CAP 4 - NO MEIO DO CAMINHO...

5000 Words
Mel está especialmente desastrada naquele dia. Todos notam um certo nervosismo e agitação. Após derrubar uma pilha de pastas de cima da sua mesa, Lucas pergunta: - Está tudo bem? - ajudando-a a juntar tudo. Mel: - Sim, por quê? Lucas: - Estou te achando levemente desconcentrada e nervosa. Mel: - Nada demais... acho que é o dia. Lucas fala duvidando, mas fingindo acreditar: - Claro... o dia... como não pensei nisso antes? Mel: - Engraçadinho. Berta entra com todo o ar da sua graça dizendo: - Bom dia meus amores. Mel: - Isso são horas? Berta brincando com a provocação responde: - Às mesmas de ontem. Mel: - Que eu saiba seu horário é às oito. Berta: - Que eu saiba encaminhei um e-mail avisando do meu dentista… Mel: - Você conhece whats? Berta: - E-mail é mais formal para questões do trabalho… Mel: - Ah, tá Berta, conta outra. Berta fazia certas coisas só para causar... ela amava provocar Mel, era seu passatempo preferido., como o de Piggy era fazê-la rir. No carro Gabriel conversa com Dorotéia. Ele está animado e pensativo. Fica o tempo todo lembrando dos enormes olhos castanhos de Mel. Repassa várias vezes o primeiro encontro, imaginando como será. Seu coração vai do calmo ao agitado em segundos. O que essa mulher causava nele em tão pouco espaço de tempo? Realmente não entendia, explicava ou controlava. Era deliciosamente estranho, assustador e envolvente. Ele então coloca uma música para distração, seu coração pedia algo romântico, logicamente e começa a ouvir a música cantada por Celine Dion To Love. “Derrota Conhecer-se é transpor o mundo interior, perde-se no labirinto infinito do ser cósmico. Ter coragem de enfrentar seu interior, sem temer a solidão, a angústia, os desencantos, sentimentos negativos e desesperos, que são ilusões diante do potencial infinito do amor… Sentir-se a ponto de perceber uma derrota, é o início de uma nova busca, sabendo que estamos vivos para renascer, e que a verdadeira paz é aceitar-se em eterna evolução.” “FÊNIX Percebe? Escuta o silêncio... É o passado que passou... Espera...sente a brisa. É o presente que chegou. Vamos...respira...relaxa... O futuro está vindo... Simplesmente estica as asas... E voa... livremente.” Gabriel sente-se leve e ao mesmo tempo pensativo. Parece que a alma viajava mais rápido que seu corpo e ia na frente, depois voltava tentando chamar o corpo para ir mais rápido, mesmo assim era prudente na estrada. Sabia que precisava chegar e chegaria, só precisava aquietar seu coração. Algumas horas a mais não mudariam o que era para ser. Mel já estava cheia de serviço e quase não conseguia realizar. Normalmente tinha controle de tudo. Estava com raiva de não conseguir se concentrar. Mas que droga era toda aquela que estava sentindo em seu corpo e em seu coração? Lucas então se despede para fazer um novo resgate. Ele vai até a porta e virando-se pergunta: - Você vai ficar bem? Mel sorri, sabendo que não consegue esconder nada do seu irmão, e diz: - Vou sim. Não se preocupe... sempre fico bem, você sabe. Luca pisca e faz sinal de sim com a cabeça. Ela tenta olhar para os gráficos. Eles sempre mantinham sua mente limpa, mas não conseguia. Era uma felicidade, em conhecer Gabriel, que parecia muito mais com um reencontro inexplicável. Aborrecia-se com sua alma sorrindo e o seu coração feliz. Aquilo era inadmissível. Completamente surreal. O que estava acontecendo com ela? Era tão pouco tempo para sentir tudo aquilo...não podia ser real. Devia acalmar-se. O tempo ia passar e veria ser tudo coisa de sua cabeça. Só precisava esperar, dar tempo ao tempo. Seus pensamentos são interrompidos por Berta, que parece que está falando longe… Berta bate na perna dizendo: - Menina, o que você tem? Atende esse telefone que está tocando já tem minutos. Mel chega a se assustar com sua desconcentração. Ela atende e vê que se trata do juiz Paulo. Eles eram amigos de longa data, desde que ela se tornou perita, na Comarca de Gramado. Nenhum perito gostava de trabalhar com Paulo. Era um senhor que perguntava tudo. Já era para estar aposentando, mas viúvo por quinze anos, precisava se animar e ter algo para pensar, então aprendia tudo que podia, questionando todos a sua volta. Mel adorava seu jeito e o fato de ainda estar trabalhando. Tinha paciência e carinho para sempre dedicar um tempo às suas questões. Mel: - Olha, meu querido amigo, no que posso ajudar? Paulo: - Olá querida, estou aqui olhando um de seus cálculos e me surgiram dúvidas. Mel: - Claro, pode me falar que eu explico tudo. Paulo então pergunta tudo e um pouco mais e Mel gentilmente explica tudo, mesmo que precisasse entrar em conceitos básicos de contabilidade. Ficam nessa por volta de uma hora. Pelo menos ela tirara da cabeça Gabriel. Desligando, sabia o que tinha que fazer. Aquele não era um bom dia para fazer nada intelectual. Largou tudo e saiu dizendo para Berta: - Hoje, remarque tudo e quem me procurar peça para ligar amanhã. Preciso estar com os animais. Berta sabia que quando Mel não estava bem, ou tinha algo na cabeça, precisava ficar com eles. Era como um mergulho de mar para sua amiga. Ela então responde: - Fique tranquila, meu amor. Vá lá para seu banho de mar…. Mel sorri e sai. Ela primeiro vai no “Ocean of horses”. Era um local onde havia um pequeno barranco que ela tinha mantido propositadamente. Embaixo ficavam os cavalos resgatados, soltos, e lá em cima, colocara pedras para sentar e apreciar. Era um momento único em sua vida. Vê-los livres longe de amarras, chicotes, carroças. Ficava olhando todos e conseguia enxergar suas mudanças de comportamento com a liberdade e o amor. Todos tinham o nome de cristais e pedras. Sua preferida era Ametista, uma menina branca, novinha ainda, mas que já tinha sofrido demais e quase morrera. Depois dos cães, os cavalos eram a grande paixão de Mel. Sua beleza era única. Não havia nada mais gratificante do que ver um cavalo correndo livre e feliz...Sempre ia repor suas energias olhando seu oceano particular… Gabriel estava dirigindo e comendo chocolate, barrinhas de cereal e tomando muita água e café. Só parava para ir ao banheiro e comprar mais café que colocava em uma térmica. Dorotéia ganhava biscoito e petiscos. Em sua playlist: Mariah Carey, Celine Dion, Adele, Laura Pausini, Shania Twain, entre outras. Parava nos locais com artesanato, tirava fotos de lugares bonitos que chamavam a atenção. Mel, na ONG, estava limpando os canis. Era uma rotina que desestressava. Geralmente cuidava dos seus, e deixava os da ONG para voluntários e contratados. A rotina dos canis era a mesma: Pela manhã entravam nos quartos canis, que eram quartos fechados pelo frio, que tinha uma porta que dava para a área aberta do pátio, com uma pequena cobertura, e uma tela de ponta a ponta dos containers, para evitarem bichos perigosos. Recolhiam os pratos e bacias de água para lavar, soltavam os anjinhos no pátio, olhavam tudo para ver se estava tudo adequado, colocavam água no balde limpo do lado de fora, jogavam os brinquedos guardados no chão e deixavam que fizessem a festa. A tardinha, antes do sol se pôr, outras pessoas arrumavam as camas, colocavam ração e água, recolhiam os anjos, levavam o pátio, o balde de fora e recolhiam os brinquedos. Tudo inspecionado cuidando da limpeza e da higiene. Mel tinha feito toda uma rotina ideal aos animais. No período do dia, voluntários visitavam os cães, para dar carinho e atenção. Haviam cães com problemas de saúde, idosos, com problemas de locomoção, cães que brigavam uns com os outros e precisavam de canis menores e isolados, e os que viviam em matilha. Tudo era analisado e resolvido da forma que todos tivessem uma vida feliz e digna. Os cães resgatados e deixados lá, por vários motivos, tinham um nome de anjo dado pela ONG. Na ONG também tinha gatos, patos, marrecos, coelhos, cavalos, porcos, bois e vacas, ovelhas, cabritos, galinhas e galos e até alguns burros. Todos com sua rotina, e lugares próprios. Mel adorava mesmo era estar perto de todos, mas a rotina exagerada de trabalho, para conseguir recursos para a entidade, às vezes a impedia de realizar tal convívio edificante, que tanto enchia seu coração de paz e força. Ela tentava ser vegana, mas ainda não conseguia pelo queijo, depois do café sua maior paixão culinária. Tentara experimentar queijos veganos, mas nada era como o de origem animal. Em sua vida adiara o plano do veganismo por questões financeiras, visto que só conseguira uma vida melhor, meses atrás, quando iniciou sua entidade. Era protetora fazia anos, mas entidade filantrópica, só conseguira com muitos anos de luta e muito estudo no mercado financeiro. Então, não tendo muito tempo para fazer seu próprio alimento, algo que o veganismo exige no Brasil, caso você queira conseguir produtos mais baratos e acessíveis, precisando optar por produtos prontos, que são caros em nosso País, Mel adiara seu sonho até agora. Infelizmente, não o realizara por completo, devido ao queijo. Conviver com os animais, deixava impossível conseguir ingerir carne e produtos que culminaram em seu abate. Outros alimentos, como o queijo, que não precisavam matar o bichinho para ser produzido, devido à exploração c***l e desumana, acabava de forma indireta, lenta e tortuosa, levando o inocente ao óbito. Mel também nutria um fascínio especial pelos cogumelos, estudava e queria produzir em larga escala em nosso País pensando na causa vegana. Era um dos seus projetos, porém adiara para focar no mercado financeiro, que tinha menos custos e um retorno muito maior. Com certeza, retomaria seu sonho de produção, assim que tudo estivesse melhor para a entidade. Haviam tantas coisas que queria realizar, tão pouco tempo, tinha começado tão tarde, ainda precisava de tanto dinheiro, tudo girava na cabeça de Mel, mas sua principal preocupação era os cães ainda nas ruas em situação de risco e abandono. No Brasil, em dois mil e dezenove eram trinta milhões de cães e gatos, no mundo, na mesma época eram seiscentos milhões. Anjos sem dono, nas ruas, no frio, na chuva, sem água, sem alimentos, sem abrigo, sem proteção e carinho. Sendo atropelados, queimados, chutados, apedrejados, e outras coisas inimagináveis. Mel não tirava isso tudo da cabeça. E todo mês de junho tudo piorava um pouco com o Festival de Carne de Cachorro que ainda acontece na China e Coreia. Sim, isso mesmo! Ela havia deixado de comer mamíferos por anos, devido a esse festival. Estima-se que entre dez mil a quinze mil cães não são só mortos, mas torturados e fervidos vivos em água quente, porque a cultura local acredita que o medo e a dor amacia sua carne. Ao menos algo bom com a Pandemia... mas Mel não se conformava com isso. Não que matar rapidamente tivesse alguma justificativa, mas torturar... isso era revoltando e todo mês de junho ela fica em luto. Mel se revolta com ela mesmo quando pensa nisso e o tempo que está perdendo pensando em Gabriel. Vitor está morto, ou em uma missão longe dela nesse mundo. Gabriel não pode ser ele. Então ela não poderia amá-lo. Isso era tudo ilusão… terminara os canis e conseguira colocar a cabeça no lugar. Ela seria amiga dele, e esqueceria isso tudo que sentia. Focaria na causa. O tempo acalmaria seu coração... sempre acalma... e sempre acaba da mesma forma: ela chorando e buscando o Vítor. Ligando sua playlist para quebrar o silêncio, começa uma música que muito a definia, e automaticamente pensava naquele sorriso e naquele brilho no olhar, que só teria visto naquela pessoa irritante, e que irritantemente não saia do seu pensamento: I Want to Know What Love Is cantada por Mariah Carey. “Em pensamento Doce tristeza abrandou minha amargura… visão ignorada do porvir se iluminou. Meu íntimo quis negá-la… minha lógica nela se agarrou. Quis sorrir, mas meu riso inspirou transtorno. Tentei renascer, mas minha matéria aprisionava meu existir. Desejei chorar, mas o pranto se fez silêncio, e o torpor do meu coração… demonstrou o vazio que me encontrava. Cansado refugiei-me em doces lembranças… distante delas a realidade que vivo. Separei-me em pedaços… vagando buscando os sonhos que perdera. Resignado agradeci por seguir… teimosia obedeceu à angústia. Esperança despontou… distante de tudo que eu seria…” Gabriel na mesma hora está escutando a mesma música e sorri. Não era coincidência, m*l sabiam eles o que o plano espiritual os reservava… Ele tinha uma certeza no coração: o que é para ser, será...não importava quantas vezes teria que suportar aquele olhar perdido de Mel... que o assustara… ele iria resgatá-la daquilo tudo que a prendia... ele sabia que tudo ia se iluminar... só precisavam estar pertos e juntos… Mel já sentia-se encurralada. Não acreditava que daria certo, precisava matar aquele sentimento, sufocá-lo, fugir dele até cansar. Não poderia fazê-lo feliz...não conseguiria ...aquele sentimento forte a assustava de um jeito que não entendia ...precisava esquecer...não sentir...Ao mesmo tempo, o pensamento dele a puxava...Ela odiava tudo na história, sim tinha que escrever um novo romance para a editora e estava escrevendo sobre eles...e odiava...tudo...principalmente conseguir ser romântica e escrever. Inevitavelmente ele era o personagem principal, tentou mudar dali, daqui e acabou lembrando de Gabriel ao escrever. Imaginava sentimentos e pensamentos dele, que logicamente não acreditava acontecer. Era algo só dela. Ele no mínimo deveria ter sido educado e gentil. Também precisava mascarar o personagem para não ser tudo evidente... até ali ele se metera em seus pensamentos. Decididamente ele era irritante. Outro sentimento que odiava sentir: irritação. Ela evitava situações irritantes, porque vibrava de maneira que não gostava. Mas não conseguia evitá-lo… Escrevendo e ouvindo aquela música, um pensamento mais assustador inundou sua mente: se vendo ele em vídeo já tinha lhe causado um sentimento tão forte, como seria conviver? Como convivendo conseguiria controlar as emoções. - levantara da sua cadeira, e andando de um lado para outro, outra característica que tinha quando estava nervosa e confusa, tinha certeza... Tinha feito caca ao contratá-lo. Mil pensamentos e argumentos passavam ao mesmo tempo em sua mente e o seu coração não ajudava. Gabriel colocara a música para repetir, sentindo-se aliviado por ser quase meio dia. Tinha até passado rápido. Ele estava pronto para o amor, ao contrário de Mel, tinha sido muito amado, tinha tido uma boa base familiar e mesmo diante de dificuldades da vida, e relacionamentos terminados, ele conseguia ser totalmente receptivo para o amor. Ele era puro amor. Seu ser era único e raro de uma beleza inimaginável. Ser era lindo por fora, tal beleza ainda não fazia jus ao seu interior. Mel era uma guerreira. Nunca foi realmente amada. Só sentiu amor com o Vítor… Sua família era totalmente doente e errada, seus relacionamentos pouco saudáveis, sua orientação assexual a afastara das pessoas, embora conseguisse amigos sinceros e leais, para toda uma vida, os mantinha até um certo limite do seu coração. Limite esse que Gabriel já tinha ultrapassado, como Vítor. Ela temia o amor. Estava acostumada sem amor e não era tanto senti-lo, como tê-lo novamente, como teve com Vítor e, perdê-lo. Aquele adeus jamais sairá do seu peito. E descobrira não ser só daquela vida, mas de outra… não podia se permitir amar tanto e perder novamente. Se Vítor, que jamais a machucaria por querer, já o tinha feito, o que dirá Gabriel? SOU O QUE SOU É É SÓ O QUE SOU Não sou mulher Barbie ou Princesa. Se é pra ser realeza sou guerreira e conquisto meu reinado. Sou rainha e guerreira. Fêmea alfa e mãe loba. Sou do azul e não rosa. Da cara limpa e sem maquiagem. Odeio salto...babados... rendas.e bordados ...Dispenso rótulos de feminilidade. Mulher independente... não quero ser salva porque me defendo. Frágil sim em certos momentos, mas meu próprio pilar sempre. Não espero...luto, caio, recomeço, choro se necessário, engulo o choro e me basto. Pulo da força à delicadeza em segundos... .escolho quem sou...em meu devido tempo...Sou força da natureza se preciso ...ou passarinho assustado se quiser. Dona do meu nariz ..alma e espírito...Busco minha própria evolução...e tiro o que tiver da minha frente...se preciso sou destruição. Protejo, liberto, resisto e desisto...Aprendo com o amor, mas é com o ódio que reside minha força. " Ela tem um momento de calma e racionalidade e conversa consigo mesma, mentalmente, dizendo: - Respire. - Ela põe-se a respirar. Então conclui: - Vou deixar Lucas lidar com ele. Sim... vou já, já falar com Lucas, que entendera. Afinal ele lida diretamente com os animais. Ficarei em casa por uns tempos, até meu coração acalmar. Lidarei com tudo por lá e tem o Coragem, que todos sabem não gostar de ninguém. Quanto a ajuda que ele quis me dar, pela agressividade de meu anjo, vou pedir um tempo. Assim evito ele e sua ajuda. Isso! Não preciso conviver, posso apenas seguir minha vida, longe dele. Talvez mude ele de lugar. Vou pedir para Berta ficar do meu lado. Ela assustada, agarra o telefone e chama Berta. Berta, notando a angústia de sua amiga, vem correndo dizendo: - Meu Deus o que te aconteceu? Mel senta, tentando disfarçar, pergunta: - Como assim? Berta, sentando-se na cadeira, diz com carinho: - Eu te conheço. Sei que não está bem. Abre teu coração, vamos...confia em mim… Mel: - Estou ótima. - Aprendera com a vida a esconder sentimentos como ninguém, por vezes, até dela mesmo...Não fazia por mal... era seu escudo, sua defesa. Algo que fazia que era mais forte do que ela mesma… Berta, insatisfeita, tentando não demonstrar, diz: - Sei que está desabando, o que eu posso fazer por você? Como posso te ajudar? Mel, levanta da cadeira de forma imponente, dizendo: - Não desabo por qualquer coisa. Você bem sabe disso. Berta: - É exatamente por saber, que sei que está por um fio… Mel olha para o semblante carinhoso de mãe, de Berta, por um momento quer abraçá-la e pedir colo. Contar tudo que está sentindo. Na sua vida nunca teve colo de mãe, só uma única vez fazia pouco tempo, quando sua mãe se apaixonava por seu padrasto, e estava mais atenciosa. Mas não conseguia entregar-se ao carinho. Berta decididamente era a mãe que ela sempre quis ter... mas não conseguia dizer em voz alta, palavras que não conseguia dizer em seu próprio pensamento. Berta por um momento acredita que Mel irá parar de resistir e se abrir, mas logo percebe ser ilusão. Mel engole a emoção e diz firmemente: - Preciso que se mude para o container do meu lado e deixe o seu para Gabriel, o novo contratado da ONG. Berta: - Eu adorei a ideia. Posso cozinhar mais vezes para você, assim para com aqueles suprimentos… - Berta começa a falar sem parar, empolgada e Mel a interrompe. Mel: - Berta: foco! Ele está chegando às vinte horas. Preciso que deixe tudo pronto. Berta: - Mas já? Você nem falou dele. Mel: - Foi tudo muito rápido. Mais do que eu gostaria, você me conhece, porém preciso que faça isso agora por mim. Pode ser? Berta reconhece a urgência pelo jeito de Mel. Levanta-se e diz: - Fique tranquila, vou ajeitar tudo. Quando está quase na porta, Mel a chama. Ela olha de volta. Mel então diz sem explicar muito: - Preciso também que o recepcione e o encaminhe para sua casa. Se perguntar de mim, diga que no outro dia converso com ele. Berta sem entender, porém com uma leve desconfiança, fica calada e faz sim com a cabeça. Ela então sai com seus pensamentos. Na sua cabeça está uma pergunta: - Será? - Ela sorri. Torcia para que Mel finalmente fosse feliz no amor. Ela fingia estar bem, mas sabia que faltava algo. Sempre faltou… estava doida para conhecer esse tal moço, que já de cara fez Mel abrir exceções. Ela jamais abria exceções, não em suas regras tão organizadamente estipuladas, que a mantinham segura... é... decididamente esse moço era diferente… Mel respira várias vezes, sentada em sua cadeira, sem a música...pensara: Seria possível odiar alguém por amar? Gabriel já estava absorto na música que colocara diversas vezes. Finalmente achara uma música para os dois ... ele ficava relembrando o momento sombrio de Mel, na última conversa...no fundo sabia que algo assim o aguardava. Mas ele a conhecia e sabia que no fundo do seu coração havia aquele sorriso brilhando. Se tivesse que esperar, aguardar toda aquela escuridão passar ... valeria a pena para aquele sorriso... aquele sorriso de alma brilhar… sabia que era tão fácil para ele sorrir, mas que para ela...era muito difícil...e conseguira extrair o seu mais lindo sorriso...ele sabia que só ele poderia… "Espero Espero pensando que não irá tardar. Prometeu me, há de vir… Em aflitas e largas horas a angústia me agita, o coração, alma, o ser, que tímido te aguarda… Espero tristes dias infinitos, súbito interrompe, trêmula abro um sorriso… Paira nuvem de flores e essências, vem a mim, para mim e por mim, e te estreito estreitando nossos laços, do meu, do teu, do nosso amor incessante. Encontro mil rosas-vermelhas de intenso sentimento… na primavera do teu corpo minha alma… que nos mata a fome de existir, e finda a sede de amor puro e cristalino… Pedimos clemência do tempo nesse encontro, clamando a Deus a eternidade dos anjos, implorando ter na infinitude eterna… a recuperação do tempo… vazio e perdido." Mel está mais calma. Entendeu que suas ações talvez levassem Gabriel para longe dela, e que talvez não tivesse volta... o que poderia fazer se não conseguiria aprender a amar? Seria melhor assim, no começo...antes que ficasse mais forte ainda ....se fosse possível. Ela então desliga tudo e manda mensagem de texto para Lucas e outra para Berta: - Cuidem de tudo. Vou para casa ficar com Coragem. Ela então, sentindo um pouco de pânico, com dificuldade em respirar, por entender que talvez o perdesse de vez, saí correndo para casa. Só queria abraçar Coragem e ficar quietinha. Ela busca Vida e Coragem na casa de sua mãe, toma um chá e vai deitar com eles. Ali, na sua cama, se sentindo segura podia desabar, sem que ninguém além dela visse. Ela coloca a música dos dois, sem perceber que era dos dois, e começa a pensar nele, dessa vez sem medo, livremente, aceitando aquele sentimento que tanto negara... quem sabe assim ele fosse embora de vez e deixasse seu coração em paz… Gabriel volta para o carro depois de sua parada em um posto de gasolina. Ele senta no banco, agrada Doroteia, coloca de novo a música e começa a pensar nela. Mel está no seu quarto chorando e ouvindo também, pensando nele. Ela mais uma vez sente seu braço esquerdo arrepiar. Sabe que é ele pensando nela, mas duvida do seu coração. E era mesmo. Ele está parado pensando no seu sorriso. O amor é tão simples...do que ela tanto tinha medo? Não entendia...pois era medo que percebera quando ela se perdera por uns instantes dele… Ele envia uma mensagem: - Estou bem. Quase chegando..percorri já meio caminho em sua direção. Mel recebe e seu coração dispara. Decididamente era o que ela mais queria, mas não poderia querer. A escuridão dela engoliria o brilho do seu olhar. Ela sabia que ele não seria forte o suficiente para segurá-la e fazê-la ficar. Não tentaria fazê-lo tentar. Isso acabaria com ele...Ele era a pessoa mais forte que ela conhecera para amar, mas diante da escuridão que escondia seu amor dele, ele não conseguiria se manter forte...não aguentaria chegar até o amor, passando por toda aquela escuridão… Ela deita-se um pouco ali mesmo. Gabriel encosta um pouco o carro para descansar e terminar a viagem sem riscos. Ambos estavam precisando se encontrar em espírito e não sabiam conscientemente. Só se buscavam em seus corações. Eles repousam rapidamente em um sono profundo. Os dois se encontram novamente no plano espiritual. Estavam no quarto de Mel. Eles sorriem e vão um ao encontro do outro. Precisavam se tocar. Eles se beijam e logo tiram suas roupas sem nem notarem. Precisavam sentir o corpo, a pele um do outro e não terem mais nada entre eles. Era como se quisessem sentir que jamais se separariam novamente. Não era preciso muito para o beijo incendiar seus corpos e as carícias tomarem conta do momento. Ao tocar em sua v****a, ela estava cheia de t***o e ao tocar seu pênis, sentia nele, toda a vontade de um reencontro. Ele puxa suas coxas lhe abrindo as pernas em torno do seu quadril e senta-se lhe penetrando. Ela lhe abraça as costas pelos ombros e ele lhe aperta a cintura em direção ao seu quadril. Era inevitável o movimento de prazer retomando seus corpos suados. Nesse momento, suas bocas só sugavam a saliva, na tentativa de conter a sede um do outro. As mãos de um apertavam o corpo do outro, em uma demonstração de total entrega e prazer. Era pele com pele de uma maneira nunca antes sentida. O movimento ainda estava lento, e ele então diz, enquanto segurava sua cabeça com uma das mãos, cheirando seu pescoço, e com a outra mão lhe segurava pela cintura, perto do seu corpo: - Promete nunca me deixar? Angeluz responde olhando em seus olhos, segurando com suas mãos o seu rosto:- Nunca. Os dois se beijam e o movimento dos seus quadris aumentam conforme os barulhos do prazer também invadem o ambiente. Era simplesmente mágico aquele encontro como uma grande experiência religiosa. Mais uma vez os dois gozam juntos. Era como se seus corpos fossem conectados e ele não evitava sentir também a satisfação do prazer intenso. Era como se fosse tomado por uma vigorosidade imensa. Os dois caem exauridos. Ela sobre ele, esticando suas pernas e ficando ali, deitada sobre ele, que lhe abraça. Nenhum dos dois estava pensando, só sentindo. Não queriam ficar longe um do outro, com medo de se afastarem. Ficaram assim abraçados e grudados sentindo um o coração do outro. Depois de um tempo de silêncio eles se olharam e ao mesmo tempo disseram: - Eu te amo. – sorrindo com a alma de novo, um para o outro. Mais um beijinho suave aconteceu. E ficaram ali abraçados. Adormeceram assim. Mel acorda em seu corpo. Ao despertar as lágrimas caem de seus olhos. Sentia saudade, tristeza por se separar, mas alegria por ter ficado nos braços do seu amor. Parecia que seu coração estava sendo apertado no peito e quase não conseguia respirar pela separação. O choro veio sem controle. Ela escondeu seu rosto no para que não ouvissem os gemidos da sua dor, abafando o barulho. Gabriel acorda no carro e sorri. Ele tinha lembranças de um sonho de amor com Mel. Era tão real que só podia ter acontecido em alguma dimensão paralela. Certamente não era coisa de sua cabeça, tinha acontecido. Ele dá a partida no carro colocando uma linda música no fundo. Queria sorrir, gritar que a amava. Como era possível em tão pouco tempo saber que já conhecia alguém além daquela vida? Tudo o que eles conversavam conectaram suas almas de tal forma que ele não tinha nunca vivenciado aquilo. Como podia? Ele era claramente um homem feito, mas jamais havia sentido aquela união…Mel sentia o mesmo, mas tentava se convencer do contrário. O que faria se ele correspondesse? E se não? Estava encurralada. De qualquer forma aquilo estava acontecendo. Sabia ser real, ser Vítor, ser aquele espírito que lembrava de várias vidas. Como isso podia estar acontecendo? Era para vê-lo apenas ao desencarnar. Sentia a vida toda até ali que jamais o veria naquela vida e como agora isso estava acontecendo? Claramente Gabriel e Mel estavam lutando forças contrárias embora sentissem o mesmo amor. Dizem os poetas que o amor vence tudo...cada barreira e obstáculo. Estariam eles certos? Será que mesmo diante de um coração cheio de escuridão havia espaço para o amor se instalar, permanecer e transbordar a ponto de brilhar e ser luz? Seria o amor uma força maior que o medo? Capaz de ascender qualquer mortal para sua melhor e mais incrível parte? Estaríamos inevitavelmente vulneráveis diante de tal sentimento, tão unicamente descrito e almejado por todos os mortais? Seria mesmo possível que nada fosse capaz de impedir senti-lo, mesmo diante de insensatos pensamentos e irracionais argumentos? Era real o fato de não o controlarmos? Em que momento, a que ponto estaríamos totalmente apaixonados e sentindo amor? Teria algum momento que ainda pudéssemos desistir? Será que sendo mesmo amor, não seria imune a todas as tentativas de não senti-lo? Dizem que vemos a face dos anjos quando amamos, sentimos borboletas no estômago, vimos magia nos olhos de todos e tocamos inclusive as estrelas no céu, ao pensar no semblante da pessoa amada. Seria possível existir tamanha estupidez diante das leis naturais da física? Como Deus poderia criar algo tão difícil de definir e tão contraditório? "Despedida Meu doce amor se desfez como águas que caem da vertente ao oceano… No mar de ilusões que vivi descubro a morte em vida, pois, ruptura é seu significado. Singelas lembranças contornam meu ser como que embalando minha alma para que durma em brando sono. O tempo parece acalmar tanta dor e a vida é prova da persistência humana. O mundo do abstrato vale menos que pó e barro, e o concreto parece ser ouro dos mortais. Crescer aqui parece negar a pureza e a essência da alma. Envelhecer é descobrir que perdemos tempo em negar o que nos faz viver. Passamos então a mortos vivos fugindo do que nos é mais caro, por medo do preço que temos que pagar. Andar sem o amor, mas com seu sentimento é vencer cada segundo como desafio de honra. Nesse jogo não há perdedores, nem vencedores há espíritos vagando sem cessar, sedentos de que seus sonhos se tornem realidade… O presente parece distante do querer, a vida longe da terra, e o futuro fragmentado de tudo.”
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD