A neve caía como cinza sobre Mantova. Amira acordou com o frio cortando o ar, o quarto envolto em silêncio e sombra. A fortaleza era antiga, feita de pedra, com janelas estreitas e paredes que guardavam ecos de guerras esquecidas. Havia crucifixos quebrados nos corredores e velas derretidas em altares improvisados — lembranças de quem rezou demais e sobreviveu de menos. Ela se sentou na cama, os cabelos soltos cobrindo parte do rosto. A dor de cabeça latejava como lembrança viva. Tudo ao redor parecia imóvel, como se o tempo tivesse medo de avançar. As botas ecoaram no corredor. Lorenzo entrou, o sobretudo escuro coberto por flocos de neve, o olhar cansado. Ele parecia um espectro do próprio império que tentava reconstruir. — Dormiu? — perguntou, a voz rouca. — Tentei. — respondeu ela

