bc

Deslumbrante Aurora

book_age16+
568
FOLLOW
1.6K
READ
billionaire
opposites attract
inspirational
CEO
boss
drama
comedy
sweet
city
office/work place
like
intro-logo
Blurb

De início, ter uma desconhecida cuidando de sua casa não parece uma boa ideia para Léo: um homem de poucas palavras, desleixado, olhar triste e mau humor diário.

Porém, ele precisa de alguém que amenize sua solidão; alguém que traga um pouco de luz para seus dias nublados.

E sua mãe acredita ter a solução para tais dilemas.

Heloísa é a pessoa ideal para o trabalho: espontânea e dona de um sorriso contagiante, a mulher amável e animada não se contenta em apenas organizar a residência do chefe - mais do que isso, ela quer entendê-lo e incentivá-lo a dar uma chance a vida.

Entre uma confiança que se estabelece aos poucos e olhares que acabam dizendo mais do que a própria voz, a moça radiante e o italiano rabugento encontram um no outro muito além do que somente diferenças.

chap-preview
Free preview
Prólogo
“Tente. Sei lá, tem sempre um pôr do sol esperando para ser visto, uma árvore, um pássaro, um rio, uma nuvem. Pelo menos sorria, procure sentir amor. Imagine. Invente. Sonhe. Voe.” - Caio Fernando Abreu ✦✦✦ LEO — Eu já disse que não quero, mãe! — reclamo pela milésima vez. Minha mãe e eu estamos na sala tendo uma discussão inútil, já que minhas palavras não vão valer de nada aqui. Nem sei o porquê de insistir, aliás. Sua decisão já foi tomada e não conheço um cara corajoso o suficiente nesse mundo que ouse contrariar a sra. Bárbara quando ela põe as mãos na cintura e bate os pés. — Eu não quero saber! Você já deu uma olhada nessa sala, Leo? Que horror! Parece um chiqueiro. — Eu não tive tempo de limpar. — E se chega alguma visita? — Eu não recebo visita, mãe. Não recebo ninguém além do meu amigo Lucas — que não conta, levando em consideração que é praticamente um irmão para mim e totalmente acostumado com minha bagunça. — Mas a sua tia Elizabete adora aparecer de surpresa na casa dos outros, lembra? E ainda se oferece pra jantar, aquela intrometida... — Ela vive reclamando da sua comida. — Pra você ver! É um absurdo aquela cara de pa... Não muda de assunto! — altera o tom, tirando uma lata de coca vazia de cima do sofá —, eu vou contratar uma ajudante pra você e ponto! Olha só pra isso... sem condições! — Não. — Sim. Eu já decidi. — E eu tenho trinta anos nas costas, mãe. Esse apê é meu. — Mas enquanto for o meu filho, vai me obedecer. Eu vou anunciar pra ontem... — Eu não quero uma desconhecida aqui, ainda mais invadindo a minha privacidade. Mamãe tira minhas camisetas do chão e joga dentro do cesto de roupa suja. — É só temporariamente, amore mio. Pra te dar uma mãozinha. Você trabalha demais, não come direito... Tomou os seus remédios? — Uhum — resmungo, juntanto documentos em uma pasta. — É só pra te ajudar, Leo. Eu não faria se não fosse pro seu bem. — E então me olha com seus olhinhos entristecidos. Conheço essa peça e sei que faz qualquer coisa para conseguir o que quer. Minha mãe é o ser mais teimoso do planeta — depois de mim, é claro — e não me resta nada mais a não ser concordar com o que ela impõe. É complicado amar essa mulher. Mas o duro é que preciso mesmo concordar. Meu apartamento consegue ficar pior que o guarda-roupa. Tem bagunça para literalmente todo canto. Nem posso dizer que é exagero dela. Eu queria ter dado uma arrumada, mas tem sido tão corrido... m*l tenho tempo para respirar por causa do trabalho — o que é ótimo, na verdade. "Mente vazia, oficina do d***o", é por causa disso que foco tanto nos meus afazeres fora de casa ao ponto de esquecer que sou um ser humano e não um robô. Tenho trocado o dia pela noite e minhas refeições são de causar espanto a qualquer nutricionista. Por essa razão, mamãe decidiu que preciso de ajuda. E a solução é contratar uma doméstica, segundo ela. Eu poderia ficar aqui o dia inteiro para citar os milhares de motivos de não querer mais alguém no apartamento, mas sei que será em vão. Ela não vai dar paz até eu concordar. Então, finalmente desisto de desperdiçar meu tempo, saliva e latim: — Muito bem... você venceu. E que Deus me ajude. ✦✦✦ — "Eu acho uma boa ideia — Lucas concorda no áudio —, para pra pensar: ter alguém limpando a sua casa vai ser uma preocupação a menos pra você." Digito: ~ n é tão simples assim E então vem sua resposta: vc n pode viver isolado p sempre ~ ~ posso sim então é isso? ~ vai arregar? ~ arregão ~ bundão ~ ramelão ~ ~ vsf ~ _|_ Meu celular vibra, e a foto da minha mãe aparece na tela. Penso por um momento em recusar a ligação. Afinal, desconfio do assunto. Mas por fim, decido atender: — Oi, mãe. — "Oi, amore! Eu publiquei um anúncio na internet. Já temos algumas candidatas, viu?" — Não tem nem duas horas que você saiu daqui. — "É a magia da internet, ragazzo. Eu vou passar a semana inteira entrevistando. Só queria te avisar mesmo. De acordo?" — Eu tenho escolha? — "Não." — De acordo. — "Ótimo. Beijinhos!" — E desliga. Encaro a tela um pouco embasbacado. Desconfio que minha mãe perdeu alguns parafusos ao longo da vida. Mas na real, esse é só o jeito dela: espontâneo e por vezes, exagerado. O tipo que faz uma ligação de quinze segundos ao invés de mandar uma mensagem. "— Eu gosto de ouvir a sua voz", é sua resposta quando menciono o assunto. Minha conversa com o Lucas surge novamente: tia Bárbara só quer o seu bem ~ Deixo um longo suspiro escapar. ~ eu sei E me sinto culpado por isso. ✦✦✦ HELÔ Quando abro meus olhos, a primeira coisa que vejo é o Elvis. Elvis — Elvis Presley, para ser mais específica — é o gatinho da minha avó. Essa bolota peluda, cinzenta e folgada que mora conosco há anos e ainda não entendeu que esse travesseiro pertence a mim. Por isso, todas as manhãs eu acordo com o r**o dele fazendo cócegas no meu rosto ou com os olhinhos amarelos me julgando por levantar depois das 09:00h em um sábado. "Porém, isso é temporário, meu caro Elvis." Tenho uma entrevista marcada para hoje e meus pressentimentos são bons. — Bom dia — cumprimento o gatinho enquanto me sento na cama e acaricio seu pelo macio —, se tudo der certo, eu prometo comprar uma caminha só pra você... e um travesseiro novo pra mim, porque esse já deu o que tinha que dar, né? Ele me olha como se concordasse. Às vezes, tenho a impressão que Elvis me entende perfeitamente. Levanto e calço minhas pantufas, indo direto para o banheiro escovar meus dentes e tomar um banho rápido. Encaro o espelho quando finalizo. Fico imaginando se um dia vou conseguir ser a mulher que dorme em uma camisola sexy de seda. Dou risada, tirando a tolha. A verdade é que eu adoro usar minha regata e meu shortinho (que um dia foi uma calça) para dormir bem confortável e minhas pantufas de coelhinho. Acho que nunca vou perder esse meu jeito de "criança que esqueceu de crescer", como diz meu avô. Saio do banheiro já de lingerie e coloco uma calça jeans junto a melhor camisa que tenho. "Preciso comprar umas roupas novas" — lembro a mim mesma. Calço minhas sapatilhas e penteio o cabelo enquanto vou para a cozinha, encontrando meu avô sentado na mesinha com uma xícara em mãos. Desejo-lhe bom dia e pergunto por minha avó. — Foi caminhar. Quer café? Assinto, e ele me passa a cafeteira. — Nervosa, minha linda? Me acomodo a sua frente. — Um pouco. — Você vai se sair bem. Eu tenho certeza. Tomo um pouco de café com leite, sentindo um frio na barriga. — E se não der certo, vô? — O problema vai ser de quem não contratar a minha neta preferida. — Ressaltando que eu sou a sua única neta... Meus dois únicos primos são homens. Vovô pisca para mim. — Se não der certo, você vai tentar de novo. E vai continuar tentando porque puxou pra mim e nós somos ossos duros de roer. Sorrio. — Pode apostar que sim. — Mas você vai encontrar um emprego logo, Helô. É questão de tempo. "É questão de tempo" é o bordão do meu avô. Mas ele tem razão. Tudo o que posso fazer é ter calma. Depois de comer umas bolachinhas de aveia, volto ao meu quarto e dou mais uma ajeitada no cabelo, prendendo-o para trás com uma tiara. Passo um pouco de delineador, rímel e brilho labial. — Huum, falta alguma coisa... — pondero —, blush! Passo só um pouquinho nas maçãs do rosto e.. "tharam!" Ótimo! "Agora, cadê minha bolsa?" Lembro, então, que a deixei pendurada em das cadeiras da cozinha. Volto para buscá-la e confiro tudo: Rg ✓ Carteira de trabalho ✓ Cópias do currículo ✓ Chaves ✓ R$50,00 trocado e algumas moedinhas para passagem e emergências ✓ Celular ✓ Nota fiscal do mercado ✓ Balinha de menta que eu ganhei de troco ✓ ... Tiro os dois últimos itens. Verifico o horário: 10:53h. Preciso estar lá as 13:00h. Arrumo minha cama rapidinho e depois a bagunça que fiz nas maquiagens. Abro a janela, deixando os raios de sol invadirem meu quarto. Elvis volta para o meu travesseiro. 11:10h. Melhor eu ir. — Me deseja sorte, Elvis. Faço um carinho nele e saio correndo. ✦✦✦ Quando desço do ônibus já são 12:32h. O céu está limpo e os raios de sol até que fracos. Um vento leve toca meu rosto enquanto caminho até um prédio residencial lindíssimo, rezando para que tudo saia como planejado. Estou desempregada há oito meses por conta de uma redução de funcionários no restaurante em que trabalhava. Enquanto não me surgiam novas oportunidades, fiquei ajudando minha avó na loja de tecidos dela. Meus avós são aposentados, porém não conseguem ficar sem fazer nada, então decidiram tocar o próprio negócio. Confesso que adoro ajudá-los com as vendas, mas amo ter meu próprio emprego e colaborar com as despesas. Portanto, quando vi o anúncio de que estavam precisando de uma empregada doméstica, não pensei duas vezes: entrei em contato e graças ao bom Deus fui chamada. Agora cá estou na frente desse prédio chique, fazendo hora e apertando minhas mãos de nervoso e animação. 12:45h — respiro fundo e falo com o porteiro. Ele me anuncia e diz que já posso subir. "Maravilha!" Entro no elevador e aperto o botão para o 5° andar. As portas voltam a se abrir e uma mulher na faixa dos cinquenta anos me recebe. Ela usa um salto agulha preto e um vestido tubinho da mesma cor. O cabelo é chanel de bico e loiro, mas mesclado com alguns fios brancos. Seus olhos são cor de avelã, e eu gostaria muito de saber com quem ela aprendeu a se maquiar. — Olá. — A dona sorri discretamente, os lábios pintados de vermelho sangue. — Você é...? — Heloísa. — Retribuo com um sorriso largo. — Maria Heloísa Ourique. — Ok. Venha comigo, Heloísa. Caminhamos até a terceira porta do corredor, onde ela me dá espaço para entrar. Todo decorado em tons neutros e um pouco menor do que imaginei, o apartamento é lindo... deslumbrante... e caro. Bota caro nisso. A mulher fecha a porta e me olha com atenção. — O meu nome é Bárbara. — "Combina com ela." — Foi comigo que você conversou antes. Pode se sentar. Sento no sofá de couro, reclinável e macio. Bárbara fica de frente para mim, suas pernas cruzadas e as mãos em cima do joelho. "Elegância pura, Brasil." — Bom, Heloísa... eu procuro uma doméstica com robustez. — "Com o quê?" — Você acha que daria conta desse apartamento? Seus olhos não se desviam de mim, o semblante sério agora. — Sim, senhora. Eu dou conta com certeza. — Você já trabalhou com isso antes, certo? Tem experiência no ramo. — Sim. Eu trabalhei num restaurante por três anos. Era responsável pela limpeza. — Uma grande responsabilidade. — Sim, mas eu gostava. — Você se dava bem com os seus colegas de trabalho? — Ô, eu adorava eles! Éramos uma boa equipe e bons amigos. O meu patrão era meio bravo, mas até ele se divertia com as nossas conversas. Comprimo os lábios quando percebo que estou gesticulando animadamente. "Eita, preula!" — Desculpa, eu sou meio empolgada. Mas sou muito focada, viu? Eu sei a hora de trabalhar e sei a hora de... — Eu entendi, Heloísa. Não se preocupe. Mas me diz... por que você saiu de lá? — Redução de funcionários. — Me ajeito no sofá. — Eu sinto saudades. Eu realmente não devia ter dito isso. Agora Bárbara deve pensar que sou uma maluca que não consegue segurar a língua e sai falando dos sentimentos para todo o mundo. Bom, mas eu sou isso mesmo. — Eu imagino. Você é casada? Tem filhos? Abro um sorriso. — Não e não exatamente. — Como assim? — Eu moro com os meus avós. Tomo conta deles, então são como filhos. É absolutamente impossível não sorrir quando falo dos meus dois amores. — Você é sempre assim, essa pessoa alto astral? "Essa pergunta faz mesmo parte da entrevista?" Mas ok, gostei do elogio. — Sim. O meu avô diz que pra mim não tem tempo r**m não, o copo tá sempre meio cheio. — Bom, muito bom... E como é a sua disponibilidade? Os seus horários nos dias de semana? — Os meus avós acordam cedo por causa da lojinha deles e eu acabei aderindo ao costume. As seis horas já tô de pé pra ajudar a arrumar a casa, preparar o café, deixar o almoço pronto e os remédios dos dois separadinhos também. — Remédios... — Bárbara sussurra, mais para si mesma do que para mim. — Eu tenho o dia disponível. Ela ainda parece meio perdida nos próprios pensamentos. — Sei. Você faz limpeza de cristal e prata? "Gente, a mulher é mais rica do que eu imaginava..." — Faço, sim. Na verdade, nunca limpei isso na vida. Mas tudo tem uma primeira vez, não é? Só espero que não quebre com a facilidade que imagino... — Você mencionou café da manhã e almoço. Você cozinha. Gosta de cozinhar? — Adoro! A senhora tem que provar o meu bolo de milho um dia! Bárbara sorri, mas sem mostrar os dentes. — E o que mais você cozinha? — De tudo um pouco. O meu avô tem diabetes, então segue uma dietinha. E minha vó o acompanha. Eu faço umas comidas saudáveis pra eles, sem óleo e evito o açúcar. Comidas integrais também, sabe? — Claro... — Bárbara conclui calmamente, ainda parecendo pensar —, e tem alguma tarefa que você não realize? — Huuum, não. Eu faço de tudo. É só me ensinar que pego rapidinho. — Muito bem, então. Terminamos por aqui — avisa de supetão. Acho estranho, mas quando vejo seu sorriso sinto uma pontada de esperança me invadir. Trocamos um aperto de mão e a madame me conduz até o elevador. — Entrarei em contato com você. — Tudo bem. Tchau, tchau. — Buona giornata! Enquanto desço até o térreo, repasso as perguntas que me foram feitas. Algumas pareciam ser bem específicas para mim. "Vai entender..." Espero realmente ter sido aprovada. Mas que tem algo estranho ali, isso tem. Ou talvez seja paranoia minha? Me despeço do porteiro e caminho até o ponto. Já passam das 15:00h e o sol me faz companhia até que o ônibus chegue. Suspiro de alívio por estar indo para casa e torço mentalmente por uma ligação da Bárbara. ✦✦✦ LEO São 02:15h da madrugada quando chego em casa. A noite foi cansativa e apenas desejo um banho quente e esticar minhas pernas. Eu trabalho no Giardino, o hotel da família que mamãe e eu passamos a comandar depois da morte do meu pai. Sei que não devia ter ficado até esse horário. Isso tem acontecido frequentemente. Mas prefiro assim do que ficar aqui, deitado o dia inteiro e ouvindo esses fantasmas malditos sussurrarem. Tomo um comprimido, tiro minha roupa, jogo em algum canto e deito na cama. Minhas costas agradecem o momento de descanso. Respiro fundo e olho meu w******p: Lucas (15 mensagens): me responde fdp - Ontem, 12:15 Ignoro. Próxima conversa: Carlos fornecedor (1 mensagem): as entregas serão realizadas na segunda feira às 10:00h - Ontem, 17:20 Respondo: ~ ok Maravilha, um problema a menos. O estoque de bebidas do hotel será devidamente reposto. Próxima: Dominique (6 mensagens): tô vendo vc online :/ - Hoje, 02:19 Um problema a mais. Será que vou ter que desenhar para ela que terminamos o que m*l chegamos a começar? Ignoro. Próxima: Mamma (3 mensagens): terminei as entrevistas - Ontem, 18:57 amanhã conversamos - Ontem, 18:57 não fica até tarde no trabalho - Ontem, 18:58 ✦✦✦ Abro os olhos e demoro um pouco para raciocinar. Depois de ter deitado caí no sono sem antes comer alguma coisa ou sequer tomar um banho. Que horas são agora? Verifico meu celular e vejo que descarregou. Deve ter ficado aceso durante a noite. Levanto com dificuldade e vou direto para o chuveiro. A água morna é muito bem-vinda e me deixa mais acordado. O vapor forma uma nuvem ao meu redor e observo-a se esvair, aproveitando para escovar meus dentes em câmera lenta pois ainda me sinto meio lesado. Desligo o chuveiro e tiro o excesso de água do cabelo, que já passa dos ombros. Embora seja loiro como minha mãe, a ideia de me parecer tanto com ELE sempre me causa um sentimento r**m. Saio com uma toalha enrolada na cintura e sigo até a cozinha, deparando-me com um vulto. — Cazzo! Percebo, então, que é só minha mãe... outra vez. — AI, MOLEQUE! — ela grita e dá um pulo, deixando o copo que segurava cair. O vidro logo estilhaça, derramando suco e espalhando cacos por todo o chão. Mamãe me olha assustada e leva uma das mãos ao peito. — Tá querendo me m***r do coração, Leo? — Eu ia te fazer a mesma pergunta. — Faço um gesto na direção do vestido branco. — Feliz ano novo. — Engraçadinho. Eu vou até o shopping daqui a pouco. — Vestida que nem uma pomba da paz? Ela estreita os olhos. Adoro irritá-la. — Aconteceu alguma coisa? — mudo de assunto antes de acabar levando uns tapas. — Vim ver se você tá vivo, ora. Já é mais de uma da tarde. — Nossa... eu dormi pra c****e. — Eu vou lavar essa sua boca com sabão, Leonardo. — Scusa. — Você não me respondeu ontem. Eu fiquei preocupada. Cheguei quase agora e fui no seu quarto, mas você dormia tão bem que fiquei com dó de te acordar. Ela sai por um minuto e volta com uma vassoura, pá, rodo e um balde nas mãos. — Eu vou limpar essa bagunça. Aproveita pra vestir uma roupa, seu indecente. "Ah, é." Ainda estou de toalha. — É que eu não esperava uma invasão na minha casa. Ela sorri. — Imagina se é um bandido que entra aqui? Ele vê essa muralha em forma de gente e desiste de roubar na hora. Acho graça. Digamos que eu seja um homem grande: 2,0m de altura e 100kg de músculos. Ter feito academia quando mais novo me rendeu um bom físico. Troco de roupa pensando nisso. Nunca fui realmente ligado na minha aparência. Eu fazia exercícios por questão de saúde e bom... Toda a raiva precisava ser aplicada em algum lugar. Olho meu rosto e percebo o quanto mudei. Não sou mais aquele garoto, um dia indefeso e ingênuo. Esse antigo Leo deu lugar para esse homem que me tornei... esse cara de olhos cansados e ombros caídos, que deixa bem nítida sua falta de esperança na vida. Respiro fundo. Não quero pensar no assunto. Então termino de me vestir e lembro que preciso aparar a barba e um pouco do cabelo. Sinto cansaço só de imaginar. Talvez outro dia. Minha mãe ainda está na cozinha, e o chão limpo novamente. Quando me vê, ela me entrega um copo de suco e um sanduíche, que me sento para comer. — Eu já entrevistei as candidatas. — Que bom. — Todas me pareceram boas. — Ela está de pé na minha frente agora. — Mas eu já escolhi. Tomo um gole do suco de laranja. — Ah, é? — Eu dei uma boa investigada nela. Conversei com o antigo chefe e as recomendações são ótimas. "Armadilha!" Sra. Bárbara fala muito calmamente, usando sua voz mais doce e suave para contornar o assunto. Lá vem bomba, tenho certeza. — Mãe, diz logo onde você quer chegar. Ela me olha com a mesma cara que eu fazia quando aprontava na infância. — Eu liguei pra ela hoje... e ela topou vir semana que vem... pra que possamos acertar algumas coisas. Paro de comer. — O quê? — Você me ouviu. — Mãe... — Cruzo minhas mãos sobre a mesa. — Você nem conhece a mulher e já vai contratar? — Eu já disse que investiguei! Olhei o histórico dela, o currículo... E o que você esperava? Que ela começasse o ano que vem? — Eu não sei se é uma boa ideia. Não vou me acostumar com alguém aqui. — Mas é necessário, meu amor. E eu tenho certeza que ela é boa. Intuição de mãe não falha. — Huum. — Garanto que de todas, ela foi o destaque. — E o que essa mulher tem de tão especial? — Aaah, ela me pareceu muito atenciosa... e é um amorzinho. Eu acho que a presença dela vai trazer um pouco de luz pra esse lugar. — Com o salário que você tá oferecendo, qualquer um banca o "amorzinho", mãe. — Deixa de ser implicante, Leo. — Ok. Mas ela fica fora do meu quarto. — Leo... — Mãe, por favor. Ela parece indecisa por um instante. Mas sabe do que meu pedido se trata, então acaba por concordar: — Tudo bem. — Obrigado. — Vai dar tudo certo, figlio. Você vai ver. — Espero. ✦✦✦ Informações sobre o livro: ↬ Alerta de possíveis gatilhos! [Protagonista com transtorno. Embora a narração aqui seja na forma mais delicada possível, as crises do Leo são constantes e explícitas no decorrer dos capítulos.] ↬ Contém palavras informais e palavrões. [Classificação indicativa +14.] ↬ Escrita baseada no dialeto típico brasileiro. [Os acontecimentos se passam em São Paulo, SP.] ↬ Elenco: • Sophia Esperanza como Heloísa. • Brock O'Hurn como Leo. [Observação opcional somente pra ajudar caso queiram saber como a autora imagina os protagonistas. Fica a seu critério seguir ou não.] ↬ Amore mio = Meu amor. ↬ Ragazzo = Rapaz. ↬ Buona giornata = Tenha um bom dia. ↬ Cazzo = c*****o. ↬ Mamma = Mamãe. ↬ Figlio = Filho. ↬ Scusa = Desculpa.

editor-pick
Dreame-Editor's pick

bc

O NOVO COMANDO HERDEIROS DO ALEMÃO ( MORRO)

read
14.5K
bc

Atraída por eles.

read
62.5K
bc

Atração Perigosa

read
9.3K
bc

INESPERADO AMOR DO CEO

read
38.3K
bc

Chega de silêncio

read
2.5K
bc

Querido TIO.

read
10.4K
bc

O plano falhou: O Retorno da Filha Abandonada

read
9.0K

Scan code to download app

download_iosApp Store
google icon
Google Play
Facebook