Capítulo 11

1035 Words
Ane A manhã passou rápido na faculdade. Fiz minha prova com a mente focada e mãos firmes, respondi cada questão com mais confiança do que esperava e, ao final, me despedi de Sofia e Diego. Agradeci a minha amiga por me explicar melhor como funcionava aquele universo obscuro da máfia. Por mais c***l que fosse, agora eu pelo menos sabia onde estava pisando. Mas nem isso me preparou para o que aconteceria depois. Caminhei até o carro preto que sempre me esperava na saída. Desta vez, no entanto, não pedi para ir direto para a mansão. — Me leve até a casa do meu pai — pedi ao motorista. Ele me olhou pelo retrovisor, claramente incomodado. — Eu… não posso, senhorita. Preciso de autorização do senhor Mancini. Revirei os olhos com impaciência. — Então peça. — Ele está em reunião — respondeu, cauteloso. Cruzei os braços. — Ótimo. Então me leve até onde ele trabalha. Falo com ele pessoalmente. O motorista hesitou. Troquei um olhar com o segurança ao lado, e depois de uma pausa incômoda, ele finalmente cedeu com um suspiro: — Tudo bem. Mas não posso garantir que deixem a senhorita entrar. Não respondi. O caminho foi silencioso, mas meu peito estava em tumulto. Eu queria encará-lo. Queria lembrar Sebastian que, mesmo tendo me conquistado num jogo sujo, ele agora era meu noivo. E que se achava que podia me controlar como um bem adquirido, estava enganado. A fachada do edifício onde ele trabalhava era imponente: vidro, aço e concreto refletindo o céu nublado. O logotipo dos Mancini brilhava em dourado no topo, como uma coroa. Tudo ali cheirava a dinheiro, poder e segredos. Entramos no saguão — mármore branco no chão, colunas metálicas e recepcionistas com expressões entediadas. Uma delas me avaliou com frieza quando o segurança informou que eu era a noiva do Sr. Mancini. — A senhorita tem horário marcado? — Sou a noiva dele. Não preciso de agenda — respondi com firmeza. Antes que ela pudesse retrucar, caminhei em direção ao elevador. O segurança tentou me alcançar, mas já era tarde. Subimos até o último andar. A porta do elevador se abriu num corredor silencioso, luxuoso, decorado com obras de arte modernas e móveis minimalistas. Cada detalhe gritava poder. A secretária do andar, uma mulher alta e elegante, me recebeu com um sorriso educado, mas forçado. — Senhorita Ane, o Sr. Mancini está em reunião, posso verificar… — Não precisa — interrompi. — Eu sou noiva dele. E já esperei o suficiente. Empurrei a porta do escritório antes que ela ou o segurança pudessem impedir. E então… tudo parou. Sebastian estava encostado em sua mesa de mármore n***o, sorrindo preguiçosamente. E entre seus braços, uma mulher o beijava. Alta. Loira. Sexy de um jeito ensaiado. Como uma daquelas mulheres que sabem exatamente o efeito que causam. Ela o segurava com i********e, como se aquele corpo fosse dela. Como se ele nunca tivesse pertencido a mais ninguém. O ar sumiu dos meus pulmões. Sebastian ergueu os olhos e me viu. O sorriso apagou-se. Mas não disse nada. Nenhum dos dois disse. Não chorei. Não gritei. Não fiz cena. Só me virei, com a dignidade mais frágil que já carreguei, e saí. O elevador demorou uma eternidade para chegar. O silêncio do corredor parecia zombar da minha coragem, ou da falta dela. E ali, naquele espaço de luxo e frieza, tudo ficou claro: o nosso casamento já estava arruinado antes mesmo de acontecer. Um casamento de mentiras, amarrado por uma dívida, e agora… por traição. Eu não sabia por que aquilo me afetava tanto. Não era amor. Não podia ser. Não havia tempo suficiente para isso. Mas talvez… talvez fosse o medo. Medo de me casar com um homem que beijava outras mulheres nos bastidores, enquanto eu me adaptava à nova realidade como uma prisioneira bem vestida. Era essa a vida que me esperava? Lembro vagamente do caminho de volta. A cidade passava pela janela como um borrão. Só percebi que havia chegado quando o carro parou diante da mansão. O segurança abriu a porta e me olhou com cautela. Desci. Meus pés se moveram como se fossem de outra pessoa. Por dentro, eu estava em combustão. Por fora… era gelo. Subi os degraus com a cabeça erguida. Cada passo uma tentativa de manter minha alma no lugar. Assim que entrei, Nana me esperava ao fim do corredor, com o avental preso na cintura e um pano no ombro. O cheiro de bolo assando e ervas frescas tomava o ar. Ela sorriu — um sorriso calmo, gentil. Mas os olhos… estavam atentos. — Chegou cedo — comentou. — A prova foi curta. — E não quis almoçar com os amigos hoje? Neguei, largando minha bolsa com um movimento automático. — Só queria voltar. Nana se aproximou devagar. Tocou meu braço com leveza, mas o suficiente para me ancorar ali. — Aconteceu alguma coisa, filha? A palavra me desmontou. Filha. Engoli em seco. O nó na garganta estava alto demais. — Não aconteceu nada — menti. Ela não insistiu. Apenas assentiu, com aquele jeito calmo de quem já viu muita coisa. — Vá trocar de roupa. Vou preparar um chá de verdade. Camomila com mel. É o que minha mãe fazia quando eu voltava chorando da escola. Assenti e comecei a subir. Mas antes de alcançar o primeiro degrau, ela falou: — Seja o que for… você não está sozinha aqui. Parei. A frase flutuou no ar por alguns segundos. E mesmo sem me virar, deixei que ela me envolvesse. Como um cobertor num dia gelado. No quarto, tirei minhas roupas com lentidão. Dobrei cada peça com cuidado. Era o único controle que eu ainda sentia ter. Deitei na cama. O cheiro dele ainda estava ali. E, mesmo com a janela aberta, o ar parecia preso na minha garganta. Fechei os olhos. E a imagem daquele beijo não saiu da minha cabeça. A dor não era só por causa dele. Era pelo que aquilo significava: que meu destino agora estava nas mãos de um homem que sequer respeitava o laço que me forçaram a aceitar. Talvez eu fosse a noiva de Sebastian Mancini. Mas naquele mundo... ser noiva não significava ser escolhida.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD