Episódio 10

1194 Words
— Olivia, eles cancelaram alguns pedidos. Inclusive o bolo que seria para o seu aniversário. Larissa me conta saindo da cozinha. Sinto um alívio enorme. Talvez pela forma como respondi às mensagens ontem, Richard se cansou de me assediar. Ele percebeu que não me assusta mais. Acho que hoje à noite deveria ligar para minha mãe e começar a usar o nome Emma novamente, o meu verdadeiro. Mas é melhor eu ir com calma. Larissa parece muito surpresa com a minha expressão de alívio. — Mas era um bolo normal. Parece que você foi salva de desarmar uma bomba. Ela me diz. — Larissa, precisamos conversar. Digo a ela enquanto apagamos as luzes e Fechamos a porta atrás de nós. — Sou toda ouvidos, Olivia. Ela me diz secamente. Sem dúvida ele notou a aproximação de Stephen à tarde. — Não quero criar problemas ou ruído onde não há. Só quero que saiba que eu te apoio e que a sua amizade está acima de qualquer coisa. — Coisa, você quer dizer Stephen? Ela me pergunta, um tanto magoada. Cometi um erro ao me referir ao amigo dela com benefícios dessa forma. — Não, eu não quero dizer isso. Deixa eu ser clara. Stephen parece um bom rapaz, em todos os sentidos. Mas eu nunca tentaria nada com ele. Ela parece duvidosa. — E ele está tentando com você? — Bem, não posso controlar isso. Digo, gaguejando. Ela não parece satisfeita com a minha resposta. — O que temos não é nada sério, como eu te disse da primeira vez. Ele está livre para fazer o que quiser. Você não precisa me explicar em nome dele. — Eu não queria que houvesse m*al-entendido entre nós. Eu respondi. — Não. Não há nenhum. Não se preocupe. Ela me diz, tentando parecer firme, mas sei que ela está desconfortável. Coloquei a minha mão na dela em sinal de amizade. Ela balança a cabeça em compreensão, mas a tensão entre nós é palpável. Decido mudar de assunto antes que a situação piore. — Tenho um gato. O nome dele é Theo. — Eu amo gatos. — Bem, então vamos conhecê-lo. Quando chegamos na minha casa, a porta está suja. Alguém jogou um bolo contra ela e escreveu em creme vermelho o meu nome verdadeiro: Emma, envolta de uma figura de caveira horrível. Estou começando a ter um ataque de ansiedade. Eu seguro Larissa para não cair no chão. Para me acalmar, ela começa a me dizer que deve ser uma brincadeira dos garotos do bairro, que com certeza um deles não deve gostar de mim, que eu não devo me preocupar, que a caveira é porque estamos no mês do Halloween. Ela diz isso sem muita convicção, como se achasse difícil acreditar que fosse uma simples piada. Eu a ignoro e corro para dentro para encontrar Theo. preciso saber se ele está bem. Acho que Richard não queria que eu rejeitasse o gatinho, mas sim que me apegasse a ele e depois o machucasse. Não consigo encontrar ele em lugar nenhum. — Theo. Repito o seu nome primeiro em sussurros e depois gritando, desesperada. — Ajude-me a chegar a... Digo para Larissa. Antes de eu terminar a frase ela vem com o meu gato preto nos braços. — Que olhos grandes ele tem. Ela me diz enquanto acaricia o seu pelo. — Obrigado por encontrá-lo. — Não se preocupe, desde que você não deixe as janelas abertas ele não escapará. Eu sorrio nervosamente. Não digo a ela que o meu medo não é que ele escape, mas que eu o encontre decapitado na minha cama ou algo parecido. Larissa me ajuda a cortar um bife para alimentá-lo de verdade, já que eu só tinha dado leite para ele. Diante da minha consternação, ele volta ao assunto do bolo no porta para me acalmar. Ele insiste que é uma brincadeira de criança. — Bem. O bolo que nos pediram de aniversário e depois cancelaram era para uma certa Emma, certo? Ela me pergunta, murmurando em tom analítico. — Talvez tenha sido o mesmo brincalhão. Ela continua. Eu tinha prometido a mim mesma não chorar de novo por causa de Richard. Estou prestes a explodir, então opto por me libertar, não com lágrimas, mas com palavras. Decido contar tudo a ela. — Eu sou Ema. Larissa recebe a revelação em choque, como se saber o meu nome significasse algo para ela. Eu a vejo pálida e pergunto por que ela ficou assim. — É apenas um nome diferente, mas, é o meu nome verdadeiro. Eu mudei apenas para minha segurança. .... Durante três horas e duas garrafas de vinho entre elas eu contei a minha história com todos os detalhes, revelo até que as lentes dos meus óculos não têm grau e servem apenas para mudar um pouco a minha aparência. Eu poderia contar a minha história durante anos, mas levo apenas cento e oitenta minutos para completá-la. A minha fuga de Richard, o seu abuso, o seu assédio. Conto a ela sobre as suas mensagens, suas ligações, suas surras, também mostro as mensagens que chegaram no meu celular no dia anterior. Em nenhum momento Larissa me questiona, me julga ou duvida de mim. Ela me apoia cem por cento, mas percebo que ela está muito afetada. — É só que... na vez em que você me contou sobre ele no bar, eu pensei que ele era apenas um obsessivo chato e nada mais. Ela me diz um tanto nervosa. — Pois não é. É pior que isso. Após uma pausa, ela me pergunta: — Então Richard Hill sabe que você é Olivia? — Não sei como, mas ele descobriu. — Você me disse que ele foi a pior coisa que já nasceu na Pensilvânia, e eu considerei isso um exagero. Diz Larissa em voz alta, mas como se fosse para si mesma. — Eu sei que parece algo saído de um filme. Mas os filmes são quase sempre baseados em acontecimentos reais. — Eu não sabia que ele era uma fera. Achei que ele estava apenas obcecado e ligando para você querendo voltar. Eu não sabia que ele era tão louco. Sinto muito. Ela me diz com tristeza. — Não é culpa sua, nem minha, nem de ninguém que existam homens assim. O que não entendo, é como ele me encontrou. Larissa se levanta e vai até a cozinha pegar água. Ela bebe meio jarro sem parar. Eu a noto inquieta. Então ela volta e se senta ao meu lado. — Talvez você tenha deixado algum rastro em Nova Jersey... Esperemos que não tenha sido isso... Só tenho uma pergunta. Ela me diz. — Qual? — Como você quer que eu chame você de agora em diante? Olívia ou Emma? Ela me pergunta, rindo para reduzir um pouco a tensão. Eu sorrio também. — A verdade é que o nome falso me incomoda. Eu pensei que tinha costumava ser Olivia, mas não. — Mesmo que você sinta que não vai adiantar, você tem que ir à delegacia para faça a reclamação, Oliv… Emma. — Pelo bolo, pelo gato, pelas mensagens? — Vamos deixar Theo fora disso. Ela ri.
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