os braços. — Você é corajosa — disse ele finalmente. — Coragem é algo que admiro… quando é usada na hora certa. Amira o encarou, sentindo um misto de raiva e medo. — Eu não tenho escolha! — retrucou. — Você é louco! — Louco? — repetiu ele, inclinando-se ligeiramente. — Talvez. Mas minha loucura tem regras. Uma delas é que dívidas nunca ficam impagas. Amira sentiu seu estômago se contrair. Ela pensou nos pais, na família, em sua vida antes daquela noite. Tudo parecia distante, quase impossível de alcançar. E no fundo, uma verdade dolorosa emergia: sua vida nunca mais seria a mesma. Lorenzo deu um passo mais próximo, diminuindo a distância entre eles. O cheiro de charuto e couro se misturava ao ambiente pesado, e Amira sentiu uma onda de pavor misturada a algo que ela não sabia nomear. — Você quer que eu vá embora? — perguntou ela, com a voz mais baixa, quase um sussurro. — Não — respondeu Lorenzo simplesmente. — Você vai ficar aqui… até que a dívida do seu pai seja quitada. Ele girou sobre os calcanhares e sinalizou para Dante abrir a porta de uma sala lateral. Um quarto improvisado estava ali, simples, mas seguro, com uma cama, uma mesa e cadeados robustos na porta. — É aqui que você ficará — disse Lorenzo, seu tom de voz frio como gelo. — É confortável, mas não confunda isso com liberdade. Amira entrou, e a porta se fechou atrás dela. O barulho do trancar ecoou como um golpe. Ela se sentou na cama, sentindo a realidade esmagadora se instalar. Horas se passaram, e nenhum som além do vento nas janelas quebradas quebrava o silêncio. Amira tentava pensar em algo — qualquer coisa — para escapar, mas cada plano se dissolvia diante da força implacável de Lorenzo. Do lado de fora, ele observava através de câmeras de segurança. Cada movimento, cada tentativa de fugir, cada expressão de medo ou desafio era registrada. Ele não mostrava sinais de afeto, mas uma parte dele se agitava de forma involuntária ao observar Amira. Ele se odiava por sentir algo. Sempre se odiou por sentir qualquer coisa. E agora, a jovem que seu pai entregou como pagamento o perturbava mais do que qualquer rival ou ameaça. — Ela é diferente… — murmurou para si mesmo. — E eu não posso permitir fraquezas. A tensão entre eles crescia a cada minuto. Amira, mesmo presa, não se calava. Lorenzo, mesmo frio, sentia cada palavra dela como uma provocação, mas também como algo… perigoso, fascinante. E assim começou o jogo: prisão versus resistência, poder versus coragem, desejo versus ódio. Cada um deles aprendeu naquela noite que nada seria simples. Amira sabia que não voltaria para casa. Lorenzo sabia que aquela garota mexeria com algo dentro dele que ele sempre jurou destruir: seu próprio coração.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD