Capítulo 02

2515 Words
[04 Dia] Mais dois dias se passaram e nada do meu resgate. Eu não sabia o que está passando no noticiário, se meus pais concordaram em pagar uma determinada quantidade em dinheiro para eles, estou sabendo de nada, afinal eles não me contaram nada. Começava a pensar que eles não iriam pagar o meu resgate, afinal, nunca gostaram tanto de mim igual pais decentes fariam. Eles nesses dias não vieram me ver e muito menos trouxeram comida ou água pra mim. Estava sem as algemas, mas não iria adiantar muita coisa, afinal eu estava sem forças, com muita sede, com tanta fome que minha barriga doía e com um odor desagradável. Quatro dias havia se passado comigo naquele porão úmido e sem qualquer tipo de higiene, então era natural ter odores. Em meu terceiro dia pude escutar barulho de tiros sendo disparados, foi aproximadamente cinco. Fiquei assustada e mais quieta que o normal, não ficava batendo nas coisas ou gritando por eles, apenas ficava em um canto quieta. Levantei-me do chão em que estava com um pouco de dificuldade, caminhando em direção a mini janela que lá possuía, sentindo alguns fechos de luz bater em meu corpo, causando-me uma sensação agradável que se espalhou por todo o meu corpo. Segurei as barras, balançando-as na expectativa delas saírem para que eu pudesse fugir para longe daquele lugar imundo e totalmente escuro. Agachei-me próximo da parede, sentindo as lágrimas se formarem em meu rosto. Era melhor morrer do que ser esquecida em um porão imundo como aquele. — Jismine? — A voz da Liang soou no quarto fazendo com que eu secasse rapidamente o meu rosto e a encarasse. Em suas mãos ela trazia uma bandeja com comida. Delicadamente pousou em cima da cama e eu me aproximei dela. Era um sanduíche e um copo de suco de morango. Agradecia aos céus enquanto comida, sentindo a comida calar o meu estômago barulhento e cessar a dor, sentindo a água umedecer cada canto de minha boca. — Deve que você estava faminta! — Apreciava a minha comida, por isso nem dei importância a sua fala. — Ouvi alguns tiros ontem... — Exclamei por fim após comer a comida mais rápido do que eu desejava. Encarei-a e a vi abaixar sua cabeça. — Meu irmão matou um homem! — Ela disse quase em um sussurro. — Eu não queria ter visto, mas foi sem querer... Ele colocou a arma na cabeça do homem e puxou o gatilho, só vi o sangue voando e o homem caindo no chão antes que eu corresse e me escondesse no meu quarto. — Seu tom de voz, parecia que ela queria chorar. — Não gosto do meu irmão assim. É a vida nunca foi justa com as pessoas que querem viver em paz. Ela parecia gostar de brincar com a sanidade delas. Parecia gostar de ver elas chorarem e entrarem em desespero enquanto implorava por algum milagre ou algo que simplesmente melhorasse seu estado atual. — O que foi isso? — Ela indagou apontando para uma cicatriz em meu braço, tirando-me de meus devaneios. — Uma das coisas horríveis que eu já sofri! — Respondi-a e ela me olhou confusa. — Vocês têm uma ficha minha, então tenho certeza de que tem tudo detalhadamente lá. — Eu ainda não consegui ler ela completamente! — Ela disse e eu suspirei. Engoli o seco lembrando-me perfeitamente de como havia obtido aquela cicatriz. — Eu tinha doze anos quando recebi essa cicatriz... Meu pai havia bebido muito e minha mãe disse para ele que eu não queria estudar para as provas, então ele veio no meu quarto com uma faca em suas mãos. — Fechei meus olhos fazendo uma breve pausa. — Eu tentei fugir para que ele não enfiasse a faca em mim e em uma dessas tentativas, a faca entrou em meu braço e a lâmina se quebrou lá dentro. Eu fui levada ao hospital, passei por várias cirurgias até que finalmente retiraram ela por completo! — Por que você não falou para ninguém? — Ela indagou em um tom mostrando a quão incrédula estava com a história e a atitude de meu pai. — Ele é rico, pode subordinar qualquer um com o seu dinheiro! — Abri os meus olhos encarando o teto fixamente. — Minha vida desde que eu nasci não tem sido uma das melhores, então apenas me acostumei com tudo isso. — Meu irmão e eu somos órfãs... Bem, nós somos por que o Lou matou o meu pai. — Arregalei os meus olhos e ela abaixou o olhar. Ela também tinha cicatrizes que não eram vistas por fora. — Meu pai abusava de mim e minha mãe fingia que não via nada. Um dia meu irmão cansado de ver-me sofrer daquele jeito, matou-o e minha mãe fugiu. Minha tia que sabia de tudo, acolheu a gente, porém ela foi morta à mandato de alguém e foi aí que meu irmão entrou nesse mundo de morte e gangues! — Até que seu irmão não é tão sangue frio assim, pois ele matou o seu pai para poder lhe proteger de algo bem pior que lhe aguardava. — Exclamei e ela sorriu concordando mexendo seus dedos. — Eu vi em sua ficha que tem uma tatuagem, é verdade? — Ela indagou e eu franzi meu cenho. Como eles sabiam se sendo ela era em um local escondido, nem mesmo meus pais sabiam disso. — Posso ver? — Se eu conquistar a irmã do meu sequestrador poderei sair daqui? Será que se ele iria abrir uma exceção pra mim por ser amiga de sua irmã? — Claro! — Concordei erguendo minha blusa. Minha tatuagem era basicamente pássaros entre meus s***s. Liang sorriu encarando-a, provavelmente tinha gostado. Escutamos um estrondo e em seguida a porta foi aberta pelo o Lou. Seu olhar pairou sobre mim, fazendo-me arregalar os olhos igual a ele. Rapidamente ele ficou de costas para que eu descesse minha blusa, coisa que eu fiz rapidamente. — Hm... Esqueci o que eu ia falar. — Ele disse abaixando a cabeça, enquanto coçava a sua nuca ainda de costas para mim. — Depois eu volto, quando me lembrar! — Saiu rapidamente fechando a porta consigo. — Há, ele ficou constrangido! — Sua irmã disse rindo com o olhar fixo na porta. Desde quando um sequestrador fica com vergonha de ver sua vítima com a blusa levantada? Deve que ele não é tão r**m assim, só que o dinheiro que meus pais estão evitando dar para ele. [Zhu Yan Tao] Voltei para a sala sentando-me no sofá observando a televisão onde os meninos jogavam no XBOX um jogo qualquer de atirar que haviam comprado recentemente. Xingava-me mentalmente por ter descido naquele momento ao porão. — Yan Tao, você está bem!? Está com o rosto vermelho. — Qiao disse dando pause no jogo para me encarar, fazendo com que os demais também me olhassem um tanto curioso. — Nada que interessa vocês! — Exclamei friamente com uma sobrancelha para ele e os demais. — Deve que ele desceu lá embaixo e viu o que não devia! — Seth disse em um tom malicioso, soltando uma gargalhada. — Parece que alguém vai se apaixonar logo, logo! — Jacob tirou o seu olhar do celular sorrindo maliciosamente para mim. — Nunca irei me apaixonar por aquela patricinha, vocês sabem que eu só quero o maldito dinheiro! — Resmunguei fazendo com que eles começassem a rir. — Se as patricinhas forem iguais a ela, eu queria uma! — Qiao disse sorrindo para mim e todo mundo concordou. O que ela tinha demais? Não entendia o motivo deles estarem interessado nela. — Qual parte de que nunca irei me apaixonar por alguém, vocês não entenderam? — Vociferei na esperança deles me deixarem em paz, só que acabou falhando. — Meu querido, o munda as voltas, você pode muito bem mudar! — Jacob disse sério voltando a mexer em seu celular. — Vão se ferra! — Soltei um longo suspiro perante aos comentários idiotas deles. — Já falaram com os pais dela? Sobre o dinheiro para o resgate? — Sobre isso... — Seth disse coçando a nuca e todo mundo abaixou a cabeça suspirando. — O que aconteceu? — Indaguei começando a ficar um pouco preocupado com a atitude dos meninos. — Falem logo, não gosto de segredos! — Sequestramos ela atoa, mantivemos ela aqui por quatro longos e tortuosos dias atoa! — Jacob disse no mesmo instante enquanto os demais concordavam com a cabeça. — Se bem que a gente nunca queria fazer o m*l para ela, queríamos apenas o dinheiro pra liberar ela! — Não me diga que... — Comecei a falar, sentindo-me um tanto furioso. — Mas que merda! — Depositei um soco no sofá enquanto minha respiração ficava desregular. [5 Dia] Me encontrava completamente sem esperança de que iria ser resgatada. Se passaram cinco dias tortuosos e bastante tensos, que fizeram-me pensar melhor na minha vida e nas escolhas que eu terei que fazer. Perguntava-me se meus pais estavam sentindo minha falta ou se simplesmente tivessem notado o meu sumiço. A única coisa que eu faço é ficar deitada desde o dia do sequestro. Estava com saudades de ouvir música, desenhar coisas aleatórias, de conversar com as empregas e por incrível que pareça, eu também estava com saudades da faculdade. Questionava-me a cada segundo, o motivo deles me manterem viva até o dia atual, mas não conseguia encontrar nenhuma resposta que tenha coerência com a pergunta. — Hey... — Lou disse entrando no quarto tirando-me dos meus devaneios. Deitava estava e deitada continuei. Não queria dialogar com ele, mas ele necessitava muito conversar comigo. — Seus pais te amam mesmo? — Soltei uma risada anasalada. — Venho me perguntando isso a cinco dias! — Exclamei encarando o teto. — Mas eu sou a filha única deles, mesmo que sejam rigorosos, eles têm que me amar, não é mesmo? — Ergui minha cabeça para o encarar. — Porque a pergunta? — Nada demais! — Ele se sentou na cadeira que ficava na frente da cama. — Me desculpe por ter entrando no quarto naquele dia em que você tinha levantado a sua blusa. — Revirei os olhos sorrindo de lado. — Está tudo bem! — Murmurei sentando na cama para poder o encarar. — Agora o motivo da sua pergunta repentina sobre os meus pais! Ele me jogou um gravador e sem dizer mais nada, retirou-se do quarto deixando-me completamente confusa. Dei play no gravador para que eu ouvisse o que tinha gravado lá. — Olá?! — A voz da minha mãe soou docemente na linha, fazendo com que meu coração palpitasse mais rápido. — Estamos com a sua filha! — Uma voz muito engraçada soou, com certeza era o Lou com um modificador de voz. Um silêncio tomou conta da linha. — Podem fazer o que vocês quiserem com ela! — Meu pai disse em um tom ríspido e frio. — Ela era uma desonra para a nossa família e produzir filhos é a coisa mais fácil do mundo. — Meu coração que antes estava feliz, começava a doer. — Mas ela é a sua filha, vai deixá-la mesmo com a gente? Iremos fazer coisas desagradáveis com ela. — A voz do Lou manteve-se calma e ao mesmo tempo ousada. — Eu não me importo. Desde o início queria que a sua mãe a abortasse, mas ela quis tê-la e agora ela se tornou uma desonra para nós, acabando com a nossa boa imagem na mídia! — Meus olhos começaram a marejar. — Estuprem-na, matem-na, fazem o que quiser com ela, eu não me importo! Meu coração estava a mil pedaços, pois por mais que rigorosos eles fossem eu sempre me esforçava para agradá-los e para não acabar com a boa imagem deles na mídia. Eu sempre me esforçava para ser a filha perfeita que eles tanto queriam, mas eles nunca me consideraram realmente filha deles. Isso, doí, doí mais do que eu imaginava. Coloquei minha cabeça entre os joelhos começando a chorar baixo, xingando-me mentalmente por ter considerado eles meus pais, por ter amado eles mesmo sendo os monstros que eram comigo todos os dias que acordava. Me levantei pegando uma cadeira que tinha ali, colocando-a na porta de modo que ninguém entrasse para me incomodar ou vê-me chorando igual a uma criança. Voltei para a cama me deitando de bruços, deixando com que as lágrimas molhassem o lençol da cama.   Questão de horas ouvi alguém tentar abrir a porta, mas por conta da cadeira não conseguiu abri-la completamente. Minhas lágrimas naquele momento já haviam acabado, restando somente soluços longos e doloridos. — ABRE ESSA MERDA AGORA! — Lou gritou tentando abrir ela novamente. — Irei arrombá-la, então abre agora! — Ele disse dando chutes na porta, mostrando que estava com raiva. — Deve que ela está triste! — Liang disse na tentativa de calmar o seu irmão, porém falhou e aparentemente, deixou ele mais irado. — NÃO QUERO SABER, ESSA PORTA NÃO ERA PARA ESTAR ASSIM. — Gritou novamente e eu pude escutar chutes sendo depositados na porta, até que a cadeira não aguentou e se quebrou. — MAS QUE PALHAÇADA FOI ESSA? — Ele disse gritando, mas eu nem fiz questão de olhá-lo. — ME RESPONDE, MERDA! — Depositou um soco na parede, como resposta ergui meu dedo do meio para ele. — Se eu brincar com a morte, ela irá me matar? — Indaguei levantando-me da cama, caminhando em sua direção. — Eu espero que sim! — Depositei um chute nas pernas do LOU, saindo correndo do quarto, mas no meio do caminho senti suas mãos em meus cabelos, jogando-me contra a parede. — Sua v***a! — Ele disse apontando a sua arma para mim enquanto eu encarava-o seriamente. — Vocês de novo brigando? — Uma voz masculina soou e em seguida o Lou, sem ao menos olhar para ver quem era, puxou o gatilho. Olhei para ver se tinha acertado o menino, mas felizmente ele havia se desviado assim que ele atirou. — Então, vai puxar o gatilho para mim ou vai ficar todo posudo segurando-a em minha direção? — Provoquei-o sorrindo ironicamente. Segurei a sua mão armada e coloquei-a no meio da minha testa. — Puxe, não tenho nada a perder mesmo! Em um gesto rápido ele pegou-me pelo o pescoço, prensando-me contra a parede, apertando o meu pescoço fazendo com que a minha respiração tornasse fraca lentamente. Olhei em seus olhos e ele jogou-me no chão novamente, só que dessa vez, eu bati a minha cabeça na parede. Brutalmente, ele levantou-me do chão pelo o meu braço, levando-me novamente para o lugar onde eu estava, jogando-me no chão pela terceira vez, de qualquer maneira, trancando a porta. Soltei uma risada por ele não ter conseguido me matar, colocando a mão no lugar onde eu havia batido, percebendo que estava sagrando um pouco. — Eu esperava mais de você Lou! — Murmurei para mim mesmo, fechando os olhos pensando que eu iria chorar, porém nada desceu dos meus olhos.   
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