Capítulo 06

1457 Words
Livia narrando Eu passei a tarde inteira fazendo as comidas lá, e ouvindo mil e um conselhos do caíque sobre como tratar o Gadernal, ele falando que o outro lá não tem esse vulgo atoa, que ele é maluco, pra eu tomar cuidado com a língua e eu tô cagando. Eu só quero entrar, levar as coisas pra ele, e ganhar o meu dinheiro, de resto ele pode enfiar a loucura dele no cu e se explodir quê para mim não vai fazer diferença nenhuma. Já era noite, minha avó veio jantar comigo e eu tive que tomar coragem, eu não sei esconder nada dela, eu precisava falar, olhar pra ela e não ser sincera já estava me sufocando, eu precisava contar a verdade pra ela por mais que doesse não só em mim, porque eu sabia o quanto isso ia doer nela também… — minha filha, eu não quero perguntar, mas depois de tudo o que eu ouvi hoje, é impossível ficar calada…— ela fala parando de comer e me olha séria — o que está acontecendo, você vai no presídio ? E o seu trabalho ? O que tá havendo, minha menina ? — ela se adianta e eu respiro fundo já sentindo os meus olhos encherem d’água — vo, eu não sei mentir pra senhora, e eu vou te contar toda a verdade…— eu falo e começo a contar tudo pra ela Do abuso, dos meus desmaios, de como eu tentei me virar e dar conta de tudo, até chegar na nossa situação atual, e ela só chorava ouvindo tudo — me perdoa minha menina, eu jamais imaginei que ele fosse capaz de tanta crueldade, me perdoa minha filha, do fundo do coração, perdoa a sua velha…— minha avó chorava me pedindo perdão e eu me levantei indo até ela e a abraçando — não é culpa sua, vó… nessa história só tem um culpado e não é nenhum de nós três…— eu falo e coloco a mão na barriga e ela faz o mesmo chorando ainda mais — eu queria tanto que nossa vida fosse diferente, eu queria tanto ter vencido pra te dar o mundo, ó minha filha…— ela se lamentava e chorava compulsivamente — fica calma, vó! Meu mundo é a senhora, tá tudo bem, vai ficar tudo bem, eu tenho fé, a senhora me ensinou a nunca me abater não problemas da nossa vida, e eu sei que vou fazer dar certo como sempre deu, do nosso jeito, o nosso senhor vai nos amparar — eu falo e ela ficou em silêncio acariciando a minha barriga e eu concede que pra mim ainda é muito estranho imaginar que tem um ser crescendo aqui dentro A noite passou e eu não consegui dormir, a ansiedade me consumia e eu virava de um lado para o outro agoniada, ansiosa, nervosa, eu não conseguia dormir de jeito nenhum, estava me sentindo estranha… Consegui comer duas vezes uma fruta pra ver se dava uma aliviada na ansiedade que eu estava sentindo, mas parecia impossível, eu não conseguia parar quieta, eu não conseguia sossegar o facho Revisei todas as coisas que eu precisava levar pro presídio, tomei um banho as 4 horas da manhã, arrumei meu cabelo, me vesti com a legging preta e a camisa básica e um chinelo. Estava frio eu coloquei um casaco por cima e fui arrumar tudo na sacola pra poder levar, esse homem pediu foi coisa, viu ? As drogas já estavam todas costuradas na manta, e todas num outro esconderijo comigo porque eu não passo no scanner, e era muita droga que eu estava levando lá pra dentro, acho que isso estava me deixando mais nervosa que tudo, porque era muita coisa pra eu levar e eu estava com medo de ser pega. Mas eu já tinha falado com o caíque e ele me garantiu que estava tudo pago, estava tudo certo, e eu não tinha que me preocupar com nada. Eles me deram uma carteirinha e eu não sei como ficou pronta de um dia pro outro, foi muito rápido, e nessa eu tenho certeza que o dinheiro move o mundo, não é mistério nenhum pra mim, porque sinceramente, não há nada mais importante no mundo que dinheiro, ainda mais nesse mundo sujo que ele vive. — pronta ? — o caíque fala quando eu saio de casa com as sacolas e ele estava de moto do lado do carro que ia me levar — to, você tem certeza que tá tudo certo, né ? Olha a quantidade de coisa que eu tô levando, pelo amor de Deus, eu tenho uma avó doente e um bebê pra botar no mundo — eu falo nervosa com ele — confia em mim, tu vai passar direto, tá tudo certo — ele fala e eu suspiro nervosa e entro no carro — se cuida Jae, o menor vai te esperar lá pra tu voltar, mas cuida dessa língua, eu não quero ouvir depois na minha orelha — ele fala e eu reviro os olhos entrando no carro e colocando o fone de ouvido O caminho foi longo e eu dormi várias vezes, meu corpo não descansava, mas eu não conseguia manter meus olhos abertos no balanço daquele carro. Eu estava exausta. — chegamos, o teu lugar já tá comprado, é só ir na Jandira, tu é a primeira da fila, ela tá lá guardando tua vaga — o menor fala parando o carro e eu vejo que já tinha muita gente na fila. Muitas mulheres, muitas mães, pais, e até mesmo criança. Aquilo me deu um baque. Eu nunca tinha vindo na porta de um presídio, eu nunca cheguei perto disso, e agora eu era a primeira da fila tendo que procurar uma mulher chamada Jandira… Olha, se não fossem as dificuldades da vida eu nunca pisaria aqui… Sai do carro com as bolsas pesadas nos ombros e fui até o início da fila — Jandira ? — eu pergunto a uma mulher que me omita de cima abaixo — demorou pra c*****o em bonequinja, tá achando que isso aqui é o que ? Parque de diversões ? — ela fala toda ignorante — esse é meu lugar ? — eu pergunto e ela me entrega a senha e sai de nariz torto pra mim Ai que vontade de sair rodando igual um beyblade mandando todo mundo tomar no cu, e eu ainda nem tinha pisado dentro daquele inferno. Eu ouvia o povo atrás de mim fazendo piada sobre eu estar no primeiro lugar da fila, que estavam desde 1h da manhã ali, e eu chegando às 6 já estava ali, e eu nem dei ideia, não respondi nem uma provocação, estava sentindo uma queimação absurda no estômago, sabia que tava correndo um perigo fudido pelas drogas que eu enfiei dentro de mim, sabia que tava cheia de bomba nas mãos, mas agora não era tempo de voltar atrás. Eu respirei fundo quando os portões abriram e fui entrando tentando respirar, tentando não me entregar. Quando viram na minha carteirinha o nome do interno, já me jogaram pro canto direto — vai por lá — um agente super ignorante me tira do scanner e eu passo pela lateral, uma Milene começa a me apalpar e eu vejo uma outra revirando as sacolas, ela revira o cobertor o todinho mas eu costurei muito bem, quase imperceptível, pra passa-se batido, e passou, mas quando eu vi a comida sendo revirada eu já sabia que ia dar merda, porque a primeira coisa que o caíque falou é que eles não iam revirar a comida porque se não o Gadernal ia cometer uma chacina lá dentro… e a comida estava toda esfarelada que aquela mulher revirou todos os potes e meu cu trancou, mas eu mantive o carão. Quem vai comer aquilo revirado é ele e não eu, e eu não tive culpa, se ele quiser vem aqui fora e mata todo mundo, eu não tô nem aí. Fui entrando meio de cabeça baixa porque não pode nem olhar pros lados se não as cunhada te mata, eu fui séria até que enquanto eu caminhava pelo corredor senti um solavanco me puxando pra dentro da cela — p***a ta maluco c*****o ? Sabe que grávida não pode se assustar não, p***a ? — eu berro ficando frente a frente pra aquele armário e olho pra ele cheia de ódio sentindo o meu coração na boca com o susto que ele me deu e ele me olhava com a pior cara do mundo, mas quando ele olhou as sacolas na minha mão conseguiu ficar ainda pior, e eu querendo voar no pescoço do desgraçado pelo susto que ele me deu
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