Capitulo 3

1833 Words
Ao chegarmos em casa fui direto tomar banho, estava cansada e ainda com a adrenalina alta de toda aquela perseguição. Rui já não estava e meus pais já haviam ido para o aeroporto, como nos atrasamos não pude me despedir deles. Após o banho saio do quarto e logo vejo Jared sentado no sofá, ele está com controle na mão e pula de canais, entediado. Passei pela sala e fui direto para a cozinha preparar algo para comer, não havia comido nada desde que saí de casa e estava com fome. Fiz uns sanduíches e suco, minha mãe havia deixado um bolo de chocolate com cenoura pronto, meu preferido. — Jared. — Chamei por ele — Senta aqui, fiz um lanche para a gente. Ele deu um sorriso de leve e sentou se ao meu lado na ilha da cozinha. — Rui mandou mensagem, disse que vai se atrasar — Disse sem me olhar. — Você vai dormir aqui? — Sim, vou ficar no quarto em cima da garagem.  Antes de irmos para os quartos ele verificou todas as trancas das janelas e das portas, pelo celular ele olha a câmera do portão. — Qualquer coisa você grita, estou no quarto do seu irmão. — Disse ao meu lado, pela primeira vez nossos olhos se encontraram. Senti um arrepio passar pelo meu corpo, eu havia reparado que os olhos dele eram azuis, mas não que eram intensos, pareciam duas bolas de gude. — Boa noite, Jared. — Digo e vou para o quarto. Quando vou fechar a porta vejo que ele entra no quarto do meu irmão, a frente do meu, pela fresta da porta o vejo tirar a camisa, uma enorme caveira cobre suas costas.   Acordo no meio da noite com um barulho no corredor, ouço a voz do meu irmão e de Jared também.ho no relógio e são duas horas da manhã. “Será que Rui só chegou agora?”, penso. Saio de meu quarto e a luz do quarto dele está acesa e a porta aberta, mas eles não estão ali Caminho até a cozinha e a porta está aberta, a voz dos dois vem da garagem, posso ouvir a conversa deles de onde estava. — Cara, não adianta mais ir na polícia, eles não fazem nada e o vagabundo sempre foge. — Rui fala. Me aproximo da porta e sinto um cheiro adocicado de fumaça vindo de lá. — Vamos resolver do nosso jeito agora, irmão, é o melhor a fazer. — Agora é Jared quem diz. Olho pela porta, Rui tem um cigarro na mão, ele traga devagar e entrega para o Jared que faz o mesmo. Não sabia que Rui fumava, encosto no batente e fico observando os dois, até que Rui me vê. — Ei, princesa! Está há muito tempo aí? — Ele pergunta se aproximando de mim. — Não, cheguei agora.  — Ele me abraça. — Pesadelo ou falta de sono? — Falta de sono. Você só chegou agora? — Pergunto pois era bem tarde. — Não, já faz um tempo. Volta a dormir, você precisa descansar, te acompanho até  o quarto. Na manhã seguinte acordei bem mais tarde que o habitual. Quando saí do quarto não vi ninguém pela casa. Sinto falta de ar só de imaginar que estou sozinha. Volto para o quarto e olho pela  janela, tentando ver se tem alguém na garagem, mas o telhado atrapalha minha visão. O cachorro do vizinho late sem parar, aquele barulho no meu ouvido me distrai e parece que a qualquer momento vou ver o Tony atravessar a porta e me pegar.  Corro para o quarto dos meus pais e me tranco no banheiro, entro na banheira e abraço meus joelhos, pareço ouvir passos cada vez mais perto... Mais perto, barulho na porta, alguém mexer na fechadura com força.Uma vez. De novo. A porta é forçada, batem com força. Coloco as mãos no ouvido e baixo minha cabeça entre as pernas. — Não, não, não, de novo, não. — Repito, enquanto balanço meu corpo para frente e para trás. Um barulho alto, sei que foi a porta, ela foi arrombada. Sinto mãos em mim, grito o mais alto que consigo. Minha garganta dói, braços fortes me seguraram com força, mas sem me machucar, minhas lágrimas molham meu rosto. — Calma, Eve, calma, calma – Finalmente consigo escutar. E essa voz. Começo a abrir os olhos e vejo os braços em volta de mim. Desenhos, muitos desenhos. Ele começa a me soltar devagar, vejo Jared e ele me observa com olhos arregalados, parece nervoso, os braços dele estão arranhados, assim como o rosto. Me sento na banheira novamente, passo as mãos pelo rosto. — Como me achou aqui? — Pergunto olhando para ele que se senta ao meu lado na banheira. — Estava entrando na cozinha e vi você correr, vim atrás. Eu te chamei e você não respondia, arrombei a porta. — Ele ficou em silêncio brevemente — O que aconteceu, Eve? Olho para ele, seu rosto está sangrando. — Não sei... Eu pensei que estava sozinha... O cachorro latindo... Não sei... Fiquei com medo. — Digo a verdade, achei que tinha alguém atrás de mim. — Quando eu entrei aqui e coloquei a mão em você, você me atacou. — Começo a chorar de novo. — Me desculpe, eu... Pensei... Não sei. Ele levanta e me estende a mão, pego e ele me puxa — Vamos sair daqui, eu preciso consertar essa porta. Jared colocou a porta no lugar, enquanto eu cozinhava para nós. Me sentia muito culpada por tê-lo atacado. Ele é muito calado, fica sempre na dele, a maior parte do tempo com um cigarro na boca. Às vezes tenho vontade de conversar mais com ele, saber sobre sua vida. . Almoçamos calados, vez ou outra nossos olhos se encontravam e só isso, Eu estava muito sem graça perto dele. Levantei e fui lavar a louça, ele veio atrás de mim e segurou meu cotovelo. — Deixa isso aí, veste um casaco, vamos dar um passeio. — Ele diz simplesmente e sai em direção à garagem. Não entendi o que ele quis dizer, mas peguei um casaco de moletom do Rui que estava no sofá e saí atrás dele. Quando entrei na garagem, ele estava sentado na moto com um capacete na mão que me estende. — Coloca e sobe. Sorrio sem graça para ele, mas obedeço e subo na garupa da moto. Ele liga o motor, que faz um enorme barulho, a moto treme debaixo das minhas pernas. Seguro ao lado e Jered puxa meus braços e os passa ao redor de sua cintura. — Segura em mim, boneca. Ele permanece com a mão em cima da minha tempo suficiente para fazer meu coração disparar. Eu não sabia para onde ele me levaria, mas não senti medo, na verdade não senti absolutamente nada, quando ele passou pelo portão e a moto começou a ganhar velocidade eu só pensava em como aquela sensação era boa, toda aquela tensão que estava no meu corpo começou a ir embora. O vento batendo no meu rosto, me trouxe a sensação de liberdade. Quanto mais a velocidade aumentava ,mais eu apertava a cintura de Jared. Ele não parecia se importar e apenas aumentava a velocidade. Não conhecia o caminho que ele seguia. Passamos por algumas propriedades enormes e cheias de gado. Até que viramos uma curva e entramos por uma estrada de terra , a velocidade da moto diminui drasticamente, o lugar é coberto por mata. Quando ele parou a moto, retiro o capacete e vejo que estamos no alto de um grande mirante, em volta só mato. Verde para todos os lados, o ar era puro, leve. O vento soprava forte. — Por que me trouxe aqui? Por mais que Rui confie cegamente no Jared, eu quase não o conheço, às vezes fico insegura perto dele, não só dele como de qualquer homem, tem coisas que até mesmo com anos de terapia é difícil mudar. — Para você extravasar. Você vive tensa e esse surto que você teve… — Ele parece não ter palavras. —  Coloca para fora. Ele pega minha mão e me leva a beira de um enorme precipício. — Agora grita, grita bem alto. — Ele pede.  Esse cara é mais louco do que eu, só pode. — Não vou fazer isso — Digo. De repente ele grita bem alto, seu grito ecoa enorme pelo abismo, ele faz de novo — Sua vez. Desisto de argumentar com ele, talvez porque quisesse fazer aquilo também.  Faço o que ele pede, solto o primeiro grito da minha garganta. Ele sai bem alto, o eco é enorme, a sensação é boa, faço de novo, e de novo. É como se tudo de r**m dentro de mim estivesse saindo nesses gritos. Eu posso gritar alto, não preciso ter medo que alguém escute, que me chamem de louca ou que tenham pena de mim, eu posso apenas gritar sem medo. Nos sentamos no chão e ficamos olhando o horizonte que está coberto com uma cerração baixa sobre a mata verde, dando a sensação de união entre céu e terra.  — Como descobriu esse lugar? Minha curiosidade é enorme, pelo lugar ser distante tenho certeza que ninguém vem aqui, é completamente isolado. — Meu avô me trazia aqui quando criança para caçar. Fui crescendo e  passei a vir sozinho, gosto da solidão daqui. — Os olhos dele se perdem no horizonte, olhando para ele assim parece só um menino perdido nos próprios pensamentos. Jared parece ter muitos segredos. — Se sente melhor? — Pergunta — É, pode se dizer que sim. — Sorrio para ele. Nossos olhos se encontram e sinto um calafrio na barriga, a sensação que o ar não está completo em meus pulmões.  — Quantos anos você tem? — Pergunto por curiosidade, quero conhecê-lo,  já que passaremos algum tempo juntos. — Vinte e cinco. — Ele sorri. — Você é bem curiosa — Minha vez de sorrir. — Um pouco. Já estava escuro quando saímos, me agarrei a ele com toda força e fomos embora. Quando Rui chegou os dois ficaram na garagem conversando, com certeza Jared contou a ele o ocorrido pela manhã. Estava deitada na minha cama lendo um livro quando Rui apareceu na porta. — Posso entrar? — Pergunta. Digo que sim com um gesto com a cabeça, ele entra e se senta na cama e puxa meu pés para seu colo. — Como você está? Jared me falou sobre seu surto pela manhã. — Ele me olha preocupado. — Estou melhor, tenho terapia amanhã, talvez eu precise trocar uns remédios, ando muito assustada. — É normal depois do que passou. Preciso conversar com você, vou ter de ficar fora uma semana. A academia vai participar de um torneio fora da cidade, mas só vou se você for ficar bem com o Jared. — Pode ir, vou ficar bem, maninho. Abraço ele, que me aperta em seus braços. Revisão :@Noderah 
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