Capítulo 05

2017 Words
Livia narrando Eu passei a madrugada com a minha avó, eu rezei o terço umas cinco vezes, era muita coisa, muitas preocupações na minha cabeça ao mesmo tempo, eu estava muito angustiada com toda a reviravolta que minha vida deu… Eu juro, eu queria muito ser compatível com ela pra doar a medula e ela ficar bem, mas agora, nem se eu quisesse eu poderia, estando grávida tudo parece virar um empecilho. Nem pro desgracado do meu pai aparecer e eu obrigar aquele fudido que nunca nos ajudou em nada a doar pelo menos a medula pra ela… As vezes eu quase perco as esperanças, eu olho para as coisas que eu venho passando e fico imaginando como seguir, como agir, e eu só vou levando, eu tenho ela que sempre me deu forças, tenho ela que sempre lutou com unhas e dentes pra me criar, pra me sustentar, então tudo o que eu quero agora é fazer por ela, e ajudar ela, e seguir por ela, ela precisa muito de mim, e essa criança aqui… bom, essa criança não tem culpa de nada, então eu preciso seguir por ela também, eu preciso fazer dela a minha força, e ser também a força dela de alguma forma… São elas que me mantém de pé, e eu me reinventar e não me trancar num quarto escuro e sofrer tudo o que eu queria sofrer, porque eu não posso, eu não tenho tempo, e nem dom de sofredora… — oi, você precisa comer algo, não é saudável ficar a noite toda acordada assim…— me assusto com a mão do médico no meu ombro — trouxe um lanche pra você, sei que comida de hospital não é a melhor do mundo, então eu comprei na carrocinha ali da frente — ele fala me entregando uma sacola de lanche e minha barriga roncou na hora, eu nem lembrava a última vez que tinha comido e me bateu uma culpa enorme nessa hora, não por mim, mas por essa criança… — nossa, muito obrigada, eu vou te devolver esse dinheiro, mas eu te agradeço muito — eu falo abrindo o lanche e guardando o meu terço no bolso — não precisa, é só uma gentileza…— ele fala simpático e eu sorrio sem jeito — vou examinar sua avó tá ? — ele fala e eu apenas concordo já começando a comer igual uma desesperada Ele fica ali examinando ela, vendo todos os sinais que eu confesso não entendo nada, mas olhava cada detalhe como se entendesse tudo e mais um pouco. — os sinais dela melhoraram muito, e eu já consegui uma vaga pra consulta dela no hospital que te falei mais cedo, conversei com uns amigos de lá e consegui que ela passasse por uma triagem lá na semana que vem — ele fala e aquilo me dá uma esperança tão grande — jura ? Mentira, não brinca com isso, você tá falando sério ? — eu pergunto limpando a minha cara toda suja de maionese — jamais brincaria, estou falando sério sim! Vai cair no dia que eu sair do plantão aqui, e eu posso levar vocês pra você não se preocupar com despesa de Uber, caso você precise, porque eu já saio daqui e vou pro meu plantão lá, então não me custa…— ele fala e eu fico meio sem reação Não dá pra dizer que eu fico confortável com outros homens depois de tudo o que aconteceu comigo, pra mim é muito difícil — não precisa, eu te agradeço, mas você já está fazendo muito por mim, só de ter conseguido essa vaga pra minha avó, eu já te devo a minha gratidão eterna — eu falo e quando ele ia me responder me subiu um enjoo tão forte que eu saí correndo pro banheiro igual uma louca desesperada Coloquei todo o lanche que ele trouxe pra mim pra fora, eu não parava de vomitar, já estava me sentindo fraca e só senti a mão dele no meu cabelo segurando enquanto eu me afogava no vômito — já começou o pré natal ? — ele pergunta quando eu me sento no chão sentindo a minha pressão lá no pé e n**o com a cabeça me sentindo extremamente envergonhada — você já fez algum exame ? — ele pergunta e eu puxo o positivo do exame do bolso do meu short e entrego pra ele — você consegue andar ? — ele pergunta e eu concordo e ele me ajuda a levantar — lava o rosto, e vem comigo, vou fazer um exame de sangue em você e pedir urgência nos resultados, acredito que em duas horas saia — ele fala e eu lavo o rosto e bochecho sentindo aquele gosto horrível na minha boca — eu tô me sentindo muito tonta…— eu falo e me escoro no braço dele — vem, senta aqui, eu vou colher seu sangue aqui mesmo — ele fala e vai me guiando me sentando na poltrona que eu estava antes — ai dona, o patrão mandou trazer pra tu — um vapor vem com um colchão que o caíque havia prometido e coloca ali pra mim — valeu, não precisava — eu falo meio assustada pela forma como ele entrou — vou pegar as coisas pra colher o seu sangue, tá ? — o doutor Renan fala e eu concordo Fico ali recuperando as minhas forças e as lágrimas caiam, enquanto eu só pedia forças pra contar sobre essa gestação pra minha avó, pensando em como ela ia reagir, com medo não dela brigar comigo, porque ela me conhece muito bem, mas com medo pela saúde dela, e o que isso poderia causar… O doutor Renan voltou com os apetrechos e colheu o meu sangue em silêncio, ele tirou quatro tubos de sangue e logo entrou uma enfermeira — esse lanche é do hospital, e sem gosto, mas na sua situação acho o mais indicado — ele fala e eu concordo em silêncio com muita vergonha da minha “condição” — eu já volto com os resultados tá, sua avó deve acordar em breve, qualquer coisa com você ou com ela é só me chamar — ele fala e sai da sala me deixando ali sozinha com meus pensamentos mais uma vez… Algum tempo se passou e eu vi minha avó começar a despertar — oi vó, eu tô aqui, como a senhora tá se sentindo ? — eu pergunto segurando a sua mão — fraca, eu estava te esperando, tinha feito sua comida favorita, e de repente tudo apagou…— ela fala chateada e eu passo a mão em seus cabelos — tá tudo bem vó, vai ficar tudo bem, eu garanto pra senhora…— eu falo mais pra mim do que pra ela mesmo… — vou chamar o médico tá…— eu falo dando um beijo na sua testa e quando me afasto e toco na maçaneta o doutor estava entrando na sala — olá, dona Rosa, que bom que já acordou — ele fala e esconde um papel na prancheta e me olha com um sorriso de leve — o meu filho, eu já tô bem, posso ir ? Minha neta deve estar com fome, eu preciso ir pra casa — ela fala toda preocupada comigo e eu e ele negamos juntos — primeiro eu vou conversar com a senhora, e sua neta já foi alimentada, e tá tudo bem agora, certo ? — ele me questiona e eu concordo realmente me sentindo melhor Ele passa pra minha avó a gravidade do caso dela, explica tudo até do médico que ele conseguiu, do hospital, e minha avó rezou tanto aquele médico, agradeceu tanto a Deus, que aquela sala ficou pequena pra tamanha fé que minha celha carrega dentro de si — podemos ir lá fora ? — ele me chama e eu concordo saindo com ele — olha, eu consegui os seus exames, mas como não sei se sua avó sabe, preferi te chamar aqui fora — ele fala e tira um peso dos meus ombros porque eu estava morrendo de medo dele falar algo na frente dela — sua gestação é saudável, você está saudável, e eu tomei a liberdade de marcar seu primeiro pré natal, pra daqui dois dias, eu vou te aplicar um soro com vitaminas que você precisa e pra te ajudar nos enjoos, mas a médica especialista vai cuidar melhor de você e dos demais exames que você vai precisar…— ele fala e eu concordo extremamente agradecia a ele — eu não tenho palavras pra te agradecer por tanto, doutor…— eu falo e ele n**a — só se cuida e cuida da sua avó, eu vou dar a alta dela pra daqui algumas horas e nos vemos em breve— ele fala e puxa um carrão colocando na minha mão — esse é meu contato, qualquer coisa você pode me ligar, pode falar comigo, ok ? Tenta descansar um pouco e se cuida — ele fala e se afasta Eu voltei pro quarto meio aérea ainda a tudo. Eu tenho passado por tantas coisas difíceis e dado conta de tudo sozinha, que ver alguém tão solícito assim me deixa desconcertada, eu confesso… Fiquei na sala com a minha avó e mais tarde uma enfermeira veio com a alta, a Júlia veio nos buscar tagarela como sempre falando com a minha avó, elas no meio papo e eu com a mente longe pensando na visita, no que eu deveria preparar, e na situação da minha avó, eram muitas coisas na minha mente naquele momento e eu só precisava descansar um pouco, mas não teria tempo pra isso, que precisava agitar as coisas da visita do Gadernal, e tentar dormir a tarde pra conseguir madrugar amanhã pra ver esse homem… — bora no mercado — a Júlia me chama depois que deixamos a minha avó descansando em casa e eu só estava fazendo tudo no automático — amiga, você tem certeza que você vai lá ? Aquele homem é um ogro, ninguém atura ele, eu odeio ele, ele é um s*******o do c****e — a Júlia foi fazendo a pior fama do mundo sobre ele e eu só concordando — amiga, ele podia ser um príncipe, não me importa, eu só preciso do dinheiro, o que ele é ou deixa de ser não me importa, eu vou levar a comida e as drogas e só — eu falo seca com ela que me olha desconfiada mas já sabendo que eu tô de mau humor e que não vai ter assunto sobre isso Compramos tudo o que precisava e fomos pra minha casa pra eu preparar tudo. Eu acho que nem metade dessas coisas entra no presídio, mas eu não ia questionar, se ele mandou comprar eu comprei, ia fazer e se não entrasse não era problema meu. — aí que cheirinho de tempero bom — o caíque invade a minha casa depois que chegamos do mercado e eu já estava com tudo ali começado pra preparar pro outro lá — fala pra ela desistir, que aquele traste é um traste — a Júlia pede pro caíque que n**a e os dois começam a buzinar na minha orelha enquanto eu cozinhava — aí ele ligando…— o caíque fala e foi instintivo eu revirar os olhos e na mesma hora o meu celular apita e eu vejo uma mensagem de um número desconhecido — espero que tenha conseguido comer, sua avó está bem ? — eu olho e era o doutor Renan — hmmmmmm o doutor de olho nela…— a Júlia já começa a colocar pilha e eu n**o toda sem graça e respondo ele rapidamente Claro que ele pegou meu numero na ficha, mas esse atendimento estava longe de ser padrão, e aquilo me deixava estranhamente desconcertada… — aí ele quer falar contigo — o caíque joga o telefone na minha mão e eu já me estresso Cara grosso, se ele acha que vai me tratar igual lixo só porque ele tá me pagando ele tá muito enganado…
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD