Princesa! - Carol

1963 Words
Depois que Miguel tomou banho jantamos no balcão da cozinha. Ela é americana e a TV da sala estava ligada no volume baixo, apenas olhávamos às imagens passando no visor. - Sua comida é deliciosa! Miguel elogiou. - Onde aprendeu a cozinhar assim? Disse dando outra garfada. - Meu pai. Ele e eu cozinhavamos juntos. Respondi já sentindo saudades dele. - Andrézinho sem vergonha nunca cozinhou um ovo quando morávamos juntos! Ele resmungou. - Por que chama meu pai de Andrézinho? Indaguei. - Porque ele é o caçula. E aliás, anos atrás seu pai era um tanto magricela! Ele disse me fazendo rir. - Mas agora ele está mudado! Mais forte, e sério... admitiu. - Eu acho que ele amadureceu. Comentei. - Sim. Ele respondeu pensativo. - Você sente que amadureceu? Perguntei. - Eu não! Disse convencido. - Serei um eterno Peter Pan! Balancei minha cabeça tomando mais um pouco do meu vinho. - Sabe Carol... Fiquei emocionado em rever todo mundo! Estava morrendo de saudades de todos. Pena não ser em circunstâncias melhores! Comentou. - O tempo passou tão depressa, Raquel e Rebecca já são mulheres! E Miguel outra vez mencionou às gêmeas. - Eu sempre me senti padrinho dás duas pela falta de proximidade do Matheus. Eu amo aquelas meninas como se fossem às minhas filhas. - Por que sente que o carinho por elas é diferente? Indaguei. - Porque elas são a prova viva de que a Esther não foi só um sonho! Seus olhos ganharam vida. - Você sempre fala dela com devoção! Respondi sem entender porquê toda a família idolatrava a minha tia. - Se você não pintasse o cabelo seria a cópia dela! Ele comentou enquanto cortava a sua carne. - Aah não! Respondi descontente. - Já não me basta levar o nome dela! - Por que repudia tudo o que tem a ver com a Esther? Questionou. - Não é repúdio! É que vocês veem ela como uma figura imaculada. Não quero que esperem essa perfeição de mim! Confessei. Miguel deu uma gargalhada alta. - Qual é a graça agora? Revirei os olhos. - Tenho certeza de que ninguém espera nada disso de você! Falou sendo sincero. - Pois honestamente quem te conhece melhor vai te achar mais parecida comigo do que com ela! No início achei que ele estivesse zombando de mim, mas depois vi que falava sério. - Não acho! Neguei. - Eu sou imatura e um tanto impulsiva! Confessei. - Eu também era na sua idade. Lembro-me que fiz coisas de que me arrependo. Miguel suspirou forte como se quisesse esquecer o passado. - Eu sinto muito por você não ter ido pra casa da Vó Diana. Sei que voltou por minha culpa! Me desculpei. - Tudo bem. Teremos todo o tempo! Aliás eu não fui o único! Doutor Osvaldo, o tio do Pither também se recusou a ficar. Fiquei um tempo calada, pensativa. - Quer mais vinho? Miguel me ofereceu com a garrafa na mão. - Só um pouco! Nós dois acabamos com uma garrafa de vinho sozinhos! Falei baixinho, como se isso fosse errado. - Quanto vai pagar de aluguel na casa da sua colega de quarto? Indagou. - Por que? Falei sorrindo desconfiada. - Porquê eu quero te ajudar Carol, de verdade! Ele disse sendo sincero. - Hein? Falei sentindo o álcool já me subir a cabeça. - Não! Está maluco? Eu tenho minhas economias! Debati. - Guarde suas economias para uma emergência. Deixe-me ajudá-la? Insistiu. - Não! Você praticamente chegou agora. Nem está trabalhando ainda! Senti minha voz soar diferente. - Pither pediu que eu fosse falar com ele na clinica na quarta-feira. Ele vai dar cinco dias de luto. Explicou. - Provavelmente pedirá que você volte a trabalhar com ele. Respondi confirmando. - É Provavelmente! Concordou. - Agora vou levar esses pratos. Falei fazendo menção de me levantar. - Deixa que eu lavo a louça! Ele ofereceu se levantando. Lembro-me de desequilibrar da banqueta e me segurar no balcão pra não cair. Miguel deu a volta correndo e me segurou pelo braço. Levantei a minha cabeça rindo e fixei seu olhar. - Você tem olhos tão lindos! Falei. - São hazel iguais o da Anna! Comentei. - Quem é Anna? Ele disse confuso. - A minha colega de quarto. Respondi ainda rindo sem querer. - Você está bêbada! Ele disse me levando até o sofá. - Só foi uma taça de vinho! Respondi com meu indicador levantado. - Umas, você quis dizer né? Se apoiou me colocando deitada. - Agora durma, amanhã você tem aula! Disse e depois me cobriu com o cobertor. - Tio... O chamei. Mas ele me ignorou. - Vai dormir! Revirou os olhos. - Miguel! Segurei em sua mão quando ele ia saindo. Então ele parou me olhando. - O que você quer? Perguntou-me impaciente. - Vai sentir a minha falta depois que eu for embora? Perguntei embriagada. Ele não respondeu, mas eu insisti ainda segurando em sua mão. - Fala... Pedi. - O quê você quer que eu fale? Me olhou nos olhos. - Que vai sentir saudades. Respondi. Miguel deu uma breve pausa, depois suspirou fundo se virando pra mim novamente. - Eu irei sentir muito a sua falta Carol! Disse me olhando e depois saiu. Sorri e depois fechei meus olhos adormecendo. Acordei um pouco desnorteada com o alarme de meu celular tocando "Carry on wayward" de Supernatural. Só podia ser ele! Pensei em Miguel desligando o alarme. Esfreguei a cabeça enquanto me levantava. Eu sentia ela pesada demais para o meu pescoço; consequência do vinho de ontem à noite! Meu pai sempre dizia... "Antes ressaca de cerveja, do que de vinho!" No visor de meu celular uma foto horrorosa minha de papel de parede, que certamente foi tirada por Miguel enquanto eu dormia. Olhei a cozinha estava totalmente impecável. Miguel havia arrumado tudo. - Quanto tempo eu dormi? Falei me sentindo enjoada. Fui até o banheiro tomar aquele banho matinal. Esse também era o banho pós ressaca! Eu precisava voltar pra escola, havia combinado de almoçar com papai. Ele também traria às minhas malas prontas até o colégio; para que eu não precisasse enfrentar a minha mãe! Depois do banho me senti um pouco melhor. A porta do quarto de Miguel estava fechada, mas certamente ele estava alí... Pois seu perfume ainda exalava! Pentei meus cabelos, peguei meu celular sobre o balcão e nele havia um bilhete. " Coma algo antes de sair. Espero que tudo dê certo pra você Ogrinha! Miguel " Sorri pegando uma maça na fruteira e saíndo em seguida. Eu sei que ele gostaria muito de me levar até o colégio, mas isso aumentaria ainda mais os comentários maldosos sobre mim. Às gêmeas não apareceram devido ao luto do avô! Também gostaria de não aparecer, mas o colégio era o unico lugar que eu podia esperar o meu pai; sem que ele descobrisse a mentira de onde eu realmente estava todos esses dias. Evitei o máximo os olhares curiosos. Os burburinho já não me importavam! Felizmente Guilherme já não estudava mais aqui! E até os amigos dele me olhavam de cabeça baixa. Como se estivessem receosos! Ótimo agora eu sou a vila da história! Os professores se comportaram exatamente iguais. Como se nada tivesse acontecido! Evitei sentar na frente como de costume, e tentei o máximo ser invisível. Mesmo sabendo todas às respostas das perguntas que o professor fazia durante a explicação, eu não respondi nenhuma. Antes do intervalo a diretora apareceu na porta, visivelmente olhando pra mim. Isso não pode ser bom! Pensei. Ela me chamou e eu a acompanhei até a sala dos professores. - Tem alguém a sua espera. Ela sinalizou. Imaginei que fosse papai, ele com certeza viria até a escola se não conseguisse um horário pra almoçar comigo. Mas infelizmente não era meu tão amado pai. - Mamãe?! Falei surpresa. - O que faz aqui? Perguntei. Ela se virou me olhando nos olhos. - Olha Esther Caroline eu não sou de rodeios por isso vou logo ao ponto! Disse com sua voz de perversidade. - Eu ouvi você conversando ontem com o seu pai sobre a sua possível mudança! Aah não! Ela veio me enfrentar! - Possível não, eu estou saíndo daquela casa! Rebati. - Isso é o que você acha! Você é menor de idade, legalmente eu ainda sou responsável por você! Ela continuou. - Você não está nem aí pra mim! Falei exaltada. - Você foi a primeira a me expulsar quando achou que o papai estava infartando! Me deixe viver a minha vida onde eu quiser! - Você não percebe? Disse agora com a voz baixa. - Se você for embora, seu pai irá fazer o mesmo em seguida! - Aaah!! Falei me tocando de seu jogo de manipulação. - Você quer que eu continue vivendo naquela casa para que meu pai continue amarrado a você?! - Você quer que seu pai e eu nos divorcie, é isso? Se fez de ofendida. - Aah por favor! Vocês nem são um casal há anos! Respondi irritada. - Seu pai foi o primeiro a ser negligente! Ele me traiu filha com a minha própria prima! Você sabe o que é isso? Fiquei indignada com a sua atuação. - Se isso te feriu tanto porquê não o deixou quando teve chance? Você tinha toda a razão de se separar e sair como a vítima da história. Por que optou em continuar com ele? Gesticulei minhas mãos inconformada. - Seu pai estava conseguindo uma oportunidade no jornal naquela época. Eu quis evitar um escândalo, isso acabaria com a carreira dele na redação e... - E você pensou no quanto ia perder se separando dele! Falei suspirando. - Por Deus Caroline, eu trabalho! Falou autoritária. - Mãe, nós duas sabemos que o salário que você ganha m*l dá pra manter seus sapatos! Desferi sem me importar mais com o que ela ia pensar. - Você gosta da boa vida que o meu pai te proporciona! - Você sabe que se for embora, seu pai não hesitará em fazer o mesmo... Disse pausadamente. - Que seja! Respondi com desdém. - Sabe Caroline... Ela andava pela sala. -Ontem no funeral do Álvaro achei algo interessante... Revirei os olhos com a sua conversa fiada. - Seu tio Miguel abraçou e beijou todos os sobrinhos, exceto você... Ela me olhou diretamente nos olhos parando em meio a sala. - E o que isso tem a ver? Respondi engolindo em seco. - Tudo a ver!! Você contou ao seu pai que está morando com uma amiga. Você não tem amigas Caroline! - Você não sabe da minha vida! Neguei a sua acusação. - E o mais interessante foi ver Pither contar que quando ligou para o Miguel para avisá-lo do falecimento de seu pai, o querido e bondoso Miguel já estava à caminho do Brasil! Que coincidência não? Ela prosseguiu me martirizando. - E a senhora outra vez se preocupando com a vida pessoal do Miguel! Fiz uma contra acusação. - Você sabe que eu sou ótima para descobrir coisas não sabe filhinha?! Me provocou e com seu rosto próximo do meu continuou. - Eu vou investigar essa história, assim como vou descobrir quem é a v***a que está saíndo com o seu pai! - Deixa meu pai em paz! Não vê que esta fazendo m*l á ele? Falei angustiada. - Seu pai te venera Caroline! Imagina ele desconfiar que a princesinha dele anda mentindo? Engoli as lágrimas para não demonstrar fraqueza na frente dela. Então mamãe segurou meu queixo com arrogância. - A gente voltará a se ver logo, Princesa! Puxei meu rosto de sua mão, irritada. Então ela pegou sua bolsa cara da mesa e saiu pisando duro. Enquanto eu sentia todo o meu mundo desabar.
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