Sofrendo

970 Words
Albucacys chegou à fazenda, assim que desceu, tirou o paletó, afrouxou a gravata e passou a mão pelo cabelo. Tinha vindo direto de uma audiência que se estendeu por horas,. — Severus, Mateus… como está? — perguntou, sem se sentar. Mateus balançou a cabeça antes de responder: — Não come desde ontem. Me sentei com ele junto com Judas, mas nada. Olena fez a torta que ele gosta, mas ele nem tocou. Ficou olhando para o prato, como se estivesse esperando alguém entrar pela porta. Judas completou, com o tom grave: — Gritou o nome dela por quase duas horas. Não sabemos o que fazer.. Albucacys respirou fundo, a mandíbula travada. Tirou o colete e o jogou sobre a cadeira. — Ele não pode continuar assim. Caminhou em diração a casa de Severus, ele ainda ficava em uma parte mais isolada da fazenda, mas agora não havia mais cadeados para contê-lo. Tinham mantido o costume de trancar por segurança, por causa das crianças, mas fazia tempo que Severus mostrava controle. Ainda assim, o ambiente estava tenso. Empurrou a grade. Severus estava sentado no chão, encostado na parede. Parecia irritado, mas os olhos continuavam abertos, fixos em algum ponto distante. Albucacys deu dois passos à frente, parando perto da cama. — Severus… Se sentou ao lado dele. __ Precisa comer. O outro demorou para responder. Quando o fez, foi para perguntar sobre ele. — Zoe… ela não veio. Albucacys se abaixou diante dele, apoiando uma das mãos no ombro do irmão. — Ela vai vir. Só está esperando o momento certo. Ela vem — Ela prometeu — Severus murmurou, o olhar perdido. — Não sinto fome. Albucacys respirou fundo. — Ela vai chegar, Severus. E quando chegar, você precisa está bem alimentado. Albucacys tirou um embrulho de dentro da pasta, era o lenço que Zoe havia mandado, tinha guardado , porque havia achado ser pior entregar , saudade aumentaria, mas talvez, com o lenço, Severus se acalmasse. Severus ergueu a cabeça. — O lenço de Zoe.. — disse Albucacys. — Corine está em aula, mas prometeu vir te ver mais tarde. Nossa irmã vai ficar triste se não comer. Coma, e vá se exercitar um pouco. Não pode continuar assim. Severus estendeu a mão, hesitante, e pegou o lenço. O tecido macio roçou em seus dedos e ele o levou ao rosto. O cheiro de Zoe ainda estava ali, doce, limpo, como um fio de vida preso entre as fibras. Fechou os olhos e inspirou profundamente. Por um instante, pareceu respirar de novo. — Ela vai vir — repetiu, mais para si mesmo do que para o irmão. Albucacys ficou em silêncio, observando, depois foi buscar comida.. Comeram juntos ali mesmo, carne e pão, gostavam de carne Severus mais ainda do que Albucacys. Depois foram lavar o rosto a mãos no tanque que tinha ali. — Eu venho amanhã cedo. Estou trabalhando muito a semana inteira, mas no sábado venho jogar bola e passar um tempo com você. — Prefiro Zoe, prefiro que Zoe venha O irmao riu. — Eu sei, eu sei… ela vai vir. Só tenha um pouco de paciência. Ia indado — Passe o cadeado de volta. Albucacys virou-se devagar. — Severus… — Se não passar, eu vou atrás dela — disse Severus__ E vou provocar uma confusão, porque eu não entendo nada direito dos trânsitos, não conheço esse lugar. Até mesmo o que eu falo é porque vocês me ensinaram. Minha linguagem ainda é pouca. Se não trancar, eu vou sair, sinto que preciso vê-la, preciso vê-la. Albucacys ficou parado, observando o irmão. Aquele homem enorme, que tinha aprendido a se controlar, agora falava como um menino com medo de si mesmo. Severus baixou a cabeça. — Eu preciso do cadeado, Albucacys. É a única forma de me segurar até ela vir. Albucacys respirou fundo.. Ele não queria ver o irmão trancado de novo, mas sabia que Severus estava pedindo ajuda. — Está bem… — disse, por fim. — Eu passo. Severus assentiu, fechando os olhos. O lenço de Zoe continuava preso contra o peito. Albucacys buscou os quatro cadeados e passou... Saiu dali. Nicole chegava com Mikaela, ia ficar um tempo com as crianças se Albucacys a parou.. — Ligue para a sua amiga, diga a ela que se ela não for vir precisa dizer, porque eu preciso direcionar a atenção de Severus para outra coisa. Meu irmão está sofrendo, ele está deixando de comer por causa dela. Se Zoe não for vir vê-lo, precisa ser honesta e dizer. — Eu vou falar com ela — respondeu Nicole. — Ligue, ou então me mande o telefone de Zoe, que eu converso com ela. — Eu a vi hoje , fui até o convento— disse Nicole. — Ela disse que vem, que está se despedindo da vida que levava. — Tem certeza, Nicole? — Tenho, Albucacys. Eu sei que Severus sofre por ela, eu o escutei gritando. Eu disse isso a ela, ela chorou, mas eu entendi. Não é fácil deixar o que pensou que seria sua vida. O motoqueiro e advogado ia saindo, mas Mikaela segurou o braço dele. — Podia conversar com Mouse… são quase amigos. — Ele não está fumando novamente, está, Mikaela? — Não, Albucacys, mas anda ainda mais estranho. Está dormindo pela fazenda, não me deixa chegar perto dele.Ele volta no sábado. Mouse estava na Marinha, tinha conseguido um diploma de conclusão do ensino médio pra entrar, e em breve entraria para o clube.. mas andava tão estranho, arisco, e Mikaela não sabia o que fazer. __ Assim que ele entrar pela fazenda, eu falo com ele.. Mika.. As vezes é pressão da marinha, já que ele passa muito tempo na base, mas vou tentar. __ Obrigada.. Albucacys partiu, queria passar um tempo com sua senhora, estava com saudades de Estela..
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