Já foi avisada

1885 Words
Erika Jhonson... O tempo vinha passando de forma rápida, os acontecimentos do último ano quase não me afetavam mais. Podia-se dizer que a superação dos fatos chegou rapidamente a mim, pelo menos era assim em relação a aceitação sobre a partida do DG. Mas quando volto o assunto para o que tentavam contra a minha irmã, a situação era um pouco diferente, não era simples fechar os olhos e jogar tudo em buraco fundo para o esquecimento. Afinal, ela ainda estava aqui, mais uma vez havia saído ilesa graças ao sacrifício do homem que levava o título de meu marido. Mas por quanto mais tempo a sorte estaria do seu lado? Era impossível não me preocupar com as incertezas do seu futuro, pois por culpa do nosso pai, não tivemos tanto tempo uma do lado da outra, e não desejo ter que encerrar esse novo ciclo pela metade. Cecília me entendia, na verdade, ela era a única que conseguia ao menos me ouvir sem antes trazer uma nova perspectiva para o assunto tratado. Nossos pensamentos combinavam, sabiam como se alinhar durante um diálogo tão importante para mim. Ela era a minha melhor amiga, e sabia como fazer grande uso do seu posto. Cansada de sempre ser incapaz de vencer qualquer tipo de discussão com a DJ, recorrer a Lia se tornava a minha melhor opção toda vez. Quando minha irmã mais velha tornava a minha vida um inferno, precisava ser a Velásquez a me trazer de volta para o caminho de paz. Havia pensado exatamente nisso quando deixei a i****a sozinha em casa e caminhei a passos duros e agressivos para o lar da loira. Precisava conversar, desabafar minhas frustrações com alguém que não fosse me interromper para mudar a direção do assunto tratado. DJ jamais seria essa pessoa, mas Cecília era. Ela vinha sendo o meu suporte desde o sepultamento do DG, e agradecia imensamente por isso. – Vitor, a porta! – quando bati a madeira anunciando presença, pude ouvir sua voz ao longe. Então não demorou para que VG estivesse me cedendo passagem mesmo que com cara de poucos amigos. Ele não parecia estar feliz em me ver. – Tirou a vida de alguém que não merecia, e agora está com remorso? – passando por ele enquanto esperava que Lia me desse o ar da graça em aparecer, perguntei cruzando os braços. Mas nada ele disse no momento, não pôde diante o esmagamento que sua namorada me forneceu ao me abraçar por costas – Lia, eu preciso respirar. – Não seja dramática, Erika – dando as costas para VG, se posicionou em minha frente – Mas e aí, a que devo sua ilustre presença em minha humilde residência? – As vezes me esqueço desse seu lado criança – sorrindo para o que foi dito por ela, me deixei cair sobre o sofá sem a perder de vista – Acho que é por isso que me sinto tão bem quando somos só nós e mais ninguém. – Vai queimar o almoço outra vez, Lia – pouco se importando comigo ali, o e******o tentou alertar. Ela então elevou a mão o pedindo para se retirar, algo que me fez levar a mão a boca para esconder um satisfeito sorriso que se fazia presente de forma espontânea. – Já apaguei o fogo, agora se nos der licença, precisamos conversar a sós – se realmente quisesse almoçar, teria de buscar por algum restaurante para isso. A loira havia sido firme ao pedir por sua saída, e mesmo que estivesse completamente contrariado e me fuzilando com o olhar, no fim ele respirou fundo e acatou o pedido da namorada. – Não acha que tem brincado com o perigo? Afinal, todos sabemos que o VG não é mais o mesmo desde que o DG partiu – observando a força com a qual aquela porta foi fechada, senti a necessidade de perguntar enquanto a lembrava de um fato muito importante, principalmente quando eram existentes inúmeros casos abusivos no passado da nossa, e das comunidades vizinhas. – Entendo a sua preocupação, mas não precisa – se jogando ao meu lado naquele confortável sofá, disse simples, de fato não se importando com nada do que acabei de dizer. Então neguei a sua ação e aceitei que me puxasse para me deitar em seu colo, ali era mais confortável do que qualquer travesseiro. O clima entre a gente era sempre muito leve, e gostava disso em nossa amizade. Não consigo me lembrar da última vez em que entramos em alguma desavença, e desconfiava se esse momento realmente existiu. Mais que amigas, talvez irmãs. – Não que eu queira ser estraga prazeres, mas ainda quero saber a que devo sua visita repentina – quebrando o silêncio que havia se estabelecido, ouvi sua voz se fazer ouvinte de forma branda, sempre calma e muito tranquila. Pude respirar fundo ao novamente retornar para o que me fez sentir um turbilhão de emoções que causavam dúvidas em inúmeros espectadores daquela situação, mas isso não era algo que me incomodava, ao menos não em um sentido literal. –Não é nada demais, estava apenas querendo um momento de paz, mas sem estar sozinha com os meus próprios pensamentos. Eles não são boas companhias – confessando em voz alta aquilo que costumava me tirar o sono em algumas noites, consegui sentir seus braços me puxando mais para perto, sendo coberta por seu corpo no minuto seguinte. Conseguia me sentir tão segura ali, quanto já me senti alguma vez nos braços do meu falecido marido. Afinal, o amava de verdade, não havia como negar isso, mas tudo possuía um limite. Pois no fim, minha família e a amizade que levava, e ainda levo com Lia, sempre viriam em primeiro lugar. – Ainda tem aqueles pesadelos, não é? – se existia alguém nesse mundo que me conhecia tão bem quanto a Dayse, esse alguém era Cecília Velásquez. Nem quando me esforça para isso, conseguia de fato esconder alguma coisa dos seus olhos, eles enxergavam tudo. – Estão menos frequentes, mais ainda me assustam o suficiente para não me deixar voltar a dormir – confessei me desvencilhando dos seus braços para conseguir me sentar, então continuei o desabafo – Talvez seja apenas o trauma que ficou impregnado na mente, mas temo que ainda possa existir outras pessoas desejando, ou até mesmo planejando um novo ataque, principalmente sabendo que até os dias de hoje não conseguiram descobrir quem realmente estava por trás daquela tentativa que levou o Delatorres. Isso me preocupa Lia. – Eu te entendo ruiva, também fico remoendo essa falta de busca a respeito daquele ocorrido. Mas você sabe que não adianta ficarmos m*l por isso, não sabe? – sim, eu sabia, e apesar disso tudo, ainda não conseguia me reestabelecer da forma em que desejava. Meu semblante retratava exatamente isso, todos conseguiam ver, principalmente a loira ao meu lado – Erika, não conheço ninguém mais cabeça dura e que possua tanta sorte quanto minha prima. Estou com ela desde que éramos crianças, e posso dizer mesmo sob a ameaça de morte que ela é quase um clone perfeito do tio Andreas. Opinião alheia não os faz mudar de ideia, e se ela decidiu retornar para casa naquele momento, é porque sabia que as coisas não se resolveriam com ela aqui. – Não esquece de acrescentar que ela também estava tentando fugir da DJ, porque isso se tornou evidente depois daquela afronta – deixando a mostra o que pude observar naquele dia, me senti surpresa ao vê-la negar o ponto. – Não que ela estivesse fugindo de verdade, pois acredito que aquilo não tenha sido nada para ela, mas pra DJ foi como receber um direto de direita bem no nariz. Karina a nocauteou sem pensar duas vezes, e isso causou ressentimentos. Podem não dizer, mas eu sei que sim – respirou fundo ao se levantar, então a seguir até sua cozinha – Queria ter mais certezas sobre isso, mas o seu retorno para Brasília devia estar ligado unicamente aos seus afazeres com seu novo trabalho. Não tem nada a ver com a DJ, ao menos não diretamente. – Acho que entendi, mas mudando um pouco o rumo dessa conversa, você acha que em algum momento ela irá voltar para ficar? – queria muito receber uma resposta sincera para aquela questão, e Lia logo entendeu o porquê. Dando as costas para o balcão ao me buscar novamente com o olhar, ela sorriu sem muito humor. – Também sinto muito a falta dela, até mesmo das dores de cabeça que a filha mãe costuma me causar – ali foi a minha vez de sorrir, mas um sorriso verdadeiro, emotivo de formas sempre agradáveis. – Em relação ao que se foi perdido por causa do nosso pai, m*l tivemos tempos vividos uma do lado da outra, mas ainda sim é como se uma vida de ligação tivesse se passado nesses poucos meses de convivência. Não consigo mais me ver em mundo onde ela não faz mais parte da minha vida. – Por isso toda essa preocupação – se aproximando, levou as costas da mão até minha face e limpou uma lágrima solitária que se derramou enquanto dizia as palavras. Seu toque me pareceu ainda mais suave do que o normal, meus olhos se fecharam sem a minha permissão naquele momento – Ficaremos bem Jhonson. Você, ela, eu, todas nós. – Venho tentando acreditar nisso todos os dias quando saio da cama, Lia – voltando a abrir os olhos apenas para vê-la assentindo, respirei fundo – Dayse vive dizendo que não podemos fazer muita coisa, pois foi a pirralha quem se decidiu por esse caminho. – Ela nunca esteve tão certa em sua vida antes – voltando para suas panelas, disse divertida – Mas agora chega, vamos esquecer esse assunto chato é focar no que realmente importa – sorriu me estendendo uma colher – Vem me ajudar a terminar o almoço, agora. – Não é justo, VG nunca te ajuda com nada – até tentei me livrar, mas não seria assim tão fácil. – Mas você não é ele, e ainda recebe o título de minha pessoa favorita. Então cale-se e me dê uma mão aqui – diante aquelas palavras, perdi até meus argumentos. Não havia como debater ali, não era a minha área. Ela havia jogado muito bem. Aceitando minha segunda derrota em apenas um dia, neguei a situação formada com um divertido sorriso no canto dos lábios e me coloquei ao seu lado para darmos fim ao que era preparado para o almoço daquele dia. Não costumava a ter companhia na cozinha, mas confesso ter agradado imensamente daquele momento dividido ao lado da Velásquez mais velha. Talvez estivesse trilhando novos caminhos, mas apenas o tempo me diria qual percurso seria esse. – Quer que eu atenda? – ouvindo baterem a porta quando já colocávamos tudo sobre a mesa, me ofereci imediatamente. – Tudo bem, deixa que eu vou – passando por mim ao deixar um leve empurrão em meu ombro, sorriu brincalhona – Se for o VG, o mandarei passear por mais algumas horas. Volto logo, pode ir se servindo. – Já foi avisada, depois não vem lamentando pra cima de mim. – Eu sei o que faço Erika, e ele ainda não perdeu o pouco juízo que possuí. Tenho certeza disso.
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