Sempre será prioridade

2032 Words
Dayse Jhonson... Situações complicadas se faziam presentes a todo momento, era algo esperado para o meu ramo de trabalho. Mas as vezes os problemas eram grandes demais, e nem sempre nos vemos preparados para buscar uma boa solução para eles na hora exata em que se mostram presentes. Foi isso o que aconteceu há um ano atrás, foi assim que me calei e apenas a observei deixar o estado sem saber se realmente era o que eu queria. Naquele dia, estávamos prontas para o grande sim, mas não para perder um dos nossos daquela forma. Então não pensei, apenas agi da forma que meus instintos mandaram. Porém, a sua ação foi mais dura do que a minha, ali eu a vi se corrompendo sem nem mesmo de dar conta disso. Quando em silêncio Karina executou aqueles que nos cederam um velório mais do que apenas doloroso, em seus olhos eu vi a mudança se instalar. Não queria que ela tivesse feito aquilo, tentei impedir que tudo se concretizasse, mas me ouvir não parecia ser uma das suas qualidades. Afinal, mesmo em mundos tão iguais, ainda éramos muito diferentes uma da outra. Nosso relacionamento era uma bomba relógio só esperando o momento certo para explodir, foi nisso que pensei quando toda a população se calou diante a cena apresentada para o público. Os limites haviam sido extrapolados. — Erika, você está bem? – me sentando ao seu lado quando deixei o meu quarto para lhe acompanhar em mais aquele café da manhã, quis saber ao vê-la apenas mexer a colher em seu copo de achocolatado quente. — Acho que nunca estive melhor – exibindo um sorriso forçado, respirou fundo e negou a própria mentira – Estou apenas me lembrando daquele infeliz incidente, ainda não consigo acreditar que tentaram tirar a vida dela outra vez. — E no processo acabaram levando o DG – não era a minha intenção, mas o complemento saiu de forma espontânea. Porém, fazia algum tempo que tal dizer não a incomodava, em relação a isso, ela estava mesmo muito bem. Mas se voltássemos o assunto para sua irmã, seu mundo parecia desabar. Então foi a minha vez de respirar fundo – Não estou julgando, mas todos sabemos que foi ela quem decidiu assim quando aceitou seguir os passos do Andreas. Podia ter dito não, mas foi convencida a dizer sim. Cecília soube o que escolher, ela não. — É a Karina, Dayse, ninguém a convence de nada. Ela simplesmente achou que esse seria o melhor caminho, por isso pegou pra si as responsabilidades do nosso pai – sorriu levando o olhar para o conteúdo do seu copo – As vezes acho que ela fez isso por você, para estar a altura da dona do morro do Alemão. — Eu jamais pediria por isso, sei o quanto pode ser perigoso levar uma vida como a minha – lamentei abandonando o suco que tomava – Se estivesse em minhas mãos, jamais a deixaria fazer parte desse mundo caótico. — Percebe-se que mesmo com o passar do tempo e todo o abismo que colocaram entre vocês, você ainda é uma i****a apaixonada minha irmã – finalmente expondo um sincero sorriso, cassoou negando a minha cara de poucos amigos. — Em algum momento irei perder a paciência e te acorrentar no quarto garota – achando um absurdo as suas palavras, ameacei exibindo uma seriedade que não existia em minha frase. Ela apenas negou. — Um telefonema, é tudo do que preciso para que estejam invadindo aquela porta para me libertar e colocar você contra a parede – certa do que dizia, deu de ombros ao se retirar para a sala. Ela colocava muita fé em sua segunda dupla favorita, e apesar de ser irritante, também chegava a ser aliviador. Afinal, sempre teria alguém para manter a sua segurança se amanhã eu não estiver mais por aqui. Porém, hoje ainda posso pegar em seu pé. — Mesmo que não pareça, ainda sou eu quem manda aqui – avisei me deixando cair sobre o sofá ao passar em sua frente – Se alguém passar por aquela porta sem a minha permissão, irá dar de cara com uma 380 já engatilhada em sua direção. E garanto que depois do ocorrido, não sentirei remorso do que for feito. — Eu odeio você a maior parte do tempo, e espero que saiba disso – me dando as costas, afirmou batendo a porta ao sair. Devia estar indo atrás da prima, era o mais certo depois de perder a saudável discussão. Sozinha em meu espaço, ao fitar o teto por alguns minutos longos demais para o seu próprio tempo, os fechei e respirei fundo ao me permitir vagar por cada momento responsável por marcar a minha história até aqui. Eram coisas demais, tanto boas quanto ruins. Talvez tivesse seguindo um bom caminho dessa vez, mas infelizmente não havia como ter uma certeza absoluta sobre nada. Situações impróprias estavam sempre presentes em minha caminhada. Uma i****a apaixonada. Talvez ela estivesse mesmo com a razão ao dizer tais palavras, por mais que fosse o meu desejo, não existia como negar nada perto dessa realidade. Karina Velásquez havia feito algo, havia conseguido me pôr de joelhos em sua frente quando ninguém mais se viu capaz de tal feito. Mas entre tantos diferentes pensamentos e ações, acabamos por nos desviar quando mais precisamos estar juntas. Conseguia sentir e aceitar isso, e acreditava não ser a única. Erika está certa, mesmo com o rápido passar do tempo ainda existe algo em mim que chama por aquela marrenta. Afinal, o nosso lema ainda gritava em meu interior todas as vezes em que nossos melhores momentos invadiam a minha mente. Mais fortes juntas, éramos mesmo uma potência sem limites. Mas não há o que se dizer agora que a distância reina entre dois mundos muito iguais, e ao mesmo tempo tão diferente. Chefe da máfia, herdeira de todo um legado maior do que a minha própria história. Como podia esperar que nosso relacionamento fosse ser capaz de resistir às nossas diferenças? O abismo não parece ter fim, e insistir no fracasso é pedir para morrer lentamente. — Não atira, tô entrando! – sendo capaz de me tirar um divertido sorriso se estivéssemos em outros momentos, VG me tirou dos inúmeros e exagerados pensamentos que me ganhavam um tempo que não me pertencia ao se anunciar em minha porta. — O que faz aqui, não devia estar enchendo o saco da sua namorada? – lhe cedendo nada mais além de um olhar curioso, questionei enquanto ajeitava minha postura ao me sentar para poder o observar com mais atenção. — Talvez devesse, mas a sua irmã sempre será prioridade pra ela – respirou fundo se jogando sobre o sofá de frente pra mim – Fui enxotado pra fora. — Elas são amigas mesmo antes de você sonhar em fazer parte da liderança desse morro, VG. Não pense que isso vai mudar apenas por causa de um namoro tão simples quanto o que vem levando com a Lia – não era da minha conta, mas quando se tratava da minha irmã não conseguia pensar antes de agir. Então lancei o f**a-se no ar enquanto falava – Acha que não percebi como o relacionamento de vocês esfriou após a perda DG? — Ele era o meu irmão aqui dentro da comunidade, me senti abalado com o acontecimento daquele dia. E sabe que não fui o único, Erika também ficou muito pra baixo – para alguém que se dizia tão inteligente e cabeça, ele estava se saindo mais burro do que o animal do pasto. Que comparação era essa? — Eles eram casados, VG – o lembrando do óbvio, notei sua busca por ar em seus pulmões – Se não está satisfeito com o que Lia está podendo te oferecer, devia chegar e dizer isso pra ela. Dar fim a essa relação se necessário, deixá-la livre para o próximo da fila. — Quer que eu termine com ela? — A pergunta certa devia ser, 'VOCÊ quer terminar com ela? – não sabia dizer amando foi que me tornei uma pessoa apegada a dar conselhos para concertar a vida dos outros, mas acreditava ser assim com todos aqueles que possuíam a própria vida em um tremendo e assustador caos contínuo. — Entendi onde quer chegar, mas não sei se é isso o que eu quero. Preciso pensar antes de tomar alguma decisão – se pondo de pé com um semblante neutro, disse o que se passava em sua mente antes de me dar as costas e sair por onde entrou. Feliz com o que ouviu? Não, ele não ficou nenhum pouco. Na verdade, se eu estiver certo quanto aos meus pensamentos, será difícil convencê-lo a deixar Lia seguir sua vida sozinha outra vez. Pois desde que DG morreu, ele não é mais o mesmo, algo dentro de sua antiga personalidade foi apagado, um novo VG vinha se tornando cada vez mais forte frente aos olhos daqueles que admiravam sua figura postada anteriormente à tragédia que mudou inúmeras vidas. Esperava ao menos ser capaz de lidar de forma sábia e consciente com seu novo eu. 'Sua irmã sempre será prioridade.' Antes da chegada de Karina, depois de mim, Lia era a única pessoa em quem Erika confiaria a própria vida. A amizade que se estabeleceu desde a chegada da Velásquez havia se fortificado mais do que o esperado, passar por cima de mim para ajudar Lia começava a se tornar o seu afazer preferido poucas semanas depois de se conhecerem. Uma seria sempre a prioridade da outra, algo que o DG entendia. E por isso se mantinha afastado o máximo que conseguia, mesmo não conseguindo esconder que por trás daquela marra de não acreditar no amor, era guardado um forte sentimento pela ruiva. 'Não é assim que agimos por aqui.' Quando lhe disse essas palavras ao tentar impedir que o gatilho da arma em sua mão fosse acionado, não estava tentando a controlar como ficou parecendo. Visando o bem de toda a comunidade e principalmente o seu, tentei mostrar que outro caminho podia ser trilhado, algo que aprendi do seu lado mesmo que de forma indireta. Devia algo a ela, mas não foi possível seguir na direção que quitaria tal dívida. Sua decisão naquele momento não me permitiu agir em prol do seu bem estar, mas estava tudo bem, precisava acontecer assim para que reconhecêssemos o nosso lugar dentro daquela cadeia alimentar. Naquele dia, observando como os olhares em sua direção mudaram de admiração para temor, tudo o que pude fazer foi respirar fundo ao me virar para encarar a situação em que meu braço direito se encontrava. Mas não podia fazer mais nada, o disparo havia sido mortal, e Erika foi a sua última ouvinte, sua última visão antes do último suspiro escapar por entre os seus lábios naquela descida para a saída do morro. A partir do instante em que aqueles corpos ocuparam a rua deixando tudo manchado de sangue, todos sabíamos que nada mais seria como antes. Muita coisa sofreria com mudança, e a primeira delas foi o retorno de Karina para a capital. Não esperava, mas também não fui capaz de fazer nada para impedir. Como dito antes, os limites acabaram sendo ultrapassados quando não podiam. A culpa não era exatamente minha, mas era difícil não olhar para todo aquele desfecho e não sentir ao menos um por cento de culpa. Talvez existisse algo que pudesse ter sido feito para impedir que chegássemos onde estamos hoje, mas agora já é tarde para estar pensando nisso. Frente a atual realidade, tudo o que me resta é continuar agindo pelos meus, dando o meu máximo para manter em ordem toda a comunidade. Dona do morro do Alemão, uma figura de inspiração para a nova geração mesmo não desejando isso. Não posso me deixar abater por acontecimentos presos a minha vida pessoal, não quando a liderança de todos está em minhas mãos. Para voltar ao meu antigo patamar, é necessário me fechar para sentimentos tão complicados com o amor e recuperar aquela reputação que mantinha todas aos meus pés. Não será fácil, mas é algo que deverá ser feito de algum forma.
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