Episódio 9

1249 Words
Pelo tom da mensagem, ela não parece ter sido escrita ou enviada por Richard, mas pode muito bem ser. O que não tenho dúvidas é que ele era o cliente misterioso que pediu a torta de abóbora com o meu nome no meu aniversário, e que ontem à noite me ligou e me mandou uma mensagem no horário de sempre. Não sei se devo atender, ignorar ou bloquear esses números, os da chamada e os das mensagens. Mas decido deixá-los como estão. Eles podem ser usados para algo no futuro. Vou tomar um banho enquanto penso quais devem ser os meus próximos passos: ir até a delegacia e denunciar que alguém encomendou um bolo com o meu nome (que, aliás, ninguém sabe aqui) e o meu aniversário? Durante o meu banho matinal decido que a minha estratégia não será fugir, mas enfrentar Richard até ele se cansar, até saber que ele não é mais capaz de me deixar com medo. Ao sair do banheiro, vejo que tenho outra mensagem do último número de quem recebi: Theo odeia atum enlatado. Ele prefere salmão. Então escrevo para ele: Seu idi*ota. Aqui você não tem nada para procurar. Eu não tenho medo de você Ninguém responde. Um minuto se passa, três, mais cinco. Finalmente, o tom da mensagem recebida soa. Hum. Theo estará aí para cuidar de você. Estou sem palavras. Não parece ser Richard. Ele sempre se expressa de forma ameaçadora e violenta. Não, não acho que o que está nessas duas últimas mensagens seja ele... a menos que ele tenha decidido assumir um novo personagem. Bem, se sim, então eu também serei uma nova personagem também. Eu não preciso de ninguém para cuidar de mim. Escreva e me ligue quantas vezes quiser. Não vou bloquear você ou fugir novamente. Mas você nunca mais vai me ter. Nunca. Estarei com muitos homens e você saberá disso. Mas nunca com você, palhaço. Escrevo o mais rápido que posso. O meu coração dispara. Eu olho para Theo, mas retiro o meu pensamento. Mesmo sendo enviado por Richard, o pobre animal não tem culpa. Então eu acaricio ele. Talvez Richard esperasse outra reação minha, mas não. Eu gosto do gatinho. Sirvo para ele um pratinho com água e outro com leite. Não tenho atum, muito menos salmão, só carnes congeladas. Depois da minha última mensagem não houve mais respostas, nem ligações, nem nada. Parece que eu o assustei. Digo a mim mesma com orgulho, fortalecida. Estaciono na padaria, mas não saio imediatamente. Estou pensando no que direi a Lilly sobre a minha partida repentina ontem... bem, se eu ainda tiver um emprego. Não consigo pensar em nada para dizer a ela, pelo menos nada coerente. Mesmo se eu lhe contasse a verdade, seria implausível. Então decido improvisar com base no que ela me pede. Mas Lilly não está lá. Larissa, que com certeza já descobriu tudo, encontrou-me e ela pergunta num tom suave, quase maternal. — Olá Olívia. Como você está hoje? Isso me faz querer contar a ela sobre o meu nome falso e que Richard sabe onde estou, mas opto por não contar nada a ela. — Foi um ataque de pânico. Mas está tudo bem. Realmente não se preocupe. Ela assente. — Existe alguma coisa em que eu possa fazer para ajudar? Você precisa de alguns dias de folga ou algo assim? Posso conversar com Lilly e convencê-la a lhe dar férias antecipadas, embora você ainda não tenha um ano aqui para poder aproveitá-las. Agradeço a sua disposição em me ajudar sem pressão. — Obrigado, Larissa. Por enquanto, só preciso continuar com o trabalho. Me manter ocupada. Ela se aproxima e me dá um abraço reconfortante. Vacilo um pouco, sentindo o apoio sincero do seu gesto. Naquele momento, uma onda de emoções ameaça transbordar, mas lembro a mim mesma que não posso me permitir demonstrar fraqueza, muito menos agora diante da possibilidade de Richard vir para Denton e começar a me perseguir. Quero agradecê-lo de alguma forma, mas as palavras ficam presas na minha garganta. Opto por um sorriso forçado e digo: estou bem, de verdade. Obrigado por isso. Enquanto Larissa sai para fazer compras, luto para manter a compostura. Não posso permitir que as sombras do passado tomem conta do meu presente. Reúno coragem e mergulho nas minhas tarefas. Estou tentado não derramar algumas lágrimas, mas lembro-me do força interior que demonstrei recentemente com as minhas mensagens de texto. Não vou deixar escapar uma única lágrima ou sinal de vulnerabilidade novamente por causa daquele idio*ta do Richard. Reflito comigo mesma. O dia passa normalmente. Lilly não me pergunta nada. Parece me ignorar. Eu sei que ela está com raiva. Realmente é melhor ela não falar comigo, enquanto o dia não acabar. Dedico-me a arrumar os doces no balcão. É uma tarefa que não delegamos aos assistentes Maria, João e Alba, porque segundo Lilly, a disposição das sobremesas no balcão é uma arte tão sutil como a de decorar um bolo. Enquanto mergulho na atividade, ouço uma voz masculina me chamando pelo nome de Olivia atrás de mim. Penso em Mark e no que vivemos a poucos metros de distância, ali na cozinha. Quando me viro, não é ele e também não é Richard. É Stephen, pretendente de Larissa. Bem, dizer pretendente é muito, ele é uma espécie de amigo com benefícios... mas sem deveres. — Larissa está fora. Digo a ele. — Eu não vim atrás dela. — Oh, você veio pela sobremesa então? Qual delas você quer? Tento ser sucinta, pois sinto os seus hormônios querendo me cortejar, mas o tom de voz que sai soa como uma espécie de flerte. — Procuro a sobremesa mais deliciosa que fazem nesta padaria e em toda Denton. Ele me diz, tentando acompanhar um jogo que não comecei nem quero jogar. Ele me explica que ele e Larissa não tem nada sério. Ele me diz que é um homem livre e muitas outras bobagens. Ele se inclina contra o balcão e, embora esteja a uma distância segura, sinto a sua presença esmagadoramente. Não posso negar que é muito atraente, embora um pouco bobo para o meu gosto. Devo admitir que gosto deles mais ásperos e complicados. Sim, eu sei que isso não é normal. É por isso que a princípio fiquei viciada no veneno de Richard. E é por isso que penso tanto no Mark agora, apesar do seu jeito de ser tão estranho, tão dominante, tão imprevisível. Enquanto Stephen flerta comigo, Larissa volta para a padaria porque aparentemente esqueceu alguma coisa. Ele tenta esconder um olhar desconfortável para Stephen. Ele passa e entra na cozinha. Um nó se forma no meu estômago. Larissa sempre foi minha melhor amiga aqui e não sei como lidar com essa situação. Não quero que ela pense que estou dando um ponto de apoio ao seu amigo com benefícios. — Bem, se você não vai querê nada, eu preciso continuar o meu trabalho. Digo novamente, querendo ser afiada, mas sem conseguir o efeito desejado. Stephen sorri para mim, pisca e sai. — Estaremos nos vendo Olivia. Você sabe onde me encontrar. — Não sei onde encontrar você. Digo a ele. Na verdade, o que eu queria dizer é que não sei nem me importo onde encontrá-lo. Se alguém além dele tivesse me ouvido, juraria com toda razão que eu estava brincando. — Bem, é aqui que você pode me encontrar, porque virei à padaria com muita frequência. Ele responde da porta enquanto pisca. — Mais tarde.
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